Primeiras impressões de Nove Desconhecidos, nova série do Amazon Prime Video com Nicole Kidman
Ambientada em um luxuoso retiro onde nada é o que parece, a série apresenta uma história intrigante e interessantes personagens em seus primeiros episódios.
Lugares grandes e luxuosos parecem ter se tornado o centro perfeito para grandes suspenses. Seja por seus visuais sedutores ou pelo imenso valor de produção que costumam esbanjar, parece certeiro que retiros e hotéis de alta classe abrigam indivíduos de caráter duvidoso, por trás dos quais há sempre muito além das aparências. Perfeitos para obras do gêneros, esses ambientes deram origem a uma linha que tem sido bastante utilizada nos últimos meses – conforme demonstra a recente atração da HBO, “The White Lotus“, e o último filme de M. Night Shyamalan, o paradisíaco “Tempo” -, e que parece ter sido a escolhida para dar continuidade a safra de sucessos do produtor David E. Kelley.
Reconhecido por trazer para as telinhas obras como “Big Little Lies” e “The Undoing“, e agora baseando-se no romance de Liane Moriarty, aqui Kelley traz um misterioso spa afastado da sociedade como o palco para continuar as suas adaptações, trazendo a prestigiada Nicole Kidman para ser, mais uma vez, a grande protagonista. Na pele da excêntrica Masha – a gerente do estabelecimento que guarda um misterioso passado -, ela reúne assim “Nove Desconhecidos“, cada qual com suas respectivas angústias e conflitos pessoais, e os submete a uma estadia que promete revigorar completamente os seus espíritos e mentes. Percorrendo assim inseguranças e caricaturas, a mais nova produção lançada pelo Amazon Prime Video no Brasil, promete assim uma experiência bastante interessante, investindo em uma divertida subversão de caricaturas enganosas que é complementada por bons toques de suspense.
O Cinema Com Rapadura teve a oportunidade de assistir aos primeiros episódios da minissérie, digna de uma maratona que, embora ainda incompleta, já entregou o suficiente para manter o espectador na ponta da cadeira. Intercalando as lúdicas atividades terapêuticas imperadas por Masha e segmentos do passado de suas “cobaias”, é extremamente envolvente a maneira como a obra nos desafia com o desconhecimento em relação aos que compõem o microcosmo retratado.
Marcados por características superficiais durante o piloto – caso da cômica escritora interpretada por Melissa McCarthty, angustiada com o aparente fim de seu sucesso, ou da enjoada Jessica, influencer obcecada por aparências que é interpretada por Samara Weaving, por exemplo -, os desdobramentos de suas verdadeiras personalidades colocam em suspensão praticamente tudo o que sabemos sobre eles. Cria-se assim um clima de constante tensão acerca até mesmo do propósito daqueles “experimentos”, nos levando a questionar quem estamos realmente acompanhando episódio após episódio e o motivo deles estarem ali.
Indo além, é igualmente marcante como a performance de Kidman desvencilha, aos poucos, de uma interpretação mais teatral e marcada por trejeitos propositalmente expositivos – haja visto, por exemplo, o carregado sotaque russo que revela aspectos de sua origem -, e mostra a verdadeira natureza de sua personagem, corroborando o discurso da série acerca das máscaras sociais que usamos no cotidiano. Para além dos comentários críticos, todavia, que desconstroem a formulação de pré-julgamentos, comumente mal formulados diante da mera impressão que temos uns dos outros, chama a atenção como o seriado bem administra os símbolos que possui ao seu alcance – entre os quais podemos apontar o casal “perfeito” formado por Heather (Asher Keddie) e Napoleon (Michael Shannon) – para denunciar como somos facilmente dominados pelo supérfluo, incapazes de exercer nossa verdadeira essência perante esses comodismos. E o reconhecimento desse fato deveria ser em prol de uma unificação, oposto do que ocorre em tela, intensificando ainda mais os capítulos.
Tudo isso, é claro, embalado por um excelente trabalho de fotografia, que muito bem resgata a vivacidade e as cores daquele paraíso planejado, elevando o contraste entre o falso agradável e a aspereza do verdadeiro especializado em se esconder. Dirigida por Jonathan Levine, a obra parece assim estar prestes a adentrar caminhos ainda mais tortuosos, pelos quais devemos encontrar ainda mais surpresas. Com três episódios programados para o dia 20 de agosto no Prime Video, “Nove Desconhecidos” ganhará novos episódios semanalmente a partir da data e, se diferente de suas personagens, não esconder nada negativo em suas estranhas, merece ser conferida!