Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 01 de janeiro de 2020

[LISTA] As 10 melhores atuações da década

Relembre as atuações mais marcantes dos anos 2010 agora que a próxima década se aproxima.

O dia 31 de dezembro de 2019 não marca somente a virada do ano para 2020, como também uma virada para uma nova década. Nos últimos dez anos, as novas tecnologias em captura de movimento e efeitos visuais fizeram história, filmes de super-heróis viraram cotidianos e os serviços de streaming seguem causando polêmica. Mas, no centro de tudo isso, encontram-se os renomados atores que nos entregam ano após ano performances marcantes. Pensando nisso, fizemos uma lista com dez das melhores atuações da década. Veja abaixo!

10 – Viola Davis – “Um Limite Entre Nós” (2016)

Viola Davis não é a protagonista do filme, que é inspirado em uma peça musical de mesmo nome, mas sem sombra de dúvidas, ela rouba a cena. O longa, resumidamente, conta a história de Troy Maxson (interpretado por Denzel Washington) e sua insatisfação com o racismo e sua própria vida. Ele muitas vezes desconta suas emoções em pessoas próximas e em especialmente em sua esposa, Rose Lee, interpretada por Davis.

A atriz ficou mundialmente reconhecida por suas atuações em “Histórias Cruzadas” e na série de TV “How To Get Away With Murder”. Interpretar mulheres fortes e complexas é algo que ela faz com frequência e maestria. Mas no caso de “Um Limite Entre Nós”, o desafio foi maior ainda, pois sua personagem Rose Lee Maxson não é o estereótipo de mulher forte. Ela sofre com as instabilidades mentais do marido o tempo inteiro e o filme se torna bom justamente por conta das interações entre Davis e Washington. Não é à toa que a atriz interpretou a mesma personagem na peça teatral, recebendo um Tony Award e um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel.

Viola Davis tem uma presença dominante quando está em cena e vai muito além de convencer o espectador. A atriz parece dizer palavras que estão em seu peito – ou de sua personagem – há décadas. A personagem tenta satisfazer seu marido a todo momento, mas deixa claro que ela não fará tudo que ele quiser e há limites que ele deve respeitar. Quando o marido passa dos limites, a transformação da personagem é brutal, verossímil e daquelas que sentimos na pele.

9 – Christian Bale – “O Vencedor” (2010)

“O Vencedor” é um filme sobre os irmãos Micky Ward (interpretado por Mark Wahlberg) e Dicky Eklund, o personagem de Bale. Ward é um pugilista sem muito sucesso e Dicky abandonou a profissão depois que o maior ponto de sua carreira for ter sido nocauteado em uma luta televisionada. O personagem de Bale tornou-se viciado em crack e o longa mostra que ele está sendo filmado para um documentário. 

Depois de ter vivido o super-herói em “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (2008), Christian Bale transforma seu corpo por inteiro em “O Vencedor”, chegando a pesar cerca de 60 quilos. Por si só, a transformação já tem um impacto em sua atuação, mas Bale vai além disto.

O ator consegue trazer à vida um personagem assustado, traumatizado e complexo. A sua capacidade de mostrar um viciado transtornado em um momento e logo em seguida mostrar a tristeza em Dicky é o que mais impacta durante o longa. Bale consegue dar diferentes nuances ao personagem, nos fazendo esquecer que um dia ele foi um super-herói musculoso, rico e sombrio.

8 – Daniel Kaluuya – “Corra!” (2017)

“Corra!” é um filme de suspense e terror complexo que consequentemente precisava de um protagonista à altura, eis que entra Daniel Kaluuya. O filme é sobre a visita de Chris, o personagem de Kaluuya, à família caucasiana de sua namorada. A partir daí, é difícil resumir o que acontece no longa, mas são situações absurdas colocadas de maneira realista e uma grande metáfora para o racismo nos Estados Unidos.

Chris está num dos maiores pesadelos que algum negro poderia passar, mas devido a atuação de Kaluuya, ele consegue transmitir a áurea de alguém forte, de um herói. O ator tem uma versatilidade tremenda ao ponto de começarmos a entender o que de fato está acontecendo no longa a partir de suas expressões faciais.

