Cinema com Rapadura

Colunas   terça-feira, 07 de junho de 2022

Ms. Marvel — Episódios iniciais mostram protagonista muito carismática em enredo focado no público jovem

Heróis do MCU voltam a aparecer com destaque e mudança nos poderes da protagonista não macula trama de autoceitação — até agora.

Se em 2021 as séries da Marvel foram todas focadas em heróis que já conhecíamos anteriormente, neste ano as produções estão sendo protagonizadas por novos personagens. Contudo, enquanto “Cavaleiro da Lua” é uma aventura contida em si própria, quase desconexa do MCU, “Ms. Marvel” segue o caminho oposto, abraçando totalmente esse universo. Somando isso à direção dinâmica e à trama de amadurecimento de uma jovem incrivelmente carismática, temos facilmente esta que tem tudo para ser uma das obras mais agradáveis do estúdio.

O Cinema com Rapadura teve acesso aos dois primeiros episódios e traz para você as primeiras impressões gerais da nova série — sem spoilers, relaxa!

Kamala Khan

A personagem principal é apresentada como uma jovem de origem paquistanesa que cresceu em Jersey City. Mas a principal característica de Kamala é ser apaixonada pelos Vingadores, especialmente pela Capitã Marvel. Os problemas no dia a dia da escola, os poucos e inseparáveis amigos, a dificuldade de lidar com as diferenças culturais e com os pais autoritários (sobretudo a mãe)… Estes são ingredientes comuns no subgênero coming of age, de forma que algumas sequências podem parecer até repetitivas para quem tem um bom repertório de obras assim.

Felizmente, a atuação de Iman Vellani é tão apaixonante que é difícil não se interessar pela sua história. Não por acaso, a personagem está sempre presente em tela — o que pode, inclusive, gerar algum cansaço devido à falta de núcleos secundários e de grandes sequências de ação. Vellani consegue apenas com o olhar mostrar o quanto ela é repleta de alegria e energia para ir em busca dos seus sonhos, apesar das adversidades.

Ritmo de festa

“Ms. Marvel” tem jovens e adolescentes como público-alvo e não esconde isso desde a cena de abertura. A velocidade das conversas, fala e pensamento, refletem bem a agilidade da “geração TikTok”, que não vai encontrar nenhuma dificuldade de se identificar com Kamala ou um de seus amigos. Tópicos como redes sociais e grandes eventos nerds são abordados como nunca antes no MCU, e até a forma como ela reage e interage com seus novos poderes é a mais jovem possível. Tudo também é muito bem pontuado pela edição, que usa e abusa de firulas gráficas que interagem com os pensamentos e/ou ações dos personagens.

Todo esse clima de celebração adolescente toma grande parte dos episódios iniciais, de modo que quem estiver muito ansioso para grandes revelações ou ver a trama do MCU caminhar, pode acabar se decepcionando um pouco.

Respeito e representatividade

Kamala Khan é a primeira super-heroína muçulmana da Marvel, e seu aparecimento nos quadrinhos aconteceu há menos de 10 anos, enquanto o Capitão América, por exemplo, já existe há mais de 80. Felizmente, o time criativo comandado pela britânica-paquistanesa Bisha K. Ali foi bastante respeitoso com a cultura muçulmana, ainda estigmatizada em certas narrativas estadunidenses, mostrando na tela e trazendo no texto dos personagens citações, termos e relatos sem se render ao estilo for dummies.

Poderes

A grande polêmica pré-lançamento da série foi a mudança nos poderes da personagem. Se antes, nos quadrinhos, Kamala tinha a habilidade de mudar sua forma — o que frequentemente trazia questões relacionadas à aparência nas histórias —, agora a Ms. Marvel consegue “solidificar luz”, além de modificar partes do corpo com o auxílio de uma energia aparentemente cósmica. Como um não-leitor de quadrinhos, sou incapaz de comparar as mídias e o impacto que essa mudança terá na originalidade da personagem — embora reconheça a força da sentença “você pode ser qualquer um, mas decidiu ser você mesma” e o quanto ela pode fazer falta.

Ainda assim, ao menos nos dois episódios iniciais, é possível ver essa narrativa de autoaceitação sendo construída ao redor das relações de Kamala com os amigos e a família, e se a personagem não busca de cara se parecer fisicamente com a Capitã Marvel, já ficou claro que a semelhança entre os poderes cósmicos das duas personagens será levada em consideração.

Conclusão

Trazer subgêneros para o universo Marvel é sempre uma incursão bem-vinda, e é difícil achar um que mais se encaixe na realidade do público do que o coming of age. Além disso, Iman Vellani se mostra uma escolha muito acertada, e certamente acrescentará muito no futuro do MCU. A calma e a despretensão mostradas nesse início dão a entender que a aventura da temporada deve ser contida, funcionando mais como uma história de origem para a personagem. Se conseguir se manter nesse caminho, “Ms. Marvel” tem tudo para conquistar o coração dos fãs, dos jovens que se identificam com ela aos velhos ranzinzas que podem precisar rebobinar algumas cenas para conseguir entender os diálogos.

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“Ms. Marvel” estreia nesta quarta-feira, 8, no Disney Plus.

Martinho Neto
@omeninomartinho

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