Cinema com Rapadura

Colunas   terça-feira, 20 de novembro de 2018

Orgulho Negro: as 10 personalidades mais engajadas do mundo do cinema

Em um momento histórico, onde cada vez mais a representatividade racial importa, listamos atores, diretores, roteiristas e personalidades que têm algo em comum: transbordam orgulho pela sua raça.

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro como uma homenagem à Zumbi dos Palmares, ícone da luta pela liberdade dos escravos no Brasil, é um momento de reflexão. Em uma época onde questões como a representatividade racial estão cada vez mais em foco, uma data como esta é necessária pra reafirmar que todo o esforço pela igualdade não é em vão, mas nunca será suficiente. Trata-se de uma luta constante e necessária. O cinema, como manifestação política que deve ser, tem papel fundamental nisso, pois trata-se de um exemplo onde muitos buscam se espelhar. E a presença de negros e demais minorias nas telonas é essencial para que todos (sobretudo as crianças) desenvolvam o sentimento de que não são diferentes ou inferiores aos outros.

Aproveitando a chegada do Dia da Consciência Negra e a estreia recente do fantástico “Pantera Negra” no Telecine Play, listamos as 10 personalidades do mundo do cinema mais dedicadas e comprometidas com a expressão pura das raízes e da cultura negra, e que representam perfeitamente o orgulho pela história de luta, de resistência e de perseverança da raça.

Viola Davis

Uma personalidade forte não só no cinema, mas no entretenimento em geral, a “voz ativa” de Viola Davis é uma das mais potentes nos dias de hoje. A atriz é uma das mais talentosas e bem-sucedidas da geração, além de um verdadeiro ícone no quesito representatividade. Viola se tornou a primeira negra a obter a “Tríplice Coroa de Atuação” (quando um ator vence o Emmy, o Tony e o Oscar apenas nas categorias de atuação). E falando no careca dourado, ela também é a atriz negra com o maior número de indicações ao prêmio (3), com uma vitória como coadjuvante em “Um Limite Entre Nós”.

Não bastasse esse currículo invejável em Hollywood (além das premiações, também estrelou o blockbuster “Esquadrão Suicida”), Viola também brilha muito nas séries de TV, onde protagoniza a série “How to Get Away with Murder”, no papel espetacular da advogada Annalise Keating. Uma carreira de sucesso, mesmo que ainda tenha muito mais para render, e perfeita para empoderar e influenciar jovens negras que sonham em rumar ao estrelato.

Hattie McDaniel

Se é possível falar em igualdade nos dias de hoje, é porque houve muita luta para chegarmos até aqui. Já passamos por épocas sombrias que, embora não devam ser esquecidas, jamais podem voltar a acontecer. É neste contexto, onde a Ku Klux Klan ressurgia e assombrava com seus terríveis ideais, que Hattie McDaniel brilhou. Em 29 de fevereiro de 1940, McDaniel se tornou a primeira negra a vencer um Oscar, na categoria Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Mammy em “… E o Vento Levou”.

Apesar do marco, outro fato também chama a atenção. A atriz foi a primeira negra a ir à cerimônia de entrega do Oscar como convidada, e não como serviçal. Imaginar que McDaniel quase deixou de estar presente em seu tão sonhado e memorável reconhecimento por medo do que a KKK era capaz de fazer, é de se assustar. Felizmente aquele era apenas o início da revolução que a atriz participou, onde cada vez mais os negros obtiveram a oportunidade de deixar os papéis de criados e alçar voos mais altos. Como ela bem disse ao receber o prêmio: “eu serei sempre uma referência para a minha raça”.

Sidney Poitier

Falar em representatividade é falar em inspiração. E não há dúvidas que ninguém inspirou tanto os negros quando se fala de cinema quanto Sidney Poitier. Se já é difícil se imaginar no topo de qualquer carreira, imagine se você nunca viu alguém parecido com você chegar lá? Assim fica fácil de entender o peso da frase “foi uma longa jornada até este momento” dita por Poitier ao se tornar o primeiro negro a vencer o Oscar de Melhor Ator Principal, lá em 1964, por “Uma Voz Nas Sombras”.

Ainda era um tempo de luta. Mandela era condenado à prisão perpétua e a África do Sul havia sido banida das Olimpíadas daquele ano. Mas também era uma época de esperança, sobretudo com a assinatura do Ato dos Direitos Civis, também de 1964, que acabava com diversos sistemas de segregação racial, institucionalizados em vários estados americanos. A vitória de Poitier foi algo essencial na busca pelos direitos sociais na época, mas o jejum de 38 anos que se seguiu até uma nova vitória afrodescendente nas categorias principais deixou o alerta de que a luta não deve acabar tão cedo. Curiosamente, Poitier estava diretamente relacionado com aquela premiação de 24 de março de 2002.

