58 anos de ação e boa música: os melhores temas de 007
Representando praticamente um subgênero em si, a música de Billie Eilish para "Sem Tempo Para Morrer" sintetiza tudo que há de melhor na história dos temas de "007".
Sempre que um novo “007” é lançado cria-se uma expectativa entre os fãs da franquia que nada tem a ver com cinema, mas com música. Se os atores que interpretam James Bond são cada um a marca de sua época, os temas de cada filme dão o tom da aventura e das missões que o agente secreto terá de enfrentar.
Para “007 – Sem Tempo Para Morrer“, a canção No Time To Die de Billie Eilish age como um verdadeiro caldeirão de tudo que já vimos – ou melhor, ouvimos – ao longo das décadas em que acompanhamos Bond e a música que o cerca. Os temas de “007” transitam entre diversos gêneros musicais, do R&B ao pop até chegar nas guitarras pesadas do grunge, o que torna esse conjunto de canções praticamente um subgênero em si, sintetizado perfeitamente pela composição de Eilish. Afinal, nenhum filme do espião mais famoso do mundo está completo sem uma música tema que faça jus.
Infelizmente, ainda vamos demorar para ouvir No Time To Die acompanhada dos créditos iniciais de “Sem Tempo Para Morrer”, já que o filme teve sua estreia adiada de abril para novembro por conta da pandemia do novo coronavírus. Mas esse tempo extra nos dá a oportunidade de revisitar a história das canções da franquia. Pensando nisso, o Cinema Com Rapadura separou aquelas que considera os melhores temas dos filmes dele. Bond, James Bond. Vários títulos de “007” estão disponíveis na rede Telecine, então aproveite para ficar em dia com a franquia! Agora, aperte os cintos do seu Aston Martin e aumente o volume!
Goldfinger – Shirley Bassey (“007 Contra Goldfinger“, 1964)
“007 Contra Goldfinger” é um dos maiores clássicos da franquia “007” tanto no cinema, quanto na música. A composição de John Barry conta com letras de Leslie Bricusse e Anthony Newley. A dupla não teve acesso ao filme nem ao roteiro para trabalhar, sabendo apenas o destino da personagem Jill Masterson (Shirley Eaton). Essa foi a inspiração por trás dos dois primeiros versos: “Goldfinger, the man with the Midas touch” (“Goldfinger, o homem com o toque de Midas“). A partir daí a dupla teve facilidade para terminar o restante.
Uma versão demo da música até chegou a ser gravada com Newley nos vocais, mas ele se recusou a cantar na versão final por considerar a música “meio esquisita”. John Barry, então, recrutou Shirley Bassey, em cuja turnê havia trabalhado anos antes. A cantora chegou a ouvir a música antes mesmo de as letras estarem prontas, na verdade, e ficou tão impressionada que disse que aceitaria cantá-la qualquer que fosse a letra. Ironicamente, o produtor Harry Saltzman odiou a música finalizada, e só não a tirou da trilha pois não havia tempo para substituí-la. Ainda bem.
You Only Live Twice – Nancy Sinatra (“Com 007 Só Se Vive Duas Vezes“, 1967)
O produtor Albert R. Broccoli queria inicialmente que seu amigo Frank Sinatra interpretasse o tema de “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes“, que tem melodia de John Barry e letra de Leslie Bricusse. Apesar de esse ser um sonho de qualquer fã da franquia, Sinatra recusou o convite e sugeriu que sua filha, Nancy, assumisse o tema. Dona de uma carreira ainda curta, mas promissora, ela havia acabado de emplacar o hit These Boots Are Made For Walkin’, e os produtores gostaram da possibilidade de surfar na onda desse sucesso.
Um dos temas mais celebrados de “007”, You Only Live Twice é sucesso de público e crítica desde seu lançamento. Ela rendeu diversas covers de artistas dos mais variados gêneros, de Coldplay a Björk até Cee Lo Green. Não obstante, ela também é muito lembrada pelos fãs da série “Mad Men“, dado que é tocada no final da quinta temporada. Uma das letras mais bonitas entre os temas da franquia, ela de fato tem muito a ver tanto com James Bond, quanto com Don Draper.
“You only live twice, or so it seems. One life for yourself, and one for your dreams. You drift through the years and life seems tame. Till one dream appears and love is its name.“
[“Só se vive duas vezes, ou é o que parece. Uma vida para si, e uma para seus sonhos. Você passa pelos anos e a vida parece tranquila. Até que um sonho aparece e amor é seu nome.”]