Daniel Kaluuya tem um tipo de interpretação que não é escandalosa, mas que consegue nos prender a todo momento. Com apenas um olhar diferente, ele nos cativa e dá o tom da cena, talento que foi aproveitado a todo momento em “Corra!”. Tanto é que boa parte dos momentos mais dramáticos do longa acontecem com um close no rosto do ator, como o icônico momento que ele está preso em uma cadeira e lágrimas começam a escorrer. É com essas pequenas ações que o ator mostra que necessita de pouco para brilhar.

7 – Cate Blanchett – “Carol” (2015)

O filme se passa na década de 1950, abordando o divórcio da personagem principal, Carol Aird, interpretada por Cate Blanchett, e seu esposo. A separação ocorre devido ao envolvimento amoroso de Carol com outra mulher. Após isto, ela conhece Therese Belivet (interpretada por Rooney Mara) e as duas engajam num romance. O ponto crítico é quando o ex-marido de Carol ameaça tirar a guarda da filha do casal devido ao relacionamento das duas.

Cate Blanchett teve inúmeras outras boas atuações nesta década, como em “Blue Jasmine”. Mas o que a destaca em “Carol” é o silêncio da sua atuação. A personagem diz mais quando está em silêncio do que quando fala. Carol é a representação da opressão sofrida pela comunidade LGBT+, que esteve tão calada por tanto tempo.

Todo e qualquer movimento e olhar da personagem é calculado, tanto por Blanchett quando pela própria personagem, que tem que viver escondendo boa parte de quem é. A personagem nunca baixa a guarda e a atriz deixa o público tenso quando isto acontece. É o olhar que mostra a dor de Carol, mas que também mostra seu amor por Therese. E sem falar muito, Cate Blanchett faz uma das melhores atuações da carreira.

6 – Toni Collette – “Hereditário” (2018)

“Hereditário” é um filme de terror que tem como ponto de partida a morte da avó da família Graham. A família começa a descobrir que algumas coisas estranhas estão acontecendo e o espírito da avó parece pairar sobre os Graham. O terror toma conta da casa e é a mãe, Annie, que é o elo que segura a tão azarada família.

A atuação de Toni Collette como Annie mostra que a atriz merecia uma indicação ao Oscar em diversas cenas. Tanto pela complexidade da personagem e como a atriz consegue estar à altura da matriarca. Annie tem uma dualidade que varia entre a mãe protetora da família e um ser perverso que tomou conta dela. Collette interpreta alguém que se arrepende de ter tido o filho, ao mesmo tempo que o observa dormir enquanto flutua pelas paredes do quarto do rapaz.

Mas o mais impressionante nessa atuação é o timing certeiro que ela tem, principalmente com a comédia. Collette consegue fazer o público rir em momentos tensos e segundos depois voltar com a tensão em cena. A personagem tem mudanças de humores a todo tempo, e a atriz foi feita para interpretar este papel. O tempo que conseguimos ver Annie como um corpo vazio e assustador e logo depois uma pessoa feliz é menos que um piscar de olhos.

5 – Leonardo DiCaprio – “O Lobo de Wall Street” (2013)

O longa de Martin Scorsese é baseado num livro de mesmo nome escrito por Jordan Belfort, protagonista do filme e personagem de Leonardo DiCaprio. Belfort é um corretor da bolsa de valores, que teve muito sucesso nos anos 80, e é conhecido por conseguir enriquecer de forma ilegal, além de sua vida extravagante que envolve festas e drogas a todo momento.

Belfort é um personagem excêntrico ao ponto de ter sido interpretado de forma caricata muito facilmente, mas não foi esse caminho que DiCaprio escolheu. Foi neste filme que o ator expandiu ainda mais seu repertório. Além de interpretar um malandro, que eventualmente se vicia em drogas, mas ainda é da classe trabalhadora, ele consegue brincar com a seriedade e exagero do personagem.

