Cinema com Rapadura

Colunas   segunda-feira, 23 de abril de 2018

Temas marcantes das trilhas sonoras do Universo Marvel – muito mais do que só o tema dos Vingadores

Mesmo com 18 filmes já lançados, as trilhas da Marvel são consideradas "esquecíveis", mas alguns temas se destacam e mostram que existe, sim, qualidade nas composições deste universo.

Com “Vingadores: Guerra Infinita”, a Marvel Studios chega ao 19° filme de seu universo compartilhado, em uma junção épica dos vários super-heróis já apresentados. No entanto, apesar do estúdio estar à frente de seus concorrentes em suas produções cinematográficas, existe um setor que nem sempre chama a atenção que talvez merecesse: a trilha sonora.

Claro que a Marvel trabalha com músicas marcantes, desde seu primeiro filme, “Homem de Ferro”, que tornou as canções da banda AC/DC icônicas para o personagem de Tony Stark. E isso se intensificou com a chegada de “Guardiões da Galáxia”, sua sequência, e “Thor: Ragnarok”. Mesmo com um tema inesquecível criado para os Vingadores, o Universo Cinematográfico da Marvel, no geral, acaba não fazendo com o que os temas de seus já lançados 18 filmes fiquem na memória do público.

Com isso, o Cinema Com Rapadura apresenta uma lista com os temas marcantes dos filmes do UCM, para relembrar aqueles que podem ter sido esquecidos, e exaltar algumas das composições mais bem construídas para a história dos heróis deste universo.

Homem de Ferro

Ramin Djawadi, conhecido por seu trabalho nas séries “Game of Thrones” e “Westworld”, e pela trilha de “Círculo de Fogo”, foi o compositor escolhido para o primeiro filme do UCM, tendo se candidatado para o cargo depois que John Debney não pôde trabalhar no filme. O diretor Jon Favreau já tinha uma visão de que a trilha do filme deveria ter um tom de heavy metal e deveria ser liderada pela guitarra. Esta direção e a atuação de Robert Downey Jr. foram os guias para Djawadi criar a trilha para o filme; o uso constante da guitarra deixa a ação do longa, que já é boa, ainda mais empolgante, e este estilo realmente ajuda o público a entender quem é Tony Stark, descrito por Favreau como “mais um rock star do que um super-herói tradicional”.

Capitão América: O Primeiro Vingador

Alan Silvestri, conceituado compositor de filmes como “De Volta para o Futuro” e “Forrest Gump” foi o escolhido para criar a trilha de um personagem tão icônico quanto o Capitão América, que em seu primeiro longa deveria deixar  sua importância gravada em seu tema musical. Na época, o compositor afirmou que seu estilo “romanticamente heroico” dá a ideia de “patriotismo”, o que encaixaria perfeitamente com Steve Rogers, o garoto do Brooklyn que quer, apesar de sua condição física, lutar para defender sua pátria.

No lado oposto da exaltação da figura do Capitão América está o tema vilanesco do Caveira Vermelha, que Silvestri quis retratar como um ser puramente mal, com objetivos perversos. E vale notar também o tema que acompanha a equipe de Steve, o Comando Selvagem (Howling Commandos, no original). A trilha como um todo tem o ar de heroísmo que o Capitão América transmite, sem esquecer o ambiente da guerra em que o filme se passa.

Os Vingadores

Silvestri retorna para compôr o que seria o maior tema do Universo Marvel, mas não se limitando a isso, e criando também uma trilha sonora digna do filme, que é um marco no gênero de super-herói. Começando pela música de abertura, “Arrival”, Silvestri brinca com o tema, meio que provocando o público, tocando a primeira parte do tema dos Vingadores totalmente apenas quando o grande orquestrador desse grupo de heróis, Nick Fury, aparece.

