Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Aves de Rapina | Conheça a história do maior grupo de heroínas do Universo DC

Descubra a trajetória das principais integrantes da equipe e saiba quais mudanças devem ocorrer no filme em relação às HQs.

O Universo Estendido da DC está passando por um momento delicado. Filmes como “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” e “Liga da Justiça” não apenas dividiram os fãs, como também tiveram um desempenho consideravelmente aquém do esperado em termos de bilheteria. E como se isso não fosse o bastante, o futuro de Superman e Batman nas telonas é incerto, com a permanência de seus intérpretes atuais em seus respectivos papéis sendo questionada constantemente.

Entretanto, em meio a todas as críticas acerca da direção tomada pelos últimos filmes do Universo DC e as dúvidas existentes a respeito do futuro dos heróis da Editora das Lendas nos cinemas, é inegável que, em sua curta existência, esse universo cinematográfico teve um grande acerto: “Mulher-Maravilha“. O longa da maior heroína dos quadrinhos conquistou a crítica especializada e fez com que a princesa amazona caísse nas graças do público, tornando-se um dos maiores fenômenos da cultura pop dos últimos anos e provando que um filme de quadrinhos protagonizado por uma super-heroína tem condições de competir em pé de igualdade com as super-produções estreladas por protagonistas masculinos.

Tendo em vista a boa recepção de “Mulher-Maravilha“, não chega a ser nenhuma surpresa o fato de que a Warner esteja investindo nas heroínas da DC Comics para ajudar a reerguer seu universo cinematográfico, com o vindouro filme das “Aves de Rapina” sendo uma das principais apostas do estúdio para os próximos anos. As Aves de Rapina são uma equipe composta por personagens muito queridas dos aficionados por HQs, mas que ainda não são muito conhecidas pelo público em geral, e é justamente pensando nisso que o Cinema com Rapadura preparou esse guia mais do que especial sobre a trajetória da equipe nos quadrinhos, destacando as histórias de suas integrantes principais e apontando algumas mudanças que poderão ocorrer na adaptação cinematográfica.

A equipe nos quadrinhos

O fato de as Aves de Rapina formarem um dos principais grupos do Universo DC acaba levando muitos a se esquecerem de que a equipe não apenas é uma adição relativamente recente ao cânone da editora, como também de que o time foi inicialmente concebido como uma dupla. Publicada em novembro de 1995, a edição única “Black Canary/Oracle: Birds of Prey“, de autoria de Chuck Dixon e com arte de Gary Frank, mostrava a heroína Canário Negro/Dinah Lance sendo enviada em uma missão pela Oráculo/Barbara Gordon.

A história aparentemente despretensiosa acabou deixando uma boa impressão entre os fãs, que logo se viram ávidos por mais aventuras da dupla. Todavia, antes de se comprometer a lançar uma nova revista mensal, a DC Comics optou por dar ao roteirista Chuck Dixon a oportunidade de continuar a história das heroínas em uma minissérie em quatro edições, testando o mercado de colecionadores de quadrinhos para ver se realmente havia um interesse considerável por parte dos fãs que justificasse a publicação de uma revista contínua focada nas personagens.

Com roteiro de Dixon e arte de Matt Haley, a minissérie “Birds of Prey: Manhunt“, publicada em 1996, mostrava a dupla em busca de um criminoso chamado Archer Braun. Para a surpresa das duas, elas acabam descobrindo que a Caçadora e a Mulher-Gato, cada uma por seus próprios motivos, também estavam à procura de Braun, com as quatro decidindo formar uma aliança temporária para encontrá-lo. No final, elas acabam se deparando com a assassina Lady Shiva, uma das maiores artistas marciais do Universo DC, que fora contratada para assassinar Braun, opondo-se aos interesses das heroínas, que queriam apenas levá-lo à justiça por seus crimes.

O sucesso da minissérie viabilizou a continuidade da dupla, e a DC Comics não tardou a dar o sinal verde para a publicação de uma revista própria das personagens. A primeira edição de “Aves de Rapina” foi publicada em 1999, ainda com roteiro de Chuck Dixon, que permaneceria no comando do título até a sua 46ª edição. Sob a batuta de Dixon, Canário Negro e Oráculo se firmaram como uma das mais conhecidas duplas dos quadrinhos, vivendo grandes aventuras e interagindo constantemente com diversos heróis e heroínas do Universo DC.

