Cinema com Rapadura

Colunas   quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Livros: A Fera renova um dos contos de fada mais queridos de todos os tempos

Com uma narrativa envolvente e um personagem cativante, Alex Flinn revela que é possível reinventar os contos de fada e nos mostra o outro lado da Fera.

Kyle Kingsburry tem 14 anos e tudo o que um adolescente gostaria: dinheiro, popularidade e todas as garotas do colégio aos seus pés. Mas tudo isso muda, da noite para o dia, ao cruzar com uma bruxa em seu caminho. O castigo? Ser transformado em Fera. Para reverter o feitiço? Encontrar o amor verdadeiro em dois anos ou ser fera para sempre.

Isso tudo soa familiar? O romance de Alex Flinn, “A Fera”, reconta de forma singular um dos contos de fadas mais conhecidos da humanidade: A Bela e a Fera. O cenário da trama é o mundo atual, onde as pessoas acreditam que coisas como bruxas e príncipes encantados existem apenas nos livros de ficção e em contos de fada.

Ao contrário da história original em que o centro das atenções é sempre a mocinha, Flinn centra toda a narrativa em Kyle, o adolescente riquinho e mimado, que da noite para o dia vê sua vida arruinada por uma maldição. Às vésperas do baile da escola, onde serão eleitos rei e rainha do baile, Kyle encontra Kendra, uma menina gordinha, com cabelo verde e roupas pretas, que ele logo classifica como perdedora. Incomodado pelo modo como ela o olha e do que a garota disse durante uma aula, Kyle trama uma vingança contra ela: convida-a para ser sua companheira no baile, apenas com o intuito de humilhá-la na frente de todos.

Na noite do baile tudo sai como o planejado: ele é coroado rei da escola ao lado da namorada e humilha Kendra logo na entrada, deixando-a plantada do lado de fora. Porém, ao chegar em casa, se depara com a garota esperando-o em seu quarto. Assustado, ele percebe, ao longo da discussão que é travada no quarto, a asquerosa perdedora se transformar em uma bela bruxa, que lança um feitiço, transformando-o em fera.

Com uma personalidade fútil e que sempre deu valor à beleza, Kyle se vê prisioneiro em sua própria casa e as voltas com um pai que não se mostra preocupado com ele, mas sim com o fato de como isso poderia prejudicar a sua carreira como âncora em um telejornal caso as pessoas descobrissem em que seu belo filho tinha se transformado.

Abandonado pelo pai, que ao não encontrar uma solução para o problema do filho o deixa morando em uma casa no Brookylin com uma empregada e um tutor, Kyle passa a maior parte adquirindo pequenos hábitos: costuma sentar no último andar da casa e observar as pessoas na rua; passa a observar as pessoas de seu antigo colégio através do espelho que Kendra deixou em seu poder; participa de um grupo online de pessoas que também estão passando pela mesma situação que ele e onde ele busca apoio; cuida das rosas em uma estufa, que ele mesmo construiu no quintal da casa; sai, todos os dias, durante a noite encoberto da cabeça aos pés para que as pessoas não possam ver seu rosto.

É em um desses momentos de solidão que somos apresentados a Lindy, uma garota da antiga escola de Kyle a quem ele nunca deu muito atenção. Ela não tinha, como ele mesmo costuma lembrar, nada de especial. Passava a maior parte do tempo lendo livros e, além disso, tinha um ponto em comum com ele, um pai que não se importava com ela. E é, com um golpe do destino, através desse pai que Kyle vê sua chance de se aproximar de Lindy chegar. Em uma noite em que o pai da garota invade a estufa, Kyle lhe propõe um acordo: a filha dele em troca de não ir para a prisão por tentativa de assalto.

Feito o trato, o que vemos a partir daí, acima de todo o clima romântico criado pelo autor, é o desenvolvimento pessoal do personagem. É com alegria, pela torcida de que tudo dê certo no final, que vemos Kyle se transformar de um garoto mimado e arrogante, para alguém que realmente se preocupa com aqueles a sua volta. Mas mais do que isso, ele deseja a felicidade daqueles que o cerca, passando, inclusive, por cima da própria felicidade. Algo que ele jamais pensaria que fosse capaz de fazer antes do feitiço.

Aquele garoto, que não se importava com mais ninguém além de si mesmo, dá lugar a um rapaz que vai procurar nas coisas mais simples a felicidade que nunca teve. O ser humano é naturalmente egoísta quando se trata das suas escolhas e do que ele espera das pessoas. Em “A Fera”, lidamos com o inesperado e com desafios que confrontam a natureza do ser humano e reaprendemos uma das lições mais antigas da humanidade: o essencial é invisível aos olhos e tudo aquilo que tanto procuramos pode estar bem a nossa frente e nem nos damos conta disso.

O longa, baseado no romance de Alex Flinn, conta em seu elenco com Alex Pettyfer (“Eu Sou o Número Quatro”), Vanessa Hudgens (“High School Musical 3: Ano da Formatura”), Mary-Kate Olsen (“No Pique de Nova York”) e Neil Patrick Harris (“Tá Chovendo Hambúrguer”). O filme estreou nos Estados Unidos em março deste ano, mas ainda não tem data marcada para chegar às telonas brasileiras. Resta esperar!

Leilane Soares
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