Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 01 de março de 2010

Superman – Pelo Amanhã

Uma trama interessante para aqueles que enxergam o personagem apenas como um mero escoteiro azul.

Há muito tempo, as semelhanças entre o Superman e Jesus Cristo vem sido utilizadas pelos autores das histórias do Homem-de-Aço em seus roteiros, por vezes de modo sutil (tal como no luxuoso álbum “Paz na Terra”), por outras de modo mais escancarado, como é o caso da graphic novel “Superman – Pelo Amanhã”, escrita por Brian Azzarello e ilustrada por Jim Lee e seu arte-finalista Scott Williams.

Na trama, um milhão de pessoas sumiu aleatoriamente do planeta Terra há um ano, enquanto o Superman estava atendendo a um pedido de socorro do Lanterna Verde no espaço. Dentre os desaparecidos está a esposa do herói, a repórter Lois Lane. A perda de sua esposa levou Kal-El a abandonar parte de sua humanidade, cometendo alguns erros de julgamento, preocupando aos seus amigos da Liga da Justiça e a todo o mundo.

Para tentar encontrar alguma absolvição quanto ao seu pecado de tentar salvar a todos, Superman começa a se confessar com o Padre Daniel Leone, que está morrendo de câncer. Paralelamente, conhecemos o misterioso mercenário Sr. Orr e o monstro Equus, envolvidos em uma sangrenta guerra na África. Tais tramas irão se entrelaçar e levar o último filho de Krypton a uma chocante descoberta quanto à verdadeira natureza dos desaparecimentos e um confronto com aquele destinado a ser um de seus maiores inimigos.

Geralmente o paralelo utilizado pelos roteiristas que trabalham com o Superman em relação a Jesus é o da crença da morte e ressurreição ou o fato de ambos terem sido enviados por pais celestiais ao planeta para a salvação da humanidade. No entanto, Azzarello pega esses conceitos e adiciona o do arrebatamento, a crença cristã de que, algum dia, Cristo virá e escolherá os bons de coração e os levará para o reino dos céus.

Conhecido por suas histórias policiais de tom um tanto mais sombrio, tal como a série “100 Balas” ou a graphic novel “Batman – Cidade Castigada”, o autor não é muito sutil em suas metáforas, incluindo um tenso diálogo entre Superman e seu alter-ego Clark Kent sobre a natureza do amor de Lois por ele(s). Além disso, Azzarello nos apresenta a um Superman tremendamente distante, por vezes julgando a humanidade pelos seus atos.

Há uma cena emblemática, na qual Superman e J’onn J’onnz discutem sobre o luto do kryptoniano, que mostra quão descontrolado o herói pode ficar ao sofrer uma perda tão grande, algo condizente com a condição humana (e super-humana) do personagem. Some isso às atrocidades testemunhadas pelo herói aqui e sua natureza alienígena, temos um Superman bastante diferente daquele conhecido pelo público.

O roteirista inovou em colocar um Superman completamente afastado de suas raízes. Com a perda de Lois, ele se desapegou de seus amigos humanos. Figuras clássicas como Jimmy Olsen e Perry White não aparecem por mais que uma página neste longo arco, que fora originalmente publicado em 2004 ao longo de 12 edições do título mensal do personagem nos EUA.

O destaque aqui vai para o Padre Leone, criado por Azzarello especialmente para esta trama, cujo histórico de imigrante se liga com o do próprio Superman, sendo uma pena que seu destino seja tão pouco explorado, com o personagem ganhando um desfecho nada adequado à sua participação na trama. Já no núcleo dos antagonistas, o Sr. Orr e todo o seu núcleo, por mais misteriosos que sejam, pouco conseguem cativar ao público, servindo mais como lembretes do potencial negativo da humanidade.

Quanto à escolha do grande vilão da trama, esta fora perfeita, nos apresentando ao verdadeiro espelho das intenções de Kal-El durante a história. Interessante ressaltar que os dois melhores amigos do Superman, Batman e Mulher-Maravilha, acabam também funcionando um pouco como antagonistas aqui, mas seus motivos para agir contra o Homem-de-Aço são sempre bem explicados.

A arte de Jim Lee segue o estilo “consagrado” pelo artista durante os anos 1990. Pessoalmente, não me agrada a estética “músculos e seios” do desenhista, que se tornou febre durante a sua passagem pelos X-Men, quase duas décadas atrás. No entanto, Lee possui uma narrativa gráfica decente, não comprometendo a trama nesse sentido.

A Panini Comics fez um bom trabalho, lançando esta graphic novel em versões tanto em capa-dura (com um efeito especial no símbolo do personagem) e cartonada, tornado sua compra menos onerosa para quem desejar a versão menos luxuosa. Em ambas, a história é impressa em papel LWC, contando com material extra, que inclui prefácio de Brian Azzarello, galeria de capas e esboços de Jim Lee para o Superman.

“Pelo Amanhã” não é uma trama tradicional do Superman, sendo interessante para aqueles que enxergam o personagem como um escoteiro azul acompanharem para terem uma visão diferenciada deste icônico personagem.

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Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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