Após a saída de Dixon, a revista contou com passagens pouco memoráveis dos roteiristas Terry Moore e Gilbert Hernandez, que basicamente ocuparam a função por curtos períodos até que o substituto definitivo de Dixon fosse devidamente escolhido. Em 2003, a 56ª edição da HQ foi publicada, apresentando a primeira história das Aves de Rapina escrita pela roteirista Gail Simone e iniciando aquela que é considerada pela maioria dos fãs como a melhor fase da equipe até hoje.

Apesar do sucesso conquistado pela dupla Canário Negro e Oráculo ao longo do tempo, Simone sentia que as Aves de Rapina ainda não estavam completas, e já em sua segunda edição no título decidiu trazer de volta a Caçadora, tornando-a uma integrante permanente do grupo e formando aquela que, para muitos, é a formação definitiva da equipe. A chegada da Caçadora acabou gerando uma nova e empolgante dinâmica nas histórias das Aves de Rapina, um aspecto ressaltado pela própria Gail Simone em entrevista concedida ao jornalista R.J. Carter:

“Neste caso, Babs e Dinah se respeitam tremendamente, e cada uma é capaz de grandes coisas que a outra não é. Dinah não é apenas as pernas da Oráculo, às vezes, ela é sua consciência, ou sua musa, ou apenas sua melhor amiga. E a Oráculo é muito mais para Dinah do que apenas a controladora da missão. Elas confiam uma na outra e, a partir disso, há uma amizade em que elas acreditam. Caçadora… Eu vejo Helena como alguém que não é solitária completamente por sua escolha. Dinah é tão receptiva e tão aberta que Helena vê uma oportunidade de fazer parte de algo sem ter que forçar sua entrada. Há atrito, porque quando Helena coloca a máscara, ela não é realmente muito boa em se encaixar. Mas ela gosta de que elas estão lhe dando uma chance.”

Com o passar dos anos, outras personagens proeminentes do Universo DC passaram a fazer parte da equipe, como Katana, Hera Venenosa, Lady Falcão Negro e a já mencionada Lady Shiva, mas o trio composto por Canário Negro, Oráculo e Caçadora permaneceu como o verdadeiro coração da revista ao longo de sua publicação.

Canário Negro 

A Canário Negro é uma das heroínas clássicas da DC Comics, tendo surgido na chamada Era de Ouro dos quadrinhos, e justamente por isso tem uma história um tanto quanto complicada, com sua origem tendo passado por diversas modificações ao longo dos anos. Em sua primeira aparição, na revista “Flash Comics” número 86, de 1947, a personagem criada por Robert Kanigher e Carmine Infantino foi apresentada aos leitores como uma coadjuvante das histórias do herói Johnny Trovoada, que tinha suas aventuras publicadas na revista do Flash desde o início dos anos 1940 e chegou a ser um dos membros da Sociedade da Justiça da América, a precursora da Liga da Justiça.

A boa recepção dos fãs à nova personagem, somada a baixa popularidade de Johnny Trovoada, fez com que ela acabasse ganhando suas próprias aventuras a partir da 92ª edição de “Flash Comics“, de modo que sua história passou a ser devidamente explorada. Dinah Drake era uma florista apaixonada pelo detetive Larry Lance, do Departamento de Polícia de Gotham City, que decide se tornar uma vigilante mascarada para combater o crime, passando a adotar a alcunha de Canário Negro. No início, Dinah finge ser uma criminosa para poder se infiltrar nas gangues que assolam sua cidade e destruí-las de dentro, mas logo a Canário Negro se assume para o público como uma verdadeira heroína, passando inclusive a integrar as fileiras da Sociedade da Justiça da América.

Entretanto, assim como muitos dos heróis da Era de Ouro, a Canário Negro e os demais integrantes da Sociedade da Justiça da América perderam espaço no início dos anos 1950, com suas histórias sendo canceladas durante um longo período. Até mesmo Jay Garrick e Alan Scott, o Flash e o Lanterna Verde originais, tiveram suas aventuras interrompidas nessa época, que para muitos é considerada o período mais sombrio da história do mercado de HQs, que enfrentou uma grave crise intensificada pelos ataques promovidos pelo Dr. Fredric Wertham, o psiquiatra e escritor alemão que, em 1954, publicou o livro “Seduction of the Innocent” (“Sedução do Inocente“, em tradução livre). Em sua obra, Wertham atestava que as revistas em quadrinhos seriam a causa de diversos problemas que afetavam a sociedade contemporânea, com os gibis sendo responsáveis por perverter seus jovens leitores e transformá-los em delinquentes juvenis. Tais acusações acabaram alarmando uma sociedade norte-americana extremamente conservadora, e os quadrinhos passaram a ser duramente censurados.

