Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sétimo Harry Potter tira o fôlego e dá adeus à saga de J.K. Rowling

Com uma narrativa que prende o leitor do começo ao fim, o livro surpreende pela sua narrativa e pelo modo como a autora conduziu até o fim uma das histórias mais lida da atualidade.

Quem nunca ouviu falar do menino-que-sobreviveu? Aquele garoto franzino, de 11 anos, que morava debaixo da escada na casa dos tios? Ele cresceu, passou por maus bocados, perdeu gente que amava, aliás teve que aprender a lidar com essa perda desde muito cedo, e volta, em sua última aventura em “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, para responder a todas as perguntas deixadas pelo meio do caminho em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”.

“As Relíquias da Morte” tem como cenário a volta de Lord Voldemort e seus seguidores, o que torna cada virada de página uma expectativa sobre qual será o próximo passo de Harry e seus amigos e o que os espera quando finalmente chegam ao seu destino. Mas mesmo em meio a tanto suspense e adrenalina, J.K. Rowling é capaz de nos surpreender ao colocar um evento tão corriqueiro e normal quanto o casamento de Gui e Fleur. Pelas poucas páginas que antecedem o acontecimento e durante a cerimônia em si, quase esquecemos o que realmente está acontecendo no mundo bruxo e a dimensão que isso pode ter para o mundo trouxa.

Rowling também é capaz de mostrar, ainda no começo do livro, o lado humano desconhecido de alguns personagens como Duda. O primo de Harry a que todos os fãs tinham certo asco, ou até mesmo certa irritação pelas suas atitudes mimadas e egoístas, reconhece no fim o esforço do primo, que mesmo maltratado tenta em um último ato proteger a única família que ele conheceu antes dos Weasley, e sela o momento com um aperto de mão, um abraço caloroso e um muito obrigado. Ato que nem mesmo Tio Valter ou Tia Petúnia foi capaz de realizar.

E é durante toda essa aparente normalidade que tem início a ação livro. Não fosse bastante a dificuldade em retirar Harry da casa dos tios e a perda de um dos membros da Ordem durante a execução do plano, Harry se vê em meio a uma fuga desesperada juntamente com Rony e Hermione, depois de que todos são avisados, durante a cerimônia no jardim da Toca que o Ministério caiu e Voldemort assumiu o poder.

Dali em diante, toda a narrativa do livro se concentra na luta pela sobrevivência dos três amigos, na busca pelas Horcruxes e na compreensão de que nem tudo aquilo que parece é. É durante essa busca incansável pelos objetos que abrigam parte da alma do Lorde das Trevas que tomam conhecimento de que as lendárias Relíquias da Morte não é apenas lenda, e que uma dessas relíquias, a capa da invisibilidade, sempre esteve ao alcance de suas mãos. Mas essa descoberta não vem por meio da sabedoria de Hermione, tida como uma das mais inteligentes bruxas de sua geração, mas da ajuda do pai de Luna que, desesperado para recuperar a filha, levada pelos Comensais da Morte, conta a história da lenda enquanto espera pela chegada dos comensais para levar Harry embora. Apesar da traição desesperada, a informação é útil e nossos heróis conseguem escapar da armadilha e seguir viagem.

Além de traidores e interesseiros que surgem ao longo do caminho, Harry, Rony e Hermione aprendem a lidar com a própria amizade constantemente testada pelos percalços que assolam a busca pelas Horcruxes. Em um desses momentos, Rony, possuído pelo ódio presente no medalhão de Slytherin, deixa que a Horcrux o domine e desabafa toda a sua insegurança, raiva e temor em uma briga com Harry, o que acaba separando o trio por um tempo. Mas, mais uma vez, Rowling nos mostra que o valor de uma verdadeira amizade e o reconhecimento dos erros que cometemos são capazes de consertar qualquer mal entendido.

Em meio a brigas e reconciliações entre os três amigos, o que está mais presente ainda em “As Relíquias da Morte” é a constante da morte. Mas ao contrário dos outros livros, onde há um espaço de tempo para que, tanto personagens como leitor, possam digerir a perda, aqui a coisa muda completamente de figura. Há uma guerra prestes a começar, é o futuro dos dois mundos que está em jogo e não há tempo para chorar seus mortos. Uma dessas perdas, que marcou não apenas pelo personagem em si, mas por tudo aquilo que ele representou de bom, foi a do elfo-doméstico Dobby. Depois de ajudar Harry, juntamente com seus amigos, a escapar de uma morte dada como certa no calabouço da Mansão Malfoy, Dobby é atingido por uma faca lançada por Bellatrix, enquanto aparatava com Harry na praia em que vivem Gui e Fleur.

Mas nada nesse ponto nos prepara para aquilo que encontramos a seguir, pois muitas descobertas estão por vir. Passamos a ter um novo olhar sobre diversos personagens. Rowling nos mostra um lado mais humano de Narcisa e dos Malfoy de um modo geral, abordando o desespero dos pais de Draco na busca pelo filho em meio a guerra que se instaurou dentro dos portões de Hogwarts. Descobrimos os segredos mais obscuros e sombrios da vida de Alvo Dumbledore, temos acesso aos seus desejos, aos segredos de família e somos apresentados ao irmão do diretor, Aberforth, que todos julgavam ter desaparecido, conhecemos um lado do diretor mais humano e aprendemos que até as mais sabias das criaturas é passiva de erro e merece ser ouvida.

Mesmo com tudo isso é com Snape que nos surpreendemos. É o seu último gesto para com Harry que nos leva às lágrimas, pois tudo o que ele fez foi por um bem maior e  que não se trata apenas da batalha final, mas de redenção e do gesto mais sublime de amor que um ser humano pode ter por outra pessoa. O amor, por sinal, mesmo em meio a tanto sofrimento chega para todos e casais, pelos quais muitos fãs torceram ao longo dessa jornada finalmente tem o seu final feliz.

Mas até que isso aconteça, as perdas são muitas e inesperadas. As lágrimas se encontram presentes em diversos momentos e a cada virada de página. A torcida é grande para que a vitória do bem contra o mal aconteça novamente, mas é maior ainda para que aqueles que sofreram tanto ao longo dos livros tenham um final feliz. No fim das contas, o leitor se sente dividido entre a felicidade do fim de uma guerra e a tristeza, não apenas por aqueles personagens queridos que morreram, mas por uma história que depois de 10 anos chegou ao seu final mais esperado.

Para aqueles que sentem falta da ansiedade no lançamento de cada novo livro e das discussões infindáveis sobre os possíveis destinos de Harry Potter e seus amigos, Rowling lembra: “Não importa se você retorna através de um livro ou de um filme, Hogwarts sempre estará lá para lhe dar as boas vindas de volta para casa”.

Leilane Soares
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