Em muitos momentos, o ator muda o tom de personagem de sério e pé no chão para exagerado, gritando com toda força na garganta, alguém que sempre visa mais lucro. É por conta dessas mudanças que o filme prende a atenção e não deixa a experiência maçante. DiCaprio exagera, mas não deixa caricato, fazendo assim que esse exagero se mostre na realidade como o desespero do personagem que está indo ladeira à baixo.

4 – Frances McDormand – “Três Anúncios Para um Crime” (2017)

“Três Anúncios Para um Crime” é um filme policial, no qual a protagonista Mildred Hayes, personagem de Frances McDormand, decide chamar atenção tanto da polícia quanto da população para o assassinato não solucionado de sua filha alugando três outdoors em uma estrada. A premissa do filme não é complexa, e seu roteiro também não. O longa se destaca por conta da personagem da atriz e da sua atuação que dá o tom do longa.

A atriz interpreta essa mãe com um espírito por justiça repleta de emoções intensas. Ela entrega a dor que a personagem sofre como se fosse algo fácil de fazer. O que realmente se destaca no filme é como McDormand consegue interpretar a personagem durona, que parece quase um estereótipo de uma mulher que é mãe e forte. Mas, que por dentro é sensível, e a atriz capta essa essência que faz o espectador lembrar o quão poderoso o amor de uma mãe pode ser.

3 – Joaquin Phoenix – “O Mestre” (2012)

O filme do diretor Paul Thomas Anderson conta a história de Freddie Quell, personagem de Joaquin Phoenix, um veterano de guerra com estresse pós-traumático tentando se adaptar na sua nova realidade. Até que o protagonista conhece Lancastar Dodd (interpretado por Philip Seymour Hoffman), líder de um movimento religioso, que começa a entender Freddie e o chamar para ser parte do movimento. Os dois partem numa espécie de evangelização para divulgar os ensinamentos.

O movimento do filme é inspirado na Cientologia, e o personagem de Phoenix fica apegado ao seu passado de guerra tanto quanto a nova vertente religiosa. Todo movimento que o ator faz, desde o modo que ele pronuncia as palavras até o modo que ele fica parado esperando sua vez de falar mostram como ele encarnou o personagem. 

Antes, Freddie era quase que dependente da guerra, agora, é do novo culto religioso. E Phoenix mostra essas tristezas e medos marcados no personagem. Joaquin Phoenix ainda fez outras ótimas atuações nesta década como em “Ela” e mais recentemente em “Coringa”. Mas nem como o arquirrival do Batman ele apareceu estar tão transtornado. A performance do ator em “O Mestre” é algo para se lembrar não só nessa década, mas em todos os anos que ainda virão.

2 – Mahershala Ali – “Moonlight” (2016)

“Moonlight” acontece em torno do personagem principal Chiron (interpretado por Trevante Rhodes, Ashton Sanders e Alex Hibbert) e sua jornada marcadas por abusos físicos e pela descoberta de sua sexualidade. Mahershala Ali interpreta o traficante Juan, que encontra Chiron e se torna uma figura paterna para o menino. Todas as interpretações no longa são ótimas, mas é Ali que brilha, chegando a ofuscar o protagonista.

A ideia de interpretar um traficante que é carinhoso e muitas vezes até delicado é difícil de imaginar, mas Mahershala Ali conseguiu incorporar o papel como se já tivesse sido ou convivido com Juan em sua própria vida. É ele que ensina a Chiron sobre o mundo e até mesmo sobre aceitação.

A performance do ator marca e toca quem assiste o filme, e na cena onde Juan ensina a criança a nadar, esses sentimentos se sobressaem mais ainda. É nessa cena que acontece o ápice da beleza do personagem e da atuação. Juan não está presente por boa parte do filme, só no início, mas Chiron o leva na memória o tempo inteiro. E com o espectador, não é nada diferente, a interpretação do ator é algo que fica marcado na memória de quem vê. Durante o filme mais ainda, já que se lembra o tempo inteiro do sentimento que tanto Chiron quanto nós tivemos ao ver Juan – e Mahershali Ali – em cena.