Quando o pânico gerado pelas acusações de Wertham começou a se dissipar, o mercado de HQs pôde se reerguer gradualmente, com uma nova era tendo início: a Era de Prata dos quadrinhos, tendo como marco inicial a publicação, em 1956, da revista “Showcase” número quatro, a qual apresentou ao público o segundo Flash: Barry Allen. Com o sucesso do novo Flash, a DC logo criou novas versões de outros de seus personagens clássicos, mas os heróis originais da Era de Ouro aparentavam estar fadados ao esquecimento. Todavia, essa situação mudou com a hoje clássica “The Flash” número 123, que promoveu o encontro de Barry Allen, o Flash da Era de Prata, e Jay Garrick, o Flash original.

O encontro histórico de Allen e Garrick revelou que os demais heróis da Era de Ouro pertenciam a uma realidade alternativa, que posteriormente seria batizada de Terra Dois. Após essa aventura, era apenas uma questão de tempo para que a DC promovesse a reunião de sua grande equipe do passado, a Sociedade da Justiça, com sua nova equipe, a Liga da Justiça, e esse evento enfim ocorreu nas páginas de “Liga da Justiça da América” número 21, de 1963, que marcou a volta da Canário Negro e de seus colegas aos quadrinhos após uma ausência de 12 anos.

Agora uma heroína experiente, a Canário Negro havia se casado com o detetive Lance, com seu nome de casada passando a ser Dinah Drake Lance. O casamento não a impediu de continuar sua carreira heroica, e ela continuou atuando ao lado da Sociedade da Justiça em diversas missões. Com o tempo, os encontros da Sociedade da Justiça com a Liga da Justiça tornaram-se mais frequentes, e em uma aventura conjunta das duas equipes o detetive Lance acabou sacrificando sua vida para salvar Dinah, deixando-a viúva.

Após a morte de seu marido, Dinah decide deixar a Terra Dois para trás, tentando recomeçar sua vida na Terra Um. Em seu novo lar, a Canário Negro acaba se tornando membro da Liga da Justiça, ao mesmo tempo em que desenvolve uma nova e impressionante habilidade: um poderoso grito supersônico chamado popularmente de “Grito da Canário”, que se mantém até hoje como uma das marcas registradas da personagem. Aos poucos, Dinah se recupera da trágica perda de seu antigo companheiro, e acaba se envolvendo romanticamente com Oliver Queen, o Arqueiro Verde, formando um dos casais mais icônicos da história dos quadrinhos.

Já em 1983, a DC decidiu que era hora de explorar melhor a origem do grito supersônico de Dinah, e aproveitou a oportunidade para explicar um mistério que intrigava os fãs há algum tempo: o motivo pela qual a Canário Negro permanecia jovem como os demais personagens da Terra Um, ao passo em que seus antigos colegas da Terra Dois eram retratados como heróis veteranos que estavam na ativa desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. A história em duas partes publicada nas edições de número 219 e 220 da revista “Liga da Justiça da América” de certo modo solucionou esses mistérios, mas o fez de uma forma que acabou deixando a já complexa história da personagem ainda mais confusa.

Em síntese, a história estabeleceu que a Canário Negro que migrou para a Terra Um não era Dinah Drake Lance, e sim sua filha com o detetive Lance: Dinah Laurel Lance, que ainda jovem foi amaldiçoada com um devastador e incontrolável grito supersônico pelo maligno Mago, um dos vilões da Sociedade da Justiça. Diante dessa situação, o casal Lance deixou sua filha aos cuidados de Johnny Trovoada na esperança de que ele encontrasse algum meio de curar a jovem. Entretanto, a única coisa que Johnny conseguiu fazer foi colocar a garota em um estado de animação suspensa para que ela não causasse danos a si mesma e aqueles a sua volta.

Após a morte do detetive Lance, a Canário Negro descobriu que também estava morrendo, e acaba reencontrando sua filha já adulta, mas ainda em animação suspensa. Diante do desejo de Dinah Drake Lance de que sua filha de alguma maneira pudesse sucedê-la em seu papel de heroína, Johnny Trovoada e o Superman da Terra Um encontram um jeito de transferir as memórias da Canário original para o corpo de sua filha. Assim, ficou estabelecido que Dinah Laurel Lance, com as memórias de sua falecida mãe, se tornou a segunda Canário Negro, sendo a personagem que partiu para a Terra Um e que se envolveu com o Arqueiro Verde.

