Advogado de Porta de Cadeia, os bastidores de um tribunal
Com um personagem controverso e uma narrativa alucinante, romance que inspirou "O Poder e a Lei" conquista o leitor a cada virada de página.
Mickey Haller é um advogado de defesa com um bocado de bagagem: uma filha, duas ex-esposas, muitas contas e poucos amigos. Porém, sua vida gira em torno de seus clientes que vão de prostitutas a assassinos. Culpado ou não, todos tem o direito a defesa e é exatamente isso o que Mickey garante àqueles que o procuram em busca de ajuda. Seus anúncios ocupam as páginas amarelas, o teto do centro de detenção de Van Nuys, bem como os postes de todos os telefones públicos presentes na prisão, permitindo que seu nome circule entre os detentos.
O autor Michael Conelly nos apresenta no livro “Advogado de Porta de Cadeia” o mundo dentro dos tribunais de Los Angeles, mais especificamente as artimanhas por trás da defesa de réus previamente condenados pelos crimes que cometeram. Como conseguem escapar de uma acusação onde as provas são incontestáveis?
A resposta para essa pergunta surge ao longo da narrativa, quando o autor nos mostra que por trás de um réu culpado que se salva existe um advogado de defesa brilhante, capaz de perceber as falhas da acusação e se aproveitar delas para inocentar seu cliente, contando ainda com uma ampla rede de contatos que vai desde o “homem da fiança” até os promotores. Mickey Haller era um desses advogados. Mas para advogados como ele, a única satisfação maior do que um veredito favorável era conseguir um cliente classe A, os quais podem pagar honorários na casa dos seis dígitos.
Mickey vê sua chance quando, em uma manhã de segunda-feira, recebe uma ligação de Fernando Valenzuela, “o homem da fiança” e seu contato na penitenciária de Van Nuys, dizendo que eles finalmente tinham conseguido um cliente classe A e que o rapaz estava interessado nos serviços dele. Louis Ross Roulet é rico, herdeiro de uma imobiliária especializada em propriedades exclusivas, morador de Bervely Hills e tinha sido preso acusado pelos crimes de agressão com agravantes, grande lesão corporal e tentativa de estupro contra uma prostituta. Mas o que importava para Mickey, inocente ou não, era que ele tinha dinheiro.
Convencido por Valenzuela a comparecer ao tribunal de Van Nuys para a citação, Mickey conhece seu cliente e é oficialmente contratado para representá-lo em juízo. Persuadido pela falta de antecedentes criminais que o rapaz não fez nada errado, ele se vê as voltas com uma pergunta: estaria mesmo diante de um inocente? Nada assustava mais Mickey do que se deparar com um inocente e não reconhecê-lo depois de tantos anos trabalhando para culpados confessos. Afinal, como costumava dizer seu pai, que também foi advogado de defesa, “não existe cliente tão assustador quanto um homem inocente”. Não existia erro maior para um advogado de defesa do que deixar um cliente isento de culpa acabar preso injustamente.
Mas ao iniciar as investigações sobre o que aconteceu, com a ajuda de seu amigo e detetive Raul Levin, Mickey se depara com a resposta para sua pergunta bem a sua frente: ele já havia topado com um inocente e esse homem era Jesus Menendez, preso e condenado à prisão perpétua pelo assassinato de uma dançarina. Jesus, para escapar do corredor da morte, assumiu perante o tribunal a culpa pelo crime que Mickey, agora sabia, ter sido de autoria de Roulet e estava cumprindo sua pena na prisão de San Quentin, conhecida como a prisão mais agourenta do estado da Califórnia. Mesmo sabendo da verdade, Mickey se vê preso ao relacionamento cliente-advogado que tem com Roulet. Como tirar um inocente da cadeia sem ir contra a ética? Como continuar trabalhando para alguém que agora ele sabe ser culpado de um crime tão violento? E como lidar com isso quando a própria segurança e a de sua família estão em risco?
Essas são apenas algumas perguntas que surgem ao leitor ao longo do texto. Com uma narrativa longe de ser enfadonha, mesmo com as explicações e termos jurídicos que são apresentados ao longo história, o livro prende a atenção não apenas pelos acontecimentos, mas principalmente pela construção de seu personagem principal.
Mickey Haller é um protagonista que causa sentimentos controversos. Em um primeiro momento causa repulsa ao leitor, pois é descrito como um oportunista dentre os advogados de defesa, aquele que pensa apenas no pagamento que o cliente pode oferecer e tido como um demônio, graças à cartela de clientes indesejados que possui. No entanto, à medida que a história se desenvolve, nosso advogado vai se humanizando através do relacionamento com os familiares e o sentimento de culpa que carrega pelo veredito de Jesus Menendez.
“Advogado de Porta de Cadeia” é um livro repleto de reviravoltas de tirar o fôlego, que prende a atenção do leitor até a última página, além de mostrar o quão à vontade o autor está com o mundo dos advogados de defesa.
“O Poder e a Lei”, filme baseado no livro, entra em cartaz nos cinemas nacionais e traz em seu elenco os atores Matthew McConaughey (“Como Perder Um Homem em 10 Dias”) como Mickey Haller, Marisa Tomei (“O Lutador”) como Maggie McPherson e Ryan Phillippe (“A Conquista da Honra”) no papel de Louis Roulet.