Atrito entre Steven Spielberg e Netflix seria fruto de um mal entendido
Segundo Jeffrey Katzenberg, Spielberg nunca teria dito nada sobre ir à Academia com um plano para dificultar a participação da Netflix no Oscar.
A conflito entre o cineasta Steven Spielberg e o serviço de streaming Netflix parece estar chegando ao fim. Durante o festival South By Southwest (SXSW), realizado em Austin, Texas, o empresário e amigo pessoal de Spielberg Jeffrey Katzenberg foi perguntado sobre o episódio, e aproveitou a oportunidade para esclarecer o entrevero. Segundo ele, seu amigo não teria dito nada sobre ir à Academia com planos de dificultar a presença da Netflix no Oscar:
“Eu conversei com Steven sobre isso ontem. Eu o perguntei de forma muito específica – já não tenho mais nada a ver com esse jogo – e ele respondeu ‘eu absolutamente não disse isso’. Na verdade, ele não disse nada.”
Segundo Katzenberg, o mal entendido teria surgido a partir de um mal entendido promovido por parte da mídia:
“O que houve foi que um jornalista estava a par de uma história sobre isso e escutou um rumor sobre Steven. Ele chamou um representante [do cineasta] para obter um comentário e, sinceramente, só subverteu tudo. Primeiro, Steven nunca disse isso. E segundo, ele não vai à Academia em abril com nenhum tipo de plano. Mas ele não emitiu opinião nenhuma, nem se alinhou a nada especificamente.”
Logo após a cerimônia do Oscar em 24 de fevereiro, rumores começaram a surgir sobre possíveis medidas da Academia para dificultar a participação de filmes produzidos e lançados por serviços de streaming na premiação. Spielberg estaria entre os que as estariam promovendo – o que faria sentido dado seu histórico de declarações contrárias à presença do streaming nas cerimônias do gênero. Para ele, a experiência cinematográfica verdadeira se resume às salas de cinema, algo que foge à estratégia dos serviços do tipo. Em resposta, a própria Netflix já se posicionou sobre a polêmica afirmando via Twitter que amor por cinema e acesso a filmes não são mutuamente excludentes.
A Netflix brilhou no Oscar 2019, conquistando três prêmios para “Roma” e seu diretor Alfonso Cuáron (Melhor Fotografia, Filme Estrangeiro e Diretor), além de vencer na categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem com “Absorvendo o Tabu“. A Netflix, no entanto, almeja conquistar prêmios ainda maiores.
O serviço de streaming sempre admitiu, publicamente, que tem como objetivo vencer o prêmio máximo: o Oscar de Melhor Filme. Para isso, a Netflix já negociou sua integração com a Motion Picture Association of America e planeja investir em sua próxima grande produção, “O Irlandês”, que será lançado em 2019, também nos cinemas. Dirigido por Martin Scorsese (“Silêncio“), o longa teve seu primeiro teaser divulgado durante a exibição do Oscar e conta com um elenco estrelado, com os nomes de Robert De Niro (“O Comediante”), Al Pacino (“Não Olhe Para Trás”) e Joe Pesci (“Rancho do Amor”).
Segundo fontes ouvidas pelo THR, a derrota de “Roma” no prêmio de Melhor Filme no Oscar 2019 foi uma forma encontrada pelos membros da Academia para punir o modelo de negócio da Netflix. Desta forma, o serviço está enfrentando uma enorme pressão para se adaptar as regras tradicionais de Hollywood. Além de “O Irlandês”, a Netflix também planeja investir em outras cinco obras, como “The Laundromat”, do diretor Steven Sodenbergh, e “The Pope”, do brasileiro Fernando Meirelles. Essas obras também devem ganhar um lançamento nos cinemas.
No último ano, o Cinema com Rapadura discutiu o novo modelo de negócios da Netflix e como essa mudança pode impactar a participação de seus filmes em premiações e como o serviço de streaming pode se tornar cada vez mais presente nos cinemas tradicionais. Você pode ler a coluna clicando aqui. O sucesso dos filmes de 2018 da Netflix também foi pauta do RapaduraCast 560 – ouça aqui.
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