A história conturbada da Canário Negro é apenas um dos incontáveis exemplos de como a cronologia da DC havia se tornado demasiadamente complexa e confusa com o passar dos anos, com suas realidades alternativas e suas diversas origens para um mesmo personagem sendo vistas como grandes empecilhos para leitores iniciantes que tentavam acompanhar as publicações da editora. Pensando em facilitar a vida de potenciais novos leitores, a DC Comics publicou, entre 1985 e 1986, aquela que é considerada a maior saga de sua história: “Crise nas Infinitas Terras“. Com roteiro de Marv Wolfman e desenhos de George Pérez, a história culminou no fim do chamado Multiverso, com as realidades que sobreviveram ao evento se fundindo para formar uma nova e única Terra.

Nessa Nova Terra, como ficou conhecida, muitos heróis da DC tiveram suas histórias simplificadas, como foi o caso da Canário Negro. Ficou definido que Dinah Drake ainda era a Canário original, que atuou como membro da Sociedade da Justiça durante muitos anos até se aposentar e passar a se dedicar exclusivamente a sua família e a criação de sua filha, Dinah Laurel Lance. Para o alívio dos fãs, a história do transplante de memórias foi completamente descartada, e o grito supersônico de Laurel não era mais fruto de uma maldição, com ela nascendo com esse poder e sendo, para todos os efeitos, uma meta-humana.

Mesmo contra a vontade de sua mãe, que acreditava que o mundo havia se tornado perigoso demais, Laurel assume a identidade de Canário Negro e se torna uma das fundadoras da Liga da Justiça, ao mesmo tempo em que engata um romance com o Arqueiro Verde, com quem acabaria se casando no futuro. Com o tempo, Laurel deixa a Liga da Justiça, e acaba formando as Aves de Rapina ao lado de Barbara Gordon.

Com o advento da fase do Universo DC conhecida como “Os Novos 52“, a cronologia da editora foi reformulada novamente, e a história da personagem se tornou ainda mais simples, sendo estabelecido que sempre houve apenas uma Canário Negro.

Apesar de todas as modificações pelas quais a Canário Negro passou ao longo dos anos, um aspecto da personagem permanece intacto: ela continua sendo uma das heroínas mais importantes não apenas da DC Comics, mas dos quadrinhos como um todo.

Caçadora

A trajetória da Caçadora nos quadrinhos não chega a ser tão confusa quanto a da Canário Negro, mas nem por isso é possível afirmar que se trata de uma história de fácil compreensão. A primeira Caçadora, surgiu em 1947, na edição número 68 de “Sensation Comics“. Essa versão da personagem não era uma heroína, e sim uma vilã da Sociedade da Justiça, sendo que sua história foi pouco explorada durante um longo tempo. Foi apenas após os eventos de “Crise nas Infinitas Terras” que seu nome verdadeiro, Paula Brooks, foi revelado aos leitores, bem como seu passado. Em sua juventude, Paula foi a heroína conhecida como Tigresa, mas eventos trágicos a levaram a abandonar a identidade de Tigresa e se tornar a criminosa conhecida como Caçadora.

Apesar de ser a Caçadora original, Paula Brooks nunca chegou a se firmar como uma personagem de grande relevância dentro do Universo DC, com suas sucessoras sendo as verdadeiras responsáveis por consolidar o nome Caçadora no imaginário dos fãs de HQs. Ainda assim, fica aqui o registro de que a personagem, mesmo não tendo protagonizado momentos marcantes, possui um valor histórico por ser a primeira Caçadora, devendo sempre ser lembrada como tal.

Criada em 1977, a segunda Caçadora apareceu pela primeira vez em uma história publicada em “DC Super Stars” número 17, sendo retratada como Helena Wayne, a filha do Batman e da Mulher-Gato da Terra Dois. Helena cresceu em meio a todo o luxo e o conforto que a vasta fortuna dos Wayne podia proporcionar, com seus pais fazendo o possível para mantê-la afastada do mundo dos super-heróis, permitindo que ela tivesse uma infância normal.

Ainda assim, Helena cresceu fascinada pelos feitos de seu pai e de seu irmão mais velho de criação, Dick Grayson/Robin, que havia sido adotado por Bruce Wayne muitos anos antes de seu casamento com Selina Kyle e do nascimento de Helena. Já adulta, Helena ingressou no escritório de advocacia de Grayson, iniciando uma promissora carreira no mundo jurídico.

