Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O retorno das comédias românticas: como a Netflix e a diversidade no elenco resgataram o gênero

Na última década, o gênero queridinho de Hollywood foi lentamente desaparecendo das salas de cinema. Mas números atuais indicam que o gênero apenas ganhou nova casa, além de novos protagonistas.

A comédia romântica “Podres de Ricos” estreou na última semana nos cinemas brasileiros, mas o filme já provou seu sucesso na bilheteria internacional, com total atual de arrecadação de 232 milhões de dólares. Segundo dados do site Box Office Mojo, os bons números do longa o transformaram na 6ª maior bilheteria do gênero, podendo ainda ultrapassar alguns de seus concorrentes.

No entanto, entre os dez primeiros títulos da lista, que é composta de filmes de comédia romântica que datam desde 1978 até os dias atuais, “Podres de Ricos” é o único longa da última década. Por que será que não vemos mais títulos atuais na lista?

As comédias românticas, que foram por muitos anos a grande, e segura, aposta de Hollywood, consolidando a carreira de muitos atores e atrizes como Hugh Grant, Julia Roberts e Sandra Bullock, parecem estar lentamente desaparecendo dos cinemas. No início dos anos 2000, a bilheteria dos longas de comédia romântica correspondia a 7% do total geral. Esse número caiu para menos de 1% em 2015, e continua a diminuir. O que será que aconteceu?

Garoto encontra garota 

Um homem e uma mulher se conhecem, geralmente de alguma forma inusitada. Eles se apaixonam. Um série de problemas acontece e o público fica sem saber se eles ficarão juntos no final. Os problemas e mal-entendidos são resolvidos e, em quase 100% dos casos, eles terminam o filme “felizes para sempre”. Com algumas pequenas variações, como um frequente caso de triângulo amoroso, essa parece ser a fórmula geral de uma comédia romântica clássica.

Filmes com características do gênero pode ser encontrados desde os anos 1920, mas os anos 1990 e 2000 são considerados a Era de Ouro da comédia romântica. Foi nessa época que foram lançados clássicos como: “Uma Linda Mulher”, “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “Do Que as Mulheres Gostam”,“Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Mensagem para Você”, “Casamento Grego”“Doce Lar” e muitos outros. São filmes “água com açúcar”, com grandes demostrações de amor, cheios de frases marcantes.

Nessa lista também aparecem as incontáveis comédias românticas adolescentes, que podem até ser consideradas como um sub-grupo do gênero. “Ela é Demais”, “As Patricinhas de Beverly Hills”, “A Nova Cinderela”, “Ela é o Cara”, “Tudo que uma Garota Quer”, “10 Coisas que Eu Odeio em Você”, são apenas alguns títulos de tudo de bom (e de ruim) que foi produzido nessa época.

A morte da comédia romântica? 

O canal do YouTube da revista Vanity Fair fez um vídeo sobre o desaparecimento das comédias românticas dos cinemas americanos. Eles analisaram 79 filmes, considerados como os longas mais marcantes do gênero, com títulos que vão desde 1931 até o final dos anos 2010. E eles chegaram a conclusão de que as comédias românticas mudaram muito pouco nesses 80 anos.

E essa talvez seja uma das principais razões para esses filmes terem perdido um pouco do seu apelo nos últimos anos. O cinema é um espelho da sociedade e nunca estivemos tão diversos, no entanto, essa diversidade parece ter demorado a chegar nas telas. Dos 79 filmes analisados pela Vanity Fair, 93% são protagonizados por casais brancos heterossexuais.

Mas, isso parece estar mudando. Comédias românticas recentes, com maior diversidade étnica em seu elenco e protagonistas de diferentes orientações sexuais, produzidas por grandes estúdios como a Warner Bros. e a Fox, tem provado, através de bons números de bilheteria e sucesso de crítica, que é possível evoluir e refletir o presente sem perder o público. Esse é o caso do já citado “Podres de Ricos”, que tem o elenco majoritariamente de origem asiática.

“Com Amor, Simon” também fez sucesso recentemente com a história de um garoto gay de 17 anos que se apaixona por um colega da escola em um chat anônimo.

Ganhando uma nova casa

Apesar de alguns novos títulos estarem quebrando com o conservadorismo observado nas comédias românticas, isso não muda o fato de que a cada vez menos filmes do tipo tem chegado aos cinemas. Segundo um artigo do site Vox, uma outra explicação para esse fenômeno seria o fato de que Hollywood parou de produzir filmes de médio orçamento.

Filmes de médio orçamento podem ser descritos como produções que tem custo em torno de 20 a 60 milhões de dólares, com grandes estrelas no elenco e que visam o público adulto. Mas, com o preço dos ingressos de cinema se tornando cada vez mais caros, a audiência desse tipo de filme passou a preferir assistir os títulos quando eles chegassem em DVD, ou passassem na televisão.

Isso fez com que os estúdios focassem seus esforços em filmes com orçamentos cada vez mais altos, os blockbusters repletos de ação, como a onda atual dos filmes de super-heróis. Longas que tem provado ter retorno financeiro garantido e bons resultados internacionais.

Mas, isso não quer dizer que os filmes de comédia romântica não estejam mais sendo produzidos. A Netflix, principal serviço de streaming da atualidade, parece ter percebido a queda do gênero e, já há algum tempo, decidiu investir em produções originais. Segundo dados da própria empresa, 80 milhões de clientes assistiram a pelo menos um filme de comédia romântica no serviço no último ano. Isso representa quase dois terços da audiência mundial da Netflix.

Em 2018, o serviço lançou quatro títulos que tem feito muito sucesso na internet, inclusive abrindo possibilidades para continuações: “A Barraca do Beijo”, “O Plano Imperfeito”, “Para Todos Garotos que Já Amei” e o mais recente “Sierra Burgess é uma Loser”.

O futuro do gênero nos cinemas ainda é incerto, mas é certo dizer que as comédias românticas não morreram, apenas mudaram de endereço e ganharam novos personagens.

Agora, pega um balde de pipoca (e um pote de sorvete) e conta pra gente: você é um fã das novas produções da Netflix, ou prefere os títulos da Era de Ouro? Qual sua comédia romântica favorita?

Lívia Saenz
@saenz_livia

Compartilhe


Conteúdos Relacionados