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Colunas   quinta-feira, 02 de agosto de 2018

Da primeira à sétima arte: 7 músicas que inspiraram filmes

De ABBA à Legião Urbana, conheça algumas canções que foram adaptadas para o cinema.

Os debates sobre criatividade (ou a falta dela) no processo de desenvolvimento de um filme estão se acirrando gradualmente. Com adaptações ganhando cada vez mais dinheiro e monopolizando as salas de cinemas (estou falando com vocês, Marvel e DC!), é compreensível que obras derivadas de outras mídias e continuações sejam destaques corriqueiros.

Dentro deste cenário, tradicionalmente os roteiros mais relevantes são inspirados em livros, séries de TV, histórias reais e até jogos de videogame. Enquanto isso, outras mídias ficam escondidas no fundo do baú com poucas chances de serem retratadas nas telas grandes. As músicas, por exemplo, apesar do grande repertório, que é constantemente alimentado, ainda não alcançaram seus momentos de glória.

Aproveitando a chegada de “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo”, sequência do sucesso de 2008, aos cinemas, preparamos esta coluna com sete filmes derivados de músicas, desde inspirações confessas aos que transpiram subjetividade. Aqueça as cordas vocais e veja a lista!

Uma Linda Mulher (1990)

Lançada em 1964, Oh, Pretty Woman passou três semanas no topo da Billboard Hot 100 e rendeu diversos prêmios aos compositores Roy Orbison e Bill Dees. A música fez tanto sucesso que foi regravada por diversos outros artistas, mas o auge veio em 1990, quando inspirou o filme “Uma Linda Mulher” (“Pretty Woman”), estrelado por Richard Gere e Julia Roberts, além de, claro, ter sido tema do longa.

No entanto, bem distante da composição de Orbison, que buscava fazer uma ode à esposa, o projeto do diretor Garry Marshall (“O Diário da Princesa”) se inspirou na música para ilustrar o relacionamento entre uma prostituta e um empresário rico. A linda mulher descendo a rua (“Pretty woman, walking down the street”) se tornou uma garota de programa.

E isso aparentemente não incomodou os autores originais. Orbison morreu dois anos antes do longa chegar aos cinemas, mas seu parceiro de criação, Dees, falou que ficou muito feliz com o filme. “Eu tinha medo de usarem a música para glorificar a prostituição, mas ela é muito bem aproveitada”, brinca.

O Veludo Azul (1986)

Não dá para esperar um padrão de David Lynch (“Cidade dos Sonhos”). O diretor e roteirista, conhecido pelas obras surrealistas, inspirou-se na clássica canção Blue Velvet (1963), do cantor Bobby Vinton (regravada recentemente por Lana Del Rey), para produzir um longa homônimo. O suspense, nada superficial, inspira-se, além do nome, na ambientação da música com o objetivo de levar o protagonista e o público a tempos mais simples e monótonos.

Porém, claro que, na aparentemente bucólica cidade de Blue Velvet, nada é o que parece (O que você esperava com o cara que criou “Twin Peaks”?). E alguma coisa se esconde na grama verde e límpida na vizinhança do pacato subúrbio.

O queridinho do diretor, Kyle MacLachlan, vive o inocente Jeff, um homem que aos poucos começa a entrar em um mundo obscuro, erótico e assustador coberto pelo Veludo Azul. Nesse universo, conhece o sadomasoquista Frank (Dennis Hopper) e Dorothy, uma cantora de boate vivida por Isabella Rossellini, que canta Blue Velvet todas as noites.

Questionado por um jornal sobre a adaptação, o cantor Vinton brinca que seus fãs ficaram com raiva pela música tratar de amor, mas o filme fugir totalmente disso, mas desconversa.

“Comecei a receber cartas desagradáveis: ‘Por que você fez parte desse filme horrível?’ Mas isso é o que David Lynch queria. Ele queria chocar as pessoas”.

(É isso que ele sempre quer, não é mesmo?)

Jolene (2008)

Em 1973, a cantora americana Dolly Parton lançou Jolene, canção country que retrata uma mulher confrontando Jolene por acreditar que ela está tentando roubar seu marido. Ao longo da música, a mulher implora “Jolene, I’m begging of you, please don’t take my man” (“Jolene, estou te implorando, por favor, não tome meu homem”).

A música inspirou o escritor E. L. Doctorow a criar o conto “Jolene: A Life”, que serviu de base para o roteiro do longa “Jolene”, lançado em 2008.

Porém, assim como nos outros casos, o filme foge bastante da música em que foi baseado. Dirigido por Dan Ireland, o longa acompanha, por uma década, a trajetória de Jolene, vivida pela jovem Jessica Chastain. Desde que a menina órfã, então com 15 anos de idade, parte em uma viagem pelo interior dos Estados Unidos, conhecendo diversas pessoas peculiares nesta jornada.

Olhos Famintos (2001)

Originalmente chamado de “Jeepers Creepers”, “Olhos Famintos” é um filme de terror que acompanha dois irmãos que descobrem algo horrível – um monstro – no porão de uma igreja abandonada e passam a ser perseguidos por ele. (Mas, sério, quem em sã consciência vai dar um rolê no porão de uma igreja abandonada? QUEM?).

