The Twilight Zone: 10 episódios da série original para se preparar para a versão de Jordan Peele
De “A Origem” à “Black Mirror”, a influência deixada por “The Twilight Zone” é imensurável. Explorando o que há de melhor no sci-fi, a série é ainda hoje uma das melhores produções já feitas para a televisão.
No dia 2 de outubro de 1959 um dos maiores e mais importantes momentos para a televisão (e depois para o cinema), ganhava vida. O lançamento de “The Twilight Zone”, série criada, roteirizada e narrada por Rod Serling, teve um impacto tão profundo na cultura pop, que seu legado ainda ecoa por quase toda a produção audiovisual que tenha alguma conexão com a ficção científica, a fantasia ou o terror. Ao longo de cinco temporadas e 156 episódios, a série abordou os mais diversos temas, sendo vanguardista em vários aspectos e sempre se mantendo próxima dos grandes nomes da ficção científica da época, como Phillip K. Dick.
Desde sua estreia, a série teve um especial feito para o cinema na década de 1980, com quatro episódios sendo refeitos pelos diretores Joe Dante, John Landis, George Miller e Steven Spielberg, além de um remake para a televisão na mesma década, e outro em 2002. Além disso, a série é a principal influência de “Black Mirror”, com vários episódios repetindo e atualizando algumas tramas, além de ter inspirado a música The Twilight Zone da banda de rock progressivo Rush. Os episódios da série eram encerrados com plot twists, em um tempo em que tal prática era pouco comum.
Com o lançamento de uma nova série remake produzida por Jordan Peele, o cineasta responsável por “Corra!” e “Nós”, o Cinema com Rapadura preparou uma lista com os episódios essenciais para conhecer a série e entender porque ela é ainda hoje tão relevante para o gênero. Então se prepare para viajar para uma nova dimensão, além da visão e do som, onde o limite é a sua própria imaginação.
Where Is Everybody?! (Temporada 1 – Episódio 1)
O primeiro episódio da série fala sobre um homem que acorda sem lembrar quem é, nem o que faz, nem onde está ou para onde está indo. Enquanto tenta achar a resposta para essas perguntas, ele se depara com outro mistério: todas as pessoas do planeta desapareceram.
A temática do “último homem” é tema batido dentro da ficção. Mary Shelley, autora de “Frankenstein”, já havia cogitado sobre o assunto em um de seus livros e o conceito nunca deixou de ser especulado através dos anos. Em “The Twilight Zone”, essa ideia foi utilizada outras vezes, sempre de maneira criativa e inteligente, mostrando quais seriam os limites que uma pessoa suportaria ao estar sozinha e quais as suas potenciais consequências.
Walking Distance (Temporada 1 – Episódio 5)
A história aqui acompanha um homem de negócios que, devido ao enorme estresse do trabalho, vai visitar a cidade onde cresceu. Enquanto passeia pela cidade, revisitando locais que conhecia quando criança, o protagonista começa a perceber que as coisas não mudaram em nada desde que deixou o local, há 20 anos.
Um dos episódios mais reflexivos da série, aqui a abordagem feita para como abandonamos nossos sonhos e nossa inocência é feita de maneira melancólica e nostálgica. Um dos episódios que se distanciam do fluxo narrativo comum da série, “Walking Distance” é um dos mais bonitos dentre todos os 156.
The Monsters Are Due to Maple Street (Temporada 1 – Episódio 22)
Um episódio que oscila entre paranoia coletiva e invasão alienígena. Foi assim que o episódio satirizou os efeitos de macartismo nos Estados Unidos. Em uma pequena cidade, onde todos se conhecem, as luzes e os eletrodomésticos deixam de funcionar depois que um estranho objeto sobrevoa o local. A histeria coletiva tem início quando uma das crianças compara a situação com o plot de uma história em quadrinho sobre alienígenas que copiam os humanos para invadir a Terra.
Em 1953, Philip K. Dick escreveu o conto “Impostor” que ganhou uma adaptação homônima para o cinema em 2001. Essa foi a primeira história do autor sobre a temática “será que eu sou mesmo um humano?”, e que depois foi elevada ao extremo em outras obras. O conceito na série é muito parecido, mostrando os perigos que um pensamento coletivo e não racional podem causar.
Eye of the Beholder (Temporada 2/ Episódio 6)
Em um dos episódios mais famosos de toda a série, uma mulher passou a vida toda fazendo cirurgia atrás de cirurgia para consertar o seu rosto desfigurado e monstruoso. Acompanhamos a última tentativa de deixá-la bonita, pois caso contrário, ela será obrigada a deixar a cidade e será exilada com outras pessoas também feias.
Com uma fotografia e edição impecáveis, “Eye of the Beholder” é uma crítica e uma piada aos conceitos de bonito e feio. O final possui um dos mais curiosos plot twists da série, além de ser essencialmente angustiante do início ao fim.