Denzel Washington

Se Viola Davis é provavelmente a atriz negra mais lembrada pelo grande público, é fácil imaginar que o Top of Mind entre os homens seja Denzel Washington. O ator é um nome poderosíssimo na indústria, tanto em dramas quanto em filmes de ação. E, claro, um exemplo a ser seguido. Ainda que alguns afrodescendentes tenham sido indicados ao prêmio máximo do cinema desde a vitória de Poitier (o próprio Denzel venceu como coadjuvante por “Tempo de Glória”), foi somente em 2002 que o vencedor da categoria de ator principal foi vencida por um homem negro.

Aquela edição do prêmio foi histórica. Além da vitória de Washington pela atuação em “Dia de Treinamento”, Poitier foi novamente homenageado, desta vez com um Oscar honorário pelo conjunto da obra; e Halle Berry se tornou a primeira (e até hoje única) atriz negra a vencer um Oscar como Melhor Atriz. Denzel ainda seria indicado diversas vezes às categorias de atuação, mas uma em especial chama atenção pela sua importância histórica: Malcom X.

Spike Lee

Imagem perfeita do cinema como uma manifestação política e social, Spike Lee é bastante conhecido por sempre abordar as temáticas raciais em suas obras. Além disso, ele também mostra uma visão única de como representar a realidade das minorias, não apenas dos negros, mas também de orientais e mestiços, e o preconceito racial no geral, desconstruindo estereótipos e mostrando que qualquer pessoa pode ser racista. Sua filmografia é real, atual e essencial para todos.

“Faça a Coisa Certa” foi o primeiro grande trabalho do cineasta, e até hoje um dos mais reverenciados (chegando a lhe render uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original). Mas é na parceria com Denzel Washington – protagonista de várias obras do diretor – que nasceu a cinebiografia “Malcom X”, um importante retrato da vida deste ativista tão relevante na luta pela igualdade e libertação do povo negro. Não por acaso, o longa foi considerado pela Biblioteca do Congresso Americano como “culturalmente, historicamente, ou esteticamente significante”.

Lázaro Ramos

Um dos atores mais bem-sucedidos do nosso país, Lázaro Ramos é dono de uma carreira completa. Além de atuar reconhecidamente bem (ganhou até uma indicação ao Emmy em 2007), ele também já trabalhou no teatro, dublou, apresentou programas de TV, dirigiu obras e investe até mesmo na escrita, faturando o Prêmio Homem do Ano em Literatura em 2017! É até difícil não reconhecer o trabalho de Lázaro, que desde os 10 anos já fazia pequenas participações em peças de teatro. Na época, era preciso conciliar o sonho com a doença degenerativa de sua mãe, que o obrigava, por ser filho único, a ajudar a sustentar sua casa. Felizmente, todo o esforço foi recompensado, e hoje o ator se vê protagonizando Mister Brau, uma série elogiadíssima (inclusive no exterior) por trazer como personagens principais um casal negro e empoderado.

Além de toda a sua bagagem audiovisual, Lázaro também é uma figura marcante na nossa sociedade como um todo. O ator não só costuma sempre figurar em listas de brasileiros importantes, mas também é embaixador da Unicef desde 2009 e, recentemente, figurou na lista dos 100 afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo, uma cerimônia de reconhecimento organizada pela ONU e que conta também com figuras como a cantora Beyoncé, o piloto Lewis Hamilton e a atriz brasileira Taís Araújo, esposa de Lázaro e outra figura importantíssima na representatividade nacional. 

Jordan Peele

Algo muito bonito de se ver na constante luta pela igualdade racial é como a representatividade importa. E é recompensador ver pessoas inspiradas por aqueles precursores de tudo (como os próprios Poitier e Washington), atingindo objetivos tão relevantes e se equiparando aos seus exemplos. Uma amostra disso é o caso do diretor Jordan Peele. Em seu primeiro trabalho na direção, o cineasta – que também assina o roteiro e a produção – nos trouxe um dos mais aclamados filmes dos últimos anos, o terror Corra!.

