Cinema com Rapadura

Colunas   domingo, 08 de abril de 2018

Conheça as melhores animações fora do eixo Disney/Pixar-DreamWorks-Studio Ghibli

Quando vamos ao cinema assistir um filme de animação, o mais comum é que fiquemos entre os maiores estúdios da categoria: DreamWorks, Studio Ghibli ou o eixo Disney/Pixar. Mas há muito mais vida além deles.

Quando pensamos em filmes de animação, o mais comum é virem à cabeça os tradicionais filmes da Disney que fazem a infância de muita gente: “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), “Dumbo” (1941), “Bambi” (1942), entre outros. Ou até algo mais recente, como “Frozen – Uma Aventura Congelante” (2013) – ou filmes da Pixar, de “Toy Story” (1995) a “Viva – A Vida é uma Festa” (2017). Se formos um pouco mais adiante, chegamos à DreamWorks, com “Shrek” (2001), “Kung Fu Panda” (2008) e “Como Treinar Seu Dragão” (2010), por exemplo. Se sairmos dos Estados Unidos, o caminho mais comum leva ao Japão, terra do querido Studio Ghibli, responsável por clássicos como “Meu Amigo Totoro” (1988) e “A Viagem de Chihiro” (2001), entre diversos outros (a lista é grande, veja bem).

Mas se deixarmos de lado estes estúdios, podemos ver que há, sim, vida inteligente fora deles. Algumas obras você com certeza já assistiu, enquanto outras ainda não são tão conhecidas assim. Entre elas temos sucessos de público, filmes ganhadores do Oscar e até obras-primas de cineastas consagrados. E aproveitando a estreia de um destes filmes, “O Homem das Cavernas“, da Aardman Animations, o Cinema Com Rapadura preparou uma lista com os principais estúdios e cineastas no campo das animações fora do eixo Disney/PixarDreamWorksStudio Ghibli. Vamos a eles.

Aardman Animations

Empresa britânica fundada pelos amigos Peter Lord e David Sproxton ainda na década de 1970, a Aardman começou suas atividades produzindo videoclipes para artistas do calibre de Peter Gabriel e Nina Simone. No final da década de 1980, o estúdio começou a se aventurar no campo das animações em stop-motion – baseadas em figuras feitas em argila que devem ser ajustadas a cada plano para compor uma cena. Foi utilizando este formato que veio seu primeiro Oscar: Melhor Curta de Animação em 1990 por “Creature Comforts“. Em seguida, vieram os principais sucessos do estúdio, com a fórmula sendo aperfeiçoada constantemente: “Fuga das Galinhas” (2000) e “Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais” (2005, sendo vencedor do Oscar de Melhor Animação no ano seguinte).

Em 2006, a Aardman lançou seu primeiro filme feito através de animação computadorizada, “Por Água Abaixo“. Apesar de ter um convênio de financiamento e distribuição com a Dreamworks até 2006, as produções da Aardman foram todas feitas pelo próprio estúdio. Recentemente, ela vem encontrando dificuldades para emplacar um sucesso de bilheteria como seus primeiros filmes. A partir de 2015, suas obras voltaram a se basear no stop-motion com argila, modelo que empregaram em seu mais novo lançamento, “O Homem das Cavernas”.

Laika

Outro estúdio que foca exclusivamente em animação stop-motion, Laika surgiu a partir da compra de outro estúdio por parte de Phil Knight, CEO da empresa de material esportivo Nike. Inicialmente, a empresa tinha divisões voltadas para animação em computação gráfica e publicidade, mas, ao longo dos anos, estas foram cortadas para que se pudesse focar apenas no stop-motion. Todos os filmes produzidos pelo estúdio foram indicados ao Oscar de Melhor Animação em seus respectivos anos: “Coraline” (2009), “ParaNorman” (2012), “Os Boxtrolls” (2014) e “Kubo e as Cordas Mágicas” (2016).

Blue Sky Studios

Aparte dos três gigantes, a Blue Sky Studios é certamente a maior pretendente ao posto de “quarta força” da animação mundial. Fundada em 1987 por um grupo de ex-funcionários da empresa de efeitos visuais MAGI (responsável pelos efeitos em “Tron“, entre outros), a Blue Sky pertence à 20th Century Fox desde 1997. Apesar de ter se dedicado brevemente a comerciais e campanhas publicitárias, logo ficou claro que a grande vocação da empresa residia na animação gerada a partir de computação gráfica, o que resultou em seu primeiro longa-metragem em 2002: “A Era do Gelo“. Tamanho foi o sucesso do filme, que sua franquia se estende ainda por mais quatro filmes (sendo dois deles dirigidos pelo animador brasileiro Carlos Saldanha), com o personagem Scrat sendo o mascote oficial do estúdio. Também estão entre seus grandes destaques os filmes da série “Rio” e o recente “O Touro Ferdinando“, também dirigido por Saldanha.