Diamonds Are Forever – Shirley Bassey (“007 – Os Diamantes São Eternos“, 1971)
Diamantes de fato são eternos, algo que a história por trás do filme, “007 – Os Diamantes São Eternos“, deixa claro. Sean Connery havia deixado o protagonismo da franquia, que veio a ser assumido por George Lazenby em “A Serviço Secreto de Sua Majestade” em 1969. Mas a marca de Connery ainda estava tão viva no papel, que Lazenby não conseguiu segurar a barra e acabou ele próprio deixando o posto após um único filme. Sem querer arriscar, os produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman fizeram de tudo para trazer de volta Sean Connery, consagrando-o como o diamante eterno de James Bond.
Outro ramo no qual a produção preferiu não se arriscar foi na música tema. Por isso trouxeram Shirley Bassey de volta, que já havia cantado Goldfinger em 1964. Ela é até hoje a pessoa com mais temas de “007” no currículo, retornando ainda para cantar Moonraker, abertura de “007 – Foguete da Morte“, em 1979. Diamonds Are Forever retornou à boca do povo recentemente: primeiro com a ascensão dos Arctic Monkeys ao estrelato no Reino Unido, tocando a música durante uma de suas mais icônicas apresentações no festival de Glastonbury em 2007; e a seguir em 2009, quando Kanye West a utilizou como sample em Diamonds From Sierra Leone, um de seus maiores hits.
Live and Let Die – Paul McCartney & Wings (“007 – Viva e Deixe Morrer“, 1973)
Poucos artistas têm uma carreira tão completa quanto Paul McCartney. Ele foi uma das forças motrizes da maior banda da história do rock, tornou-se um ícone do gênero com sua carreira solo, arrasta multidões por onde vai… E tem um dos mais marcantes temas de “007”. O que o levou a “007 – Viva e Deixe Morrer” foi um velho amigo, George Martin. Responsável pela trilha sonora do filme, Martin foi o produtor de toda a carreira dos Beatles (à exceção do álbum Let It Be, infame obra de Phil Spector), e ajudou a moldar o som da banda como o conhecemos. Se há alguém digno do título de quinto beatle, é ele.
Apesar de Albert R. Broccoli e Harry Saltzman cogitarem trazer Shirley Bassey de novo, a influência de George Martin os levou a contatar McCartney, que desconhecia o projeto. Sua única exigência foi receber uma cópia do romance original de Ian Fleming, para ter uma noção do que fazer. Diz McCartney:
“Eu li e achei muito bom. Naquela tarde escrevi a canção e na semana seguinte a concluí. Foi um trabalho difícil para mim, pois escrever algo com um título desses não é tarefa fácil.”
Para nossa sorte, no início dos anos 1970 ele estava no que poderia muito bem ser tido como o ápice da criatividade e capacidade de um compositor, e qualquer música sua era contagiante ou emocionante. Live and Let Die, no caso, é ambas.
Nobody Does It Better – Carly Simon (“007 – O Espião Que Me Amava“, 1977)
De acordo com Thom Yorke, líder do Radiohead, o tema de “007 – O Espião Que Me Amava” é a canção mais sexy já escrita. Não é por menos, basta ler a letra para saber do que está sendo falado – aliás, não precisamos nem ir tão longe, está no próprio título. Com uma cadência feita para se dançar a dois – ou se esgoelar no karaokê depois de uma frustração daquelas, sem julgamentos – é praticamente impossível resistir e não cantar junto com Carly Simon. Sua influência é tamanha que um dos mais cultuados diretores atualmente, Edgar Wright, é apreciador declarado, já tendo até a colocado entre suas trilhas sonoras favoritas de cinema.
Curiosamente, a música composta por Marvin Hamlisch e Carole Bayer Sager é apenas a primeira dentre os temas de “007” a não ter o mesmo nome do filme que abre. Até hoje isso continua como exceção à regra, com o padrão sendo mantido pela preferência por nomes iguais. Ainda assim, talvez sem ela não teríamos a arrasadora You Know My Name, de Chris Cornell (que veremos logo mais); Another Way To Die, de Jack White e Alicia Keys; ou Writing’s On The Wall, de Sam Smith.