Entretanto, como de costume, a tragédia voltou a assolar a família Wayne. Selina Kyle foi chantageada por um de seus antigos companheiros de crimes, sendo forçada a retomar a identidade de Mulher-Gato para efetuar um perigoso trabalho ilegal. Essa empreitada acaba resultando na morte de Selina, deixando Helena órfã de mãe. Diante de tais eventos, Helena decide levar o responsável pela morte de sua mãe à justiça, confeccionando seu próprio uniforme e valendo-se dos antigos equipamentos de seus pais para caçar o meliante.

Mesmo alcançando seu objetivo, Helena resolve continuar combatendo o crime, tornando-se a heroína conhecida como Caçadora. Logo a Caçadora se juntou à Sociedade da Justiça, a antiga equipe de seu pai, e durante muitos anos ela viveu grandes aventuras como integrante do grupo, consolidando-se como uma das principais heroínas da Terra Dois. Durante seu período como heroína, Helena chegou a enfrentar a Caçadora original, e acabou visitando a Terra Um em mais de uma oportunidade, chegando inclusive a conhecer o Batman desse universo, a quem chamava carinhosamente de Tio Bruce.

Ela também formou uma parceria longeva com o Robin, por quem acabou se apaixonando. Apesar de Robin também nutrir sentimentos românticos pela jovem heroína, o fato de que eles eram irmãos de criação acabou sendo um empecilho para que eles se tornassem um casal, mas eles continuaram sendo uma dupla de sucesso que honrou o legado deixado por Bruce Wayne.

Na já mencionada “Crise nas Infinitas Terras“, a Caçadora e o Robin da Terra Dois morreram protegendo seu mundo, e, com o fim do Multiverso e o surgimento da Nova Terra, Helena Wayne teve sua existência completamente apagada do Universo DC. Entretanto, o fim de Helena Wayne não representou o fim da Caçadora, e não tardou para que uma nova versão da personagem fosse apresentada aos leitores.

Helena Rosa Bertinelli, a Caçadora da Era Moderna dos quadrinhos, fez sua estreia em 1989, tendo a oportunidade de debutar em uma série mensal própria intitulada simplesmente de “A Caçadora“. Apesar de ter o mesmo primeiro nome que sua antecessora e ser fisicamente parecida com a mesma, adotando inclusive um uniforme semelhante ao da segunda Caçadora, Helena Bertinelli tinha uma história e uma personalidade muito diferentes das de Helena Wayne.

A origem de Helena Bertinelli passou por modificações consideráveis ao longo dos anos, mas basicamente pode-se afirmar que ela era a filha de Franco Bertinelli, um dos maiores mafiosos de Gotham City, e quando ainda era apenas uma criança acabou presenciando o assassinato de seus pais em decorrência do envolvimento de seu pai com o submundo de Gotham. Após essa tragédia, Helena foi levada para Sicília e passou a ficar aos cuidados de alguns parentes distantes, sendo que um intenso sentimento de vingança se formou em seu interior.

Aos 16 anos, Helena enfim retornou para Gotham por um curto período para passar o Natal com seu tio, e foi nessa época que ela ficou sabendo da existência do vigilante mascarado conhecido como Batman. Inspirada pelas ações do Cavaleiro das Trevas, Helena encontrou um meio de se vingar dos responsáveis pela morte de seus pais, passando a treinar exaustivamente para alcançar seu objetivo.

Já adulta, Helena Bertinelli retornou definitivamente para Gotham em busca de vingança, adotando a identidade de Caçadora e passando a combater os mafiosos da cidade. Sua sede de sangue e seus métodos excessivamente violentos fizeram com que ela demorasse a ser aceita pelo Batman, mas com o tempo ela conquistou o respeito do herói e se consolidou como uma das principais protetoras de Gotham City. Eventualmente, ela se juntou as Aves de Rapina, formando uma amizade duradoura com a Canário Negro e a Oráculo.

Com “Os Novos 52“, uma nova versão da Terra Dois foi apresentada, o que acabou acarretando no retorno de Helena Wayne como a Caçadora, ao passo em que Helena Bertinelli foi deixada de lado, uma situação que não foi vista com bons olhos pelos leitores. Afinal de contas, dentre todas as Caçadoras, Helena Bertinelli certamente é a mais querida pelos fãs de HQs, de modo que a recepção negativa a sua substituição não foi nem um pouco inesperada.