Warner

Sendo um dos principais nomes na indústria do entretenimento e tendo em seu catálogo alguns dos mais queridos personagens infantis – como Pernalonga, Patolino e os demais Looney Toons -, a Warner ser um dos grandes estúdios de animação não vem como surpresa. Eles, inclusive, foram o grande foco do estúdio por muito tempo, protagonizando filmes clássicos como “Space Jam“, que combina animação com live-action em um equilíbrio perfeito. Houveram grandes filmes fora deste escopo, como “O Gigante de Ferro” em 1999, mas não o suficiente para evitar uma reformulação geral na empresa. Atualmente, o Warner Animation Group ainda tateia possíveis territórios a explorar, tendo já conquistado bom prestígio com “Uma Aventura Lego” e “LEGO Batman: O Filme“.

Wes Anderson e Tim Burton

Mais que estúdios, argila ou computação gráfica, é importante enfatizar que animação não deixa de ser um processo artístico. Muitas franquias se estendem para além do cinema dessa forma – como, por exemplo, “Star Wars” com as séries “The Clone Wars” e “Rebels” – com o intuito de criar novas visões para suas histórias. Ou diretores buscam nela uma forma de desenvolver seu estilo de forma plena, sem as amarras que a realidade impõe, tendo resultados que definem visualmente suas carreiras. Nesse sentido, os casos mais emblemáticos são os de Wes Anderson e Tim Burton.

Conhecido pelo uso de cores em tons pastéis e pela simetria quase impecável na construção de suas cenas, Anderson se aventurou no campo da animação por duas vezes (além de ter usado diversas técnicas da área em seu filme “O Grande Hotel Budapeste“). Na primeira, o resultado foi o sucesso de crítica “O Fantástico Senhor Raposo“, adaptando a história infantil do autor americano Roald Dahl; na segunda, foi “Ilha de Cachorros“, que será lançado neste ano e já angariou diversas opiniões positivas, principalmente no Festival de Berlim. Presente em praticamente todos os estágios da produção destes filmes, ele garantiu que o que fosse exibido na tela se enquadrasse de forma perfeita com suas intenções para as obras.

Já Burton deixou sua marca produzindo filmes como os clássicos “O Estranho Mundo de Jack” e “James e o Pêssego Gigante“. Sua grande obra-prima na animação, no entanto, é “Noiva Cadáver“. Apesar de ter perdido o Oscar de Melhor Animação em seu ano para “Wallace e Gromit“, “Noiva Cadáver” se tornou uma das principais referências quando pensamos no estilo característico de Tim Burton: a predominância de cores escuras, temas frequentemente relacionados ao sobrenatural e humor acessível aos mais diversos públicos.

Animações independentes

Apesar de normalmente envolverem processos caros, nem todos os filmes de animação têm laços tão estreitos com estúdios ou grandes empresas. O exemplo mais recente é “Anomalisa“, idealizado pelo cineasta Charlie Kaufman (“Adaptação“). Com uma ideia para um filme que retratasse uma pessoa solitária em meio à mesmice da vida cotidiana, ele recorreu à animação stop-motion como forma de trazer o projeto à vida. E para poder ter total liberdade no processo criativo, Kaufman optou por financiar a obra de forma 100% independente, angariando os fundos necessários para tanto através do site Kickstarter. O resultado foi a primeira animação para maiores de idade a concorrer ao Oscar da categoria, além de ser a primeira a conquistar o Prêmio do Júri no Festival de Veneza.

Outro bom exemplo é encontrado bem aqui, no Brasil, com “O Menino e o Mundo“, do animador Alê Abreu. Ele foi o responsável pelo primeiro filme brasileiro em stop-motion, “Minhocas“, e em seu segundo longa, financiado pela iniciativa privada e pelo fundo de cinema do BNDES, conseguiu uma indicação ao Oscar da categoria. A obra recebeu boas críticas no mundo todo, apesar da pouca bilheteria nacional. Baseando-se em técnicas de lápis de cor, giz de cera, pinturas e colagens, “O Menino e o Mundo” é uma das animações mais autênticas dos últimos anos, o que por si só já a faz valer ser vista.