A View To a Kill – Duran Duran (“007 Na Mira Dos Assassinos”, 1985)
“Quando que vocês vão arrumar alguém decente para fazer uma de suas músicas tema?” Foi assim, com toda a elegância e confiança que uma festa regada a álcool pode despertar em uma pessoa, que John Taylor, baixista do Duran Duran e fã de longa data das aventuras de James Bond, se aproximou de Albert Broccoli. A conversa foi despretensiosa no primeiro momento, mas logo evoluiu até se tornar um dos temas de maior sucesso da franquia 007.
A View To a Kill tem composição do Duran Duran com arranjos do compositor da trilha sonora do filme, John Barry. Após anos de músicas focadas majoritariamente no gênero R&B (com a exceção óbvia do rock de Paul McCartney), o Duran Duran quebrou o padrão e deu uma roupagem mais pop à música de 007, atualizando-a aos padrões clássicos dos anos 1980. A maior pena, contudo, é que o filme “007 – Na Mira dos Assassinos” tenha acabado não correspondendo à qualidade de seu tema.
The Living Daylights – a-ha (“007 – Marcado Para a Morte“, 1987)
“007 – Marcado Para a Morte“, apesar de não ser um filme marcado para o sucesso, é certamente um caso peculiar musicalmente. Há quem o considere, por exemplo, o único “007” com não apenas uma, mas duas músicas tema, já que os créditos finais rolam ao som de If There Was a Man, da banda The Pretenders. Mas após o sucesso de A View To a Kill, os produtores acharam que o pop era a linha a ser seguida. Inicialmente, quem faria o tema principal, aliás, seriam os Pet Shop Boys, que desistiram depois de descobrir que não ficariam a cargo da trilha toda.
Entra aí o grupo norueguês a-ha. Quando foram contratados, seus membros tinham consciência de que trabalhariam junto ao compositor da trilha sonora, John Barry. A música de Barry, que estava em seu último filme da franquia, era quase indissociável do personagem James Bond, e isso não era negociável. Só que o processo todo de composição foi tão exaustivo para as duas partes que elas acabaram tornando-se desafetos, chegando ao cúmulo de Barry comparar o a-ha à Juventude Hitlerista pela insistência do grupo em usar uma versão mais pop no filme. Apesar dos pesares, Pål Waaktaar, responsável pela música do lado norueguês, elogiou a participação de Barry, afirmando que a música apenas soa como digna de Bond graças a seus arranjos.
Tomorrow Never Dies – Sheryl Crow (“007 – O Amanhã Nunca Morre“, 1997)
Para aqueles que viram seus filmes, Pierce Brosnan é a encarnação definitiva de James Bond. Educado, elegante e encantador – o famoso sexy sem ser vulgar -, mas mantendo sua atenção e letalidade em níveis máximos a todo momento. É uma pena que um dos melhores Bonds tenha tido que lidar com as piores músicas tema. Quis o destino que nem mesmo Tina Turner (com composição de Bono e The Edge, do U2) e Madonna conseguissem contribuir com canções à altura das interpretações de Brosnan.
De todos os filmes da era Brosnan, “007 – O Amanhã Nunca Morre” é aquele que tem o tema… menos pior, por assim dizer (apesar de estar longe de ser o melhor filme do período; olhando para você, “GoldenEye“, clássico insubstituível). Mas mesmo a interpretação de Sheryl Crow para Tomorrow Never Dies não se compara aos temas de outras épocas da franquia.
You Know My Name – Chris Cornell (“007 – Casino Royale“, 2006)
O primeiro trabalho de Daniel Craig como James Bond foi adaptando justamente o primeiro romance de Ian Fleming com o personagem, “007 – Casino Royale“. O personagem foi totalmente retrabalhado, com sua história nos cinemas sendo contada desde o início; vemos Bond se tornar um agente 00 e começar seu trabalho como um dos principais espiões do MI6. Ainda que faltem elementos chave da mitologia de “007” – principalmente Q e Moneypenny – o filme tem uma história eletrizante, um vilão cruel em Le Chiffre (Mads Mikkelsen) e cenas memoráveis, como toda a sequência de pôquer no hotel Casino Royale e a posterior tortura de Bond pelo antagonista.