Todavia, logo Helena Bertinelli acabou retornando aos quadrinhos, agora como uma agente da organização secreta conhecida como Espiral. Com o fim dos “Novos 52” e o início do “Renascimento“, a fase atual da DC Comics nos quadrinhos, Helena Bertinelli não somente reassumiu o manto da Caçadora, com Helena Wayne caindo no esquecimento novamente, como também voltou a fazer parte das Aves de Rapina, reafirmando sua posição como uma das principais heroínas da DC.

Oráculo

Embora Barbara Gordon, a Oráculo, tenha uma história consideravelmente mais simples do que suas colegas de equipe, a trajetória da personagem nos quadrinhos é marcada por momentos polêmicos e também possui sua parcela de controvérsias, sendo que uma das principais confusões acerca da personagem remonta a sua criação. Muitas pessoas acreditam que Barbara, a segunda Batgirl, apareceu pela primeira vez no clássico seriado do Batman da década de 1960, estrelado por Adam West, e que posteriormente, graças ao seu sucesso na série, a personagem foi transposta para os quadrinhos. Todavia, a verdadeira história por trás do surgimento da heroína é um pouco mais complicada do que isso.

Barbara foi idealizada por William Dozier, o produtor da série, que queria adicionar uma nova heroína à produção para tentar resgatar a audiência do seriado, que a essa altura já estava em declínio. Entretanto, Dozier estava ciente de que essa poderia ser uma adição importante a mitologia do Batman, de modo que, antes de introduzir a personagem na série, ele entrou em contato com o então editor da DC, Julius Schwartz, para que ele tomasse as providências necessárias para apresentar a personagem nos quadrinhos, fazendo da criação de Barbara Gordon um esforço conjunto entre os responsáveis pelo seriado e os responsáveis pelos gibis do Batman.

Após um cuidadoso planejamento, a filha do Comissário Gordon enfim fez sua estreia em 1967, nas páginas de “Detective Comics” número 359. Na história, Barbara Gordon vai a um baile à fantasia vestindo uma versão feminina do traje do Batman. Quando o baile é invadido pelo criminoso conhecido como Mariposa Assassina, que tenta sequestrar ninguém menos do que Bruce Wayne, Barbara se sente compelida a intervir e atrapalha os planos do vilão. A partir desse momento, Barbara decide combater o crime e adota o nome de Batgirl.

Meses após seu surgimento nos quadrinhos, Barbara foi apresentada na série de TV, sendo interpretada pela atriz Yvonne Craig ao longo de toda a terceira temporada do seriado. Todavia, a adição da Batgirl à série não foi o suficiente para alavancar a audiência do modo que os produtores esperavam, com a produção sendo cancelada em março de 1968.

Mesmo com o fim da série, a personagem continuou aparecendo nas HQs, e conquistou seu espaço na dita Bat-Família, mas nunca chegou ao status de protagonista durante seu período como Batgirl, de modo que com o tempo suas aparições tornaram-se cada vez mais raras, até chegar ao ponto em que ela decide abandonar a carreira de combatente do crime na história intitulada apropriadamente de “A Última História da Batgirl“, publicada na edição única “Batgirl Special“, de 1988. Entretanto, essa não era a maior mudança pela qual Barbara estava destinada a passar no fatídico ano de 1988, com a publicação da graphic novelBatman: Piada Mortal” mudando sua vida de um modo completamente inesperado.

Na história escrita por Alan Moore e ilustrada por Brian Bolland, Barbara se torna vítima das devastadoras ações do Coringa, que, em sua insana tentativa de levar o Comissário Gordon à loucura, atira na jovem e a deixa paraplégica. Embora “Batman: Piada Mortal” seja considerada uma das melhores e mais importantes histórias do Batman, o tratamento conferido à Barbara Gordon na graphic novel foi alvo de críticas por parte daqueles que enxergavam na tragédia que acometeu a jovem um claro exemplo de como as personagens femininas dos quadrinhos eram constantemente submetidas aos mais variados tipos de violência tão somente para acirrar ainda mais a rivalidade entre os protagonistas masculinos e seus arqui-inimigos.

Ironicamente, foi justamente essa tragédia que possibilitou que Barbara deixasse de lado seu posto como mera coadjuvante das histórias do Homem Morcego para alçar voos cada vez maiores no fantástico mundo dos super-heróis. Em 1989, uma personagem chamada Oráculo começou a auxiliar anonimamente os membros da Força-Tarefa X a partir da 23ª edição de “Esquadrão Suicida“, na memorável fase da equipe escrita pelo roteirista John Ostrander. Após algumas edições, foi revelado que a Oráculo era na verdade Barbara Gordon, que não se deixou abater pelos acontecimentos de “Batman: Piada Mortal” e, mesmo em uma cadeira de rodas, continuou combatendo o crime a sua própria maneira, utilizando seus vastos conhecimentos de computação e tecnologia para auxiliar outros heróis. Com o tempo, Barbara voltou a trabalhar ao lado do Batman e dos outros membros da Bat-Família, mas agora em uma posição de igualdade, tornando-se uma heroína completamente independente e formando as Aves de Rapina ao lado da Canário Negro.

