Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 07 de novembro de 2019

Harry Potter e a magia da infância – Por que os primeiros filmes da franquia são tão especiais?

Revisitando os quatro primeiros "Harry Potter" e explorando os motivos que fazem desta uma franquia tão icônica.

Em 15 de julho de 2011, toda uma geração se preparava para se despedir da franquia “Harry Potter” nos cinemas. Alguns acompanhavam a saga desde o lançamento dos primeiros livros, outros chegaram na estreia do primeiro filme, enquanto os mais novos foram chegando à medida que as adaptações eram lançadas. Seja como for, o lançamento de “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” marcava o fim de uma era. Não haveria mais “Harry Potter”. O último livro já havia sido lançado quatro anos antes, e com o lançamento do último filme, todo um fandom teria que se conformar com o fim.

Lembro-me como foi ser apresentada ao Mundo Mágico, com meus oito anos de idade, na estreia de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” na TV. O ano era 2004, e até então apenas os três primeiros filmes haviam sido lançados no cinema. Assim, depois de ser completamente deslumbrada junto a Harry em sua introdução ao Beco Diagonal, Hogwarts, e a Magia, eu corri para assistir a “Câmara Secreta” e “Prisioneiro de Azkaban”, pois faria minha estreia potteriana nos cinemas com “Cálice de Fogo”.

Aproveitando que os quatro primeiros filmes da franquia “Harry Potter” estão disponíveis no Telecine, decidi resgatar o sentimento de infância que apenas estas produções podem proporcionar, e trazer um gostinho de nostalgia para todos aqueles fãs que sentem faltam de Harry, Rony e Hermione.

A Pedra Filosofal e o diretor perfeito para o trabalho

Quando se trata de adaptações cinematográficas, não é frequente que os resultados sejam tão positivos a ponto de tanto satisfazer os fãs da obra original, quanto atrair um novo público – este que acaba sendo o objetivo principal de um grande estúdio. Por vezes, a essência da obra de origem acaba sendo deixada de lado em prol de um aspecto mais comercial, que renda mais dinheiro em um primeiro momento, e que também possa gerar frutos futuros. J.K. Rowling, a autora e criadora do Mundo Mágico, sabia o que estava fazendo quando em 1999, dois anos depois do lançamento do livro “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, ela vendeu os direitos de adaptação à Warner Bros., recusando, no entanto, ceder os direitos de seus personagens, evitando, dessa forma, que o estúdio desenvolvesse obras derivadas da original, sem o envolvimento da autora. Além disso, Rowling garantiu que sua participação no desenvolvimento dos filmes fosse constante, a fim de proteger a essência do Mundo Mágico.

Assim, em 2000, Chris Columbus foi contratado para trazer às telonas não só uma adaptação de um livro, mas a construção de todo um universo que teria apenas uma chance de causar uma boa impressão. A escolha pareceu encaixar perfeitamente. Columbus havia dirigido “Esqueceram de Mim”, o clássico filme de Natal em que Kevin (Macaulay Culkin) é deixado para trás enquanto sua família viaja, e tem de combater ladrões que tentam invadir sua casa. Não somente, o diretor também havia sido responsável por “Uma Babá Quase Perfeita”, filme em que Robin Williams se veste de uma senhora e finge ser uma babá para conseguir passar mais tempo com seus filhos, depois de seu divórcio com a mãe deles.

Embora estes filmes não representem a escala que “Harry Potter” viria a ser, eles representam, sim, um sentimento. “Esqueceram de Mim” traz a magia do Natal, enquanto “Uma Babá Quase Perfeita” ressalta a importância da família. O que Columbus teria à frente seria o desafio de passar as palavras de Rowling para as telonas de uma forma que despertasse não só o encanto visual, mas a sensação de finalmente pertencer ao lugar mágico de nossos sonhos. E ele certamente fez isso com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Tirar o jovem bruxo da monotonia da casa de seus tios, e levá-lo a um mundo completamente novo, passando pelo Beco Diagonal, pela estação de King’s Cross, e finalmente chegando a Hogwarts, foi apenas o início de uma jornada magnífica que estaria à nossa frente. Estávamos em casa, de verdade.

A Câmara Secreta e os perigos do Mundo Mágico

Lançado um ano depois do primeiro filme, “Harry Potter e a Câmara Secreta” serve como uma ótima sequência, não só por manter o mesmo tom de seu antecessor – muito porque Chris Columbus continuou na direção -, mas também por expandir a jornada de Harry a um território desconhecido, e mais perigoso. Claro que para Harry, que a esta altura só conhecia o Mundo Mágico há um ano, muito ainda permanece um mistério, e o filme vai apresentando justamente estes elementos, não só para o jovem bruxo, mas também para o público.

