Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 12 de junho de 2020

[LISTA] 8 filmes para discutir questões políticas e sociais

8 filmes para mostrar que o cinema além de entretenimento, é uma arte política.

O cinema é uma arte que proporciona entretenimento, mas também traz questionamentos muito importantes sobre a vida e sobre como convivemos em sociedade. Sabendo disso, para comemorar a estreia de Parasita no Telecine, o Cinema com Rapadura preparou uma lista de filmes indicados ao Oscar que abordam temas sociais e políticos, fazendo críticas ao sistema e que trazem uma mensagem de luta, resistência, empatia e liberdade.

Parasita (2019)

gisaengchung movie | Tumblr

A trama de “Parasita” envolve duas famílias, os Park e os Kim, em uma relação simbiótica entre elas. Os Kim fornecem serviços de luxo “indispensáveis”, enquanto os Park bancam de forma indiferente toda a família. Quando um intruso parasita ameaça o recém-descoberto conforto dos Kim, uma batalha selvagem e dissimulada pela dominação explode, ameaçando destruir o frágil ecossistema entre os Kim e os Park.

Antes de conseguirem os empregos na casa dos Park, a família Kim tem dificuldade em obter o básico para a sobrevivência, se submetendo ao trabalho de dobrar caixas de pizza. Depois que o plano dos Kim de colocar toda a família para trabalhar para os Park dá certo, as duas famílias seguem num convívio harmônico, em um jogo que está sendo bom para ambas as partes: os Kim estão satisfeitos com seus salários e os Park, com os serviços prestados.

As críticas sociais de “Parasita” às vezes são óbvias e outras vezes, extremamente sutis. Um exemplo importante de crítica sutil é a questão do cheiro dos personagens. As reações da família Park em relação ao cheiro dos Kim mostram ao espectador que não significa que os Kim cheiram mal, mas sim que para os Park, eles têm cheiro de pobre. Outro ponto é a maneira como os Park substituem seus antigos funcionários por novos sem sentir falta dos antigos empregados e como se eles fossem apenas objetos que estavam ali para servi-los.

Parasita” é um filme bastante profundo que traz questionamentos pertinentes sobre a sociedade como um todo, escancarando as barreiras sociais existentes e como muitos de nós ficamos cegos pelos nossos privilégios e não conseguimos enxergar o mundo do outro.

Infiltrado na Klan (2018)

Dirigido por Spike Lee, “Infiltrado na Klan” é baseado na história real da vida de Ron Stallworth, o primeiro policial afro-americano de Colorado Springs, que se disfarçou para se infiltrar na Ku Klux Klan nos anos 70. No longa, o detetive Stallworth (John David Washington) e seu parceiro Flip Zimmerman (Adam Driver) se infiltram nos níveis mais altos da KKK para frustrar sua tentativa de tomar a cidade.

Forte, importante e com uma temática atual, “Infiltrado na Klan” oferece uma mostra vasta de discursos e atitudes discriminatórios conseguindo apresentar um resumo esclarecedor do racismo existente nos Estados Unidos na época e que permanece até hoje. O filme faz uma análise que apresenta o racismo e o antissemitismo através de uma oposição entre o perigoso e o absurdo, conseguindo uma resposta dolorosa contra o fenômeno global de ascensão de governos intitulados de extrema-direita, com ideais abertamente fascistas.

Nos personagens Ron e Patrice (Laura Harrier) temos duas pessoas negras humanizadas, com suas histórias de vida e convicções. Cada um tem um pensamento sobre a melhor forma de militância pelos direitos da população negra e contra a truculência policial. Patrice acredita na luta de fora para dentro, através de passeatas, palestras e protestos. Já Ron acredita que, como policial negro, ele pode mudar o sistema de dentro para fora. Essa dualidade de pensamentos faz com que os personagens discordem, mas para o espectador, a mensagem é que não há uma forma errada de militar contra o racismo (e contra as outras formas de opressão), o importante é não ceder ao sistema.

Spike Lee nos mostra que é possível falar de racismo também usando o humor, mas sem apelar para piadas preconceituosas. É o que vemos, por exemplo, durante as ligações entre Ron e a organização, onde ele se utiliza de todos os “estereótipos negros” como chacota, mas essa se mostra sua grande vantagem para ganhar a confiança dos integrantes do Klan.

Racismo, supremacia branca, antissemitismo, neonazismo, a própria Ku Klux Klan e todos os tipos de preconceito e segregação são ideologias que devemos abominar e combater. Estamos vivendo um momento de luta ativa contra a segregação racial com manifestações em todo o mundo, e por isso esse filme se faz tão necessário.

Faça a Coisa Certa (1989)

A história do filme é ambientada no Brooklyn, bairro negro de Nova York. Numa pizzaria do bairro há uma parede com fotos de ídolos americanos brancos. A tensão chega ao ápice quando o ativista Buggin’ Out (Giancarlo Esposito) pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega. Inicia-se então um boicote à pizzaria que desencadeia uma série de incidentes.

Em “Faça a Coisa Certa”, Spike Lee expõe o racismo quando o dono da pizzaria é branco, monta seu negócio em um bairro negro, seus clientes são negros e ainda assim ele faz pouco do povo, da história e da cultura negra. O filme também aborda questões bem atuais como a brutalidade policial para com os negros, a necessidade de se ter empreendedores negros e a pobreza dos bairros periféricos negros.

