Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 05 de agosto de 2020

TIFF 2020: conheça destaques e como funcionará o Festival de Cinema de Toronto diante da pandemia

Flexibilização da quarentena no Canadá contribuiu para que o festival pudesse acontecer com alguns dias de exibições presenciais, mas evento terá um formato híbrido com sessões digitais e destaques para documentários.

Na última semana, a organização do Festival Internacional de Cinema de Toronto anunciou seu lineup de filmes para a edição de 2020. O evento, que até alguns meses atrás estava beirando o cancelamento por conta da pandemia do coronavírus, conseguiu contornar a situação graças à forma com que o governo do Canadá e do estado de Ontário lidaram com a quarentena, além de terem arrecadado doações financeiras de membros do festival e de participantes das edições anteriores do TIFF para manter a entidade funcionando, mas não sem alterações drásticas em seu formato e quantidade de filmes.

Como era o TIFF antes da pandemia

Em 2019, tive a oportunidade de cobrir a 44ª edição do Festival de Toronto para o Cinema com Rapadura. A cidade ficava cheia de pessoas que vinham de todos os cantos do mundo para prestigiar o evento, e Toronto era tomada por cartazes de divulgação do TIFF. A seleção de filmes chegava a cerca de 300 títulos entre blockbusters, filmes independentes, documentários e até um mini-festival dentro do próprio TIFF dedicado ao gênero de terror e longas mais experimentais, o Midnight Madness. O Festival de Toronto também é considerado um dos “termômetros” para o Oscar do ano seguinte: o vencedor de 2018, “Green Book: O Guia”, levou três Oscars para casa incluindo o de Melhor Filme; em 2019, “Jojo Rabbit” ganhou em Toronto e também abocanhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para Taika Waititi em 2020, além de mais cinco indicações.

O coração do festival fica no Entertainment District, bairro que abriga várias salas de cinema, teatros e o prédio que serve como sede do evento, o TIFF Bell Lightbox, espécie de centro cultural com salas de exibição de filmes e lojas. Na rua King St. West, onde fica o TIFF Bell Lightbox, acontece o tapete laranja, no qual os atores e diretores dos principais filmes anunciados no lineup aparecem para entrevistas e fotos na noite de estreia de seus filmes. É muito comum, também, que eles apareçam de surpresa no final da exibição dos longas em sessões aleatórias após a première para uma rápida rodada de perguntas e respostas com a plateia. Na edição de 2019, tive a chance de participar de alguns bate-papos que não estavam anunciados previamente com o diretor Todd Phillips após a exibição de “Coringa” e com Edward Norton depois de assistir a “Brooklyn – Sem Pai Nem Mãe”.

O que muda no festival após o coronavírus: distanciamento social, menos filmes, mais documentários e longas estrangeiros

Com o surto do coronavírus no mundo todo, diversos festivais de cinema que costumam ocorrer no primeiro semestre foram forçados a cancelarem suas respectivas edições de 2020. A sorte do TIFF é que o evento sempre costuma acontecer em setembro, o que deu tempo para que a organização pudesse se programar para que, se não fosse possível haver uma edição presencial, que ela pudesse pelo menos acontecer online. Parcerias com outros festivais de cinema também não foram descartadas.

A primeira mudança perceptível no TIFF 2020 é o lineup: enquanto a edição de 2019 contava com mais de 300 longas, o festival só anunciou 50 filmes para este ano. Também há pouquíssimas produções com “cara de Oscar” – repleta de atores hollywoodianos e diretores renomados -, que costumam pipocar em festivais mundo afora a partir do segundo semestre para dar a largada em suas respectivas campanhas para a temporada de premiações – que inclusive foi adiada em 2021 por conta da incerteza do controle da pandemia até lá. O Festival de Toronto, então, teve que selecionar somente os (poucos) filmes que puderam ter sua produção finalizada antes do apagão que afetou a indústria mundial do cinema, dando espaço para que gêneros como o documentário e longas de outros países ganhassem maior destaque na programação.

