Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 07 de agosto de 2020

Festival Sangrento (2018): quando a homenagem desaponta

Uma interessante discussão sobre o papel do terror não é suficiente para inspirar um bom roteiro muito menos uma boa direção, mesmo com o humor como alvo.

Por que assistir a filmes de terror? Segundo o criador de “Festival Sangrento“, Owen Egerton, porque é divertido. Com o controle sobre o texto, direção e até um dos papéis de seu filme, a proposta de Owen é amplificar essa diversão, espremendo na forma de um parque de diversões sua homenagem a diversos subgêneros do horror. No entanto, sua escolha como campo de trabalho é o humor debochado, uma das maneiras mais difíceis de equilibrar riso e sangue nas telas. O resultado acaba não sendo à altura de nenhum dos filmes que ele propõe louvar.

A premissa de Owen nasce da cartilha metalinguística de Wes Craven, só que duas décadas atrasada. Dax (Robbie Kay) é um adolescente que presenciou o assassinato da mãe quando criança e se tornou fã de filmes de horror. Seu pai (Tate Donovan), no entanto, é um psicólogo reconhecido pela cruzada contra a violência no cinema e todos seus supostos malefícios à sociedade. Quando o grande festival temático Blood Fest chega à cidade, comandado pelo próprio Egerton como o excêntrico Anthony Walsh, Dax e seus amigos dão um jeito para ir sem imaginar as intenções sangrentas por trás do evento.

Antes de mergulhar nas “atrações” de “Festival Sangrento”, vale a pena relembrar que a desculpa de um parque temático que se torna palco para o próprio tema também foi usada em outro filme, “Parque do Inferno“, também de 2018. Enquanto o “Parque” usa o terror para fazer mais terror, o “Festival” o utiliza para fazer graça e infelizmente é onde mais desaponta. Os diálogos escritos por Egerton são ruins e os atores não conseguem entregar piadas convencidamente. Os diferentes tons nas diversas atuações mostram que estes profissionais não tinham a mesma ideia sobre o tipo de filme que estavam fazendo. Menos mal que pelo menos o protagonista foi consistente e carismático o suficiente para liderar. Isso somado a problemas como som mal dublado, péssimos figurantes e cenas visualmente desinteressantes apontam para a má direção geral.

Outro fato não ajuda no posicionamento deste filme. A homenagem ao terror feita com metalinguagem e humor, expondo inocentes aos diversos tipos de algozes a partir de uma sala de controle, já foi feita com maestria em 2011 por Drew Goddard e se chama “O Segredo da Cabana“. Mesmo com uma proposta mais galhofa (também conhecida como comédia “camp“), “Festival Sangrento” não entrega a mesma riqueza. É verdade que o orçamento deste é bem menor que os das duas comparações, mas o devido tratamento de roteiro e sensibilidade na direção, tanto de câmera quanto de atores, não são tão dependentes de dinheiro para encontrarem desculpa no baixo custo.

Ao apresentar uma história boba, sem grandes pretensões, a obra termina por subestimar o próprio gênero quando afirma que o terror serve somente para diversão e não tenta entregar mais que isso. Ela reconhece seus formatos e seus clichês, mas simplifica demais sua função e minimiza a discussão sobre sua importância para a sociedade. Para uma proposta que deveria ser uma carta de amor ao terror, acaba ignorando sua real complexidade sendo somente uma brincadeira, e perde força ao não tentar nada novo nem fazer jus ao cinema que supostamente propõe homenagear.

William Sousa
@williamsousa

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