Cidade de Deus (2002)

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Criado a partir do livro homônimo de Paulo Lins, “Cidade de Deus” pode ser considerada como uma obra prima do diretor Fernando Meirelles e do cinema nacional. A trama conta a história do garoto Buscapé (Alexandre Rodrigues), um jovem pobre, negro, morador de uma favela do Rio de Janeiro e que cresce em um universo de muita violência. Com medo de entrar para o mundo do crime, seu talento como fotógrafo acaba o salvando do temido destino e permitindo que ele tivesse uma carreira profissional.

Na Cidade de Deus, a vida é bastante difícil devido à pobreza e às constantes disputas entre o crime organizado e a violência policial. O filme conta histórias trágicas e apresenta metáforas que representam o desespero da população moradora das favelas em fugir da violência. O protagonista relembra sua infância e o modo como cresceu entre a violência.

A escolha por atores inexperientes, que eram moradores das favelas do Rio garante uma autenticidade e sinceridade nas atuações porque eles conhecem a realidade das comunidades. “Cidade de Deus” é uma resposta para os que pensam que todos os moradores da favela são bandidos. Através desses personagens, aprendemos que oportunidades de uma vida melhor são raras para essas pessoas, e que para fugir do crime é preciso muito esforço. Alguns como Zé Pequeno (Leandro Firmino) apresentam atos violentos desde muito cedo, mas não se pode apenas dizer que ele sempre foi assim, sem levar em conta a grande questão que é “ser fruto do meio”. Já Buscapé, por ter conseguido alcançar seu sonho de ser fotógrafo, é a representação de que morador da favela também pode conseguir o sucesso.

A Garota Dinamarquesa (2015)

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Baseado no livro homônimo de David Ebershoff, “A Garota Dinamarquesa” é a cinebiografia de Lili Elbe, que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Na trama acompanhamos a história de Wegener (Eddie Redmayne), um pintor dinamarquês, sua relação com a esposa Gerda (Alicia Vikander), e a descoberta dele como mulher, até se tornar Lili Elbe, e todos os conflitos pelos quais a relação dos dois passou.

O longa trata da questão da identidade de gênero, assunto ainda atual, que, mesmo que tenha ganhado mais espaço como tema de discussão pela sociedade, ainda é considerado tabu por muitos. O preconceito contra todas as pessoas inseridas na comunidade LGBTQIA+ é bastante forte ainda nos dias atuais e ver esses temas nas grandes telas contribui para que ações e discussões sobre as questões de gênero cheguem a mais pessoas e deixe de ser motivo de exclusão e desigualdade social.

A Lista de Schindler (1993)

Beto Piccolo: O Mundo do Cinema: A Lista de Schindler!

Na trama, o empresário alemão Oskar Schindler (Liam Neeson), membro do partido nazista, vale-se de sua influência para conseguir contratos e adquirir uma fábrica em que milhares de judeus são utilizados como mão de obra barata, levando-o a conseguir uma fortuna considerável.

Com direção de Steven Spielberg, “A Lista de Schindler” é baseado no livro “A Arca de Schindler” de Thomas Keneally. Filiado ao partido nazista, Schindler conseguiu muito dinheiro com o trabalho dos judeus, mas ao descobrir os horrores que aconteciam nos campos de concentração, acabou abrindo mão de sua riqueza para ajudar os seus funcionários e impedir que eles tivessem o mesmo destino. Oskar conseguiu salvar a vida de mais de mil judeus.

A Juíza (2018)

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O documentário de Julie Cohen e Betsy West relata a biografia e a carreira de Ruth Bader Ginsburg, além da sua luta em favor dos direitos de mulheres, negros, LGBTQIA+ e outras minorias.

No filme conhecemos a mulher que é símbolo do novo feminismo nos Estados Unidos. Podemos enxergar além do mito. Conhecemos uma mulher real. Uma mulher que é juíza e luta por minorias, mas que também relaxa assistindo espetáculos de ópera, que pratica musculação e que nutre outras paixões além do Direito. Ruth foi responsável por momentos decisivos para a evolução das leis dos Estados Unidos que, pela precedência e poder de influência do país, tiveram impactos progressistas em todo o mundo.

Ruth é ícone de resistência feminista, tendo lutado contra as dores, dificuldades e injustiças que atravessaram seu caminho durante sua formação acadêmica, tendo sofrido com o machismo, além de ter que conciliar sua carreira com a educação de sua filha. Ruth é exemplo não só para as mulheres, mas para todas as minorias pelas quais ela luta.

Extraordinário (2017)

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O longa conta a história de August Pullman (Jacob Tremblay), um garoto que nasceu com uma síndrome genética que causou uma deformidade em seu rosto. Com diversas cirurgias e complicações médicas em sua rotina, ele nunca frequentou a escola. Agora, porém, ele entrará para o quinto ano em um colégio particular de Nova York, e deverá enfrentar os desafios dessa nova etapa de sua vida.

Extraordinário” é uma grande lição sobre a capacidade das pessoas que possuem algum tipo de condição genética ou deficiência física, sobre empatia, sobre não ter vergonha de si mesmo, sobre o combate ao bullying e sobre como uma criação tóxica pode mudar a personalidade de uma criança.

Auggie é super inteligente, mas tem sua condição genética que o faz ter vergonha de sua aparência devido aos olhares que recebeu das pessoas desde o seu nascimento. Na nova escola ele sofre com o bullying tanto por ser “diferente” quanto por sua inteligência acima da média. Sua família é seu apoio e aos poucos, as crianças que não concordam com o bullying, se aproximam dele. Auggie através de sua meiguice e empatia, consegue mudar até o pensamento dos mais preconceituosos.

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>> Ouça o RapaduraCast 610 – Cinema é uma arte política!

Wladya Vasconcelos
@WladyaV

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