Falando em programação, a forma com que os filmes serão exibidos também teve de ser remodelada: o TIFF só terá cinco exibições presenciais em salas de cinema, enquanto o resto do lineup terá sessões online, que ainda serão anunciadas. Não haverá tapete laranja este ano para evitar aglomerações. O estado de Ontário está atualmente na fase 3 de reabertura, possibilitando que alguns cinemas pudessem considerar a retomada de atividades, mas não sem estabelecer medidas de segurança para frequentar os espaços como o uso de máscaras, limpeza frequente dos estabelecimentos e o distanciamento social.

Após estabelecerem as regras para que a edição de 2020 do Festival de Cinema de Toronto pudesse acontecer, conheça a seguir os destaques da programação deste ano.

“David Byrne’s American Utopia”

O longa de abertura do TIFF 2020 será um documentário dirigido por ninguém menos que Spike Lee sobre o músico David Byrne, conhecido como o líder da banda setentista Talking Heads, e seu espetáculo da Broadway “American Utopia”, baseado no disco homônimo lançado pelo artista em 2018.

“Falling”

O ator Viggo Mortensen faz sua estreia como diretor em “Falling”, um longa sobre os conflitos de um homem conservador e homofóbico que sai de sua cidade natal no interior para morar com o filho gay em Los Angeles. O longa já teve sua estreia no Festival de Sundance, em janeiro de 2020.

“Another Round”

Em “Another Round”, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg retoma a parceria firmada com o ator Mads Mikkelsen em “A Caça” (2012), desta vez em um filme sobre quatro amigos, todos professores do Ensino Médio, que testam uma teoria de que eles melhorarão suas vidas ficando constantemente bêbados.

“Concrete Cowboy”

Com nomes como Idris Elba, Caleb McLaughlin e Jharrel Jerome no elenco, o novo longa de Ricky Staub conta a história de um adolescente problemático que descobre o mundo do crime e das cavalgadas urbanas quando ele se muda para a casa de seu pai, no norte da Filadélfia.

“Nomadland”

O novo trabalho da diretora Chloé Zhao (que atualmente está finalizando o novo filme da Marvel “Os Eternos”) conta com a atriz Frances McDormand como protagonista, interpretando uma mulher de 60 anos que, depois de perder tudo na Grande Recessão, embarca em uma jornada pelo oeste americano, vivendo como uma nômade moderna.

“Casa de Antiguidades”

Também há brasileiros no lineup do TIFF: “Casa de Antiguidades”, filme do diretor João Paulo Miranda, foi um dos destaques no Festival de Cannes e agora também marcará presença em Toronto. O longa trabalha temas como racismo e xenofobia ao retratar um homem que sai do interior de Goiás para viver no Sul ultraconservador enquanto luta para se reconectar com seus ancestrais e o folclore.

“One Night in Miami”

Outro grande nome de Hollywood que também terá sua estreia na direção é a atriz Regina King. Após seu sucesso em “Watchmen”, King retorna ao cinema com “One Night in Miami”, filme baseado na peça teatral de Kemp Powers que imagina como seria o encontro entre Malcolm X, Muhammad Ali, Sam Cooke e Jim Brown em 1964.

“Fireball: Visitors from Darker Worlds”

O célebre documentarista Werner Herzog e o geocientista Clive Oppenheimer se reúnem novamente após “Visita ao Inferno” em “Fireball: Visitors from Darker Worlds”, longa que os acompanha pelo mundo visitando lugares que fornecem informações sobre cometas e meteoritos que caíram na terra, tanto no passado quanto recentemente.

“Summer of 85”

O diretor francês François Ozon adaptou a obra “Dance on My Grave”, de Aidan Chambers, no longa “Summer of 85”, que conta a a história de um romance de verão dos anos 1980 entre dois meninos que termina em tragédia.

“Bruised”

Por fim, quem também dirige seu primeiro longa-metragem em 2020 é Halle Berry com “Bruised”, filme no qual a atriz também interpreta uma lutadora de MMA fadada ao ostracismo que luta para se reerguer na carreira e na vida pessoal, retornando ao octógono e batalhando para recuperar a guarda de seu filho.

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O Festival Internacional de Cinema de Toronto 2020 acontece entre os dias 10 a 20 de setembro.

Jacqueline Elise
@jacquelinelise

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