Muito além do Desafio Infinito: a história de Thanos
Conheça a história do maior vilão da Marvel nos quadrinhos, desde a sua 1ª aparição até a clássica saga "Desafio Infinito".
“Vingadores: Guerra Infinita” não apenas é a culminação de tudo o que foi estabelecido no Universo Cinematográfico da Marvel desde o primeiro “Homem de Ferro” (2008), como também será o filme em que legiões de fãs enfim poderão ver o confronto épico entre os heróis mais poderosos da Terra e o titã louco, Thanos, prometido desde a cena pós-créditos do primeiro “Vingadores” (2012).
Enquanto que nos cinemas as motivações e a história do poderoso vilão permanecem um grande mistério, os fãs dos quadrinhos possuem pelo menos uma ideia daquilo com que poderão se deparar nas telonas. Mas se você não é um aficionado que cresceu lendo e relendo as histórias clássicas que servem de inspiração para os cada vez mais populares filmes da Marvel, pode ficar tranquilo, porque foi justamente pensando em você que o Cinema com Rapadura preparou esse material mais do que especial sobre o maior vilão da Marvel. Abordamos não apenas a saga “Desafio Infinito“, que serve de base para o vindouro filme dos Vingadores, mas também toda a trajetória do titã louco, desde a sua primeira aparição, passando por seus combates decisivos contra seus principais rivais, até chegar ao momento em que ele finalmente consegue reunir todas as Joias do Infinito em sua Manopla. E se você já conhece esses verdadeiros clássicos da nona arte, sinta-se convidado a relembrar essas histórias marcantes.
Thanos: o Darkseid da Marvel?
Antes de adentrar no conteúdo das histórias do maravilhoso mundo Marvel, é preciso tecer alguns breves comentários sobre a criação de Thanos, que é considerada um tanto quanto polêmica por uma parcela de fãs da dita Distinta Concorrência (trocadilho bem-humorado com o nome da DC Comics).
A revelação que será feita nesse momento pode ser um choque para muitos que sempre acreditaram que a Marvel era a “casa das ideias”, como a própria editora faz questão de ser reconhecida até hoje, mas o fato é que o grande Thanos surgiu como uma cópia do vilão Darkseid, da DC. As semelhanças entre os personagens são nítidas, tanto no aspecto físico como em nível de poder, sendo que até mesmo os objetivos dos vilões são semelhantes em determinados momentos, com ambos partindo em jornadas à procura de artefatos ou poderes místicos: Thanos atrás das Joias do Infinito, e Darkseid em busca da famigerada Equação Anti-Vida. E, no final das contas, por mais que muitos marvetes, isto é, fãs da Marvel não queiram reconhecer, Darkseid é o artigo genuíno, e Thanos uma imitação.
Darkseid apareceu pela primeira vez nas páginas de “Superman’s Pal, Jimmy Olsen” n.º 134, de 1970 (sim, Jimmy Olsen, o jovem fotógrafo e colega de Clark Kent no Planeta Diária tinha uma revista própria, em uma série de histórias bizarras com direito à um relógio especial para chamar o Superman sempre que Jimmy se metia em alguma encrenca), e quis o destino que a criação do vilão se desse pelas mãos de uma das maiores lendas da Marvel: Jack “o Rei” Kirby, que havia recém debandado para a DC após uma série de conflitos criativos com seu parceiro de longa data, Stan “o Cara” Lee.
Por sua vez, Thanos fez sua estreia em “The Invincible Iron Man” n.º 55, de 1973, em uma história escrita por Jim Starlin e Mike Friedrich, com arte do próprio Starlin, que logo viria a se tornar uma lenda viva do mundo dos quadrinhos.
