Lars von Trier: Um diretor, muitas polêmicas
Entre prêmios e escândalos, revisitamos as grandes polêmicas do diretor de "Ninfomaníaca".
Muito antes de chegar às salas de cinema em 10 de janeiro, “Ninfomaníaca – Vol. I”, o mais novo trabalho do diretor Lars von Trier, já estava cercado por polêmica. Esta, aliás, que parece povoar não só os trabalhos do diretor, como ser parte indispensável de sua própria figura. Durante a produção, ao falar sobre o projeto, ele já prometia material indigesto, chamando o longa de ‘europeu demais’ para este lado do atlântico.
“Não quero dizer que farei um pornô. Esse será um filme com muito sexo e muita filosofia”, prometeu.
Apontado por muitos como o cineasta dinamarquês mais ambicioso e original desde Carl Theodor Dreyer (“O Martírio de Joana D’Arc”), Lars von Trier nasceu no fim da década de 1950 em Copenhague, onde mais tarde frequentaria a Escola Dinamarquesa de Cinema. Já em seu primeiro longa, o thriller “Elemento de Um Crime” (1984), o cineasta chamou a atenção da crítica internacional com uma mistura refinada entre filme noir e expressionismo alemão que lhe rendeu o Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes.
O primeiro grande tumulto da carreira veio justamente durante o festival, quase duas décadas depois, em 2000, com o musical “Dançando no Escuro”. Em entrevista a jornalistas, o diretor chamou sua protagonista, a cantora Björk, de louca, e declarou ter sido uma experiência terrível dirigi-la. Boatos dos bastidores diziam de embates intermináveis entre o ego dos artistas e suas diferenças criativas. Björk chegou a dizer publicamente em seu blog que Trier teria inveja das mulheres, indispensáveis para dar alma a seus trabalhos e, por isso mesmo, teria de destrui-las durante as filmagens. Catherine Deneuve (“Os Guarda-Chuvas do Amor”), colega de elenco da cantora, chegou a afirmar à época que o processo de filmagem teria sido tão traumatizante que talvez demorasse uma década para que Björk voltasse a fazer cinema.
Outra atriz que parece não ter tido a melhor das experiências ao trabalhar com o diretor foi Nicole Kidman (“Moulin Rouge: Amor em Vermelho”). A protagonista de “Dogville” (2003), primeiro filme de Trier desde o premiado musical com Björk, evitou comentar os desgastes na produção do filme, mas não voltou para participar de “Manderlay” e “Washington” – sequências do longa – justificando incompatibilidade de agenda. O mesmo filme voltaria a ser motivo de polêmica em 2011, ao servir de inspiração para o sociopata Anders Breivik no massacre que deixou 77 mortos na Noruega. Na página de Anders no Facebook, “Dogville” era listado como um de seus filmes favoritos, junto de “Gladiador” e “300”. Kidman recusou também, mais recentemente, um papel em “Ninfomaníaca”.
Em 2009, após a exibição de “Anticristo” no Festival de Cannes, mais tumulto. Ao ser questionado pela imprensa sobre a motivação para o longa, o diretor afirmou não precisar justificar nada, “eu faço filmes e este é fruto da vontade de Deus”, disse. O filme já havia provocado vaias e desconforto ao utilizar elementos como ejaculações sangrentas, mutilação genital e violência para contar a historia de pais que tentam superar a perda de seu filho, morto ao cair pela janela enquanto transavam. Trier confessou mais tarde ter sido terapêutico fazer “Anticristo”, ajuda indispensável para superar a depressão que enfrentava há dois anos. O filme é considerado pelo diretor a experiência profissional mais importante de sua carreira.
“Faço filmes para mim e vocês são apenas meus convidados”, completou.
Durante a estreia de “Melancolia”, na edição de 2011 do mesmo festival, a confusão começou ainda mais cedo. Ao posar para fotógrafos em sua chegada ao Festival international du film, o diretor trazia a palavra ‘Fuck’ tatuada no punho, prato cheio para a imprensa internacional reunida no evento. Mas o mais impressionante ainda estava por vir: durante a coletiva de imprensa do longa, ele diria as famosas palavras que o fizeram Persona non grata em Cannes. Ao comentar a influência da cultura germânica em sua vida, ele disse:
“Eu achava que era judeu, era muito feliz por isso. Mas aí descobri que era nazista, quer dizer, minha família era alemã. Eu entendo Hitler. Claro que ele fez algumas coisas erradas. Mas eu o compreendo.”
O diretor chegou a emitir mais tarde um pedido público de desculpas para a organização do festival, mas mesmo depois de ter suas desculpas aceitas, continua não sendo bem vindo.
O segundo volume de “Ninfomaníaca” tem data marcada para chegar ao Brasil em março e tudo indica que teremos mais algumas polêmicas do enfant terrible do cinema dinamarquês.