Invasão Secreta pode ser para a Marvel o que Andor foi para Star Wars [Primeiras Impressões]
Nova série da Marvel estreia no Disney Plus nesta quarta-feira, 21.
Salvo raras exceções, é consenso que as séries do MCU não atingem patamares elevados de qualidade. Isso deve ter acendido o alerta na sala de Kevin Feige, pois presenciamos uma súbita redução no ritmo das produções seriadas. A obra mais recente, “Mulher-Hulk”, foi lançada na metade final de 2022 e se mostrou uma grata surpresa por, dentre outras qualidades, evitar o estilo “filme de seis horas partido”, marca registrada de praticamente todas as demais. Felizmente, ao assistir os dois primeiros episódios de “Invasão Secreta“, é possível notar um desprendimento ainda maior da Marvel com sua fórmula para séries, reconhecendo que o formato comumente utilizado por tantos outros estúdios tem sua razão de existir.
Pode parecer um detalhe pequeno, mas até a presença de uma vinheta própria de abertura (a primeira no MCU) tem seu valor. A sequência com os créditos iniciais não apenas marca uma possível mudança de paradigmas na Marvel no que diz respeito ao formato das séries, como ainda contribui para o clima soturno que nos acompanha no decorrer dos episódios. Adicione a isso sequências pacientes de diálogos e revelações/cliffhangers ao final de cada capítulo e está montada a estrutura seriada de um thriller de espionagem/intriga política. Claro que contar com um Nick Fury (Samuel L. Jackson) no papel do agente envelhecido de volta aos negócios ou com toda uma trama de sucesso das HQs da Marvel acaba elevando a expectativa de “Invasão Secreta” a outros patamares.
Mas, afinal, que invasão é essa?
Para você não acompanhou os materiais de divulgação da série (parabéns!), “Invasão Secreta” se inspira em um arco homônimo dos quadrinhos, além de dar continuidade à trama apresentada em “Capitã Marvel”. Os Skrulls, raça alienígena capaz de metamorfosear a aparência, estão refugiados na Terra após uma guerra contra os Kree, até que Carol Denvers (Brie Larson) promete encontrar um lar para eles. A última cena do filme de 2019 mostra a heroína partindo ao lado de uma nave cheia de Skrulls. Porém, a série de 2023 diverge disso, mostrando detalhes do que realmente aconteceu. É aí que vemos como esses alienígenas utilizavam suas habilidades especiais para missões secretas no nosso planeta bem antes do que imaginávamos.
Apenas para criar um contexto sem muitos spoilers, sabemos que Nick Fury está fora da Terra há algum tempo — e nem é preciso mencionar a agenda cheia da Capitã Marvel. Sendo assim, quem está buscando um novo lar para os Skrulls? É o que alguns deles começam a questionar. Até que chega um momento em que a liderança conciliadora de Talos (Ben Mendelsohn), leal a Fury, não é capaz de manter todos unidos. E essa cisão dá início aos acontecimentos da série.
Climinha de vai dar m…
Muita seriedade, pouco humor. Essas características fazem total sentido em uma obra na qual espionagem e trama política são pilares. Contudo, ainda estamos falando da Marvel, e muitos espectadores podem não estar preparados para algo sóbrio, frio e capaz de deixar até mesmo os super-heróis de lado. Assim como “Andor” marcou uma perspectiva totalmente diferente e igualmente incrível de se retratar o universo “Star Wars”, “Invasão Secreta” dá sinais que, ao menos nesse quesito, tem potencial de ser igualmente marcante para o MCU.
Não se trata de algo inédito, afinal, “Capitão América: O Soldado Invernal” ocupa o pódio dos melhores longas da Marvel de tantas pessoas justamente por abraçar esse clima. “Falcão e o Soldado Invernal”, por sua vez, não teve a mesma capacidade, ainda que tenhas méritos, sobretudo arranhando um retrato mundano da Terra pós-blip, tema tão interessante e por tantas vezes ignorado pelo próprio estúdio. “Invasão Secreta” também aposta nesse mundano, e embora não crie tantas subtramas quanto a série do novo Capitão América, corre o risco de não ter tempo para finalizar suas ambições — a paciência no desenvolvimento é uma benção que pode se tornar uma maldição.
Ainda é importante destacar que esse clima de paranoia, caos, “você não sabe em quem pode confiar”… é algo muito mais responsabilidade do marketing da produção do que necessariamente do material visto nos dois primeiros capítulos. Poucos são os momentos onde realmente há dúvidas de quem é ou não Skrull. Particularmente, no segundo episódio, há uma sequência que, ao invés de apostar na dúvida, o roteiro acaba fazendo o oposto e já deixando bem claro quem são determinados personagens e sua importância futura. É evidente que novas revelações podem surgir, mas elas serão muito mais plot twists servindo apenas para chocar do que algo criado para deixar o espectador o tempo inteiro com a pulga atrás da orelha.
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Esse clima sombrio casa não apenas com a narrativa, mas com um público que envelheceu 15 anos desde o lançamento do MCU e carece de tramas mais adultas. Nick Fury é um personagem emblemático desde sua primeira aparição em “Homem de Ferro”. E vê-lo desgastado física e emocionalmente, mas precisando resolver algo que exige muito mais das suas qualidades do que de heróis soltadores de poderes é, no mínimo, empolgante.
Também podemos rever nomes que nunca conseguiram o merecido espaço em outras narrativas, como os agente Everett Ross (Martin Freeman) e Maria Hill (Cobie Smulders), e conhecer outros Skrulls como Gravik (Kingsley Ben-Adir) e G’iah (Emilia Clarke). Destaque para Olivia Colman e sua Sonya Falsworth, agente do MI6 que adiciona uma pitada de humor em suas aparições graças ao combo ironia+psicopatia que lhe veste perfeitamente.
Se o roteiro souber os melhores caminhos para seguir, evitando subtramas desnecessárias e focando no que importa, “Invasão Secreta” pode marcar uma nova era para as séries do MCU.