Animações fora da língua inglesa

Se olharmos para o total da produção de animações no mundo, é provável que a maioria se concentre entre Estados Unidos e Inglaterra – ou pelo menos sejam a estas que tenhamos mais acesso. No entanto, diversos outros países se aventuram neste campo com relativo sucesso. O maior deles é o Japão: com uma indústria bem desenvolvida no setor, o país exporta produtos culturais como filmes e desenhos animados para o mundo todo. Não por acaso, um dos maiores estúdios de animação atualmente é japonês, o Studio Ghibli. Mas há vida inteligente além dele na animação japonesa. Basta olharmos, em um primeiro momento, para dois filmes: “Akira” e “Ghost in the Shell“, que influenciam a cultura pop e a ficção científica até hoje com sua estética cyberpunk. A animação japonesa ganhou recentemente ainda mais um grande expoente com Makoto Shinkai, responsável por filmes já considerados clássicos como “Your Name“, “Jardim das Palavras” e “5 Centímetros Por Segundo” – que lhe renderam a alcunha de “novo Miyazaki”.

Fora do Japão, animações estrangeiras frequentemente figuram entre as indicadas aos prêmios da categoria. Na maioria das vezes, o formato é utilizado para fazer críticas de cunho político ou socioeconômico, o que lhes rende alguma visibilidade – mas, ainda assim, nem sempre suficiente. Esse é o caso de “Persépolis“, “Valsa com Bashir” e “The Breadwinner“. O primeiro é a adaptação de uma graphic novel homônima, através da qual a autora (Marjane Satrapi) conta a história de sua vida como uma iraniana que escapou do regime autoritário implementado pela Revolução Iraniana na década de 1970; até os traços e desenhos foram mantidos ao passar a história para a telona. “Valsa com Bashir”, por sua vez, é o primeiro longa-metragem de animação israelense desde 1968, e retrata os acontecimentos do Massacre de Shatila, um dos episódios mais sangrentos da guerra entre Israel e Líbano em 1982; em um formato de documentário, ele conquistou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 2009. “The Breadwinner“, por fim, é um dos filmes que concorreu ao Oscar em 2018, e traz a história de Parvana, uma jovem afegã que se veste de garoto para poder trabalhar e ajudar sua mãe em um Afeganistão ocupado pelo Talibã.

Animações no Brasil

Mesmo com a recente indicação de “O Menino e o Mundo” ao Oscar em 2016, o cinema brasileiro ainda tem pouca representatividade no campo da animação. Com a maioria da produção nacional focando no pública infantil e sendo encaminhada direto para lançamento em vídeo e streaming – como a série “Cine Gibi“, de Maurício de Souza, ou os vídeos da finada produtora Vídeo Brinquedo -, pouco espaço resta para animações. Ainda assim, nos últimos anos tivemos bons filmes que tentaram explorar esse campo, mesmo com pouca bilheteria e divulgação na mídia, como “Zoom” e “Uma História de Amor e Fúria“. Enquanto o primeiro traz um conto que se divide entre Brasil e Canadá, o segundo tem um enredo situado em diversos momentos históricos do Brasil, inclusive num futuro distópico em 2096. Com grandes elencos em ambos, fica a esperança de que estes sejam apenas primeiros passos em uma caminhada maior do cinema brasileiro pelo amplo campo da animação.

O gênero de animação é certamente o que proporciona maior liberdade de criação aos cineastas. Mesmo quando vamos ao cinema assistir um filme infantil ou puramente comercial, neste caso sua forma tende a dizer muito mais do que simplesmente o que vemos na tela: para uma animação sair do papel, há de se ter não apenas os requisitos normais de um filme, mas uma sincronia perfeita entre animadores, roteiristas, diretores, produtores etc. Diversos são os bons exemplos de obras que se encaixam neste parâmetro, mas infelizmente não conseguimos chegar a muitas delas por conta das limitações comerciais. Muitos ficaram de fora de nossa lista (como, por exemplo, os excelentes “As Aventuras de Paddington” e “Com Amor, Van Gogh”), e raros são os casos de animações fora dos grandes estúdios que conseguem um lugar ao sol (ou ao cinema), por isso a importância de se tê-las em mente e prestigiá-las.

Com essa lista disponível, agora é a sua vez de participar! Deixe um comentário nos contando qual a sua animação preferida fora do eixo Disney/Pixar-DreamWorks-Ghibli e qual das citadas aqui mais te interessou para assistir!

Julio Bardini
@juliob09

Compartilhe


Conteúdos Relacionados