Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ferro e fogo: Os Mercenários e o cinema brucutu

Depois de duas décadas de ostracismo, Stallone e cia. foram os responsáveis por dar novo fôlego ao gênero de ação.

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Brucutu – bru·cu·tu– substantivo masculino. 1 [Brasil, informal] Viatura policial blindada, geralmente usada para repressão. 2 [Brasil, informal, depreciativo] Pessoa grosseira.

Quem cresceu nos anos 80 e 90 sabe que há uma definição muito mais complexa para essa palavra e que não necessariamente ela tem cunho depreciativo. O brucutu do cinema oitentista não era necessariamente grosseiro, vide o amável Rocky Balboa em seu inocente romance com Adrian.

O brucutu era, normalmente, um sujeito de porte físico com proporções hercúleas, perito em todo e qualquer material bélico que a humanidade possa ter criado e que fazia questão de resolver seus problemas com balas e explosivos. Toneladas destes. Acima de tudo, o brucutu era um herói. De poucas palavras, ele sempre estava disposto a lutar contra terroristas, ameaças nucleares ou mesmo invisíveis aliens com dreadlocks. Quem cresceu nos anos 80 e 90 tinha este referencial de herói.

Mas, juntamente com outros grandes produtos da cultura pop, os filmes de brucutus foram prejudicados pela ascensão de seu pior inimigo: o politicamente correto. As cenas de ação foram podadas: tiros não podiam mais ser disparados em horário nobre e explosões se tornariam o caos familiar de pais que dão à televisão e ao cinema o papel da educação primária. Antes disso, os fracos roteiros também já não conseguiam acompanhar a formação das novas gerações, que não se interessavam pelos personagens rasos, o que é bom para a formação de um espírito crítico. O ostracismo foi o destino final dos heróis de ação.

Até 2010, todo o esquecido elenco destes filmes, já não tão forte, mas ainda carismático, decide dar a volta por cima. Os garotos estavam de volta à cidade na pele dos Mercenários!

mercenariosArrisco dizer que, assistir nas telonas a reunião de Sylvester Stalonne, Dolph Lundgren, Jet Li, Randy Couture, Terry Crews e mesmo Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, em pequenas pontas, foi como assistir pela primeira vez “Os Vingadores”. Todos as figuras icônicas do entretenimento da minha infância estavam reunidos, prontos para fazer o que mais gostavam: serem genuínos heróis de ação. Digo que era o que mais gostavam, já que no primeiro filme desta, agora, trilogia, o que se percebe é descontração e divertimento por parte dos atores em seus papéis. Lundgren dá vida ao cômico maníaco Gunner Jensen enquanto Mickey Rourke incorpora, na figura do mentor, o sábio das ruas e da guerra, como Tool.

Não, depois de tanto tempo, os roteiros não melhoraram. Continuam repletos de clichês e frases feitas. As atuações? Continuam canastríssimas. Mas o que vale nesta verdadeira homenagem a todo um gênero e uma década é, realmente, a diversão descompromissada. Em “Os Mercenários” não faltam estereótipos, como a tradicional nação latino-americana que vive sob a repressão da ditadura e do tráfico (esta filmada em solo brasileiro), a donzela em perigo, o general tirânico e mesmo o musculoso capanga.

Nenhum destes personagens tinha sequer meia página de desenvolvimento. A dupla de protagonistas tenta emplacar algum fiapo de história como background, mas quem acabou se importando com as sessões de terapia/tatuagem de Barney Ross ou com o antigo relacionamento de Lee Christmas (vivido pelo mais novo membro do clube Brucutu, Jason Statham)? Estávamos todos ali pela nostalgia. Um sentimento compartilhado não só pelos espectadores do filme, mas também pelo elenco, que ansiava a volta à ação.

images-1E, como tudo que é popular em Hollywood, em 2012, a franquia recebeu sua primeira sequência. “Os Mercenários 2” trazia ainda menos roteiro e mais lendas vivas da antiga Sessão da Tarde: Jean-Claude Van Damme e o imortal Chuck Norris davam as caras dessa vez enquanto Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger voltavam com maior tempo de tela.

Com uma direção ainda menos ordenada do que o primeiro, a sequência potencializa todos os aspectos de seu antecessor: roteiro e personagens já fracos  parecem dispensados para dar lugar a mais explosões, frases feitas e referências, estratégia similar a usada por Michael Bay em sua franquia de robôs gigantes.

Entretanto, não há como não se empolgar, mesmo como um guilty pleasure cinematográfico, quando alusões a “O Exterminador do Futuro”,Duro de Matar” ou mesmo às conhecidas frases de Chuck Norris são jogadas sem nenhuma sutileza em tela. Sutileza, aliás, não pode ser um adjetivo de um filme cujo nome do antagonista é Vilão.

Mas, convenhamos, raramente o cinema de ação foi um cinema de sutilezas. Na grande maioria das vezes prezou pelo entretenimento como prioritário. E é com este único objetivo que Stallone e seu exército se reuniram pela primeira vez: nos lembrar que o gênero não está morto. E, principalmente, que os eternos John Rambo, John Matrix e John McClane ainda carregam balas na agulha para uma terceira missão que estreia nesta quinta-feira (21). Yipikaye, motherf***ers!

Mateus Almeida
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