Como “Os Vingadores” representa a junção dos heróis já apresentados no universo, seria uma possibilidade usar todos os temas musicais já feitos e uni-los na trilha sonora. Mas o diretor Joss Whedon preferia que um grande tema para o grupo de heróis como um todo fosse criado, e o próprio Silvestri afirmou que juntar os temas individuais poderia fazer com que a trilha ficasse bastante bagunçada. Ainda assim, o tema do Capitão América, como forma de representar a liderança do personagem, foi usado em momentos pontuais, além de melodias criadas para remeter ao personagem de Tony Stark e da Viúva Negra. Há também o tema de Loki, representando uma áurea misteriosa, misturado com o tema do Tesseract criado por Silvestri em “Capitão América: O Primeiro Vingador”.

Com a ideia de criar um tema grandioso, que representasse bem a dimensão do que seria juntar super-heróis diferentes em um filme como esse, Silvestri criou o tema que representaria o “Assemble!”. Em “The Avengers”, a música da introdução de Fury se junta a esta que representa a união dos heróis, tornando-se inesquecível para o UCM.

Thor: O Mundo Sombrio

Brian Tyler, de filmes como “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio” e “Constantine”, entrou para o UCM com a trilha de “Homem de Ferro 3”, e depois da contratação de Carter Burwell para o segundo longa solo do deus nórdico ter dado errado, Tyler se juntou à produção. Vale dizer que o primeiro tema do logo da Marvel Studios, que foi introduzido no universo neste filme, foi composto por ele.

A pedido da Marvel, Tyler trabalhou na criação de temas para a sequência diferentes dos que haviam sido apresentados no primeiro filme, por Patrick Doyle, indicando a mudança que Thor teria sofrido depois da Batalha de Nova York. No entanto, o tema musical para o deus do trovão continuou fazendo parte daqueles esquecíveis dentro do Universo Marvel. O que se destaca, porém, é o tema criado para a morte de Frigga, mãe de Thor, que se firmou como um tema da morte dos personagens, tocando novamente na falsa morte de Loki, além de representar a ligação entre Frigga e o deus da trapaça, vínculo aprofundado neste segundo filme. O tema também tocou na cena do teatro em “Thor: Ragnarok”.

Capitão América: Soldado Invernal

Henry Jackman, compositor de trilhas para filmes como “X-Men: Primeira Classe” e “Kick-Ass”, já havia se candidatado para compôr para o Capitão América no primeiro filme, mas foi com este longa que Jackman conseguiu o cargo no estúdio, produzindo uma trilha que, assim como o longa e seu personagem título nesta nova jornada, representa algo totalmente diferente. O compositor descreveu o tom da trilha como algo que se assemelha mais a “Cavaleiro das Trevas Ressurge” de Nolan do que o “Superman” de Richard Donner.

Steve Rogers está no mundo moderno, tendo que se acostumar com as diferenças da época em que ele antes viveu. Além disso, o filme apresenta uma trama de espionagem que é muito bem representada na trilha. Mas ainda mais importante que isso, o Soldado Invernal, que é um vilão e uma figura perigosa, com um tema perturbador, acaba se revelando como o melhor amigo de Steve, apresentando um desafio ainda maior para o herói.

Perceba a música abaixo: em seus momentos iniciais ela é envolvida pelo ar moderno (2:12) em que a figura do Capitão América agora está inserido, não mais o sentimento heroico que a Segunda Guerra exigia em seu primeiro filme. No entanto, Steve Rogers ainda é o Capitão América (3:00), e seu desejo de fazer o que é certo não vai desaparecer. Em 3:43 a ação começa, e em 4:14 há uma interferência, a do Soldado Invernal, que continua a ecoar ao longo do tema. E finalmente, em 5:29, o passado de Steve encontra seu presente, quando ele tem que lidar com a ameaça que o Soldado Invernal, seu amigo Bucky representa, ao mesmo tempo que em se recusa a matá-lo (ouvir também “End of the Line”).

