Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Parque do Inferno (2018): divertido passeio pelo terror genérico

A imersiva viagem por um aterrorizante parque temático vale a pena para fãs do slasher, desde que não esperem nada de novo sob o sol.

Não há nada em “Parque do Inferno” que já não tenha sido feito em filmes de terror do passado. Porém, o resultado é como aquele bolo de chocolate que fazemos em casa seguindo uma simples receita e que comemos felizes quando fica gostoso. Os ingredientes aqui são os elementos do subgênero conhecido como slasher ou stalker (do inglês, respectivamente, “esfaqueador” ou “assediador”) que começaram a amadurecer nos anos 1960 e 70 e se popularizaram à exaustão a partir de “Halloween”, em 1978. Protagonista de jeito inocente? Tem. Assassino mascarado? Tem também. Sustos baratos? Alguns. Jovens atraentes morrendo um a um em inventivas cenas de violência? Tem, tem, tem.

A desculpa para o banho de sangue é a chegada de um parque temático itinerante, montado com casas assombradas, trens fantasmas e repleto de monstros e figuras fantasiadas para assustarem os visitantes. A universitária Natalie (Amy Forsyth, “Querido Menino”) acaba de retornar à cidade para rever amigos que a chamam para a esperada noite de diversão. A premissa é até intrigante: e se no meio dos funcionários disfarçados para provocar medo no público houvesse um psicopata assassino pronto para transformar o evento no seu banquete pessoal? Uma das primeiras coisas que passam pela nossa cabeça é se saberíamos diferenciar um ataque real de um ataque fingido se acontecesse na nossa frente, certo? O filme sabe disso. Sem pretensões, a história não demora para começar a satisfazer as expectativas do saudosos fãs do slasher.

Para começar, o parque é uma incrível criação, que supera até as famosas noites de Halloween do Universal Studios de Orlando. Para quem tem gosto por esse tipo de atração, fica a vontade de visitar uma igual (sem perigos reais de preferência, obrigado) e o longa recria essa emoção. O elenco, em especial a elétrica Bex Taylor-Klaus (da série “Scream”), parece se divertir genuinamente nas cenas gravadas. Permitir que a audiência passeie com os atores sendo perseguidos através do fictício parque em funcionamento é inclusive algo que outras obras de mesma temática e que inspiraram “Parque do Inferno” não fizeram, como o livro “Joyland” de Stephen King e o filme “Pague para Entrar, Reze para Sair” de Tobe Hooper (“O Massacre da Serra Elétrica”).

Outra pequena nuance que diferencia “Parque do Inferno” em relação aos clichês comuns do gênero é que os coadjuvantes não são tão descartáveis como se costuma observar. Quanto mais tempo passamos com cada um, mais nos importamos, e o filme até subverte alguns estereótipos, só não a regra clássica que aproxima os personagens que cometem desvios morais ao encontro com a morte. Até seu desfecho, a história segue um ritmo satisfatório de preparações (setups) e efeitos (payoffs), suavizando nos sustos (jumpscares) e no sangue (gore), tudo em prol de um tom moderado e divertido sem se levar a sério demais nem escrachar.

Produzido pela experiente Gale Anne Hurd, de “Exterminador do Futuro” e “Aliens: O Resgate” à série de TV “The Walking Dead”, “Parque do Inferno” é um eficaz exercício de gênero, mas que poderia ter sido realizado da mesma forma pelo menos vinte anos antes, no auge do neoslasher pós-moderno, consciente dos seus clichês e ao lado de obras a exemplo da franquia “Pânico”. Sobre o assassino em si, como em todo bom filme de “esfaqueador”, não suponha mais que uma força maligna cuja identidade misteriosa não importa. O diretor Gregory Plotkin (“Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma“) chega a sugerir um relevante comentário social num epílogo dispensável, mas que esperamos não ser sinal de uma desnecessária sequência. Exceto, é claro, se trouxerem algo realmente novo para a mesa e não só mais bolo de chocolate.

William Sousa
@williamsousa

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