Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Batman – O Longo Dia das Bruxas merece estar na sua prateleira

Uma graphic novel mais do que recomendada.

Batman - O Longo Dia das BruxasEm 2008, o mundo foi pego de surpresa por “Batman – O Cavaleiro das Trevas” e seu US$ 1 bilhão de dólares em bilheteria ao redor do globo, sem contar as vendas em DVD. Uma das histórias que influenciaram o diretor Christopher Nolan e o argumentista David Goyer no renascimento do homem-morcego dos quadrinhos no cinema fora “Batman – O Longo Dia das Bruxas“, aventura do herói escrita por Jeph Loeb e ilustrada por Tim Sale.

A história, originalmente publicada em uma mini-série em 13 volumes entre 1996 e 1997, foi relançada pela Panini Comics aqui no Brasil recentemente em uma edição de luxo, em papel LWC e capa-dura, tecnicamente primorosa, tendo como base a versão “hardcover” americana lançada pela DC Comics.

Tremendamente influenciada por longas-metragens como “O Poderoso Chefão” (partes I e II) e “M – O Vampiro de Dusseldorf“, a trama tem início pouco tempo após os eventos de “Batman – Ano Um“, série clássica escrita por Frank Miller para o personagem. Batman já possui um “acordo de cavalheiros” com o Capitão de polícia James Gordon e com o promotor público Harvey Dent em sua guerra ao crime.

O mundo da máfia, representado por Carmine Falcone e Salvatore Maroni, parece imbatível até que a união de Batman, Gordon e Dent começa a surtir cada vez mais efeito, obrigando os criminosos a apelarem para ações cada vez mais desesperadas. No entanto, o surgimento de um assassino serial chamado Feriado colocará em polvorosa as três grandes facções de Gotham City, os mafiosos, os heróis e os vilões, com o culpado podendo sair de qualquer um desses grupos.

Durante os 13 capítulos da história (quase todos com o nome de um feriado em específico, datas nas quais o assassino ataca), todos os grandes vilões do universo do herói mascarado dão o ar de sua graça, com um destaque em especial para a Mulher-Gato/Selina Kyle, cuja relação de ódio e amor com Batman/Bruce Wayne é extremamente bem explorada. Aliás, o grande foco de “O Grande Dia das Bruxas” está nos relacionamentos entre os personagens, com tal característica não se restringindo aos protagonistas.

No entanto, o realismo adotado no capítulo inicial – certamente o mais tenso e bem elaborado da história – acaba se perdendo em algumas partes da trama. Exemplos disso estão no confronto entre Batman e Solomon Grundy, na investida aérea do Coringa no Ano-Novo e no ataque da Hera Venenosa. No entanto, enquanto o ataque da sedutora botânica realmente faz parte do plot principal, as batalhas com Grundy e Coringa acabam soando como distrações para o leitor.

É interessante notar a troca de influências entre cinema e HQ que ocorreu aqui. Os fãs irão notar diversas referências aos citados filmes. Logo de cara, encontramos Bruce Wayne em quase uma recriação da sequência inicial de “O Poderoso Chefão“, com Tim Sale se espelhando na fotografia e enquadramentos da obra máxima de Francis Ford Coppola para diversas das cenas da HQ.

Cena da HQ em que Dent, Batman e Gordon conversam no topo da delegacia; abaixo, cena semelhante reproduzida no filme 'O Cavaleiro das Trevas'

Seu estilo de pintura lembra um pouco o que Frank Miller e Lynn Vallery consagraram em “The Dark Knight Returns” e “Sin City“, mixando um traço estilizado e uma narrativa cinematográfica. Ao mesmo tempo, diversas sequências da graphic novel, de um modo ou de outro, surgem em “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, como a queima do dinheiro, o encontro dos três heróis no telhado e a trágica trajetória de Harvey Dent – com o trabalho de Sale com sombras e hachuras no promotor público sendo simplesmente espetacular.

Na HQ como no filme, uma montanha de dinheiro da máfia é incendiada em seqüência para lá de semelhante

Outro ponto aproveitado pelo filme de Nolan é o desprezo das organizações mafiosas pelos vilões, vistos como meras aberrações pelos criminosos tradicionais, gerando um clima de desconforto e desconfiança generalizados nas estruturas outrora organizadas do crime em Gotham. Nota-se a influência de “O Longo Dia Das Bruxas” até mesmo no marketing viral de “O Cavaleiro das Trevas”, vida a abóbora meio apodrecida que é a capa do capítulo treze da história e o slogan “Eu Acredito em Harvey Dent“.

Fechando com chave de ouro, a Panini teve o cuidado de colocar alguns extras nesta caprichada edição. Dentre eles, temos uma conversa entre Christopher Nolan e David Goyer pouco tempo antes do começo nos trabalhos em “O Cavaleiro das Trevas” sobre a graphic novel, imagem das action figures baseadas na trama, a proposta inicial de Jeph Loeb para a história, galeria de capas e esboços e entrevistas com os criadores.

Apesar de um ou dois pontos mais fracos, “Batman – O Longo Dia das Bruxas” é uma graphic novel que merece destaque na prateleira de qualquer fã do homem-morcego. Recomendada!

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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