O próprio tema do Soldado Invernal merece destaque, pois, em sua situação de lavagem cerebral, o personagem é violento e implacável, mas por dentro dele há uma voz gritando, desesperada para se libertar. Quando Jackman apresentou a composição que havia feito para o Soldado Invernal para os diretores Joe e Anthony Russo, eles adoraram e disseram que o compositor não devia diminuir em nada o tom, nem cortar algo que poderia se passar como forte demais, pois o personagem era aquilo, e seu sofrimento e violência devia ser passado para a trilha.

Guardiões da Galáxia

O filme dos heróis mais improváveis da galáxia foi um marco no Universo Marvel pelas diversas músicas famosas e icônicas dos anos 80 escolhidas para compor sua trilha sonora, mas o tema instrumental dos Guardiões também se mostrou bastante característico do grupo que representava. Tyler Bates, conhecido por suas colaborações com os diretores Zack Snyder e James Gunn, tendo trabalhado em “Madrugada dos Mortos” e “300”, foi convocado para o filmes dos Guardiões por Gunn, afirmando que o trabalho no longa foi o mais exigente de sua carreira. Bates já começou a trabalhar durante a pré-produção, método escolhido pelo diretor para que temas fossem escritos durante as gravações, e até tocado enquanto os atores filmavam suas cenas. Será que ouviremos este tema em “Guerra Infinita”, já que o grupo terá tanto protagonismo quando os Vingadores?

Capitão América: Guerra Civil

Henry Jackman retorna para o terceiro filme do Capitão América, que na verdade funciona mais como um “Vingadores 2.5”, e portanto, traz consigo a proposta de criar um tema principal para o conflito do filme, em vez de trabalhar com os temas individuais dos heróis que aparecem. Com isso em mente, Jackman cria o tema da Guerra Civil, representando bem a separação (0:53) que o grupo de heróis irá sofrer até o fim da obra. O compositor também trabalhou com temas dos recém-chegados Homem-Aranha e Pantera Negra, apenas para dar o tom de suas jornadas neste longa, já que os filmes solos destes heróis estavam por vir.

Homem Aranha: De Volta ao Lar

Depois de ter feito o tema para o novo logo da Marvel Studios, e composto a trilha de “Doutor Estranho”, Giacchino agora teria o desafio de compor um tema para um herói que já possuía 5 filmes lançados, além das séries animadas. E ele entregou. O novo tema do Homem-Aranha, em sua volta à Marvel, seu lar, representa bem o ar aventuresco e divertido do herói. E o tema do vilão Abutre, interpretado de forma assustadora por Michael Keaton, não deixa por menos, mostrando que não irá parar por nada para atingir seus objetivos, mesmo que Peter Parker seja apenas um jovem garoto.

Ah, e não vamos esquecer disso, né?

Pantera Negra

“Pantera Negra” já era um filme de grande importância mesmo antes de ter sido lançado. Apresentando um super-herói africano, em um longa com quase todo o elenco sendo negro, assim como grande parte da equipe e também seu diretor, a produção tinha uma grande responsabilidade nas mãos. Ryan Coogler foi o escolhido para dirigir o filme e trouxe consigo o compositor com quem já havia trabalhado em “Fruitvale Station” e “Creed”, o sueco Ludwig Göransson. Conhecido também pela sua colaboração com Childish Gambino (nome artístico musical de Donald Glover), o compositor, na época de sua contratação, afirmou que não ignorava o fato de um cara “sueco e que vem de um dos países mais frios do planeta” estaria à frente de um filme como “Pantera Negra”. Por isso, ele viajou para países da África como o Senegal e a África do Sul, trabalhando também com artistas locais, para que a trilha do longa fosse tradicionalmente africana. Na música da introdução de Wakanda, o tema do super-herói é apresentado, juntamente com suas raízes africanas, e em momentos posteriores no filme, a música canta o seu nome, T’Challa.

A construção do tema de Killmonger é tão característico quanto, mas pelo fato do filme ainda ser recente, segue um ALERTA DE SPOILER para a história do personagem no longa.

