Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 05 de agosto de 2019

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel in Concert – respirando a Terra-Média

As bem-sucedidas apresentações da Orquestra Villa Lobos tocando a trilha sonora do primeiro filme da trilogia ao vivo emocionaram os fãs e homenagearam a obra de Howard Shore.

No início do século XXI, a trilogia “O Senhor dos Anéis” marcava o cinema, trazendo um nível de qualidade narrativa que poucas obras conseguem oferecer. O clima épico das aventuras de Frodo e companhia na Terra-Média foi engrandecido pela irretocável trilha sonora composta por Howard Shore. Em homenagem ao que se tornou uma das maiores composições na história da sétima arte, foi criado o The Lord of the Rings in Concert, onde uma orquestra toca a obra de Shore ao vivo enquanto um dos longas da saga é projetado em uma tela gigante.

Desde 2011 havia suspiros de que esse tipo de espetáculo pudesse chegar ao Brasil, ganhando força em 2018, quando datas em cidades brasileiras chegaram a ser postadas no site oficial do evento, que contemplaria São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Goiânia, Belo Horizonte e Curitiba. Infelizmente, as forças de Sauron saíram vitoriosas e tudo foi cancelado após alguns meses.

Mas algo que os poderes sombrios não esperavam aconteceu, e entre junho e julho de 2019, “The Lord of the Rings in Concert: The Fellowship of the Ring” chegava às terras brasileiras com apresentações nas capitais carioca, paulista e gaúcha. Com o título traduzido para “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel in Concert”, a premiada trilha chegou por meio do trabalho do maestro Adriano Machado e da Orquestra Sinfônica Villa Lobos, que contou com 90 músicos e 150 coristas.

Para as apresentações, vieram do exterior o maestro Shih-Hung Young, trazendo sua experiência de ter regido eventos similares como “O Poderoso Chefão” e ”Harry Potter”; e Kaitlyn Lusk, cantora mezzo-soprano americana envolvida com os concertos da trilogia cinematográfica da obra de Tolkien desde os 14 anos de idade, responsável por muitos dos solos vocais. Acompanhar todos os citados em suas redes sociais aumentava a expectativa de qualquer fã, pois suas empolgações eram nítidas e palpáveis, assim como o amor pela música que executavam.

Além de Young e Lusk, a orquestra precisou investir em um novo piano, pois uma das peças musicais exigia que uma corrente fosse usada nas cordas do instrumento. Após várias recusas de aluguel mediante o risco de danos, a compra se fez necessária para a correta execução da obra. Fato curioso que ilustra o cuidado da produção para que a música fosse honrada.

Todo esse esmero fez diferença. A experiência, como fã, de assistir a uma obra tão incrível executada ao vivo por uma orquestra é algo marcante. A trilha, já fantástica, brilha e se destaca como a luz de Eärendil, e cada nota e voz do coral é sentida em níveis só alcançados nesse tipo de apresentação.

Nem mesmo os desconfortáveis assentos disponibilizados para o público no Espaço das Américas em São Paulo foi o bastante para reduzir a sensação de mergulhar na Terra-Média. A trilha de Howard Shore é precisa em retratar cada momento, personagem e local daquele universo. Desde a impressionante sequência de abertura com poderosos vocais do coro, passando pelas leves notas que remetem à vida tranquila dos hobbits no Condado e chegando as diferentes interpretações do tema da Sociedade do Anel, a música conduz e transporta o público por uma miríade de emoções que, para muitos lá, tinha também o acréscimo de uma gostosa nostalgia após tantos anos da estreia do longa. Nas palavras do próprio maestro Machado, “seremos parte do próprio filme, seremos em muitos momentos a emoção”. Realmente foram, e levaram o público nessa jornada.

Há de se dizer, entretanto, que alguns efeitos sonoros e diálogos estavam simplesmente inaudíveis. Nada que realmente atrapalhe a experiência, pois as legendas estão lá e os sons estão presentes na memória de cada fã de longa data que estava lá, mas é algo que talvez possa ser melhorado em futuros projetos.

Assistir a uma orquestra tocando a trilha de um filme pelo qual se tem imenso carinho é uma experiência única e recomendada a todos. Perceber a felicidade, seriedade e empolgação que os músicos tinham com o projeto e com a música só acrescenta à positividade da vivência do momento, onde a energia transmitida é ampliada por poderosas vozes cantando nas línguas dos elfos e dos anões, atravessando escudos emocionais que barrariam até balrogs para levar fãs às lágrimas e lembra-los do quanto eles, de fato, amam “O Senhor dos Anéis”.

Após as bem-sucedidas e lotadas apresentações, fica a torcida de que os outros dois filmes também recebam esse merecido tratamento em terras tupiniquins, e que nós possamos visitar a Terra-Média mais uma vez, com todo o amor e carinho que ela merece.

Bruno Passos
@passosnerds

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