Em uma entrevista publicada em 1998 na 2ª edição da revista Comic Book Artist, Starlin disse que sua intenção inicial não era fazer uma cópia de Darkseid, e que na realidade seus primeiros esboços de Thanos pareciam mais o personagem Metron, outro dos Novos Deuses criados por Kirby em sua memorável passagem pela DC:
“Kirby tinha feito os Novos Deuses, que eu achei sensacional. Ele estava na DC naquela época. Eu desenvolvi algumas coisas que foram inspiradas naquilo. É de se imaginar que Thanos foi inspirado em Darkseid, mas esse não era o caso quando eu apareci com a ideia [para o personagem]. Em meus primeiros rascunhos de Thanos, se ele se parecia com alguém, era com Metron. Eu tinha todos esses deuses e coisas diferentes que eu queria fazer, que se tornaram Thanos e os titãs. Roy [Thomas, editor-chefe da Marvel na época] deu uma olhada no cara sentado em uma cadeira parecida com a de Metron e disse: ‘Deixe-o mais forte! Se você vai roubar um dos Novos Deuses, pelo menos copie Darkseid, que é o que realmente é bom!'”
Então, para resumir toda a história, Thanos realmente foi criado como uma cópia de Darkseid, mesmo que esse não tenha sido o intento original de seu criador, que de qualquer modo admitiu ter sido inspirado pelas criações de Kirby para desenvolver sua obra. Entretanto, isso não significa que a “cópia” estava destinada a permanecer eternamente à sombra do original, e não tardou para que Thanos demonstrasse aos leitores todo o seu potencial para ser um vilão tão bom quanto, ou até mesmo melhor do que Darkseid.
A origem do titã
Mesmo surgindo em 1973, Thanos só viria a ter sua origem completamente revelada e aprofundada com o passar do tempo, como ocorre com muitos personagens.
Outra coisa muito comum nos quadrinhos é o fato de que muitos escritores que utilizaram o vilão em suas histórias incluíram novos elementos à origem do mesmo. Agradando ou não aos fãs, esses artistas merecem ter suas escolhas criativas respeitadas, com todos tendo contribuído em maior ou menor grau para que Thanos se tornasse o personagem que é hoje.
Entretanto, para evitar maiores confusões referentes à complexa e muitas vezes contraditória cronologia do Universo Marvel, vamos nos ater à origem clássica do titã louco, conforme idealizada por seu criador, Jim Starlin.
Nascido em Titã, a maior lua de Saturno, Thanos era filho do sábio e gentil governante Mentor e irmão de Eros, que viria a se tornar o herói conhecido como Starfox. Conforme crescia, o titã ficava cada vez mais obcecado pela morte, venerando e, eventualmente, se apaixonando pela manifestação física da mesma: a entidade cósmica conhecida simplesmente como Morte. Já adulto, Thanos tenta usurpar o poder de Titã das mãos de seu pai, mas acaba fracassando e sendo exilado.
Buscando provar seu amor pela Morte, Thanos reúne um verdadeiro exército intergaláctico e inicia um bombardeio nuclear em seu próprio lar, Titã, matando milhões de membros do seu povo. A obsessão do vilão pela Morte o leva a uma insaciável busca por poder, em uma jornada que logo o conduziria ao terceiro planeta do sistema solar.
A Saga de Thanos: Parte I – Thanos X Capitão Marvel
Embora muitos possam acreditar que o apogeu de Thanos nas HQs tenha se dado com a saga “Desafio Infinito”, nos anos 1990, o personagem já tinha feito história nos anos 1970, com “A Saga de Thanos”.
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que o que muitos fãs brasileiros conhecem como “A Saga de Thanos”, conforme foi batizada pela editora Abril ao republicar as histórias em 1992 em uma minissérie (ou maxi-série, como propagandeava a Abril nas capas dos nostálgicos formatinhos) em 5 edições, jamais teve esse nome nos EUA, sendo que na realidade essa minissérie nada mais era do que uma coletânea das primeiras investidas do titã louco contra os heróis da Terra.
