O terceiro episódio de “Falcão e o Soldado Invernal” trouxe os retornos de Zemo e Sharon Carter, e jogou a pergunta para o público: quem é o Mercador do Poder? Seria esse mais um caminho rumo a uma revelação sem impacto como a “engenheira aeroespacial” de “WandaVision”, a busca por um novo Mefisto, ou o personagem terá realmente alguma relevância na trama?

Com apenas três episódios pela frente, surge a preocupação com a finalidade da série, que já mistura diferentes antagonistas sem deixar exatamente claro quem é o principal vilão. A área cinza acabou se tornando uma grande névoa, com Sam e Bucky se juntando a um Zemo um tanto diferente daquele que conhecemos em “Capitão América: Guerra Civil”, e agindo novamente como foras da lei. O objetivo é descobrir a origem do soro do super soldado com que os Apátridas foram injetados. A substância é então descoberta como um produto do trabalho de Wilfred Nagel, antigo membro do Programa do Soldado Invernal da HIDRA, e que desenvolveu uma nova fórmula, financiado pelo Mercador do Poder.

Então, quem seria essa pessoa? Qual o motivo de seu interesse no soro do super soldado? E como isso pode estar diretamente conectado com “Viúva Negra”? Tentamos descobrir!

As diversas versões do soro do super soldado

Foi o cientista alemão Abraham Erskine o primeiro a desenvolver uma fórmula para aprimorar a força e habilidades a níveis sobre-humanos, ainda na década de 1930. Com a ascensão de Hitler, ele tentou fugir do país, mas foi capturado por Johann Schmidt para continuar a desenvolver o soro. Em 1940, Schmidt exige ser injetado com a substância, no que Erskine nega, mas o fundador da HIDRA possui um desejo de se tornar um homem superior, e toma esta versão da fórmula para si. Embora o objetivo inicial de aprimoramento tenha sido sentido, Schmidt sofre com uma deformação que o transforma no Caveira Vermelha. Erskine consegue escapar da Alemanha, indo trabalhar para os Estados Unidos, onde continua a desenvolver o soro do super soldado.

Através do Projeto Rebirth, o cientista recruta Steve Rogers, um franzino garoto do Brooklyn que deseja servir a seu país. Erskine vai contra as expectativas do governo de trazer alguém já forte para o programa, e explica que o soro aumenta aquilo que a pessoa já tem, tanto do lado de fora, como dentro. O que aconteceu com Schmidt não foi somente um erro, mas também um reflexo de quem ele é. Assim, era imprescindível que a pessoa escolhida para esta nova versão fosse alguém de bom coração. Em 1942, Rogers passa pelo experimento e se torna o primeiro super soldado americano. O objetivo era ter mais deles, mas Erskine é assassinado logo que Rogers se mostra como um sucesso, e tudo que resta ao país seriam amostras do sangue do Capitão América.

Um capítulo escondido da história foi desenterrado em “Falcão e o Soldado Invernal”, quando Bucky revela a Sam a existência de um super soldado além de Steve: Isaiah Bradley. Depois da morte de Erskine, o governo americano continuou tentando recriar o soro usando o sangue de Rogers, e Isaiah foi um dos que passaram pelo experimento nos anos 50. Inspirado pela série “Capitão América: Verdade – Vermelho, Azul e Negro” dos quadrinhos, não está claro se no MCU mais soldados negros foram vítimas de testes com a substância, e aqui Bradley parece ter passado pela transformação apenas depois de Steve sumir no gelo. Mas o que permanece verdade é o tratamento do governo para com Isaiah, que mesmo tendo sobrevivido uma missão na Coreia, derrotando o Soldado Invernal, não foi recebido como um herói, e sim jogado na prisão por trinta anos onde continuou a ser usado como cobaia.

De volta à Alemanha, depois da fuga de Erskine, o Caveira Vermelha contou com a ajuda do cientista Arnim Zola, que além de trabalhar em diversos equipamentos de alta tecnologia para a HIDRA, também desenvolveu seu próprio soro do super soldado, usando Bucky Barnes para teste, em 1943. Bucky foi resgatado por Steve, mas depois foi levado de volta ao próprio Zola, ao cair do trem em 1945 e sobreviver. Zola, recrutado pela futura SHIELD depois de ser capturado, continuou a levar a HIDRA adiante por debaixo dos panos, e transformou Bucky no Soldado Invernal.

