Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 18 de setembro de 2019

[LISTA] Segundos filmes que alavancaram a carreira de grandes diretores

Ari Aster impressionou com sua estreia, "Hereditário", e seu novo filme é um dos mais aguardados do ano.

Midsommar – O Mal Não Espera a Noite“, novo trabalho do diretor Ari Aster, chega aos cinemas nesta quinta-feira (19) e as expectativas dos fãs de terror estão tão altas quando poderiam estar. Por um lado, o filme vem sendo elogiado pela crítica internacional, muitos dizendo se tratar de um dos melhores do ano. Por outro, é o segundo trabalho do diretor, que explodiu com o também terror “Hereditário“, de 2018.

Muitos diretores impressionam crítica e público em seus projetos de estreia, mas poucos conseguem manter ou até melhorar tais impressões em seu trabalho seguinte. Aqueles que conseguem, porém, costumam fazer de seus segundos longas algumas das obras mais memoráveis da história do cinema.

Pensando nisso, o Cinema com Rapadura preparou uma lista com os segundos filmes de alguns diretores que, após serem considerados “promissores” em seus longas de estreia, trouxeram obras ainda mais impressionantes na sequência.

“Alien – O Oitavo Passageiro”, de Ridley Scott (1979)

Começando a lista com um filme que é considerado um dos pilares não apenas do terror, mas também da ficção científica, “Alien – O Oitavo Passageiro” foi apenas o segundo trabalho do diretor britânico Ridley Scott. Seu primeiro filme, “Os Duelistas“, já é uma obra bastante ambiciosa para uma estreia em longas-metragens, e, apesar de não conseguir grande apelo com o público, recebeu muitos elogios por parte da crítica e chamou a atenção para seu promissor diretor iniciante. Scott, então, decidiu ousar ainda mais.

Em “Alien“, a equipe da nave de reboque Nostromo precisa lutar pela sobrevivência quando um predador alienígena acaba à solta na embarcação. O filme mistura com maestria conceitos narrativos e visuais tanto do terror quanto do sci-fi, tendo se tornado sucesso tanto de público quanto de crítica.

Ao longo dos anos, a obra teve crescente impacto cultural, popularizando ainda mais ambos os gêneros e alçando ao estrelato a protagonista Sigourney Weaver. Scott, por sua vez, continuou trabalhando gêneros diferentes em projetos corajosos, e hoje é considerado um dos grandes realizadores de sua geração e da história.

Alien – O Oitavo Passageiro” é considerado um clássico do cinema, tendo dado origem a uma franquia bastante popular que perdura até os dias de hoje.

“O Exterminador do Futuro”, de James Cameron (1984)

James Cameron é, sem sombra de dúvida, um dos diretores mais bem sucedidos da história em termos de bilheteria. Seu primeiro trabalho, porém, passou longe disso: “Piranhas 2: Assassinas Voadoras“, um típico terror trash, nunca obteve grande êxito com público ou crítica. Isso não impediu, porém, que Cameron, então com apenas 27 anos, fosse notado. O diretor conseguiu trabalhar com um orçamento razoável para seu próximo projeto, “O Exterminador do Futuro“, e não decepcionou.

A icônica interpretação de Arnold Schwarzenegger no papel do androide T-800 pode ser o ponto mais lembrado do filme, mas a direção de Cameron foi a responsável por dar ao vilão o destaque que ele merecia e por construir uma impressionante narrativa de ficção científica. A trama mostra um androide enviado do futuro para assassinar uma jovem garçonete cujo filho será o líder da resistência humana contra as máquinas.

Se o filme tornou o ator austríaco uma das grandes estrelas de Hollywood, o destino de Cameron após a produção foi tão brilhante quanto. O diretor foi extremamente elogiado por sua condução do projeto, e acabou contratado para dirigir a continuação de “Alien – O Oitavo Passageiro“. Eventualmente, Cameron voltou à franquia com “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final“, fazendo da continuação um sucesso ainda maior.

Em 1997, Cameron dirigiu “Titanic”, filme que se tornou a maior bilheteria da história do cinema, sendo batido somente por outro filme do próprio diretor: “Avatar”, em 2009. Enquanto isso, a franquia “Exterminador do Futuro” seguiu com novos filmes de tempos em tempos, sendo que o próximo longa deve chegar aos cinemas ainda este ano, com produção de Cameron.

“Clube dos Cinco”, de John Hughes (1985)

John Hughes é considerado o grande diretor dos chamados filmes de High School, que abordam temas adolescentes e cujos personagens ainda estão no Ensino Médio e lidam com os problemas que essa fase da vida traz. Sua estreia, “Gatinhas e Gatões“, agradou o público e é até os dias atuais um dos mais lembrados filmes desse subgênero. O segundo filme de Hughes, porém, iria além.