O primeiro grande conflito entre Thanos e os Vingadores se deu nas páginas da revista “Captain Marvel“, sob os roteiros e a arte de Starlin, que viria a se consagrar como um dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos no que diz respeito às sagas e aventuras cósmicas. Nessas histórias, o herói que fez frente ao imponente vilão foi, evidentemente, o Capitão Marvel, que não deve ser confundido com o Shazam, clássico personagem da Fawcett Comics que acabou sendo integrado ao Universo DC e que originalmente também utilizava o nome Capitão Marvel.
Mar-Vell, o Capitão Marvel da Marvel, era um capitão kree, uma das raças alienígenas do universo Marvel, enviado à Terra como espião, mas que acaba se afeiçoando aos humanos e toma a decisão de virar um protetor do planeta Terra, tornando-se um traidor aos olhos de seu povo.
Ao contrário de outros heróis da editora, Mar-Vell demorou para cair nas graças dos leitores, passando por uma reformulação já na 17ª edição de seu título mensal, em 1969. Preso na famigerada Zona Negativa, Mar-Vell só consegue escapar com o auxílio do jovem Rick Jones, ex-parceiro do Hulk e do Capitão América, que inclusive chegou a vestir o uniforme do presumidamente finado Bucky por algumas edições. Guiado telepaticamente por Mar-Vell, Rick acaba encontrando um par de braceletes místicos que o permitiam trocar de lugar com Mar-Vell quando fosse necessário. Em síntese, sempre que Rick se envolvia em alguma confusão, bastava ele juntar os braceletes para ser enviado à Zona Negativa e Mar-Vell apareceria na Terra em seu lugar para salvar o dia (qualquer semelhança com o já mencionado Shazam não é mera coincidência).
Ao assumir o título do Capitão Marvel, Starlin novamente reinventou o herói, e o colocou para combater Thanos, que nesta história ainda não estava em busca das Joias do Infinito, e sim do Cubo Cósmico. O vilão utiliza o Cubo para unir sua essência ao próprio universo, tornando-se uma espécie de deus, para todos os efeitos. Os Vingadores são incapazes de impedir os planos de Thanos, mas Mar-Vell, que não apenas teve seus poderes ampliados após um encontro com a entidade espacial conhecida como Eon, como também adquiriu a chamada “consciência cósmica”, entra em cena para encarar o titã.
Mesmo com seus novos poderes, o Capitão Marvel não tem chances contra Thanos, só conseguindo alcançar a vitória em uma última investida na qual arriscou sua própria vida para destruir o Cubo e, aparentemente, matar o vilão. Todavia, o titã louco evidentemente não estava morto, e não tardaria nem um pouco a voltar.
A Saga de Thanos: Parte II – Thanos X Adam Warlock
Mesmo deixando a revista do Capitão Marvel, Starlin permaneceu explorando o lado cósmico dos heróis da editora. Nas histórias do personagem Adam Warlock, o roteirista e desenhista novamente se viu na árdua posição de reformular um personagem que, mesmo tendo sido criado pela dupla Stan Lee e Jack Kirby, não conseguia emplacar com os fãs.
Warlock debutou na edição n.º 66 da revista do Quarteto Fantástico, quando foi chamado simplesmente de “Ele”. Criado por um grupo de cientistas para ser a arma definitiva, “Ele” se rebela contra os planos nefastos de seus criadores e começa a vagar pelo espaço.
Ele acaba encontrando o Alto Evolucionário, um geneticista louco que criou a Contraterra, uma cópia quase perfeita do planeta Terra, idêntica em praticamente todos os sentidos, mas com uma grande diferença: era povoada por seres-humanos completamente desprovidos de violência. Entretanto, o vilanesco Homem-Fera corrompe a criação perfeita do Alto Evolucionário, que então decide por um fim à Contraterra, sendo impedido no último instante por um apelo do ser conhecido como “Ele”, que assume o encargo de ir até a Contraterra combater o Homem-Fera e livrar seu povo de toda e qualquer maldade. O Alto Evolucionário entrega a Joia da Alma à “Ele”, agora finalmente batizado de Warlock, para auxiliá-lo em sua missão messiânica, em uma série de histórias visivelmente inspiradas no musical “Jesus Cristo Superstar“. Foi em suas aventuras na Contraterra que o herói passou a ser chamado de Adam.