Entendemos mais sobre as regras do Mundo Mágico, já que Harry é alertado que não pode usar magia fora de Hogwarts enquanto menor de idade; descobrimos a existência de um carro voador, e de como a magia pode ser útil em pequenos afazeres na Toca; aprendemos sobre a Língua das Cobras, e que ter seu domínio não é um bom sinal, nem mesmo no mundo dos bruxos; e é neste filme que Harry realmente começa a lidar com os perigos que futuramente seriam constantes em sua vida, e o tirariam a paz até mesmo em Hogwarts, seu lar.

É interessante como “Câmara Secreta” evoca o medo ao colocar ameaças aos protagonistas em um lugar em que supostamente eles estariam seguros. Não que em “Pedra Filosofal” os alunos de Hogwarts estivessem longe do perigo – essa escola tem um certo problema de segurança -, mas no primeiro filme, a situação é mais uma aventura, enquanto no segundo, a ameaça do basilisco é apresentada aos poucos, como um figura sem forma, anunciada pelas “malditas aranhas!”, e que vai levando vítima após vítima sem se mostrar. Harry escuta o perigo chegando, mas não sabe de onde vem, e não sabe como detê-lo. E o monstro, quando escondido, é ainda mais amedrontador.

No final, o filme retorna a sua essência aventureira e Harry se mostra digno, derrotando o basilisco, e seu mestre. Porém, depois disso, Potter nunca mais seria o mesmo. Afinal, ele descobrira que sabe falar a Língua das Cobras, uma característica muito comum a bruxos das trevas. O que isso queria dizer?

O Prisioneiro de Azkaban e a redefinição do tom da franquia

O terceiro capítulo da franquia chegou dois anos depois do segundo, e trouxe consigo diversas mudanças. A primeira delas, e a mais crucial, foi a saída de Chris Columbus da direção, com Alfonso Cuarón assumindo o cargo, mesmo que por apenas um filme. O diretor mexicano não foi a primeira opção do estúdio, que ofereceu o trabalho antes a seu compatriota Guillermo Del Toro, o qual recusou a oportunidade por achar que o Mundo Mágico era “alegre demais” para seu estilo. Cuarón, que não havia lido nenhum dos livros, ficou nervoso com a oferta, mas depois de ler os volumes já lançados, e ter se conectado com a história, decidiu que aceitaria o cargo. Atualmente, Cuarón já é um diretor consagrado, ganhador de Oscars, mas à época a escolha parecia no mínimo curiosa. J.K. Rowling, no entanto, havia adorado os filmes do cineasta “A Princesinha” e o elogiado “E sua Mãe Também”, e achou que Cuarón tinha o que era necessário para continuar a história de Harry Potter.

“Prisioneiro de Azkaban” também marcaria a primeira vez que um filme da franquia estrearia no verão americano e não na data próxima ao Natal, como os dois primeiros. Cuarón logo de início teria que lidar com a difícil tarefa de escalar um novo ator para interpretar Alvo Dumbledore, depois do falecimento de Richard Harris. O diretor mexicano também teria que construir um relacionamento com o elenco que começava a deixar a infância e entrar na adolescência. Não bastasse, a trama do livro que ele teria de adaptar seria uma das mais complicadas da franquia, por lidar com viagem no tempo. Cuarón tinha a sua frente um grande desafio, e ele não decepcionou.

“Prisioneiro de Azkaban” é um dos filmes mais elogiados de toda a saga, e segue sendo como o favorito de muitos fãs. A obra assume alguns riscos que o tornariam único em meio a oito filmes, e segue o protagonista, agora adolescente, com um olhar não mais vibrante apresentado nas duas produções anteriores, mas sim melancólico, refletindo não só o crescimento, mas a solidão de Harry. Por crescermos com o bruxo, algumas das mudanças que ele enfrenta também acaba sendo similares às nossas, e nada mais natural que a franquia evoluísse com seu protagonista. A adaptação é, sim, uma das que mais apresentam mudanças em relação ao livro, mas no geral, este capítulo da vida de Harry foi contada com tanta maestria que o filme permanece como um queridinho do público, e abriu portas para que futuros cineastas pudessem arriscar dentro da saga (embora nenhum deles tenha sido tão bem sucedido nesse quesito quanto Cuarón).