Em 1991, a HIDRA envia o Soldado Invernal para recuperar as amostras do soro que Howard Stark conseguiu recriar a partir do sangue de Steve Rogers, usando-as para expandir o Programa do Soldado Invernal, e transformar mais agentes em super-humanos. Os experimentos parecem ter sido bem-sucedidos de início, mas os soldados logo se mostram incontroláveis e são colocados no gelo – até que em 2016, Zemo os mata.

Depois dos ataques de 11 de setembro, o general Thaddeus Ross é colocado à frente de uma nova tentativa de recriar o soro. Desta vez, no entanto, a real intenção do projeto é mantida em sigilo, e quando Bruce Banner se junta ao programa, ele pensa estar desenvolvendo um meio de proteção à radiação. O acidente que transforma o cientista no Hulk acontece em 2004, e o projeto não continua. Mas durante os eventos de “O Incrível Hulk” vemos que o exército não desistiu do soro do super soldado, e Ross vai atrás de uma amostra parte do programa Weapon Plus, desenvolvida pelo Dr. Reinstein, para injetar em Emil Blonsky (que se tornaria o Abominável depois de misturar seu sangue com o de Bruce). Reinstein, curiosamente, é o nome de um dos cientistas responsáveis pela fórmula injetada em Isaiah Bradley nos quadrinhos, e a substância do chamado Weapon Plus pode ter a ver com os experimentos de Bradley no MCU.

Em algum momento depois dos novos experimentos do Programa do Soldado Invernal terem falhado, Wilfred Nagel é recrutado pela HIDRA para continuar o trabalho. Levando em conta a idade de Olli Haaskivi, ator que interpretou o personagem, isso teria de ser feito entre 2004 e 2014, quando a HIDRA caiu. Então, Nagel é recrutado pela CIA e continua a trabalhar em seu novo soro refinado, sendo vítima do estalo de Thanos antes de conseguir concluir. Ao retornar em 2023, ele é financiado pelo Mercador do Poder e consegue replicar a substância, em uma fórmula capaz de oferecer a super força e habilidades aprimoradas sem mexer com o físico dos sujeitos. Vinte amostras são produzidas, todas roubadas por Karli Morgenthau, que usa em seus Apátridas, deixando sobrar uma única dose.

Mercador do Poder original e experimentos soviéticos

Entre 1945 e 1991, tem-se um espaço de tempo interessante para especulação. Descobrimos em “Capitão América: Soldado Invernal” que Zola tinha como objetivo desestabilizar a ordem mundial através da HIDRA, alimentando crises e para isso usando sua própria máquina de matar. Quando recebeu um diagnóstico terminal em 1972, Zola transferiu sua consciência para um computador e continuou a liderar a organização até sua eventual queda em 2014, nos eventos do filme citado.

Seria possível que Zola fosse o Mercador do Poder original? Afinal, este próprio nome define alguém que vende o poder por dinheiro, sem necessariamente se preocupar para que fim será usado. Levando em conta a ideia de alimentar crises mundiais, a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética parece ser uma ótima atmosfera, além de situar uma possível parte da trama de “Viúva Negra”. E se Zola forneceu ao governo soviético um soro do super soldado? Não seria absurdo imaginar que o cientista conseguiria uma nova versão usando o que foi feito com Bucky, e ao possivelmente vender a fórmula para a União Soviética, seria então o Mercador do Poder.

Sabemos que Alexei Shostakov, o Guardião Vermelho, foi usado como o “Capitão América da União Soviética”, mas a timeline dos eventos ainda não está clara. Em uma cena de “Viúva Negra” exibida exclusivamente na CCXP 2019, o personagem questiona Natasha se o Capitão América havia falado sobre ele, já que era “seu grande adversário”. Isso em tese colocaria Alexei como um contemporâneo de Rogers entre 1943 e 1945, em uma guerra em que os países estavam do mesmo lado. Mas se considerarmos que o Capitão América continuou forte como um símbolo durante a Guerra Fria, momento em que os países se tornaram inimigos, o Guardião Vermelho serviria como o oposto ao Capitão, e eles seriam adversários no campo das ideias.

Considerando que Alexei deve ser um super soldado, ele pode ter sido injetado com uma amostra adquirida de Zola. Melina Vostokoff, personagem de Rachel Weisz, é uma Viúva Negra que passou pelo treinamento do Quarto Vermelho cinco vezes, e lida com “experimentos científicos”. A partir daí, pode-se assumir que com o soro adquirido pela União Soviética, começou-se um programa próprio, que pode ter sido continuado fora da supervisão do governo no Quarto Vermelho. Deve ser assim que, anos depois, o Treinador foi criado.

