[Artigo] Star Wars: Os Últimos Jedi é o maior legado da Nova Trilogia
Com uma mitologia muito bem construída e lições sobre responsabilidade, identidade e liderança, o filme de Rian Johnson entra para a história como o principal da terceira trilogia da Saga Skywalker.
Dizem as más línguas que, quando um filme é bom, as pessoas falarão sobre ele mesmo anos após seu lançamento. Pois bem, dois anos após chegar aos cinemas, cá estamos falando sobre “Star Wars: Os Últimos Jedi“. Menos de uma semana depois da estreia de “A Ascensão Skywalker“, o filme retornou à boca do povo por conta das escolhas feitas por J.J. Abrams no final da Saga Skywalker, que contradisseram a maioria do que fora estabelecido por Rian Johnson em seu filme.
Isso evidenciou a falta de planejamento de longo prazo para a Trilogia Nova (as chamadas “sequels”), que resultou em três filmes praticamente independentes e desconexos. Por mais que “Os Últimos Jedi” construa sua história em cima de “O Despertar da Força“, isso é feito muito pouco pelo último filme.
Quando lançado em 2017, o oitavo episódio de “Star Wars” trouxe consigo muita controvérsia, causando praticamente uma cisma entre os fãs. Muitos gostaram da história contada por Rian Johnson, mas outros se viram confrontados por um filme que pintava seus heróis de infância como humanos, passíveis de erros e fracassos. E onde esperavam mero entretenimento, viram uma trama que ilustra abertamente muitos dos problemas de nossa própria sociedade – algo que também sempre esteve presente em “Star Wars”, mas raramente fora discutido em profundidade.
Para celebrar o legado das Sequels, vamos olhar então para este que foi o filme mais profundo e atual dessa trilogia, e quais são os legados que ele deixa para a saga.
Rey, uma heroína em busca de identidade
Rey passou todos os seus 19 anos de vida sozinha no deserto. Depenou destroços para sobreviver, aprendeu a lutar e pilotar sozinha. Quando perguntada quem é, a resposta é “ninguém”; se perguntada de onde veio, aí é “lugar nenhum”. Presa a um planeta vazio, mas cheio de gente que ela odeia, ela esperou a vida inteira por uma família que ela sabe que nunca voltará. Talvez o maior incentivo que ela ouviu na vida veio de Maz Kanata em “O Despertar da Força“: “o pertencimento que você busca não está atrás de você, está à frente“. Pare de olhar para o passado e foque no seu futuro.
Para Rey, pertencimento é uma família, o que rapidamente a leva a projetar pais onde ela acha que podem aceitá-la. Em Han Solo, depois em Luke Skywalker. Kylo Ren, inclusive, joga a expectativa e o medo que Rey tem de realmente não ser ninguém contra ela própria. A cena da revelação na sala do trono destruída nada mais é do que o vilão, especialista em analisar as mentes de seus adversários, recitando para ela esse medo na tentativa de manipulá-la. “Você não tem lugar nessa história. Você vem do nada, não é nada“. Qualquer pessoa que use essas palavras contra alguém certamente não tem boas intenções, mas aqui o importante é o que isso implica para Rey… E para nós.
Ser ninguém a torna igual a todo mundo. Rey não tem a responsabilidade de consertar erros catastróficos como Luke ou de liderar a Resistência contra a tirania da Primeira Ordem como Leia. Ela não tem um grande legado familiar ao qual ela tem que fazer jus como Kylo Ren – na verdade, ela é o exato oposto de Ren. Ela é dona de um imenso poder, o que acarreta em grandes responsabilidades (já disse tio Ben para Peter Parker). Sua natureza, no entanto, a torna uma força para o bem e a impede de usá-lo para o mal.
O mundo está cheio de gente como ela, que nasceram sem um sobrenome que abra portas. Rey nunca teve nenhum privilégio, e talvez não tivesse mesmo lugar nessa história caso a Força não tivesse despertado nela durante o filme anterior. E essa é a mensagem, a Força não escolhe sobrenomes. Ela está em todos e pode despertar em qualquer um. Em uma sucateira no deserto de Jakku, em um menino escravo fazendo faxina em um estábulo de Canto Bight. É uma galáxia muito grande para a Força ser tão apegada a sobrenomes.