Menções Honrosas

Mesmo que fora do Top 10, há atuações que ainda merecem ser lembradas na nossa lista. A começar por Octavia Spencer em “Histórias Cruzadas”, como a empregada doméstica Minny Jackson, que tem sua vida marcada pelo racismo que sofre, mas no final consegue uma pequena vingança. Também a atuação de Natalie Portman em “Cisne Negro”, no qual vemos a perfeccionista bailarina Nina ser dominada pelo sentimento de pressão no decorrer do filme.

Há também Philip Seymour Hoffman no filme que já foi citado na lista “O Mestre”. A combinação entre o ator e Joaquin Phoenix é explosiva e Hoffman consegue um papel maior do que só o coadjuvante, até porque é ele “o mestre” religioso do longa. E Daniel Day Lewis interpretando o ex-presidente dos Estados Unidos em “Lincoln” que não se transforma apenas visualmente, mas todos os seus trejeitos remetem ao personagem histórico.

Como não há espaço suficiente para falar de todas as atuações, ainda vale lembrar performances como a de Jake Gyllenhaal em “O Abutre”, J.K. Simmons em “Whiplash”, Charlize Theron em “Mad Max: A Estrada da Fúria”, Olivia Colman em “A Favorita” e Brie Larson em “O Quarto de Jack”.

1 – Lupita Nyong’o – “12 Anos de Escravidão” (2013) e “Nós” (2019)

Se tem alguém que dominou a década de 2010, foi Lupita Nyong’o. Tudo bem que há uma pequena ‘roubada’ ao escolher duas atuações para o primeiro lugar, mas o jeito como a atriz consegue interpretar duas personagens diferentes com tamanha perfeição é no mínimo notável. 

Voltamos alguns anos atrás em “12 Anos de Escravidão”, um filme sobre Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor) que foi sequestrado e vendido como escravo mesmo sendo um homem livre. A história se passa em plantações no estado de Louisiana nas quais o protagonista esteve por 12 anos antes de sua libertação. 

Nyong’o não tem muito tempo de tela ao interpretar a jovem escrava Patsey, mas quando aparece, ela domina a cena. Ela tem uma presença do estado tanto mental quanto físico deteriorado de Patsey que representa o sentimento da brutalidade dos escravos que colhiam algodão no sul dos Estados Unidos.

A atriz se recusou a amenizar o sofrimento de uma escrava, interpretando uma das cenas mais inesquecíveis e doloridas até para quem assiste dos últimos tempos, quando ela é chicoteada em cena. A interpretação de Nyong’o era tudo o que se falava depois da estreia do filme, e se você assistir o longa atualmente, é ela quem se destaca com tamanha dor que transmite em cena. Não é à toa que a rendeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar.

Depois de seis anos da sua interpretação que marcou a década, Lupita Nyong’o ainda não tinha conseguido ser protagonista de nenhum filme. Eis que o diretor e roteirista Jordan Peele começa a trabalhar com a atriz em “Nós”, e novamente ela entrega uma performance digna de Oscar.

Não mais fadada a interpretar apenas escravas ou personagens negros que sofreram de maneira voraz com o racismo, sua personagem é daquelas que marca a história do gênero de terror, e a atriz a interpreta à altura. “Nós” trata de uma família americana que se depara com cópias físicas de si mesmos após irem para praia nas férias, e seus clones tentam os matar.

Deixando de lado o maior plot twist do filme, Nyong’o entrega tudo que a personagem pede. Ela consegue retratar a protagonista e seu clone na mesma cena de maneira tão próprias de cada personagem que por alguns momentos você esquece que é a mesma atriz que interpreta as duas. O clone, chamado de Red, tem marcas do passado que só descobrimos mais ao final do filme, mas que ao reassistir o longa, percebe-se que a atriz carrega essas marcas consigo desde o princípio.

Já a personagem principal, Adelaide Wilson, é alguém que após descobrirmos o plot twist, ficamos em dúvida se torcemos para ela ou não. Mas de qualquer maneira, vê-se que todo movimento feito pela atriz, seja até mesmo um estalar de dedos, revela muito sobre quem Adelaide é e o que ela representa.

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E você? O que achou da lista? Qual seria o seu top 10 de atuações da década? Deixa um comentário aqui embaixo!

Amanda Gongra
@a_gongra

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