Uma vez encerrada sua jornada na Contraterra, Warlock volta a vagar pelas estrelas. Já sob a batuta de Starlin, as histórias do herói tomam um novo rumo, colocando Warlock em uma rota de colisão com o maligno Magus, que acaba se revelando uma versão futura e pervertida do próprio Adam. Buscando uma maneira de evitar seu trágico destino de se tornar um vilão, Warlock acaba formando uma inusitada parceria com Pip, o Troll, e com uma guerreira misteriosa conhecida como Gamora, que está agindo sob as ordens de um indivíduo desconhecido que almeja evitar a transformação de Adam em Magus à qualquer custo.
Diante do fracasso do trio, o mestre de Gamora entra em cena, revelando-se como ninguém menos do que Thanos, que via em Magus uma séria ameaça aos seus planos nefastos, além, é claro, de possuir seus próprios planos para a Joia da Alma em posse de Warlock.
Entretanto, nem os esforços combinados de Adam e Thanos são o bastante para derrotar Magus, com a vitória só sendo alcançada quando Warlock comete o que chamou de “suicídio cósmico”, acessando uma sonda temporal que o envia a um ponto incerto no futuro em que o herói encontra a si mesmo, utilizando a Joia da Alma para sugar a alma de sua versão futura, a qual, já tendo vivenciado esses eventos, aceita seu destino sabendo ser a única maneira de evitar sua transformação em Magus. Assim, Magus é apagado da existência, e Adam retorna ao seu presente, ciente de que está destinado a morrer por suas próprias mãos em poucos meses.
Com o passar do tempo, Thanos retoma seus planos de cometer genocídio em escala cósmica, juntando cinco das Joias do Infinito (na época chamadas de Joias Espirituais) para auxiliá-lo em sua tarefa. Gamora tenta impedi-lo ao descobrir as reais intenções do vilão, mas não teve chances contra seu poder descomunal. À beira da morte, a guerreira é encontrada por Warlock, que toma conhecimento dos planos do titã e parte para a Terra em busca de aliados. Warlock relata sua história aos Vingadores e ao Capitão Marvel, revelando ainda aos heróis que, durante sua aliança de curta duração com Thanos para apagar a existência de Magus, o vilão foi capaz de drenar alguns elementos da Joia da Alma, fazendo posteriormente o mesmo com as Joias que se encontravam em sua posse e combinando tais elementos para formar uma única e poderosa Joia sintética que lhe daria o poder para explodir todas as estrelas dos céus, em um gesto de adoração à Morte.
Os heróis mais poderosos da Terra partem para o espaço para deter Thanos, que derrota Warlock mas acaba tendo seus planos frustrados pela dupla Homem de Ferro e Thor. Enquanto Thor encara o vilão em um combate feroz, Tony Stark destrói a Joia sintética, deixando Thanos completamente ensandecido ao ver que seus planos foram frustrados novamente. Simultaneamente, um Adam Warlock moribundo é surpreendido pela aparição repentina de seu eu do passado, se dando conta de que esse é o momento em que terá sua alma sugada pela Joia da Alma, com a única testemunha de tal evento sendo o Capitão Marvel, que também havia se ferido durante o combate à Thanos. O titã louco aparentemente foge, e, dentro da Joia da Alma, a alma de Warlock é recepcionada pela alma de seus falecidos amigos, Pip e Gamora, com o trágico herói enfim encontrando a paz que tanto buscou em vida.
Mas nada é tão simples quanto parece. A suposta fuga de Thanos fora apenas uma retirada estratégica que possibilitou que ele atingisse os Vingadores de surpresa, derrotando os heróis e aprisionando-os em feixes de estase. O vilão retira a Joia da Alma da testa do corpo sem alma de Warlock, decidindo utilizá-la para obliterar o sol.
