Agatha Desde Sempre mostra como é bom baixar a escala — e as expectativas [Primeiras Impressões]
Episódios iniciais mostram que a série foge da grandiosidade e das amarras do MCU para entregar uma obra leve, divertida e só.
(Divulgação/Disney)
O maior acerto dos episódios iniciais de “Agatha Desde Sempre” é se distanciar da pressão e da expectativa de ser mais uma peça grandiosa do MCU. A série abraça seu papel dentro do universo Marvel e adota seu próprio ritmo, tom e narrativa, sabendo exatamente o que quer entregar. Para isso, ela ruma para longe da habitual ameaça cósmica ou grande perigo que aflige o mundo inteiro. O enredo é mais do que simples: Agatha Harkness, agora liberta de um feitiço aprisionador, reúne um grupo de bruxas (um coven) para percorrer o “Caminho das Bruxas” em busca de poder.
O primeiro episódio faz um bom trabalho de transição ao aproveitar a identidade única utilizada em “WandaVision” para iniciar essa nova aventura. Há um respeito claro ao que veio antes, afinal, ambas as séries compartilham a mesma criadora, Jac Schaeffer. Porém, no decorrer dos episódios fica claro que a história é exclusivamente de Agatha Harkness e dos novos personagens apresentados. A série, então, estabelece um ritmo e tom próprios, que se distancia não apenas da própria “WandaVision” como também da tão comentada fórmula dos filmes do MCU.
O que vemos em seguida é uma construção de um estilo próprio que une elementos de terror e pitadas de musical ao que, de fato, domina a identidade da série: o humor. “Agatha Desde Sempre” se destaca na comédia, com Kathryn Hahn, mais uma vez, brilhando no papel de Agatha. Com mais tempo de tela, Hahn explora nuances que vão além da bruxa arrogante e insolente que vimos anteriormente. Aqui, vemos também um lado mais sombrio e calculista, onde a personagem não hesita em colocar seus interesses acima de tudo, sempre maquinando planos de como se dar bem às custas dos outros.
Outro destaque é Joe Locke, cuja química com Hahn é leve e agradável de assistir. A dupla compartilha o timing cômico, revezando-se entre quem entrega as piadas e quem serve de escada. Locke interpreta um personagem com um background desconhecido, o que desperta curiosidade tanto sobre suas intenções quanto sobre o seu passado.
Entretanto, é Aubrey Plaza quem rouba a cena entre as bruxas. A atriz mergulha na personagem, Rio Vidal, com gosto, e não bastasse suas expressões de desdém debochado que a tornam magnética, seu passado com Agatha também promete movimentar a narrativa até o final.
Em alguns momentos, o roteiro alonga demais certas sequências, especialmente em comparação com o ritmo mais direto de “WandaVision”, que tinha episódios mais curtos e uma narrativa mais enxuta. No entanto, essa dilatação não chega a prejudicar a experiência geral. Porém, vindo de uma showrunner que entregou um arco tão bonito e bem construído, vale um voto de confiança de que as cenas extras terão sua serventia até o final.
“Agatha Desde Sempre” é, em essência, uma série que não tenta ser algo que não é. E por incrível que pareça, é de algo assim que o MCU precisa para respirar. Uma produção sem grandes aspirações e com poucas ligações com obras preexistentes (impossível não ter, afinal, trata-se de um derivado). Caso continue assim até o final, tem potencial para ser mais um grande acerto, assim como sua predecessora foi.