Cinema com Rapadura

Colunas   sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios ganha um excelente livro com o roteiro original

Os fãs de Quentin Tarantino podem se surpreender com o lançamento de “Bastardos Inglórios – O Roteiro Original do Filme”, mostrando como o cineasta imaginou inicialmente em sua mais recente obra.

Livro de Bastardos InglóriosNão é segredo que sou fã de Quentin Tarantino. Os diálogos rápidos de seus filmes, repletos de referências à cultura pop, personagens cativantes e situações bizarras fazem a alegria de cinéfilos de todo o mundo. Seu novo longa, “Bastardos Inglórios”, junta todos esses elementos em uma fábula de Segunda Guerra Mundial.

Mas não estamos aqui para falar do longa, afinal, este já possui críticas aqui mesmo no CCR. O foco aqui é o livro “Bastardos Inglórios – O Roteiro Original do Filme”, publicado pela Amarilys. Primeiro de tudo, é louvável a iniciativa da editora em lançar esse tipo de material no Brasil, algo bastante raro. Para quem não está acostumado com o tipo de linguagem do roteiro, há um pequeno glossário explicando termos como “Fade” e “Dolly”, algo bastante útil para acompanhar a narrativa e a história, além de uma introdução bastante interessante escrita pelo escritor David L. Robbins.

Depois desses pequenos pormenores, entramos diretamente na fábula imaginada por Tarantino. O mais interessante de se ler o roteiro é que vemos como o cineasta imaginava o filme originalmente, antes dos imputs de outras pessoas, como produtores, os próprios atores e da exibição do longa no Festival de Cinema de Cannes, que levou Tarantino a remontar o a fita. Aqui temos a imaginação do autor em seu estado puro.

Desse modo, sequências imaginadas pelo autor ganham espaço para existirem e passamos a entender melhor certos personagens do filme. Uma cena completa mostrando a origem do bastão de Donny “Judeu Urso” Donowitz e o motivo dele para surrar nazistas até a morte com ele. Maiores detalhes sobre Frederick Zoller são revelados, bem como os motivos – além dos óbvios – para que ele se sinta atraído por Shosanna.

A personagem, aliás, também ganha maiores detalhes sobre seu passado. Madame Mimieux, benfeitora da garota muito citada, mas não mostrada no filme, ganha vida no roteiro, mostrando como ela ajudou à judia fugitiva e como a jovem teve sua explosiva ideia que leva ao clímax da produção.

As diferenças principais estão no maior espaço para os Bastardos aparecerem emocionalmente, inclusive um momento paternal entre o Tenente Aldo Raine e o Soldado Utivich, além de uma maior dificuldade para os Bastardos cumprirem sua missão, que geram alguns momentos bastante divertidos. Outro momento presente no texto é um breve encontro entre Shosanna e os Bastardos, algo que não acontece no filme.

Um plus para os fãs de Tarantino é ver a linguagem do cineasta de maneira bem direta, bem como algumas das idéias que ele teve durante a elaboração do script, mas que foram abandonadas durante a produção. Nota-se que o cineasta já escreve determinados trechos de seus roteiros com determinados tipos de trilha sonora em mente, bem como é fácil de ver sua origem bem nerd, como a idéia abortada de um flashback em um balão de pensamento à lá histórias em quadrinhos.

No entanto, notamos que um polimento em certos elementos foi bastante favorável ao filme, levando a uma narrativa mais enxuta e coesa, vide uma sequência envolvendo Landa e um sapato, bem mais tensa no filme e que trata o lado “detetive” do vilão de um modo a ressaltar seu brilhantismo e, principalmente, sem firulas. A diminuição da participação do narrador também contribuiu bastante para o longa. Apesar deste não incomodar no roteiro, uma presença maior deste na fita iria desestabilizar o ritmo desta.

A tradução realizada por Anna Lim é tremendamente superior à da legenda que o filme ganhou aqui no Brasil, seja em diálogos, termos ou gírias. Consegui detectar apenas uma falha, na tradução equivocada de “this goes without saying” para “isso ficaria em segredo” ao invés de “isso nem precisa ser dito”. Fora esse pequeno deslize, o texto foi muito bem adaptado para nossa língua. Outro detalhe bastante importante da publicação são as notas de rodapé, que situam o leitor quanto às várias referências históricas ou cinematográficas feitas por Tarantino durante o roteiro.

No geral, o lançamento de “Bastardos Inglórios – O Roteiro Original do Filme” é um presente para os fãs de Quentin Tarantino e para aqueles que se divertiram a valer com o filme e querem saber maiores detalhes sobre este.

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Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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