A ideia inicial para o filme é que ele se chamasse “Here Comes the Boogeyman” (“Aí vem o Bicho-Papão”), mas o clássico jazz composto por Louis Armstrong em 1938 se tornou inspiração para o nome da obra.

A melodia, que teve conotação alegre e animada por décadas, viu o sentido reformulado após o diretor Victor Salva (“Palhaço Assassino”) usar com o propósito de sonorizar o terror acometido pelo monstro canibal que sobrevive ao comer partes do corpo e órgãos das vítimas. Lançado em 2001, o filme obteve grande sucesso nas bilheterias que garantiu duas sequências.

Yellow Submarine (1968)

No segmento de adaptações para o cinema, Os Beatles são como o Stephen King. A animação “Yellow Submarine” (Submarino Amarelo) é apenas uma das várias canções do grupo musical que chegou às telonas. 

Lançado em 1968, o filme é um musical que conta a história de Pepperland: uma terra secreta que fica a 80 mil léguas no fundo do mar, onde a Banda do Sargento Pimenta está sempre tocando. Um dia o Líder dos Maldosos Azuis, que detesta música, decide destruir o lugar, tirando toda sua cor e som, mas, a bordo de um submarino amarelo, os Beatles estão a caminho para trazer a paz e a música de volta a Pepperland.

Across the Universe (2007)

Talvez uma das obras mais famosas derivadas das canções dos Beatles, “Across the Universe” se passa nos anos 1960 e acompanha as lutas, guerras e histórias daquele período. O musical psicodélico dirigido por Julie Taymor (“Frida”) conta com Jim Sturgess, Evan Rachel Wood e Joe Anderson, além das participações especiais de Bono Vox, Joe Cocker e Salma Hayek.

Em meio às turbulência dos movimentos de contracultura, Guerra do Vietnã e outras situações históricas daquele período, o filme mostra o inglês Jude (Sturgess), que decide partir para os Estados Unidos em busca de seu pai. Lá, se torna amigo de Max (Anderson), e vive uma história de amor com Lucy (Wood), irmã de Max.

Faroeste Caboclo (2003)

De todas as adaptações da lista, a que conseguiu ser mais fiel à obra original vem de terras tupiniquins. Além de fazer parte do imaginário popular, Faroeste Caboclo é uma das músicas mais emblemáticas do repertório nacional.

Escrita por Renato Russo e lançada em 1992, a canção da banda Legião Urbana narra a epopeia do João de Santo Cristo, um menino que se revolta ao ver sua família morta e decide buscar vingança. A partir daí se envolve em um épico contemporâneo que aborda paixão, racismo, drogas, crime e dinheiro.

É quase impossível ouvir essa canção e não imaginar aquela história transposta para a tela grande, mas a realização só se tornou realidade 34 anos depois da composição. Em 2013 chegava aos cinemas, pelas mãos do diretor René Sampaio, a saga de João. Com o roteiro sustentado quase totalmente na música, o filme arrancou bons elogios da crítica e ganhou importantes prêmios em festivais nacionais.  

O Menino da Porteira (2009)

O outro representante brasileiro na lista é inspirado em uma clássica canção de 1955 (vai dizer que a música não se completa na sua cabeça quando alguém fala “toda vez que eu viajava na estrada de Ouro Fino”?). Protagonizado pelo cantor sertanejo Daniel, o filme, lançado em 2009, é uma refilmagem (isso mesmo!) de outra adaptação escrita e dirigida pelo mesmo diretor, Jeremias Moreira Filho, em 1976.

PS.: Em 1983, esse mesmo Jeremias produziu e dirigiu uma adaptação da música Fuscão Preto (1982), no qual Xuxa Meneghel foi a protagonista. Aproveite para assistir a um trecho dessa obra incrível, alá Christine, do Stephen King:

Mamma Mia! (2008)

Inspirada não em uma, mas em várias músicas do grupo sueco Abba, o filme “Mamma Mia!” (cujo título é homônimo a uma das principais composições da banda) conta a história de Donna Sheridan (Meryl Streep). Ambientado na Grécia, o musical mostra três homens (Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård) procurando saber qual deles é o pai da filha de Donna, Sophie (Amanda Seyfried).

Apesar da história simples, que é adaptação de uma peça escrita por Benny Andersson e Björn Ulvaeus (ex-integrantes da banda), o tom de nostalgia e a empatia pelos personagens fazem dessa uma obra bem peculiar. – E é muito legal ver atores consagrados cantando algumas das músicas mais tocadas em formaturas e casamentos.

“Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (02), e finalmente continuará a história do filme de 2008. Mas além de seguir a trajetória de Sophie, agora grávida, em busca de se reconectar com o legado de sua mãe, o filme também terá cenas da própria Donna jovem (interpretada por Lily James), e o momento em que ela conhece os “três pais” de Sophie. Assista ao trailer do filme aqui!

E ai? Sentiu falta de algum filme na lista? Deixe nos comentários sua opinião!

Breno Damascena
@brenodamascena_

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