Cinema com Rapadura

Colunas   domingo, 25 de julho de 2010

Quando recomeçar se torna um vício. Essa é a nova mania de Hollywood!

Reboots e remakes já fazem parte da indústria do cinema.

Sites e revistas especializados em cinema estão sendo invadidos por notícias e rumores cada vez mais frequentes sobre filmes que reiniciam franquias conhecidas do público, com o objetivo de consertar tropeços de produções anteriores ou simplesmente para dar novo fôlego a personagens exaustivamente explorados pelos grandes estúdios. Os chamados reboots são a nova palavra de ordem dos executivos de Hollywood. Mais do que simples remakes, os reboots propõem a retomada de um universo de personagens já retratado com um enfoque diferente das produções anteriores. Exemplificando, é o que Batman Begins fez pela franquia do Homem-Morcego nos cinemas.

O exemplo positivo (o filme de Christopher Nolan possibilitou o retorno de um dos principais personagens da Warner ao topo das bilheterias e, de quebra, abriu caminho para a obra-prima O Cavaleiro das Trevas) não descarta a necessidade de analisarmos criticamente a nova onda. Primeiro porque, atualmente, uma franquia de apelo comercial dificilmente consegue ultrapassar o terceiro capítulo. “Piratas do Caribe 4”, vocês vão dizer, mas trata-se de uma exceção. Nunca assistiremos a X-Men 4 ou Homem-Aranha 4, e é quase angustiante pensar que jamais terá continuidade o epílogo triunfal de Eric Lehnsherr em O Confronto Final.

Isso porque, à revelia dos engravatados de plantão, cinesséries com apelo cativo junto ao público estão sendo abruptamente interrompidas para dar lugar a versões teen ou com “pegada” diferente. Não há o que se questionar quando isso acontece com franquias que já haviam perdido o fio da meada, como é o caso de Star Trek. Contudo, alguns casos são discutíveis – o James Bond resetado justamente quando Pierce Brosnan havia encontrado o tom e, de quebra, Halle Berry. Interesse financeiro, exploração de novas tramas ou qualquer outro motivo que justifique essa prática cada vez mais comum, a impressão que fica mesmo é de que os roteiristas de Hollywood estão com preguiça de pensar sequências. É sempre mais fácil recomeçar.

Um anúncio recente ilustra bem esse contexto. Um reboot do Planeta dos Macacos de Tim Burton (que, por sua vez, era um reboot do clássico estrelado por Charlton Heston) vai poupar muita gente da fadiga de desenvolver soluções para o final complicadíssimo do filme de 2001. Aliás, produção que não foi tão bem em termos de bilheteria/crítica justamente por causa da proposta absolutamente autoral defendida por Burton em relação ao original da década de 1960. Moral da história: o primeiro filme não se saiu tão bem? Esqueça uma continuação. Planeje tudo de novo, até acertar. Será cada vez mais raro atores interpretarem os mesmos personagens quatro ou cinco vezes. Qualquer descuido e um novo diretor e elenco estarão prontos para efetuar a substituição (alguém pensou no Hulk?).

O grande problema é  que, quando recomeçar se torna um vício, os filmes planejados para arrastar as multidões aos cinemas passam a ter fim em si mesmos, descompromissados com o interesse do público em acompanhar o desenvolvimento das narrativas que apresentam. Padecem do mesmo mal das infinitas e insuportáveis sequências de Power Rangers (para usar um exemplo bem ralé da televisão): a cada ano, novos poderes e novos personagens surgem, para depois sumirem sem chegar a lugar algum.

A prática de esperar ansiosamente pela continuação e gastar quase uma década de sua vida acompanhando aquele universo de personagens com o qual você desenvolveu uma relação de identificação e afinidade está em extinção. Se essa realidade não se alterar (em se tratando de Hollywood, as tendências mudam de uma hora para outra), talvez os oito filmes de Harry Potter sejam o último grande acontecimento de fidelidade cinematográfica de nosso tempo.

Aos fãs, a única coisa a se fazer é aguardar as aventuras colegiais de Peter Parker e esquecer definitivamente qualquer esperança de ver algo novo no carismático universo criado por Sam Raimi. E tem reboot para todos os gostos. Em breve, Predador e Lara Croft novinhos em folha invadirão a tela da sala de cinema mais próxima. Em tempo: os executivos deveriam aproveitar essa onda para resolver imbróglios eternos. Superman?

Túlio Moreira
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