Shadow Play (Temporada 2 – Episódio 26)
Um homem condenado à morte por um crime que afirma não ter cometido, alega que aquele mundo onde ele está na verdade trata-se de um pesadelo que ele tem todas as noites e que se ele for executado, todos que estão ali irão morrer.
Provavelmente o melhor roteiro de toda a temporada é o deste episódio, o que não é pouca coisa. A tentativa do protagonista de mostrar que a realidade em que se encontra não é condiz com a do mundo real cria cenas inesquecíveis, além de ter influenciado o roteiro de Christopher Nolan no filme “A Origem”. O final, mais uma vez, conta com um plot twist sensacional.
The Obsolete Man (Temporada 2 – Episódio 29)
Em uma sociedade fascista, um bibliotecário é condenado à morte por ter se tornado uma pessoa obsoleta e sem papel para a sociedade. Em seu julgamento, lhe é dado o direito de escolher a forma e o local da sua sentença.
Uma crítica aberta aos regimes totalitaristas, esse episódio possui um argumento muito inteligente e uma crítica muito bem elaborada para a época, se mantendo atual ainda hoje. A narração inicial de Rod Serling segue relevante nos dias atuais: “Este não é um novo mundo. É simplesmente uma extensão do que começou no antigo. Foi feito à medida de cada ditador que alguma vez planejou em deixar a pegada da sua bota nas páginas da história desde o princípio dos tempos”.
It’s a Good Life (Temporada 3 – Episódio 8)
Um dos clássicos episódios assustadores da série, aqui acompanhamos um garoto de 6 anos capaz de ler pensamentos e com estranhas habilidades psíquicas. Apesar da pouca idade, mexer com ele pode resultar em consequências terríveis.
Um episódio carregado por um sentimento de tensão que liga o início ao final da história, e com um dos clímax mais angustiantes de toda a série. Não por acaso é um dos episódios com maior aprovação, tanto de crítica quanto de público. O destaque especial fica para a reação dos pais do garoto para cada consequência dos seus estranhos poderes.
The New Exhibit (Temporada 4 – Episódio 13)
Nesta história, acompanhamos um homem que trabalha em um museu de cera decadente. Quando o local fecha, ele decide guardar em sua casa alguns dos bonecos, réplicas de assassinos famosos como Jack, o Estripador e Henri Désiré Landru. Porém sua paixão pelas figuras de cera o impede de perceber que coisas estranhas começam a acontecer.
É quase um consenso de que a quarta temporada é a mais fraca da série toda. A única com episódios de uma hora de duração, é cansativa e os roteiros têm dificuldade para sustentar a trama principal. Mas este é um caso à parte. Uma história que mistura muito bem elementos do terror gótico com obsessão.
Nightmare at 20,000 Feet! (Temporada 5 – Episódio 3)
Talvez o episódio mais famoso da série, a história mostra o desespero de um homem que, durante uma viagem de avião, percebe que existe um gremlin do lado de fora, destruindo o motor e tentando fazer com que a aeronave caia. Porém, sempre que tenta mostrar para alguém, a criatura desaparece.
Com inúmeras referências na cultura pop, esse episódio ganhou um remake na já citada adaptação para o cinema, que foi dirigida por George Miller, e também recebeu uma releitura no atual remake. O grande conflito aqui é tentar entender se o que o protagonista vê do lado de fora do avião é real, ou se é motivado pelos traumas que ele tem de voar. Não é nem preciso dizer que o final é espetacular.
The Masks (Temporada 5 – Episódio 25)
Prestes a morrer, um idoso é acompanhado de perto pela família que aguarda para poder colocar a mão na herança. Percebendo isso, ele pede para que todos coloquem máscaras que só deverão ser retiradas à meia-noite.
Único episódio dirigido por um mulher, e por ninguém menos que Ida Lupino, é mais uma inteligente e angustiante crítica social, mostrando que a série não poupava argumentos considerados ácidos para a época. Com uma análise ao isolamento que o tempo e a velhice constroem, o episódio possui uma excelente conclusão.
O novo remake de “The Twilight Zone” nasce com o propósito de atualizar os episódios que hoje já sofrem com o desgaste do tempo. Embora a discussão ainda seja pertinente, o ritmo é lento e o desenvolvimento pode parece datado ou previsível em alguns casos. Isso, porém, não tira o rigor e a elegância do argumento – não por acaso a série é ainda hoje tão referenciada.
Tendo Jordan Peele como host (papel que assume de forma impecável), os novos episódios vão ao mesmo tempo abordar temas muito atuais, enquanto não vão abandonar o conceito principal da série, estabelecido em 1959 por Rod Serling. Tudo aqui pode acontecer. Não na nossa realidade, mas em um local “além da visão e do som, onde o limite é a sua própria imaginação”.