Com “Os Novos 52“, Barbara voltou a andar e reassumiu a identidade de Batgirl. Essa mudança inicialmente não agradou aos fãs, que enxergavam nisso uma espécie de regressão da personagem. Para esses fãs, era como se a DC Comics simplesmente tivesse decidido descartar, da noite para o dia, toda a história de superação de Barbara e seus feitos como Oráculo, tirando da personagem diversos elementos importantes de sua história apenas para torná-la novamente uma mera ajudante adolescente do Batman.

Contudo, mesmo voltando ao posto de Batgirl, Barbara permaneceu como uma heroína independente, e há sete anos estrela uma elogiada revista mensal que acompanha suas aventuras, sendo uma das heroínas mais bem-sucedidas e respeitadas do Universo DC.

Aves de Rapina nos cinemas

Após anos de sucesso nos quadrinhos, as Aves de Rapina enfim vão ganhar seu próprio filme para o delírio dos fãs que pacientemente aguardaram para ver as heroínas ganharem vida nas telonas. Entretanto, a adaptação cinematográfica das aventuras da equipe promete ter algumas diferenças que podem acabar desagradando aqueles que pregam uma fidelidade absoluta ao material original.

A primeira grande mudança que o vindouro longa trará diz respeito à formação do grupo. Embora Canário Negro e Caçadora estejam confirmadas entre as protagonistas da produção, sendo interpretadas, respectivamente, por Jurnee Smollett-Bell (“Punhos de Aço“) e Mary Elizabeth Winstead (“All About Nina“), Barbara Gordon, ao que tudo indica, não participará do filme.

É provável que a ausência da personagem esteja relacionada ao fato de que já existe um outro projeto em desenvolvimento que contará com Barbara como protagonista: o filme solo da Batgirl. Ainda assim, uma eventual participação de Barbara, seja como Batgirl ou como Oráculo, em “Aves de Rapina” não está completamente descartada, principalmente considerando o fato de que a roteirista do filme da equipe será Christina Hodson (“Paixão Obsessiva”), que também é a responsável por reescrever o roteiro de “Batgirl“. Nesse sentido, não seria nenhuma surpresa ver a personagem fazendo uma aparição especial no longa ou em uma eventual cena pós-créditos, o que certamente deixaria o público ainda mais ansioso por seu filme solo.

E se por um lado as Aves de Rapina dos cinemas correm o risco de não contar com a presença de uma de suas fundadoras nas HQs, por outro lado elas terão o auxílio de personagens do Universo DC que também são bastante conhecidas e queridas pelos fãs dos quadrinhos, como Renee Montoya e Cassandra Cain.

Embora tenha sido concebida por Bruce Timm, Paul Dini e Mitch Brian como uma coadjuvante de “Batman: A Série Animada“, o popular desenho do Batman da década de 1990, Renee Montoya foi apresentada primeiro nos quadrinhos, em uma situação semelhante a da já mencionada criação de Barbara Gordon. Sua primeira aparição ocorreu em “Batman” 475, de 1992, em uma história com roteiro de Alan Grant e arte de Norm Breyfogle, com Renee sendo apresenta aos leitores como uma nova integrante do Departamento de Polícia de Gotham City.

Montoya acabou se destacando no início dos anos 2000 na HQ “Gotham Central“, que tirava os holofotes do Batman para apresentar histórias maduras e realistas focadas nos policiais de Gotham. Foi durante esse período que a personagem teve sua homossexualidade exposta, o que acabou complicando sua vida profissional e afetando sua relação com seus pais, que não suportavam a ideia de ter uma filha lésbica. Posteriormente, ela acaba abandonando seu trabalho como detetive, passando a atuar ao lado de Vic Sage, o herói conhecido como Questão. Após os eventos da minissérie “52“, Montoya se torna a nova Questão, sucedendo Vic Sage.