Não bastasse isso, uma Rey Ninguém contempla um público específico e carente de representação: o feminino. “Star Wars” sempre teve protagonistas femininas fortes, mas todas tinham em si algum tipo de linhagem e poderes ocultos. Padmé e Leia eram e tinham grande influência nos meandros políticos de suas eras. Ainda que a própria Leia sempre tenha inspirado as gerações de meninas que vieram depois dela, é importante atestar que mesmo a nossa general já pertence a outra época, e não contempla os anseios e necessidades do hoje tão plenamente quanto Rey. A própria ascensão da nova protagonista reflete a jornada de muitas meninas e mulheres, que precisam lutar o dobro em um mundo que não reconhece nem metade de seu esforço; que precisam aprender a se defender sozinhas pois não há como confiar na retaguarda nem dos homens com os quais vivem. Os tempos atuais são de emancipação e luta por direitos iguais. Quer exemplo melhor para uma menina seguir do que a heroína da maior franquia da cultura pop se fazer completa sozinha?
Kylo Ren, um vilão millennial
“É hora de deixar as coisas velhas morrer.”
“Deixe o passado morrer. Mate-o, se precisar“. Com essas palavras, o vilão das Sequels se tornou um dos maiores da cultura pop neste século. “O Despertar da Força” já havia mostrado um pouco do que constitui Kylo Ren como vilão: filho de pais que não sabiam como criá-lo, que o mandaram para treinar com um tio que praticamente não fez parte de sua vida até aquele ponto, e que também acabou falhando com ele.
Um dos tópicos mais explícitos de “Star Wars” é a relação (muitas vezes conflituosa) entre gerações. Anakin Skywalker/Darth Vader mostrava não acreditar no sistema político das gerações anteriores, a Velha República; seus filhos, Luke e Leia, lutaram contra o Império, que o próprio Vader ajudara a construir; agora, Kylo renega os esforços de seus pais em prol de algo que ele considera ser novo. Sua iniciativa não é nada surpreendente, visto que uma das maiores lutas de cada geração é encontrar sua própria identidade, muitas vezes renegando os feitos da anterior.
Mas Kylo não é apenas um saudosista do Império. Pelo contrário, ele quer que tudo isso morra de vez (“Snoke, Skywalker, os Sith, os Jedi, os rebeldes… Deixe tudo morrer.“). Através de sua postura, no entanto, fica claro que ele é uma pessoa confusa. Ele sabe o que quer, mas nunca houve espaço para que ele quisesse nada. Pelo contrário, sua vida sempre esteve definida por seus parentes. É forte na Força, então vai ser Jedi como o tio. Não deu certo? Então vai ser Sith que nem o avô. No nosso mundo atual, Kylo seria um millennial.
Ben já nasceu grande, filho de dois heróis da Rebelião e sobrinho do Jedi que destruiu uma Estrela da Morte e garantiu que o Imperador morresse em outra. A grandeza está no sangue, esse garoto é especial. Mas na hora de educá-lo para se tornar essa pessoa que todos achavam que ele se tornaria automaticamente ao crescer, não havia ninguém. Seus pais, sempre atribulados com suas respectivas vidas, não faziam ideia de como ajudar o garoto com suas habilidades; seu tio, que deveria ser a solução de todos esses problemas, tampouco.
Só que há ainda um outro problema: Ben Solo jamais poderia ser um Jedi como Luke Skywalker, assim como Kylo Ren jamais seria um Sith como Darth Vader. Isso por um motivo muito simples: ele nasceu em uma galáxia totalmente diferente daquela onde seus pais e seus avós viveram. Por mais sábios e importantes que seus parentes possam ter sido, nenhum deles teve a sabedoria (ou mesmo o bom senso) de encarar isso. Nesse sentido, Kylo é um reflexo perfeito de sua época nessa história: assim como não adianta criar um filho esperando que ele seja o reflexo dos pais, não adianta reinventar a Ordem Jedi ou a República sem admitir que os tempos mudaram.
