[Lista] Mulheres inspiradoras: 10 filmes para conhecer diferentes histórias pelo olhar feminino
Muitas histórias com mulheres na frente e por trás das câmeras merecem sua atenção - conheça nossas recomendações.
A temporada de premiações de 2021 está marcada por produções estreladas e comandadas por mulheres, mostrando o avanço da indústria – ainda que a passos lentos – quanto à diversidade de projetos que conseguem este tipo de atenção. O Oscar pela primeira vez indicou duas mulheres juntas na categoria de Direção, com Chloé Zhao (“Nomadland”) e Emerald Fennell (“Bela Vingança”) disputando o prêmio.
Ainda assim, uma ausência nesta temporada foi sentida, ainda que já previsível. “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre”, escrito e dirigido por Eliza Hittman, foi o vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim 2020, conquistou diversas indicações no Spirit Awards 2021, e foi aclamado pela crítica. O filme, no entanto, não conquistou espaço no Oscar, mas aqui falamos sobre a importância de assisti-lo. O longa é um dos lançamentos do mês no Première Telecine, e já está disponível no streaming.
Neste texto, falamos sobre a obra de Hittman, com ainda outras nove recomendações de filmes com mulheres na frente e por trás das câmeras, indo da comédia ao suspense, e com muita qualidade. Todos eles estão disponíveis na Cinelist Mulheres Fazem Cinema do Telecine – veja abaixo!
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Nem só de flores e alegrias vivem as mulheres. Se ser adolescente já é uma fase intensa e complicada, passar por ela sendo mulher pode ser ainda mais complexo. A diretora e roteirista Eliza Hittman entendeu a questão melhor do que ninguém com “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre”.
No filme, a jovem Autumn (Sidney Flanigan) descobre que está grávida, mas como ela vive no interior da Pensilvânia, conseguir um aborto sendo menor de idade é impossível sem autorização dos pais, sem contar os entraves que o conservadorismo de sua cidade natal geram. Cansada da negligência emocional de sua família e sem ter condições de ter um filho neste momento, ela e sua prima Skylar (Talia Ryder) pegam um ônibus às escondidas até Nova York para que Autumn possa fazer o procedimento.
Com muita delicadeza para tratar do assunto e maestria para manejar a câmera e dizer muito com poucas palavras, Hittman fez com que “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” se tornasse mais do que um “filme sobre aborto” e contasse uma história angustiante sobre as dores de crescer, ser mulher em um mundo desigual e o verdadeiro companheirismo que encontramos nos momentos mais difíceis.
Emma.
Este delicioso filme é mais uma adaptação do romance homônimo de Jane Austen, sendo quase como uma mistura da versão mais livre retratada em “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) e do mais clássico “Emma”, de 1996. Indicado nas categorias de Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Figurino no Oscar 2021, o filme marca a estreia da fotógrafa Autumn de Wilde na direção de um longa, algo que ela faz com graça e leveza.
Anya Taylor-Joy é Emma Woodhouse, uma jovem rica que faz amizade com a menos afortunada Harriet Smith (Mia Goth) e decide agir como cupido, procurando o melhor partido para sua amiga. Ao mesmo tempo, ela ignora seus próprios admiradores, enquanto tenta entender porque o galante sr. Knightley (Johnny Flynn) a incomoda tanto (claro que é amor!).
“Emma.” é lindo de se assistir, seja por seu elenco belíssimo, seja pelos cenários, figurinos, e até comidas que convidam o espectador a fazer parte desta fantasia da alta sociedade inglesa. Se você procura por algo leve e apaixonante, esta é uma ótima pedida.
Queen & Slim – Os Perseguidos
Num ano que, mal sabíamos, seria profundamente marcado não só pela pandemia mas também por protestos contra a desigualdade racial e a brutalidade policial, a diretora de videoclipes Melina Matsoukas se aventurou pela primeira vez na tela grande em 2020 com “Queen & Slim – Os Perseguidos”, um filme que não poderia ser mais adequado ao momento e que ainda mantém a identidade visual marcante que a diretora já usava em seus vídeos.
No longa, Queen (Jodie Turner-Smith) decide sair para jantar com Slim (Daniel Kaluuya), um homem que conheceu no Tinder. Após o encontro, os dois são parados por um policial branco que implica com Slim e o revista. A abordagem, porém, se torna violenta e Slim se defende matando o oficial. Ele e Queen, então, decidem fugir para salvar suas vidas e vão conquistando a compaixão das pessoas ao longo do caminho, que vão ficando pouco a pouco indignadas com a violência de policiais brancos contra civis negros.