Quando tudo parece perdido, o Homem-Aranha e o Coisa surgem para libertar os Vingadores, dando início a uma batalha épica que só tem fim quando o amigão da vizinhança recupera a Joia da Alma e liberta Warlock, que se auto-proclama o vingador definitivo e usa seus poderes para transformar Thanos em granito sólido, colocando um ponto final na trilha de maldades do titã.
Adam retorna para o seu merecido descanso eterno dentro da Joia da Alma, encerrando definitivamente “A Saga de Thanos”.
A carreira de Starlin após “A Saga de Thanos”
O último capítulo da “Saga de Thanos” foi publicado em “Marvel Two-In-One Annual” n.º 2, de dezembro de 1977. Para todos os efeitos, Thanos estava morto, assim como Warlock, o grande herói que se colocou em seu caminho. Seu outro rival, o Capitão Marvel, viria a falecer em 1982, em “Marvel Graphic Novel” n.º 1, vítima de câncer em uma tocante história escrita e desenhada por Jim Starlin que contou com uma participação mais do que especial do titã louco, recebendo seu antigo adversário no pós-vida.
Para os leitores, esse era um capítulo encerrado da história da Marvel que dificilmente seria revisitado. Não apenas a morte ainda era um conceito levado à sério nos quadrinhos de um modo geral, ao contrário da banalização vista nas histórias contemporâneas em que personagens são mortos apenas para retornar no ano seguinte, como o próprio Starlin parecia ter seguido outro rumo em sua carreira.
Inicialmente, Starlin continuou escrevendo as histórias cósmicas que o consagraram, mas agora em seu próprio universo com a série “Dreadstar“, publicada através de um selo da Marvel voltado para projetos autorais. Pouco depois, o artista migrou para a concorrência, empregando seus talentos para expandir o universo espacial da DC em histórias como “Odisseia Cósmica“. Entretanto, seu projeto mais lembrado na editora das lendas certamente é a polêmica história “Morte em Família“, de 1988, que culminou na morte de Jason Todd, o 2º Robin. Starlin nunca escondeu seu desdém pelo jovem ajudante do Batman, e aproveitou o fato de que o novo Robin não tinha a mesma popularidade que seu antecessor para fazer com que o Cavaleiro das Trevas voltasse a ser a figura solitária que era em suas primeiras aparições. O destino do menino-prodígio acabou sendo decidido pelos fãs em uma votação organizada pela DC e, para o deleite de Starlin, a maioria optou pela morte do jovem herói.
Talvez a essa altura você esteja se perguntando o que tudo isso tem a ver com a história de Thanos. Pois bem, embora a campanha que conduziu à morte do Robin tenha, em um primeiro momento, se mostrado um grande sucesso para a DC, o fato é que o tiro acabou saindo pela culatra. Muitos fãs expressaram seu descontentamento com a história, e a mídia enxergou a votação organizada pela editora como um golpe publicitário asqueroso. Além disso, como o próprio artista revelou em uma entrevista concedida ao jornal The Deseret News, em 1990, ele teria sido atirado aos leões por seus próprios editores, que tiveram que explicar aos executivos da Warner Brothers, dona da DC Comics, porque eles não iriam poder aproveitar o personagem em seus produtos licenciados para o filme “Batman“, de 1989 (lembrando que o Robin sequer é mencionado no longa dirigido por Tim Burton):
“Alguém tinha que explicar porque não haveria um Robin em todas aquelas garrafas térmicas, então eles [os editores] basicamente olharam para mim e disseram ‘é culpa dele'”.
Como se isso não fosse o bastante, a própria autenticidade da votação foi colocada em xeque. O resultado disso tudo foi a saída de Starlin do título do homem-morcego, e não demoraria para que ele abandonasse a DC e retornasse a sua antiga casa.