A reação de Ben foi andar na direção contrária da que se esperava dele, se render ao Lado Sombrio da Força, vestir uma máscara tal qual Darth Vader e se tornar Kylo Ren. Mas nem nas trevas ele encontrou o que procurava, já que Snoke hora exaltava sua semelhança com Vader, hora o humilhava por não ser como o Sith. A forma de lidar com isso é buscar algo novo, deixar o passado morrer e até mesmo matá-lo, se for preciso. Nesse sentido, cortar Snoke no meio é um grande “ok, boomer” por parte do jovem Solo, não?
Luke, o mestre em conflito
O maior desafio que uma pessoa recebe ao assumir roteiro e direção de um “Star Wars” é lidar com Luke Skywalker. É talvez uma das maiores figuras da cultura pop, um modelo no qual muitas crianças se inspiraram quando cresciam. Quem, além dos filmes, cresceu consumindo os livros e jogos do antigo Universo Expandido (atual selo Legends, que não são mais parte do cânone), viu o personagem se tornar o maior Jedi, líder em diversas aventuras e um mestre por excelência. Por mais legais que possam ter sido, essas histórias tinham um problema: Luke nunca foi nada disso. E um Jedi não busca aventura ou emoção.
A representação que Rian Johnson criou para o personagem é dolorida de se ver. Um Jedi sem fé, um homem sem esperança, um imenso poder ocioso e exilado. Uma pessoa que assumiu uma responsabilidade imensa… E falhou. Talvez isso que enerve tanta gente: como ele pode desistir assim? Ele era um herói! Só que Luke nunca foi um bastião de assertividade. Pelo contrário, ele sempre procurou motivos para não fazer o que precisava fazer. Ir a Alderaan com Obi-Wan, completar seu treinamento em Dagobah, até mesmo enfrentar seu próprio pai.
Durante sua segunda lição para Rey em Ahch-To, Luke explica os motivos por trás de seu exílio. Os Jedi se deixaram levar pelo conflito, assumiram uma postura destrutiva que não lhes cabia e buscavam um equilíbrio que trazia mais restrições do que liberdade. A responsabilidade de reparar todos esses erros agora estava sobre seus ombros. Não era uma questão apenas de liberar ou não o celibato, mas de contemplar qual seria o papel dos Jedi nessa nova galáxia – que, como ele mesmo diz, já estava em equilíbrio. Ele entende que foi ele próprio quem rompeu esse equilíbrio ao iniciar sua nova Ordem Jedi. Se há uma Luz poderosa, haverá também uma Escuridão. É preciso quebrar esse ciclo. “Você acha que vim para o lugar mais difícil de se encontrar na galáxia por motivo nenhum?“. Ninguém que se esconde o faz querendo ser encontrado, e Luke tinha uma boa razão por trás de sua escolha.
Sim, Luke foi fraco e teve medo. Quem não teria, após passar por tudo que ele passou e mesmo assim ter uma visão de um futuro de destruição? Ainda mais com seu próprio sobrinho, um menino tão confuso, no centro? Todo mestre tem medo de ver seus pupilos se perdendo pelo caminho. Deixá-los livres para crescer é o maior desafio e o fardo de todo mestre, e Luke não teve sabedoria para lidar justo com seu pupilo mais importante. Ele não teve sabedoria para várias coisas durante a Trilogia Original, também. E quando ele se dá conta, sua reação é sempre se retrair. Foi preciso, então, um espírito inocente como o de Rey e as palavras de sabedoria de mestre Yoda para que ele percebesse que não, não é porque ele falhou antes que seu papel nessa história acabou. Talvez ele não possa mesmo ensinar Rey, mas possa ser o símbolo que todos acham que ele é, apesar de tudo.
Finn, Rose e fazer o que é certo
“Escória rebelde.”
Mesmo entre quem gostou de “Os Últimos Jedi” logo de cara, uma opinião tende a ser predominante: todo o arco desenvolvido em Canto Bight, que tem Finn e Rose como figuras centrais, é chato ou poderia ser mais curto – há quem o chame até de “Canto Bight: Uma História Star Wars“, em referência aos spin-offs da franquia e aludindo a essa suposta falta de conexão com o resto do filme. Mas há um ponto essencial para se avaliar aqui, que vai na contramão dos protagonistas do filme. Enquanto eles têm grandes poderes e uma responsabilidade para com toda a galáxia, Finn e Rose são as pessoas comuns, as que têm escolha.
