Cinema com Rapadura

Colunas   domingo, 06 de abril de 2014

Não foi bem assim: ficção e verdade nas adaptações de histórias reais

Descubra as diferenças entre realidade e ficção dos indicados a Melhor Filme do Oscar 2014

A premiação do Oscar 2014 acabou, mas o evento ainda rendeu muitos assuntos, principalmente o selfie dos famosos tirado pela apresentadora Ellen DeGeneres, e que já ganhou várias paródias. Outro assunto discutido foi a quantidade de filmes “baseados em fatos reais” que concorreram na categoria de Melhor Filme. Dos nove indicados, apenas três foram exceções. Agora faremos uma breve comparação entre a “realidade” e a obra fictícia.

Philomena

Philomena
Fato: Philomena Lee teve seu filho recém-nascido tirado de sua custódia pela Igreja Católica como castigo por ser mãe solteira. A procura pelo filho Anthony – batizado pelos pais norte-americanos de Michael – durou mais de 60 anos, e seu paradeiro foi encontrado pela filha de Philomena, Jane Libberton, que descobriu que o meio-irmão já havia falecido. O caso virou um livro escrito pelo jornalista Martin Sixsmith.

Filme: A relação de Philomena (Judi Dench) e do jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan) ganha um maior destaque, sendo ele o responsável por encontrar o filho perdido. Para se ter uma ideia, o ator Coogan teve uma relação mais próxima a Philomena do que o próprio jornalista Sixsmith.

Capitão Phillips

Captain
Fato: Richard Phillips, capitão do navio Maersk Alabama, foi sequestrado por piratas somalis e, graças à eficiência cirúrgica de soldados de elite da Marinha dos Estados Unidos, conseguiu ser resgatado. Detalhes da experiência foram contados em seu livro “A Captain’s Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea”. Contudo, segundo um artigo do New York Post, a advogada Deborah Waters, que defende alguns empregados que processam a empresa por falta de segurança, o capitão ignorou o pedido da tripulação para que não passasse próximo da costa somaliana.

Filme: Phillips (Tom Hanks) confirma que no filme foi mostrado um lado mais dramático da história, mas que o diretor Paul Greengrass conseguiu captar toda a tensão do momento. A polêmica sobre sua possível negligência nem é comentada no longa.

Clube de Compras Dallas

Dallas

Fato: O heterossexual e homofóbico Ron Woodroof descobre que tem o vírus da AIDS em pleno anos 80, época que a doença era associada aos homossexuais. O eletricista recebe uma previsão de seis meses de vida, porém a notícia não o faz desistir de viver, e começa uma luta contra as previsões médicas e o próprio governo dos EUA, que insiste em empurrar o remédio AZT aos pacientes. Ele escolhe uma medicina alternativa e vê uma boa maneira de lucrar com ela, mas quando a doença agrava e começa a rever o seu preconceito, se transforma em um ativista contra o sistema de saúde norte-americano. Sua vida virou um extenso artigo do jornal The Dallas Morning News.

Filme: Não há muitas controvérsias entre realidade e o filme. O galã Matthew McConaughey sofreu uma drástica mudança física para viver Woodroof, além de uma atuação impecável que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. Um detalhe que foi mudado para entregar uma maior carga dramática é que no filme o médico prevê apenas um mês de vida para Woodroof. O que é normal no cinema, já que nada é completamente real.

Trapaça

Trapaça

Fato: Nos anos 70, o FBI trabalhou junto com criminoso Melvin Weinberg para descobrir vários políticos corruptos dentro do governo norte-americano, em uma operação chamada de Abscam, em que eles utilizaram um falso sheik para oferecer propina aos governantes.

Filme: De todos os indicados, “Trapaça” não fez muita questão de se apegar à fonte original. Já mudando o nome do trapaceiro Melvin Weinberg por Irving Rosenfeld, interpretado por Christian Bale, o diretor David O. Russell transforma o caso policial em uma trama cheia de conflitos, traições e reviravoltas, em uma realidade com os dois pés no exagero.

O Lobo de Wall Street

LoboWall

Fato: Jordan Belfort, ex-dono da corretora Stratton Oakmont, ficou milionário criando esquemas de manipulação de ações, enganando milhares de pessoas com ações que não valiam nada, mas que rendiam ótimas comissões para si. Sua ascensão, auge e decadência foram escritas pelo próprio no livro que baseou o filme.

Filme: Fica até difícil de acreditar que tudo o que acontece no filme foi real, mas diversas fontes, como o agente do FBI que investigou o caso, comprovam que o filme é bem fiel ao livro (escrito por Belfort), ou seja, a história “verdadeira”. É claro que Scorsese toma algumas liberdades para manter seu estilo na história. Mesmo assim, não fez nenhuma questão de esconder todas as loucuras que Belfort afirma ter realizado. Entretanto, alguns relatos foram negados por ex-parceiros, como animais no local de trabalho, Jordan ser chamado de “Lobo” e eles terem “brincado” com os anões. No meio de tanta insanidade, corrupção e drogas, fica complicado saber em quem acreditar.

12 Anos de Escravidão

12 anos

Fato: Baseado no livro escrito por Solomon Northup, um homem livre que foi sequestrado e vendido como escravo em 1841.

Filme: “12 Anos de Escravidão” foi o grande vencedor do Oscar 2014, levando o principal prêmio de Melhor Filme. Aparentemente não existem muitas diferenças entre realidade e filme,  e parece que Steve McQueen não fugiu da responsabilidade de contar, como deveria, a história de Solomon Northup.

Gostaram da lista? Se alguém tiver informações que possam contribuir com o especial, não esqueça de compartilhar nos comentários. Até mais.

Guilherme Augusto
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