A Ressurreição de Thanos
De volta à Marvel, Starlin assumiu o título do Surfista Prateado, e na edição n.º 34, de 1990, fez o que muitos leitores jamais pensaram que aconteceria: ele trouxe Thanos de volta à vida. O vilão foi ressuscitado pela própria Morte, que o incumbiu da tarefa de dizimar metade do universo e restabelecer o equilíbrio entre a vida e a morte.
Finalmente compreendendo o verdadeiro poder das Joias do Infinito, Thanos parte em busca das mesmas na minissérie em duas edições intitulada “Thanos – Em Busca de Poder” (“The Thanos Quest“, no original), publicada ainda em 1990, na qual o vilão enfrenta vários desafios para conquistar as Joias do Espaço, da Mente, da Alma, do Tempo, da Realidade e do Poder.
Uma vez na posse de todas as seis Joias, Thanos retorna para o santuário da Morte acreditando que finalmente será tratado como igual por sua amada, mas para sua tristeza descobre que ela continua não se comunicando com ele diretamente, valendo-se sempre de intermediários. Irritado, o titã exige que a Morte o reconheça como seu companheiro, mas esta afirma que Thanos não é seu igual, e sim seu superior, de modo que não seria adequado que ela se reportasse diretamente à ele. Derramando uma lágrima, Thanos pondera sobre como sua vitória acabou sendo vazia no final das contas.
Na edição 44 de “Silver Surfer“, Thanos aparece usando a popular Manopla do Infinito pela primeira vez. Na realidade, a Manopla era apenas a luva costumeira do titã louco, mas adaptada para acomodar as Joias do Infinito. Diante da ameaça do vilão, o Surfista Prateado decide combatê-lo, mas é subjugado e aprisionado na Joia da Alma. Dentro da Joia, o Surfista encontra a alma do finado Adam Warlock, que o auxilia a escapar e promete que, no momento certo, o ajudará na luta contra Thanos. O Surfista então parte para a Terra para avisar os Vingadores do perigo iminente, ao mesmo tempo em que o diabólico Mephisto surge diante de Thanos propondo ajudá-lo a dominar seus novos poderes, quando na verdade sua real intenção é roubar a Manopla e as Joias para si. Está montado o cenário para a saga “Desafio Infinito”.
Desafio Infinito
Escrita por Starlin e com arte dos renomados George Pérez e Ron Lim, a saga “Desafio Infinito” foi publicada de julho a dezembro de 1991, como uma minissérie em 06 edições, se tornando mais um clássico instantâneo do Universo Marvel.
Thanos permanece descontente com o fato de que sua amada Morte ainda não lhe dá a atenção que tanto deseja, e o sempre traiçoeiro Mephisto sugere que talvez isso se dê porque o titã ainda não cumpriu sua missão de exterminar metade de toda a vida no universo. Então, Thanos finalmente executa sua tarefa hedionda, valendo-se de um simples estalar de dedos para tanto.
As ações de Thanos chamam a atenção de todo o universo, inclusive de entidades cósmicas como Galactus, o devorador de mundos, e Eon. Adam Warlock faz jus a sua promessa e volta ao reino dos vivos para se opor ao seu velho inimigo, liderando os heróis da Terra na luta contra o vilão.
Mesmo com o auxílio das entidades cósmicas, os heróis são facilmente derrotados pelo titã, que, seguindo mais uma sugestão de Mephisto, optou por lutar sem usar a totalidade de seus poderes para provar sua bravura e força à Morte. Um dos momentos mais marcantes da batalha é o confronto entre Thanos e o Capitão América, o último vingador em pé.
Thanos destrói o tradicional escudo do herói, e mesmo assim Steve Rogers se mantém firme diante de um vilão que poderia exterminá-lo estalando os dedos, provando mais uma vez ser dono de uma coragem incomparável.
Aproveitando-se do fato de que o titã está ocupado em seu confronto com o sentinela da liberdade, o Surfista Prateado, que até então permanecia observando à batalha à distância, recebe o sinal verde de Warlock para entrar em cena, atirando-se em uma investida desesperada para arrancar a Manopla do Infinito da mão de Thanos. Entretanto, o Surfista falha em sua missão, e Thanos passa a adotar uma postura mais séria em combate.