O filme começa com Finn disposto a abandonar a Resistência para procurar sua amiga Rey. O que ele faria depois, nem ele sabe. A única coisa que ele sabe é que não quer voltar nem ser pego pela Primeira Ordem, tendo nítidas as memórias de seus tempos como stormtrooper. Rose, por sua vez, tem a tarefa de mostrar para Finn que vale a pena exercer seu poder de escolha e fazer a coisa certa, que é lutar. Algumas cenas depois, já em meio ao luxo e riqueza em Canto Bight, Rose mostra para Finn que, no fundo, tudo aquilo não passa de uma ilusão. Finn poderia ter se deslumbrado mais com o cenário, dar um perdido na colega e ficar por lá, mas ele não veio de cima para poder usufruir desse luxo como os seres no cassino; ele veio de baixo, como as crianças no estábulo local, e sair de lá não seria fácil.
A mensagem de Rose acaba contestada posteriormente por DJ (Benicio del Toro). Ele próprio a personificação da ideia de fugir e não se comprometer (“viva livre, não tome partido” é seu lema, afinal), DJ mostra a Finn que, para os ricos, a galáxia é uma máquina que os beneficiará sempre, independente de quem ganhe. O que ele não fala, entretanto, é que há motivos para lutar sim: fazê-lo em nome daqueles que não conseguem, como as crianças do estábulo, ou as que são roubadas para virar stormtroopers, como ele próprio fora. Mas essa é uma conclusão à qual ele precisa chegar sozinho através do confronto com seu passado na figura imponente e intimidadora da Capitã Phasma (Gwendoline Christie).
Falta agora uma lição final para Finn. Criado para ser descartável, ele tem pouco apreço pela própria vida. Já resoluto em torno da causa da Resistência, durante a Batalha de Crait ele se prepara para fazer o sacrifício final ao tentar destruir o canhão aríete da Primeira Ordem atirando sua nave contra a arma. Mas graças à Força ele é impedido por Rose, que lhe explica o porquê em uma das falas mais importantes do filme: “é assim que ganhamos; não destruindo o que odiamos, mas salvando o que amamos”. Talvez ele tenha visto muitos colegas morrerem em batalhas triviais travadas pela Primeira Ordem apenas porque o regime ordenava. Mas não aqui. Aqui, cada vida lutando pelo bem é uma vida a menos tirada pelo mal.
Poe, Leia, Holdo e o fardo da liderança
“Esse é um arruaceiro. Gosto dele.”
“Eu também.”
Uma das grandes críticas sofridas por “Os Últimos Jedi” é ter o trio de protagonistas (Rey, Finn e Poe) reunido apenas na cena final. Enquanto a necessidade de tê-los juntos pode ser refutada travando um simples paralelo com “O Império Contra-Ataca“, a necessidade de tê-los separados é ainda mais pertinente de se abordar. Para que eles pudessem dar um desfecho à saga em “A Ascensão Skywalker“, eles precisavam crescer, e não há como fazer isso de forma fácil. Parafraseando o próprio Rian Johnson, “eles se dão bem demais“.
Depois de “O Despertar da Força“, Poe Dameron se mostrou um desafio para Johnson. Entregue quase como uma tábula rasa em termos de aprofundamento, seus únicos traços evidentes eram o heroísmo e o gosto por ação. Para levá-lo adiante na narrativa, ele precisaria de mais, pois um herói não se basta apenas por sua bravura. Sua motivação, então, é a liderança. Ele lidera o ataque à Base Starkiller, ele lidera a evacuação da Resistência em D’Qar… Ele é um líder, mas ainda precisa aprender a sê-lo. E não há aprendizado fácil. Mesmo com a incrível Leia Organa como mentora, Poe precisa de confronto para evoluir. Para isso, Johnson optou por tirar de Poe duas coisas essenciais: a própria Leia e sua X-Wing – afinal, “há coisas que você não consegue resolver pulando em uma X-Wing e explodindo coisas“.
Horas depois de ouvir isso e de ser alertado sobre como a Primeira Ordem rastreara a Resistência mesmo através do hiperespaço, Poe demonstra uma memória curta e logo de cara já sugere explodir “apenas” a maior nave dos inimigos – além de não pensar, por exemplo, que o lado oposto da guerra também é repleto de vidas que valem ser salvas. Sem considerar a fraqueza de sua própria frota e as vidas que estão sob sua responsabilidade.