O Clube dos Cinco” é lembrado com carinho por muitas pessoas em todo o mundo como um retrato fiel e sensível das dores e da nostalgia da adolescência. No filme, cinco adolescentes radicalmente diferentes são obrigados a dividir uma pequena sala de sua escola durante um sábado inteiro como forma de punição. Aos poucos, eles começam a perceber que seus problemas e dificuldades não são tão diferentes assim.

O longa consolidou Hughes dentro do gênero, sendo sucesso tanto de público quanto de crítica. Hoje em dia, é impossível falar de filmes de Ensino Médio sem falar de John Hughes, sendo que o diretor e sua obra são também responsáveis por desenvolver o gosto pelo cinema em adolescentes de todo o mundo.

“Pulp Fiction – Tempo de Violência”, de Quentin Tarantino (1994)

Talvez o mais cultuado filme de Quentin Tarantino, “Pulp Fiction” foi extremamente elogiado e premiado na época de seu lançamento, consolidou a carreira do diretor e ao longo dos anos se tornou um dos grandes clássicos da história do cinema. Várias de suas cenas são consideradas icônicas e servem de inspiração para cineastas de todo o mundo.

Tarantino já havia obtido certo sucesso crítico com seu primeiro longa, “Cães de Aluguel“, o que o ajudou a conseguir um orçamento quase oito vezes maior para seu próximo filme. Trazendo de volta nomes que haviam colaborado com ele no projeto anterior, como Harvey Keitel e Tim Roth, o diretor teve ainda as adições de John Travolta, Bruce Willis, Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Ving Rhames e Christopher Walken ao seu elenco.

Se “Cães de Aluguel” havia sido elogiado por conta de seu roteiro não-linear, de seu uso da violência e das grandes atuações entregues, “Pulp Fiction” serviu quase como um refinamento de todos esses aspectos, sendo que a estrutura de seu roteiro é referência para outros autores até hoje. Enquanto isso, as atuações de Samuel L. Jackson e Uma Thurman os colocaram ainda mais sob os holofotes de Hollywood, e as cenas envolvendo sangue e violência são ainda mais memoráveis que as do antecessor.

Além do status de clássico, o segundo filme de Quentin Tarantino venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original (sendo indicado em outras seis categorias), a Palma de Ouro em Cannes, o Globo de Ouro e outras dezenas de prêmios.

“Boogie Nights – Prazer sem Limites”, de Paul Thomas Anderson (1997)

O primeiro trabalho de Paul Thomas Anderson, “Jogada de Risco“, nem de longe obteve a mesma atenção que o primeiro de Tarantino. Na verdade, o filme é um tanto esquecido até os dias de hoje, sendo mais consumidos pelos fãs do diretor do que pelo público em geral. Isso, no entanto, não impediu que as boas críticas e os elogios ao trabalho de PTA (como o diretor ficou conhecido posteriormente) impulsionassem seu próximo filme, “Boogie Nights – Prazer Sem Limites“.

Retrato da chamada era de ouro da indústria pornográfica americana dos anos 1970, o filme alavancou a carreira de Mark Wahlberg, que viveu o protagonista. A obra teve também a presença do veterano Burt Reynolds, no papel do diretor que recruta o personagem de Wahlberg para atuar em filmes adultos. Julianne Moore e William H. Macy também foram parte do elenco, que também contou com nomes então iniciantes e que vieram a se tornar mais amplamente conhecidos anos depois, como Don Cheadle, Philip Seymour Hoffman e John C. Reilly.

O projeto é considerado até hoje um dos melhores do diretor, tendo recebido três indicações ao Oscar (inclusive o de Melhor Roteiro Original para Anderson) e duas ao Globo de Ouro, com Reynolds vencendo na categoria de Ator Coadjuvante. Assim como no caso anterior, o sucesso crítico de seu segundo filme foi fundamental para a grande carreira que PTA viria a construir.

“Encontros e Desencontros”, de Sofia Coppola (2003)

O primeiro trabalho de Sofia Coppola, “As Virgens Suicidas“, acabou se tornando um célebre cult ao longo dos anos, mas não foi particularmente bem sucedido em público ou crítica na ocasião de seu lançamento. Mesmo assim, ela sempre foi considerada um talento promissor em Hollywood, dado que seu pai, Francis Ford Coppola, dirigiu algumas das maiores obras da história do cinema, como “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now“. Foi com “Encontros e Desencontros” que a diretora provou ser tudo aquilo que esperavam dela, e muito mais.