Com roteiro escrito pela atriz, produtora e ativista Lena Waithe, “Queen & Slim – Os Perseguidos” consegue misturar o estilo de Matsoukas já conhecido por seus clipes premiados (como Formation, de Beyoncé) e uma história importante sobre violência, injustiça e a força principalmente das mulheres para criar um road movie original e imperdível.
A Despedida
Awkwafina já é um ícone da comédia, mas em “A Despedida”, a atriz mostrou também seu lado dramático, emocionando em uma história intimista baseada na vida real da roteirista e diretora do longa, Lulu Wang. A produção foi indicada a Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro 2020, e Awkwafina venceu na categoria de Melhor Atriz de Comédia ou Musical (as definições do que é comédia desta premiação não fazem sentido…).
A sino-americana Billi (Awkwafina), que vive em Nova York, tem uma ótima relação com sua vó Nai Nai (Zhao Shu-zhen), que mora em uma província da China. As duas estão sempre em contato pelo telefone, e Billi a tem como confidente. Certo dia, seus pais contam a terrível notícia de que foi descoberto um câncer em Nai Nai, e ela teria poucos meses de vida. O choque é grande, mas se não bastasse isso, a família quer esconder o diagnóstico da avó de Billi, para que assim ela não tenha que lidar com o desgaste emocional de passar por uma doença como essa. A prática, a família explica, é comum na China, com Nai Nai tendo feito o mesmo com seu próprio marido, porém Billi, crescida na América, tem dificuldade em entender.
“A Despedida”, então, mostra a jovem viajando para perto de sua vó e do resto de sua família para aproveitar o máximo de tempo que têm juntas. Apesar do que a descrição pode indicar, o filme não é um drama pesado, mas garante momentos emocionantes. Traz também reflexões sobre nossas próprias dinâmicas familiares, e ainda consegue dar um quentinho no coração.
Varda por Agnès
Não bastasse ter sido um ícone feminista em vida, a diretora francesa Agnès Varda foi uma das pioneiras da Nouvelle Vague do cinema. Antes de partir, em 2019, Varda fez um último filme, desta vez sobre ela mesma, como se fosse sua autobiografia – mas sem perder seu jeitinho tão particular de fazer filmes.
“Varda por Agnès” é um documentário sobre a diretora, suas facetas e o que mais a inspira: a fotografia, o cinema e a vida em si. Ela aborda diversos aspectos de sua vida, não só como diretora, mas também como fotógrafa, artista e ser humano, compartilhando de seu processo criativo enquanto profissional e enquanto uma pessoa aberta à sensibilidade e curiosidade que a existência tem a oferecer.
O filme, além de trazer uma proximidade de seu público com a forma de pensar de um dos maiores nomes da sétima arte, mostra toda a potência de Agnès Varda de forma inspiradora, fazendo com que a admiração por sua pessoa e sua trajetória seja ainda maior!
Fora de Série
Outra estreante na direção de um longa, Olivia Wilde traz a divertida comédia adolescente “Fora de Série”, estrelada por Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever. Molly e Amy são melhores amigas desde sempre, e estão chegando ao fim de seu último ano no Ensino Médio. É então que elas percebem que durante todos esses anos na escola, as duas nunca foram “rebeldes”, nunca foram a festas e se divertiram como os jovens da mesma idade fazem. Elas são o “booksmart” do título original, termo que se refere a alguém que possui conhecimento vindo de livros. É o dever de Molly e Amy, então, aproveitar o último dia de aula para se divertirem como nunca fizeram antes.
O filme é hilário e a amizade das duas é linda de se ver. Obras como essa, comédias descompromissadas de baixo orçamento, não têm mais tanto espaço no cinema convencional, mas têm encontrado nos streamings uma boa casa, e este longa certamente merece a audiência. A química entre Dever e Feldstein é envolvente – esta última foi, inclusive, indicada ao Globo de Ouro 2020 em Melhor Atriz de Comédia ou Musical. A personagem de Billie Lourd também tem destaque, sendo uma das mais engraçadas do filme. Chame sua melhor amiga para uma watch party virtual, e dê o play em “Fora de Série”!
Cléo das 5 às 7
Como já falamos sobre todo o poder de Agnès Varda aqui, nada mais justo do que celebrar um de seus filmes mais conhecidos – e amados -, “Cléo das 5 às 7”. Lançado em 1962, o longa foi marcante não somente para o cinema francês, mas também para o movimento feminista do país ao trazer um olhar ainda pouco visto sobre a figura da mulher.
