Há seis anos no cargo de editor chefe do Cinema com Rapadura, pude acompanhar de perto não só a indústria cinematográfica mundial e suas vertentes, mas me aproximar dos realizadores nacionais. Com a participação em diversos festivais brasileiros, conheci cineastas, cinéfilos e produtores que realizam curtas-metragens e me apaixonei cada vez mais pelo formato. Então vi a necessidade de contribuir para dar espaço e voz a esses curtametragistas que, sem salas de exibição em grandes circuitos para expor seus trabalhos, continuam produzindo seus filmes e ganhando nome no cenário de mostras e festivais.

Quase ironicamente, quando decidi que, para promover esse maior conhecimento sobre curtas dentro do Cinema com Rapadura, recebi um presente do Instituto Brasileiro Arte e Cultura (IBAC). Foi lançado no final de dezembro do ano passado a segunda edição revisada e atualizada do Dicionário de Filmes Brasileiros – Curta e Média Metragem (a primeira edição é de 2006), resultado de uma pesquisa profunda do cineasta e crítico Antonio Leão da Silva Neto sobre a realização cinematográfica brasileira.

Assim como o propósito do próprio IBAC, o livro de 1.273 páginas tem o objetivo de preservar a memória artística do País, mantendo viva a produção cultural que dá a nossa identidade para o mundo. O livro reúne filmes produzidos entre 1898 e setembro de 2011, somando 21.686 produções de mais de 5 mil diretores e gerando um material necessário para todos os profissionais do audiovisual, que podem ter em casa uma fonte de consulta de tais títulos com sinopses, duração, gênero, premiações e equipe técnica. Dessa forma, a obra preserva a memória nacional que representa nossas experimentações e linguagens.

Apadrinhado por Celso Sabadin, um dos principais nomes da crítica de cinema do Brasil, conhecedor e frequentador dos mais variados festivais de cinema e que faz parte do Conselho dos Notáveis do segmento Cinema do IBAC, o Dicionário é o novo fruto da parceria com o pesquisador Antonio Leão da Silva Neto, que já realizou um trabalho semelhante junto ao Instituto em 2009 com o Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa-Metragem. Nas palavras de Renato de Sá, presidente do IBAC, o novo livro conta um outro trabalho similar a respeito do gênero de produção em nenhum outro país. “Se trata de uma obra provavelmente única, quiçá da historiografia do cinema mundial”, assina Renato.

No prefácio do Dicionário, assinado pelo cineasta e curador Francisco Cesar Filho, é apontado que até a década de 1980 não existiam muitos registros da produção de curtas no País, já que nem mesmo seus realizadores registravam os títulos, mesmo sendo um formato sempre explorado por documentaristas e animações, além de ter surgido no início da História do Cinema. O formato também foi bastante explorado como atividade prática e de primeiros passos dos novos cineastas, marcas que permanecem até hoje, mas que não se configura como uma verdade única.

Em festivais e mostras, os curtametragistas ganham sala de exibição e formam plateias. Afinal, ninguém quer fazer um curta para deixá-lo guardado. Cada cineasta dá um pouco de si em suas realizações e toma um pouco das impressões tiradas pelo público e pela crítica. Enquanto as salas dos shoppings se restringem aos longas comerciais, centenas de títulos são rodados anualmente e circulam tão bem ou melhor do que muitos longas.

E é nesse mesmo sentido que a coluna Metragem deve seguir quinzenalmente nos próximos meses. Aqui, tanto os amantes de curtas quanto seus realizadores poderão ver vídeos, ler sobre festivais, prêmios, novidades,  entrevistas e ter confronto de ideias. Além de valorizar o trabalho desses profissionais, será ótimo também influenciar os leitores do Cinema com Rapadura a pegar uma câmera e contar as suas próprias histórias.

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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.