Nos cinemas, a personagem será interpretada por Rosie Perez (da série “Pure“), mas ainda não se sabe ao certo se o filme “Aves de Rapina” retratará seu período como detetive em Gotham City ou se ela já terá adotado a identidade de Questão. Independente disso, Renee Montoya certamente será uma importante adição ao Universo DC dos cinemas, sendo a primeira personagem abertamente gay do referido universo cinematográfico e tendo um grande potencial para se tornar um verdadeiro símbolo de representatividade.

Por sua vez, Cassandra Cain surgiu na edição de número 567 da revista “Batman“, de 1999, durante o arco de histórias “Terra de Ninguém“. Cassandra foi retratada como uma jovem atuando sob as instruções da Oráculo, provando seu valor ao ajudar a cidade de Gotham e sendo escolhida para ser a nova Batgirl. Dona de um passado misterioso, Cassandra inicialmente só conseguia se comunicar com outras pessoas através de gestos, mas possuía um talento excepcional para as artes marciais, tendo o raro talento de ler a linguagem corporal de seus adversários com uma precisão incomparável e, consequentemente, sendo capaz de antecipar todos os movimentos de seus inimigos.

No decorrer dos anos, os fãs descobriram que Cassandra era a filha dos assassinos Lady Shiva e David Cain, e que o motivo pelo qual ela só se comunicava por intermédio de gestos remontava a sua criação nas mãos de seu pai, que a treinou desde seu nascimento com o intuito de que ela se tornasse a maior assassina do mundo. David nunca ensinou sua filha a ler ou a escrever, e também a proibia de falar, obrigando Cassandra a desenvolver cada vez mais sua leitura de linguagem corporal. Eventualmente, Cassandra deixou a identidade de Batgirl para trás, tornando-se a heroína Morcego Negra. Com “Os Novos 52“, seu período como Batgirl foi completamente apagado da cronologia da DC, e ela foi reapresentada aos leitores sob o codinome Órfã.

A intérprete de Cassandra nas telonas ainda não foi anunciada, e também não é possível afirmar se ela aparecerá apenas em sua identidade civil ou se ao longo do filme ela irá adotar algum de seus alter-egos tradicionais dos quadrinhos, mas sua aparição nos cinemas certamente será comemorada por muitos fãs que há tempos torciam para que a personagem passasse a ser explorada em outras mídias.

Além disso, é importante lembrar que “Aves de Rapina” contará com a Arlequina como uma de suas protagonistas. A personagem interpretada nos cinemas por Margot Robbie (“Eu, Tonya”) foi criada pela dupla Bruce Timm e Paul Dini para ser a parceira do Coringa em “Batman: A Série Animada“, aparecendo pela primeira vez no episódio “Um Favor Para o Coringa“, exibido em 11 de setembro de 1992. Anos depois, a Arlequina foi incorporada ao universo dos quadrinhos.

O fato de que a Arlequina é, tradicionalmente, uma vilã, tendo apenas recentemente se tornado uma espécie de anti-heroína, a princípio a colocaria na posição de adversária em potencial das Aves de Rapina. Todavia, em decorrência da grande popularidade da personagem, é improvável que ela seja retratada como uma das vilãs do filme. Mesmo que ela não venha a se tornar uma integrante oficial das Aves de Rapina, ela provavelmente será forçada a trabalhar ao lado da equipe de heroínas por algum motivo ainda não divulgado. De qualquer modo, o fato de que a personagem já conta com o carinho do público por conta de sua aparição no filme “Esquadrão Suicida” acaba justificando a decisão da Warner de colocá-la em “Aves de Rapina”, e os fãs podem ficar seguros de que a insanidade da Arlequina e o carisma de sua intérprete serão alguns dos maiores trunfos do longa.

Diante de tudo o que foi exposto, “Aves de Rapina” tem o potencial para se tornar um filme realmente memorável, ao mesmo tempo em que carrega o peso de anos de expectativas dos fãs que esperam que suas heroínas sejam retratadas com respeito nas telonas. Ao contar com personagens que nunca fizeram parte da equipe nas HQs, a produção terá a oportunidade de criar uma nova dinâmica capaz de surpreender a todos, mas será preciso ter cuidado para que a essência do grupo não acabe sendo abandonada. Ainda é difícil prever se o longa será bem-sucedido em sua tarefa de apresentar as Aves de Rapina ao público, mas se o filme realmente conseguir atender às expectativas, poderá acabar se tornando o marco de uma nova e promissora fase do Universo DC nos cinemas.

As filmagens de “Aves de Rapina” devem ter início em janeiro de 2019. A estreia está prevista para 7 de fevereiro de 2020.

João Antônio
@rapadura

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