Cléo (Corinne Marchand) visita uma cartomante que prevê que ela está doente, potencialmente com câncer, e que morrerá em breve. A partir desta visita, Cléo vai ao médico às 5 da tarde fazer o exame para confirmar se está com câncer ou não, e o resultado sai somente às 7 da noite. Nestas duas horas, Cléo reflete sobre os encontros e desencontros que tem pela cidade, com amigos e amantes, e sobre a possibilidade de aceitar sua eventual morte ou viver com medo de partir.
Abordando conceitos existencialistas, Agnès Varda conseguiu não só discutir a fragilidade da vida humana, mas também mostrar que mulheres estão tão à mercê da vida e da morte quanto os homens, mas de formas mais particulares e, até aquele momento, pouco discutidas na sociedade.
Oito Mulheres e Um Segredo
Onze anos depois da última aventura de Danny Ocean (George Clooney) e sua trupe, é a vez de sua irmã, Debbie (Sandra Bullock), convocar um grupo de especialistas em diferentes aéreas para colocar em prática um roubo impossível. “Oito Mulheres e Um Segredo” é a versão feminina de “Onze Homem e Um Segredo”, mas é construída com base no que veio antes, e não por cima, sem fingir que os clássicos de Steven Soderbergh nunca existiram. E a versão de 2018 funciona principalmente por conta de seu elenco, assim como seus antecessores.
Liderado por Bullock, o grupo conta ainda com Cate Blanchett, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Sarah Paulson, Awkwafina (olha ela aqui de novo!), Rihanna e Mindy Kaling. Todas estão ótimas e funcionam perfeitamente em seus papéis, mas o destaque com certeza vai para Bullock e Blanchett, que funcionam da mesma forma que George Clooney e Brad Pitt na trilogia dos anos 2000, e envolvem o espectador mesmo quando o roteiro dá malabarismos demais.
Quando não se há a preocupação em comparar “Oito Mulheres” com “Onze Homens”, só tem a se ganhar. Os filmes de Soderbergh são melhor construídos, sim, mas este ainda possui bastante charme e diversão. Vale a pena assistir!
As Virgens Suicidas
O primeiro longa-metragem da diretora Sofia Coppola estabeleceu duas coisas desde o princípio: o olhar delicado, curioso e romântico sobre a condição feminina e o talento da estreante como cineasta (uma vez que a carreira de atriz não vingou). Em “As Virgens Suicidas”, ela foi capaz de subverter até o olhar masculino para falar sobre opressões muito comuns às mulheres.
No filme, um grupo de garotos é fascinado por cinco irmãs que frequentam a mesma escola que eles. Elas são belas e ao mesmo tempo intocáveis por conta dos pais ultra religiosos, o que faz com que os meninos fiquem cada vez mais curiosos por elas. Mas a beleza e a aura angelical das irmãs esconde uma profunda depressão, apresentada de primeira pela tentativa de suicídio mal-sucedida da caçula. Conforme eles vão tentando entendê-las, mais confusa se torna a existência das meninas para eles, e mais triste se revela a vida delas.
Com “As Virgens Suicidas”, Coppola conseguiu fazer, logo em sua primeira tentativa, um filme sensível à mulher e suas mazelas, ao mesmo tempo em que abordou como o olhar masculino pode limitar o entendimento da vida.
O Homem Invisível
Uma palavra para descrever “O Homem Invisível”: tensão. Desde seus primeiros minutos, somos jogados junto à protagonista Cecilia (Elisabeth Ross) em uma situação angustiante, e assim o diretor Leigh Whannell garante de imediato nosso comprometimento como público. O filme é mais uma adaptação do livro de H.G. Wells, desta vez com produção da Blumhouse, a popular produtora de terror e suspense, responsável por longas como “Corra!” e “Fragmentado”.
Na trama, Cecilia tenta se livrar de seu relacionamento abusivo com o rico empresário Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen), conseguindo escapar de sua casa no meio da noite. Algumas semanas depois, ela recebe a notícia de que Adrian morreu por suicídio, e que deixou uma grande quantidade de dinheiro para ela. Cecilia desconfia de tudo isso, e aos poucos começa a achar que seu ex a está perseguindo. Ela não consegue vê-lo, mas sabe que ele está por perto, só que por não conseguir provar suas suspeitas, todos começam a taxá-la de louca. E ela tem de se livrar deste “fantasma” sozinha.
O subtexto de “O Homem Invisível” é o relacionamento abusivo entre Cecilia e Adrian, e isso é muito bem executado. O jeito que o empresário a controla é desesperador, e quando ela decide deixá-lo, ele faz o possível para que ela continue sofrendo. Além disso, todos os momentos de suspense são de deixar o espectador na ponta da cadeira – consequentemente pulando para trás assim que o susto (bem construído) vier. Esta é uma ótima pedida para um sábado à noite, com as luzes todas apagadas.
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