Cinema com Rapadura

Colunas   terça-feira, 07 de maio de 2019

Possibilidades para o futuro do multiverso Marvel nos cinemas

O mais recente filme dos Vingadores abriu inúmeras opções para o futuro, que já começam a ser exploradas no trailer do próximo longa do Homem-Aranha.

Com menos de duas semanas em cartaz, “Vingadores: Ultimato” quebrou uma série impressionante de recordes de arrecadação, já se tornando a segunda maior bilheteria da história do cinema. A expectativa, agora, é de que o filme tenha forças para superar “Avatar“, que desde 2009 ocupa o primeiro lugar. Mesmo que isso não aconteça, com este longa, o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) está em cinco das dez primeiras posições na lista das maiores bilheterias já registradas. O Marvel Studios, portanto, está mais forte do que nunca.

Nesta segunda (06/05), tivemos uma primeira demonstração do que será o universo após os eventos do último filme dos Vingadores. No trailer de “Homem-Aranha: Longe de Casa“, Peter Parker (Tom Holland) é recrutado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) para auxiliar Quentin Beck, também conhecido como Mystério (Jake Gyllenhaal) em sua luta contra os chamados “elementais”. Fury apresenta o personagem como sendo “da Terra, mas não da nossa”, e em seguida complementa que “o estalo de dedos abriu um buraco na nossa dimensão”. Conforme o próprio Peter Parker percebe, a fala é um indicativo da existência de um multiverso, ou seja, de uma série de universos paralelos que, apesar de similares ao nosso, possuem certas diferenças.

Durante os eventos de “Vingadores: Ultimato“, é exposto que determinadas ações durante as viagens no tempo do filme podem criar linhas temporais paralelas à principal. Nestas, devido às mudanças causadas pelos viajantes, certos eventos se desenrolam de maneira diferente, gerando um efeito dominó que pode acabar criando uma realidade desastrosa ou, no mínimo, distinta da nossa. Ao conhecer o Homem-Aranha, Beck afirma que “alguém como você teria sido útil no meu mundo”. Ainda que a fala careça de contexto, ela abre a possibilidade de que o personagem venha de uma versão desastrosa da Terra, que não tem tantos super-heróis para protegê-la.

Mesmo que não saibamos toda a história de Mystério, ou se o que ele diz é verdade ou não, o fato é que as atitudes dos Vingadores para desfazer o estalar de dedos do vilão Thanos (Josh Brolin) abriram o MCU para uma enorme gama de possibilidades para o futuro. Pensando nisso, o Cinema com Rapadura elencou algumas destas possibilidades.

Fonte de novos personagens

Se tudo o que está no trailer do segundo filme do Cabeça de Teia for verdade, Mystério vem diretamente de outra dimensão atrás dos elementais, e se juntará ao Homem-Aranha para derrotá-los. A situação abriria um precedente para que outros heróis e vilões passem para o lado de cá do multiverso, fazendo deste uma inesgotável fonte de novos personagens para o Marvel Studios. Quentin Beck seria só o começo de uma era de viagens através do multiverso, em que a Terra onde os Vingadores derrotaram Thanos é referência.

Dito isso, é impossível falar sobre o futuro da Marvel sem encontrar, em algum momento, a questão dos personagens que pertenciam à Fox. Recentemente, Kevin Feige, presidente do Marvel Studios, afirmou que ainda vai demorar para que os X-Men ou o Quarteto Fantástico apareçam no universo. Todavia, desde a aquisição da Fox pela Disney, é certo que esses dois times farão parte do MCU eventualmente.

Seja quando for, quando a entrada dos mutantes e da primeira família da Marvel for acontecer, é possível que ela seja justificada colocando os personagens como pertencentes a outros universos, paralelos ao nosso. Seria, por exemplo, o meio ideal de trazer o Deadpool de Ryan Reynolds para o MCU. Isso também justificaria a ausência dos mutantes nesses mais de 10 anos, ao mesmo tempo em que permitiria que personagens ligados a determinados acontecimentos históricos tivessem suas origens dos quadrinhos mantidas. Magneto, por exemplo, é um mutante cuja história está diretamente ligada ao holocausto e à Segunda Guerra Mundial como um todo. Mesmo que os filmes acontecessem hoje, a diferença temporal faria com que Magneto fosse extremamente idoso atualmente, o que dificulta seu papel como um poderoso antagonista.

Se os X-Men ou o Quarteto Fantástico fossem de outra dimensão, poderiam ser trazidos ao universo principal do MCU partindo de qualquer momento no tempo, inclusive um que siga à risca suas origens nos quadrinhos. Todavia, essa opção parece excessivamente complicada de se explicar, considerando que há modos mais fáceis e mais sutis de colocar esses personagens no universo. Além do mais, o Marvel Studios nunca hesitou em alterar a origem de determinados heróis e vilões, e o mesmo poderia acontecer com as propriedades que até então eram da Fox.

Origem de poderes

Dada a escala dos eventos do último filme dos Vingadores, é sim provável que uma ruptura entre as realidades tenha sido aberta. Isso não significa, porém, que ela é de fácil navegação ou que qualquer um possa decidir viajar entre dimensões. Talvez, apesar da ruptura, a interação direta entre realidades continue sendo extremamente complexa, possível apenas para os mais experientes no assunto, como o Mago Supremo.

Pode ser que esse conceito da ruptura seja usado mais como uma fonte de poderes do que de personagens em si. Ao contrário da opção anterior, novos personagens do MCU não viriam diretamente de realidades paralelas, mas seriam pessoas da realidade principal que de alguma forma obtêm poderes através da dita ruptura.