Erik “Killmonger” Stevens é na verdade N’Jadaka, sobrinho de T’Chaka, o antigo rei. Em seu reinado, T’Chaka descobriu que seu irmão, que trabalhava infiltrado nos Estados Unidos, na verdade estava o traindo, e o mata. Assim, o pequeno Erik, nascido e criado nos EUA, sem nunca ter conhecido Wakanda e tendo apenas ouvido as histórias de seu pai, é deixado para crescer sozinho. Seu tema, e suas repetições ao longo da trilha, é uma mistura dos sons africanos com o hip-hop estadunidense, a própria mistura que o define. Além disso, Killmonger tem tanto direito ao trono de Wakanda quanto T’Challa, e isso não é esquecido pela trilha (ouvir também “A King’s Sunset”).

Menções honrosas

A lista está chegando ao fim, mas antes vamos para algumas menções honrosas. A primeira delas vai para o tema de “Homem de Ferro 3”, que funciona mais como um tema para todo o filme do que para o próprio herói, criando a atmosfera ideal para um filme no estilo desejado pelo diretor Shane Black.

O tema de “Homem-Formiga” também funciona perfeitamente com a atmosfera de filme de assalto que seu longa sustenta, não chegando a ser tão memorável quanto os temas já citados, mas que certamente deixa a experiência de assistir ao filme mais divertida.

A trilha de “Doutor Estranho” como um todo, sendo a primeira contribuição de Giacchino para o universo da Marvel, é bastante elogiada no geral, e é possível que sua ausência na lista principal cause alguma revolta nos comentários. A trilha completa é, sim, brilhante. Giacchino trabalha com instrumentos diferentes que fornecem a aura mística que o filme precisa, sem esquecer também de dar profundidade ao próprio Stephen Strange, que passa por uma situação muito difícil em sua vida antes de se tornar o Mago Supremo. O tema do Doutor Estranho, no entanto, não chega a ser tão memorável.

Como pôde ser observado na listagem, vários compositores diferentes trabalharam ao longo dos já lançados 18 filmes da Marvel, trazendo com eles suas visões próprias, além de instruções diferentes de cada diretor. Isso faz com que falte consistência no UCM como uma franquia, visto que um tema que é criado em um filme, pode muito bem ser esquecido no longa seguinte.

Isso aconteceu com as trilhas dos filmes do Thor, em que os temas criados por Patrick Doyle para o primeiro foram ignorados por Brian Tyler para o segundo, que criou novas composições tanto para o herói quanto para Asgard. O mesmo aconteceu na trilha criada por Tyler e Danny Elfman (do “Batman” de 89) para “Vingadores: Era de Ultron”, que mal usou o tema central dos heróis, e quando usou, modificou partes dele.

Com isso, a oportunidade de manter temas em comum é perdida, assim como a chance de colocar na mente do público a importância de certas peças chaves para a franquia através da trilha sonora. Um bom exemplo disso é a falta de um tema em comum para as Joias do Infinito. Silvestri criou um tema para o Tesseract, mas ele foi esquecido para o restante das relíquias apresentadas. Tudo isso contribui para que as trilhas sonoras do UCM sejam consideradas esquecíveis, mas o importante é saber que existem, sim, temas marcantes neste universo. E que o futuro só traga composições ainda melhores.

Alan Silvestri está de volta tanto para “Vingadores: Guerra Infinita” quanto para “Vingadores 4”, e com uma junção de personagens tão grande como esta, é de se imaginar o quanto será usado do tema clássico dos Vingadores, dos temas individuais dos personagens e de temas novos. Mas enquanto isso, que tal apreciar a arrepiante música do primeiro trailer de “Guerra Infinita”?

E então, qual seu tema favorito? E qual trilha sonora você considera a melhor do Universo Cinematográfico da Marvel? Deixe sua opinião nos comentários! E se você não fez a maratona de todos os filmes, ainda dá tempo de ler o Guia para “Vingadores: Guerra Infinita”, em preparação para o maior evento do UCM.

Louise Alves
@louisemtm

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