Quem é o novo Mercador do Poder?

Algo que não pode ser ignorado nisso tudo, é a participação da CIA. Não é nenhum segredo que, mesmo no mundo real, a agência costuma operar fora dos limites impostos pela ética, e no MCU, Nagel revela que foi recrutado para continuar a recriar o soro, usando amostras de sangue de Isaiah Bradley. Fica comprovado, então, que não só a CIA tinha conhecimento sobre o super soldado, como o usava, e continuaria a fazer mais pessoas de cobaias para desenvolver a nova fórmula da substância.

Outra informação a ser notada é o fato de que com o fim da SHIELD, alguns agentes foram integrados por outras agências, como a própria Sharon Carter, que se juntou à CIA. A personagem aparece em “Falcão e o Soldado Invernal” como parte do mundo do crime de Madripoor, depois de ter se tornado uma fugitiva do governo americano. Muitos já levantaram a possibilidade dela ser o Mercador do Poder, mas isso não parece ser o caso, embora não deva ser descartada a chance dela estar trabalhando para a figura.

Mas e se o Mercador do Poder for de fato alguém inserido na CIA, com inteligência de diversos países, e capacidade de continuar nas sombras enquanto atua com influência no mundo do crime? É possível que o personagem seja alguém que ainda não foi apresentado no MCU, e uma ligação com “Viúva Negra” pode ser estabelecida a partir daí. O primeiro filme da Fase 4 trará Rick Mason, interpretado por O.T. Fagbenle, que é descrito como uma antiga conexão da SHIELD de Natasha, e um interesse amoroso. À época de “Capitão América: Guerra Civil”, a agência já havia sido dissolvida, e Mason pode ter sido uma das pessoas a ser realocada na CIA. Muitos especulam que ele é a verdadeira identidade do Treinador, o que pode ser o caso, mas pode ser que Mason seja justamente alguém com conhecimento suficiente para agir como um Mercador do Poder.

Não se sabe a partir de que momento essa figura veio à tona no mundo, mas Zemo descreve sua presença como o “juiz, júri e executor” de Madripoor, então é certo assumir que ele deve estar agindo há alguns anos. O MCU está em 2024 atualmente, então é possível que o Mercador do Poder tenha usado a queda da HIDRA – e consequentemente de Zola – em 2014, para se estabelecer, com dez anos de história.

Há de se lembrar que “Viúva Negra” seria originalmente lançado antes de “Falcão e o Soldado Invernal”, e o filme já está pronto há mais de um ano. A série, porém, só foi parcialmente gravada antes da pandemia, continuando grande parte das filmagens já no decorrer de 2020. Rumores apontam que várias pedaços da trama foram reescritos, e isso pode apontar uma relação com o filme. Já que a série teria sido lançada depois de “Viúva Negra”, pontos chaves talvez colocados por esta produção não poderiam mais fazer parte do seriado, e teriam de ser adaptados. Vários momentos no episódio 3 parecem ter sido recortados, com personagens falando fora de tela, e cenas que parecem ter sido parte de refilmagens. A ligação entre os dois, portanto, pode ser mais forte do que imaginado.

A especulação aqui começa a ficar mais complicada. Se o Mercador do Poder de fato tiver alguma relação com “Viúva Negra”, uma revelação sobre sua identidade não deve ser feita ainda na série, o que pode representar uma decepção narrativa – mas não é nada improvável. Com o benefício do uniforme, é mais possível que se alguém for aparecer ao fim de “Falcão e o Soldado Invernal”, seria o Treinador. No recente trailer do filme, ele é mostrado como uma peça controlada, em vez de alguém no controle, mas vários anos e um blip depois, isso pode ter mudado.

Se Mason não for alguém dúbio, ainda temos Melina, outra grande aposta para a verdadeira identidade do Treinador, ou ao menos alguém que parece estar envolvida em esquemas nada confiáveis. De uma forma ou outra, os fios parecem se voltar à figura mascarada. Nos quadrinhos, o personagem é responsável por treinar John Walker, para que ele possa lutar como o Capitão América. E sabe aquela única dose do soro de Nagel que ainda está na posse de Morgenthau? Parece ter sido colocada perfeitamente para que Walker fosse aquele a ser injetado com a substância, a fim de se tornar mais como o Capitão América. Mas relembrando as palavras de Erskine, “o bom se torna ótimo, o mau se torna pior”.

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O episódio 4 de “Falcão e o Soldado Invernal” vai ao ar nesta sexta-feira (9), no Disney Plus.