É possível, por exemplo, que essa abertura emane algum tipo de energia ou radiação que afete os seres humanos. E se os X-Men fossem introduzidos no MCU a partir dessa ideia? Um pequeno grupo de seres humanos pode ter sido afetado pela radiação/energia gerada pela ruptura e começa a desenvolver habilidades sobre-humanas. Talvez fosse a introdução ideal dos mutantes nesse universo, uma vez que seriam da mesma realidade que os outros heróis, teriam uma origem baseada em tudo o que a Marvel Studios construiu até aqui, ao mesmo tempo em que seria explicado o porque de sua ausência até o momento.

O mesmo vale para o Quarteto Fantástico e basicamente quaisquer outros heróis que a Marvel quiser introduzir sem ter que dar muitas explicações. Uma equipe de astronautas pode ter acidentalmente interagido com essa ruptura e ganhado habilidades especiais através dela. O mesmo vale para Namor, Kamala Khan e tantos outros heróis que ainda não deram as caras no Universo Cinematográfico Marvel.

Em “Homem-Aranha: Longe de Casa”, é altamente provável que Mystério esteja somente usando esse conceito para justificar sua repentina aparição. Levando em consideração sua contraparte nos quadrinhos, é bem possível que essa opção se concretize. Quentin Beck é um mestre dos efeitos especiais em Hollywood, que devido à frustração de não conseguir decolar como ator, decide usar suas habilidades para derrotar o Homem-Aranha e conseguir visibilidade. Além de efeitos especiais cinematográficos, o Mystério dos quadrinhos também já se provou mestre em manipular o psicológico de seus inimigos.

Ou seja, Beck estaria usando a ruptura causada pelo estalo de Thanos como desculpa para se promover. Se utilizando da habilidade com efeitos especiais que pelo menos sua versão das HQs tem, seus poderes podem não passar de efeitos práticos. Já os elementais podem ou não fazer parte de sua jogada. É possível, sim, que também sejam criações ilusórias do próprio Mystério, assim como é possível que sejam uma ameaça real que o personagem usa como oportunidade para aparecer como um herói. A questão aqui é o quão poderosas são suas capacidades de ilusão.

Nada mudou

A ideia de que o MCU se situa em um multiverso não é nova. Na verdade, ela foi introduzida em “Doutor Estranho“, de 2016. Porém, até aquele momento, somente os magos sabiam da sua existência e eram capazes de interagir com diferentes dimensões. “Vingadores: Ultimato” fez com que esse conceito passasse a ser amplamente conhecido.

É possível, porém, que o estalar de dedos não tenha criado ruptura alguma entre as realidades, e que estas continuem tão inacessíveis quanto sempre foram. Somente os magos – conforme mostrado no filme de Stephen Strange – conseguem de algum modo interagir com outras dimensões, sem qualquer mudança nesse sentido. Mystério, em um cenário como esse, pode tanto ser um mago de outra realidade, que por isso conseguiu se transportar para cá, quanto pode estar somente inventando uma mentira extremamente elaborada.

Em “Homem-Aranha: Longe de Casa”, com todas as habilidades que sua versão dos quadrinhos tem, ele seria plenamente capaz de fazer com que Nick Fury acreditasse que há uma ruptura entre dimensões, e, uma vez tendo a ajuda do Homem-Aranha, Beck poderia se consagrar como herói e conseguir a fama que sua contraparte das HQs tanto busca.

Se esse opção se concretizar, o MCU permaneceria como sempre esteve em relação à interação com o multiverso. Ele existe, pode causar problemas para a nossa realidade, mas não é o foco dos conflitos dos filmes. Mystério seria apenas um mentiroso, e o Homem-Aranha, que aparentemente desenvolverá uma relação de amizade com ele, teria que lidar com mais uma frustração, tão pouco tempo depois da morte de seu mentor.

Vingadores: Ultimato” mostrou que mexer com o tempo e com outras realidades nem sempre é uma boa ideia. Mesmo que esta última opção seja o caminho a ser seguido pelo universo, o próximo filme do Homem-Aranha mostra que as consequências da guerra contra Thanos serão tema recorrente no futuro da Marvel nos cinemas.

Dias de futuros (nem tão) esquecidos

Um destino quase certo para o conceito multiverso no MCU é a já anunciada série animada “What If?“, que explorará versões alternativas de acontecimentos-chave do universo. Muito se especula que algumas das ramificações temporais deixadas pelos Vingadores em “Ultimato” serão abordadas na série.

Se os rumores se concretizarem, teremos um episódio voltado para a possibilidade de Loki ter o martelo de Thor e outro para a possibilidade de Peggy Carter ter tomado o soro do Super Soldado e se tornado a Capitã América. Como a série foi anunciada antes do lançamento do último Vingadores, com os acontecimentos do filme, essas duas versões poderiam facilmente se tornar sobre Loki fugir com o Tesseract e Peggy Carter viver com o Capitão América no passado.

O fato é que as viagens temporais e interações com diferentes realidades ou dimensões abriram o Universo Marvel para uma enorme gama de possibilidades. Se Homem de Ferro e Capitão América, seus dois maiores nomes, se foram em “Vingadores: Ultimato“, o futuro pode ser amplamente povoado, alterado ou influenciado por sua última missão.

Se o MCU já era o maior universo de super-heróis que o cinema tinha visto, as possibilidades para seu futuro fazem com que o passado pareça um mero pilar fundacional a partir do qual este Multiverso Cinematográfico Marvel estenderá seus braços nos próximos anos.

Tiago Fiszbejn
@tfiszbejn

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