Antes de Peele, nenhum negro tinha sequer sido indicado na categoria de Melhor Roteiro Original. E conhecer a história por trás de “Corra!”, no quanto o diretor sofreu e pensou em desistir por “mais de 20 vezes”, achando “que era impossível”, torna tudo mais gratificante. Mas ele foi perseverante e manteve o sonho porque tinha certeza que pessoas queriam assistir seu filme. E, assim como Peele se inspirava em seus antigos ídolos negros, é certo que muito outros hoje se inspiram nele para buscar o sucesso e vencer o impossível.

Ava Duvernay

Se já era difícil imaginar negros em destaque como diretores e roteiristas, o que dizer quando se inclui ainda o fato de ser mulher na questão? Infelizmente, embora vivamos hoje em uma mudança considerável, não há como esconder que a indústria cinematográfica acaba privilegiando mais os homens. Isso torna as conquistas de diretoras negras como Ava Duvernay ainda mais relevantes. Ela já mostrou a que veio com seu segundo longa, “Middle of Nowhere”, que a tornou a primeira mulher afrodescendente a ganhar o Prêmio de Melhor Direção do Festival de Sundance, em 2012.

Mas foi em 2014 que ela atingiu seu maior reconhecimento graças a “Selma: Uma Luta pela Igualdade“. Mostrando um importante momento da história americana, onde os negros, liderados por Martin Luther King Jr., buscavam cada vez mais incisivamente seus direitos ao voto, a obra foi aclamada pela crítica. Além de garantir à Duvernay a primeira indicação de uma diretora negra ao Globo de Ouro de Melhor Direção, pela primeira vez um longa dirigido por uma negra foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Tudo isso em um ano onde as polêmicas envolvendo a falta de diversidade racial entre os indicados às premiações estavam ganhando força. Duvernay foi e é um verdadeiro exemplo de resistência!

Ryan Coogler

Falar em representatividade sem falar em Ryan Coogler é deixar esse texto incompleto. O diretor, que já havia se destacado por “Fruitvale Station: A Última Parada”, foi o responsável por marcar o cinema recente com seu “Pantera Negra”. O longa conta não só com o protagonista e grande parte do elenco formado de negros (primeira vez no Universo Cinematográfico da Marvel), mas também é significativamente cultural, pois se preocupa em ambientar a história do herói em sua terra natal, Wakanda, que mantém todos os seus costumes característicos e originais do continente africano.

De fato, “Pantera Negra” é extremamente relevante, pois veio numa época onde os negros estão cada vez se autoafirmando e buscando absorver e exaltar as suas raízes. A prova real disso é o sucesso estrondoso de bilheteria, ostentando recordes como a maior abertura de um filme de herói na história dos EUA, e (atualmente) a nona maior arrecadação de todos os tempos, somando mais de 1,3 bilhão de dólares! Mas além dos já citados, a curta e meteórica carreira de Coogler também inclui outra produção importante: “Creed – Nascido para Lutar”. E a obra, sucessora das histórias contadas na franquia “Rocky”, traz mais um nome notável como protagonista.

Michael B. Jordan

É verdade que Michael B. Jordan rumou ao estrelato graças à Coogler, afinal, o ator teve participação impactante em todos os filmes do diretor, seja como protagonista, seja como o inesquecível vilão Erik Killmonger. Mas o talento de Jordan o faz um nome sempre lembrado para qualquer grande produção atual de Hollywood, em praticamente qualquer gênero.

Mas ainda assim é difícil não associar o nome do ator com Adonis Creed. A história do filho decidido e forte que nunca conheceu o ex-campeão mundial de boxe Apollo, buscando um mentor para seguir os passos do pai na carreira de luta e fazendo de tudo para enchê-lo de orgulho, onde quer que esteja. Essa história de superação pode até ser encontrada em várias obras, mas vê-la personificada em um negro, capaz de demonstrar toda a pressão que sente acumulada para honrar o legado do pai, é de uma importância singular.

Pantera Negra”, de Ryan Coogler, com Michael B. Jordan e grandessíssimo elenco, estreou no Telecine no dia 10 de novembro e já está disponível no Telecine Play para assistir onde e quando quiser!

Além dele, são 1500 títulos para assistir, com o catálogo sempre se renovando com os grandes lançamentos de Hollywood e com os principais sucessos do cinema nacional. Incluindo uma mega sessão especial para os longas de super-heróis da Marvel! E todos estes filmes podem ser assistidos em vários dispositivos, como: Smart TV, Computador, Chromecast, Tablets e Smartphones. Seja diretamente no site ou no aplicativo do Telecine Play.

O Melhor do Cinema você encontra no Telecine e no Telecine Play!

Arthur Yoffe
@rapadura

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