Para ancorar este novo início para a franquia, a MGM e a família Broccoli preferiram um artista marcante e com som mais pesado para a música tema, alguém que pudesse mostrar que esse novo Bond não é flor que se cheire. A opção pelo saudoso Chris Cornell foi certeira nesse sentido, principalmente por sua história como um dos mentores e pioneiros do grunge nos Estados Unidos e por sua voz potente e inconfundível. You Know My Name foi escrita por ele junto ao compositor da trilha sonora do filme, David Arnold, e seu título e letra já dizem tudo que alguém poderia querer saber sobre o novo protagonista de Daniel Craig: você sabe o nome dele. E ponto.
Skyfall – Adele (“007 – Operação Skyfall“, 2012)
O tema estrondoso de “Casino Royale“, apesar de marcante, acabou não se tornando tendência. Com o lançamento de “Quantum of Solace” em 2008, o guitarrista Jack White foi chamado para compor o novo tema e interpretá-lo junto a Alicia Keys. Mas o resultado, Another Way To Die, não chegou nem perto do impacto de You Know My Name. Mas quando “007 – Operação Skyfall” foi anunciado com direção de Sam Mendes, ele sabia que isso teria que ser corrigido, acatou os conselhos dos produtores e chamou Adele para conversar.
Dona de uma das maiores vozes da música atualmente e uma fábrica de hits, Adele estava inicialmente apreensiva com a ideia e chegou até a falar para Mendes que não era a pessoa certa, já que suas músicas são muito pessoais. O diretor então a tranquilizou afirmando que era isso que precisava, e indicou Nobody Does It Better como exemplo. “Skyfall” em si acabou trazendo uma história muito pessoal para James Bond, explorando profundamente suas origens, e o tema homônimo composto por Adele e Paul Epworth encaixou-se como uma luva. Talvez o melhor da era Daniel Craig, nada mais justo que o filme fosse acompanhado da melhor trilha sonora também. Quem diz isso não é este que vos escreve, mas todos os prêmios que a faixa ganhou, inclusive o Oscar de Melhor Canção Original.
Os temas que não ouvimos
Nem só de boa música nas telonas é feita a história dos temas de “007”. Ao longo dos anos, diversas foram os artistas que tentaram emplacar suas canções nos filmes, sem sucesso. Entre esse grupo há diversas pérolas de artistas de renome, e proporcionam hoje uma visão alternativa do que poderiam ter sido os filmes aos quais eram destinados.
Johnny Cash, um dos maiores compositores da música popular norte-americana, teve sua Thunderball rejeitada como tema para o filme homônimo de 1965. Os produtores acabaram optando por uma composição de John Barry interpretada por Tom Jones – que nem se compara à de Cash, com todo respeito.
Dois anos mais tarde, dois filmes de James Bond foram lançados: “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes“, que teve o tema de Nancy Sinatra, e “Casino Royale“, um filme levemente baseado na obra de Ian Fleming e mais voltado ao gênero da comédia. Para se ter uma ideia, até Woody Allen interpreta uma versão de Bond, que obviamente não faz parte do cânone do personagem. O tema do filme, no entanto, é tão bom que foi até indicado a Oscar. The Look Of Love foi composta pela genial dupla Burt Bacharach e Hal David, interpretada por Dusty Springfield.
Décadas mais tarde, em 2012, o artista mais cotado para o tema de “Operação Skyfall” era Noel Gallagher e sua banda High Flying Birds. O rei do Britpop chegou até a anunciar em seu blog que estava em negociação com os produtores, mas em vez de compor uma música especial para o filme, Gallagher pretendia utilizar uma composição que já tinha, Freaky Teeth. As negociações não foram adiante, e até seus fãs mais fervorosos hoje reconhecem que a Skyfall de Adele é um tema muito melhor… E uma canção superior, convenhamos.
Já em 2015, para “007 Contra Spectre“, outra grande banda britânica foi recusada, o Radiohead. A banda tentou emplacar sua música Man of War na trilha do filme, sem sucesso. O argumento da produção foi que a canção não havia sido composta para o filme, já que o grupo a tocava em seus shows desde a década de 1990. Não satisfeitos, a banda parou a produção de seu nono álbum para focar na composição de uma nova música para o filme, Spectre… E foram recusados novamente, desta vez por a música ser muito melancólica. Para bem ou para mal, Sam Smith e seu tema Writings On The Wall foram os escolhidos para o filme, e o cantor levou o Oscar de Melhor Canção naquele ano.
“007 – Sem Tempo Para Morrer” está agendado para chegar aos cinemas em 19 de novembro no Brasil, se não for adiado novamente.
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