Já me alongando neste filme, e assim, mostrando um certo favoritismo, há ainda um fator ainda não mencionado que não só ajudou a estabelecer o Mundo Mágico lá em “Pedra Filosofal”, mas que deixou um legado jamais esquecido pelos fãs de Harry Potter: a música de John Williams. O compositor consagrado trouxe um som único à franquia, e foi também muito responsável pelo conforto da infância que sentimos ao ouvir as primeiras notas de Hedwig’s Theme. Mas é a trilha de “Prisioneiro de Azkaban” que acredito que defina melhor o que é “Harry Potter”. Com a esquisitice de Double Trouble, com o mistério de Secrets of the Castle, com a aventura de Buckbeat’s Flight e com a tristeza de A Window to the Past, Williams estabeleceu o tom que permaneceria na franquia até seu fim. Pois, a inocência da infância muito ouvida nos dois primeiros filmes em breve se acabaria, mas o amadurecimento da trilha de “Prisioneiro de Azkaban” marcaria a saga para sempre.

O Cálice de Fogo e a perda da inocência

“Harry Potter e o Cálice de Fogo”, conhecido também como “Harry Potter e a Revolta dos Cabelos”, é o filme que marca em definitivo o fim da infância. Harry teria de enfrentar, contra sua vontade, perigos inimagináveis no Torneio Tribruxo – sério, Hogwarts é o lugar mais perigoso do mundo – e no fim, presenciaria a morte de um amigo, o retorno de seu maior inimigo, e a perspectiva de que o futuro reservaria grandes provações.

Como disse no início do texto, este foi o primeiro filme da série que vi nos cinemas, embora isso tenha acontecido apenas dois anos depois de ter visto “Pedra Filosofal” pela primeira vez. Eu não estava exatamente na idade dos protagonistas (eu iria chegar mais perto, graças aos intervalos de anos entre os próximos longas), mas sempre me senti próxima a Harry em vários sentidos, principalmente quanto a sua solidão. Embora profundamente explorada no quinto filme da franquia, este aspecto de Harry sempre foi presente, e o trauma que o protagonista enfrenta em “Cálice de Fogo” seria um que nem ele, nem os fãs esqueceriam.

Cedrico Diggory, o aluno exemplar da Lufa-Lufa, que “vence” o Torneio Tribruxo junto a Harry, acaba encontrando sua morte prematura no cemitério em que Voldemort retorna. Com o livro correspondente tendo sido lançado apenas dois anos antes do filme, os fãs puderam ver Cedrico tão bem representado na tela por Robert Pattinson, antes do ator estrelar a franquia “Crepúsculo”. À época, o personagem era a maior representação que a casa da Lufa-Lufa tinha, e o fato de Cedrico ser tanto um aluno exemplar quanto uma pessoa honrosa só contribuiu para o sentimento terrível de perda na ocasião de sua morte.

Harry retorna para Hogwarts com o corpo de Cedrico, e com a certeza de que seu inimigo estava de volta, pronto para matá-lo. A Escola perdia um de seus melhores alunos, os lufanos perdiam um valoroso companheiro, e Harry se encheria de culpa e daria início a sua jornada em busca de derrotar Voldemort de uma vez por todas. A infância deixada para trás, a inocência perdida, e a batalha havia apenas começado.

A franquia “Harry Potter” nos cinemas continuou por mais seis anos depois de “Cálice de Fogo”, dando um satisfatório fim a sua história em 2011. Eis que dois anos depois, J.K. Rowling anunciou o retorno ao Mundo Mágico com a franquia “Animais Fantásticos”. A nova saga seria inspirada pelo livro “Animais Fantásticos e Onde Habitam“, que funciona como um paradidático para os alunos de Hogwarts, escrito pelo bruxo Newt Scamander, onde ele detalha as características das criaturas que só existem no Mundo Mágico de Harry Potter. Além de apresentar Scamander e diversos novos personagens na nova franquia, a autora exploraria o passado de Alvo Dumbledore, sua relação com o bruxo das trevas Gerardo Grindelwald, e a eventual batalha que resultaria na prisão deste último. Com o primeiro filme lançado em 2016 e o segundo em 2018, “Animais Fantásticos 3” já teve a data de início da produção divulgada, com previsão de estreia para 2021.

A nova franquia é uma ótima oportunidade para atrair um novo público para o Mundo Mágico, expandir os limites deste universo, e trazer alegria para os fãs antigos. É inegável, no entanto, que a história de Harry Potter será para sempre única e especial.

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Louise Alves
@louisemtm

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