Thanos acaba sendo traído por Mephisto e pela própria Morte, o que o deixa completamente ensandecido. Acreditando ter derrotado todos os seus adversários, o vilão separa sua consciência de seu corpo, assumindo uma forma astral. Entretanto, ele não imaginava que a pirata espacial Nebulosa, que sofreu incontáveis abusos em suas mãos, estava à espreita, esperando apenas uma oportunidade como esta para tomar a Manopla, que se encontrava no corpo vazio de Thanos.
Uma vez na posse de tamanho poder, Nebulosa prontamente decide se vingar de Thanos, que acaba sendo salvo no último momento pelo Doutor Estranho, que agia sob a liderança de Adam Warlock.
Adam revela que sempre soube que o vilão, mesmo com os poderes de um deus todo poderoso, seria derrotado novamente, pois sua conexão com a Joia da Alma permitiu que ele examinasse a alma de Thanos e descobrisse o grande segredo do titã, algo que ele não era capaz de admitir nem para ele mesmo e que era o verdadeiro motivo por trás de seus constantes fracassos: ele não se considerava digno do poder.
Os antigos rivais decidem formar uma aliança inusitada para impedir Nebulosa, e o universo é salvo novamente graças à Warlock, que retorna ao mundo espiritual e utiliza sua ligação com a Joia da Alma para criar um distúrbio entre as seis Joias, o que causa uma dor imensa à Nebulosa, que é obrigada a retirar a Manopla de sua mão. Adam abandona o mundo espiritual uma vez mais, tornando-se o novo portador da Manopla do Infinito.
Assim, todas as maldades praticadas por Thanos são desfeitas, com os heróis que se sacrificaram durante a batalha contra o titã retornando à vida. Preferindo morrer à ser preso, o vilão ativa uma bomba termonuclear escondida em seu cinturão, aparentemente se suicidando. Mesmo sabendo estar contrariando os demais heróis, Warlock decide ficar com a Manopla e usá-la com sabedoria.
Adam usa seus recém-adquiridos poderes divinos para viajar até um futuro não tão distante, visitando um planeta sem nome em que encontra Thanos vivo. O antigo vilão afirma ter decidido abandonar sua busca por poder, desejando viver uma vida tranquila como um simples fazendeiro. Adam se despede de Thanos, desejando sorte pra o titã em sua nova vida.
E assim chegou ao fim o “Desafio Infinito”.
Nunca é o fim
Por mais que o “Desafio Infinito” tenha se encerrado apresentando um final aparentemente definitivo para o personagem, Thanos acabaria retornando no futuro, chegando inclusive a atuar como um dos principais aliados da Guarda do Infinito, equipe liderada por Adam Warlock, e tendo papel decisivo nas sagas “Guerra Infinita” e “Cruzada Infinita”, continuações diretas de “Desafio Infinito”, permanecendo um personagem atuante no Universo Marvel até hoje.
Entretanto, a qualidade tanto da 2ª como da 3ª parte da chamada “Trilogia do Infinito” é questionada por muitos fãs, que enxergam até hoje em “Desafio Infinito” o verdadeiro desfecho da história de Thanos.
E assim encerramos esta não tão pequena viagem pelo espetacular Universo Marvel dos quadrinhos, trazendo um grande resumo das histórias que servem de inspiração para “Vingadores: Guerra Infinita”. É evidente que o filme não será uma adaptação direta das sagas, até mesmo porque personagens de grande importância nas HQs como Mar-Vell e Warlock sequer foram apresentados no universo cinematográfico do estúdio, mas não será surpresa nenhuma se alguns dos momentos mais marcantes da saga “Desafio Infinito” acabarem ganhando vida nas telonas.
A estreia do longa no Brasil está marcada para esta quinta-feira, 26 de abril.