É aí que entra Amilyn Holdo, vice almirante e grande amiga de Leia. Os vários confrontos entre ambos evidenciam que Poe de fato tem a vocação para liderança, mas precisa aprender a respeitá-la primeiro. A responsabilidade da vice almirante da Resistência, segunda em comando após a própria líder do movimento, é de salvar o que resta dele; se para isso ela julgar que o plano de evacuação é o melhor e deve ser conduzido sem alarde, Poe que aprenda a lidar com a cadeia de comando. Como ele aprende devagar, sua ânsia por ação acaba, inclusive, revelando à Primeira Ordem o plano da vice almirante de evacuar a Resistência para Crait, levando a ainda mais mortes que poderiam ter sido evitadas.
Ele acaba aprendendo a lição ao testemunhar em primeira mão o sacrifício de Holdo pela Resistência, e a coloca em prática quando ordena a retirada das speeders do campo de batalha em Crait e impede Finn de ajudar Luke Skywalker em seu duelo contra Kylo Ren. Que bem eles poderiam fazer ali? Mais vale a Resistência viva do que destruída em meio a chamas gloriosas. E essa é a moral de sua história: para se tornar um líder ele não precisa estar disposto a ir até o fim sempre em todas as circunstâncias independente das possibilidades de desfecho, e sim entender que não é possível vencer todas as vezes, mas que há alternativas à luta (já diria mestre Obi-Wan Kenobi).
Rian Johnson e a valorização da mitologia
“Mitos não foram feitos para vender bonecos. Mitos existem para refletir as transições mais difíceis pelas quais passamos.”
Essa é talvez a frase mais famosa de Rian Johnson sobre sua abordagem para “Os Últimos Jedi”. Dita por ele durante um painel sobre sua carreira no festival SXSW 2018, ela evidencia muito do que há por trás do oitavo episódio de “Star Wars”. Apesar das dimensões que tomou posteriormente, a saga criada por George Lucas tem nos mitos seu principal alicerce, como evidenciado, principalmente, pela influência jornada do herói e do trabalho de Joseph Campbell sobre o personagem de Luke Skywalker.
Para seu filme, Johnson seguiu o mesmo caminho, se amparando novamente na construção e ampliação da mitologia da franquia, principalmente com Luke. Muitos esperavam ver um Jedi infalível logo tomando Rey como aprendiz e partindo para a luta contra a Primeira Ordem, mas não é nisso que mitos se amparam, como o próprio cineasta bem disse; eles refletem a jornada que é a vida humana em todas as suas etapas, incluindo a meia idade. Sim, nem só de jovens são povoados os mitos, ainda que “Os Últimos Jedi” continue a contemplá-los com Rey mantendo a Jornada do Herói e Kylo Ren também sendo um arquétipo sombrio.
Luke ainda tem a agravante de ser um paralelo quase perfeito do mito do Rei Arthur – ambos herdam as espadas de seus pais e relações conflituosas com os mesmos, ambos têm a responsabilidade de unir e salvar suas terras do mal, ambos têm magos poderosos como professores… E o mito de nenhum dos dois acaba quando tudo está bem. Arthur segue para ver seu reinado entrar em declínio, perder sua esposa para o melhor amigo e ainda produzir um filho por incesto, com quem ele precisa lutar num sacrifício fatal. De quebra, ainda podemos enxergar Avalon e Ahch-To como lugares míticos originários de seus poderes. Tirando o casamento e o incesto (ainda bem!), qualquer semelhança não é mera coincidência.
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A essa altura, as Sequels já estão completas, com seus três filmes devidamente lançados e repercutindo. Independente das opiniões dos fãs sobre cada um deles ou sobre a trilogia como um todo, esta é a história que foi contada e é ela que integra a Saga Skywalker, que por sua vez tem uma grande estrutura mitológica por trás. Talvez a abordagem mais técnica de Rian Johnson não tenha agradado a quem esperava ver um blockbuster típico como foi “O Despertar da Força“, assim como há quem não tenha gostado de “A Ascensão Skywalker” por sua tentativa de conciliar expectativa e satisfação para os fãs. Mas cada um desses filmes é único, e devem ser celebrados pelo que são: capítulos da maior franquia da cultura pop.