Filmado no Japão, o filme traz Bob e Charlotte, dois americanos passando alguns dias em um luxuoso hotel de Tóquio. Vividos por Bill Murray e Scarlett Johansson, os dois rapidamente se encontram um nos problemas do outro e, no meio do tédio que permeia suas estadias no local, uma improvável química começa a surgir. Além das grandes atuações, o filme traz uma impressionante ambientação da cidade asiática e do hotel em que a maior parte da história acontece.

Ainda que tenha uma trama bem menos complexa que a do filme anterior de Coppola, “Encontros e Desencontros” exalta muito mais seus talentos como roteirista, na direção de atores, na ambientação e na escolha da trilha sonora, características que até hoje marcam os filmes por ela dirigidos.

Indicado a Melhor Filme e vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, o filme se tornou sucesso de crítica já na ocasião do lançamento, e há anos é cultuado como um dos grandes filmes da década passada. Além disso, impulsionou a carreira de Johansson, lançando-a de vez ao estrelato na indústria do cinema.

“La La Land: Cantando Estações”, de Damien Chazelle (2016)

Outro caso de segundo filme que consolidou a ascensão meteórica de um realizador é “La La Land: Cantando Estações“, dirigido pelo jovem Damien Chazelle. Após o inesperado sucesso crítico de “Whiplash: Em Busca da Perfeição“, o diretor tinha inúmeras possibilidades para seu próximo longa, e acabou optando por algo que foi, entre muitas outras coisas, ousado.

Em uma época com cada vez menos musicais no cinema, “La La Land” foi uma escolha curiosa e corajosa para alguém em estágios tão iniciais de carreira quanto Chazelle, mas que acabou dando muito certo. Romance musical que também serve de ode aos musicais clássicos do cinema, o filme chamou a atenção de público e crítica tanto com suas músicas e coreografias originais quanto com seus valores de produção como direção de arte, figurino, fotografia e edição.

Inicialmente planejada com um elenco completamente diferente, a obra precisou se adaptar para acomodar o papel de seus protagonistas, que acabaram sendo interpretados por Ryan Gosling e Emma Stone. A dupla, já tendo trabalhado junta antes, não era a primeira escolha de Chazelle, que queria Miles Teller e Emma Watson nos papéis principais. A mudança acabou dando mais que certo, uma vez que a química de Gosling e Stone é um dos pilares do sucesso do longa.

La La Land” acabou recebendo 14 indicações ao Oscar, se igualando ao recorde estabelecido por “Titanic” e “A Malvada“, tendo, no fim das contas, recebido seis estatuetas: Melhor Diretor, Atriz, Trilha Sonora, Canção Original, Direção de Arte e Fotografia. Sucesso de público e crítica, o filme se tornou um dos mais premiados da história recente do cinema.

Nós, de Jordan Peele (2019)

Talvez o caso mais “comparável” ao de Ari Aster, tanto por ser mais recente quanto por se tratar de um nome em ascensão do terror, Jordan Peele, até então um comediante, surpreendeu o mundo com “Corra!, longa que utiliza as ferramentas do terror para pintar um complexo quadro sobre as nuances do racismo na sociedade. A expectativa para seu segundo filme era imensa, e ela foi alcançada com “Nós“, que chegou aos cinemas do mundo todo no início de 2019.

Estabelecendo uma marcante identidade visual desde seu primeiro trailer, a obra traz os protagonistas Adelaide e Gabe Wilson, vividos por Lupita Nyong’o e Winston Duke, tentando proteger sua família de uma ameaça letal e misteriosa na forma de quatro pessoas exatamente iguais a eles e seus dois filhos. Peele mais uma vez agradou público e crítica, conseguindo, até o momento, a maior bilheteria do ano para um filme original nos EUA. Além disso, é cotado para diversas categorias do Oscar de 2020.

Nós” provou que Peele é muito mais que um sucesso de uma só vez, servindo como “playgroundpara que o diretor usasse uma série de conceitos e elementos de terror que podem vir a ser expandidos em seus próximos projetos, agora ainda mais aguardados.

Com”Hereditário“, Ari Aster impressionou o mundo com seu terror que, ao mesmo tempo em que homenageava e respeitava os clássicos do gênero, parecia algo novo e diferente do que vinha sendo feito. O diretor foge dos clichês desse tipo de filme, ao mesmo tempo em que os desconstrói e os acaba tornando ainda mais assustadores e impressionantes. Sua condução da obra foi motivo de amplos elogios em 2018, e, desde então, a expectativa para sua versão do subgênero chamado de folk horror é enorme.

Se tudo sair como esperado, “Midsommar” pode fazer pela carreira de Ari Aster o mesmo que os segundos filmes fizeram por todos os diretores aqui listados.

Tiago Fiszbejn
@tfiszbejn

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