Cinema com Rapadura

Entrevistas   quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

[EXCLUSIVO] Os Fabelmans | Michelle Williams fala sobre viver a mãe de Steven Spielberg e a importância dela na formação do cineasta

Concorrendo a 7 Oscars, filme já está em cartaz nos cinemas do país.

[EXCLUSIVO] Os Fabelmans | Michelle Williams fala sobre viver a mãe de Steven Spielberg e a importância dela na formação do cineasta>
(Imagem: Universal Pitcures)

Um dos principais filmes da temporada, “Os Fabelmans” tem um de seus trunfos em Mitzi Fabelman, mãe do personagem principal, Sammy. O filme, claro, remonta a infância e adolescência de Steven Spielberg, e quem ficou com a tarefa de interpretar sua mãe nos cinemas foi Michelle Williams, indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel. Em uma entrevista concedida exclusivamente ao Cinema Com Rapadura pela Universal Pictures, Williams fala sobre sua experiência dando vida a Mitzi em um filme escrito e dirigido pelo próprio Spielberg.

Uma pessoa alegre e com uma veia artística extremamente aflorada, Mitzi foi um dos principais estímulos para que o pequeno Sammy crescesse e visse na arte o caminho de sua vida. Para Williams, a alegria era justamente um dos traços definitivos da versão real da mãe de Steven Spielberg, Leah Adler. Ela conta como sua risada foi importante para construir a personagem que iria representá-la nas telonas:

“Uma das minhas coisas favoritas era ouvi-la rir. Era uma das minhas bases. Tínhamos tantos filmes caseiros lindos dela, tanto material que era precioso para mim. Eu assistia de novo e de novo. Então um atalho para mim era sua risada. E era um tipo de fita em loop, com ela rindo em diferentes idades, em diferentes momentos da vida. E eu recorria a isso mesmo antes de cenas em que ela não fosse rir ou das quais isso não fosse parte. Isso era tanto parte de sua essência, o desejo de rir. Ela era alguém que parecia que ia começar a sorrir a qualquer momento, e era tão cheia de vida. Era a forma com que ela ria, a forma com que ela se entregava ao riso, que realmente a definia para mim.”

Curiosamente, Mitzi e Burt (vivido no filme por Paul Dano) pareciam ser dois lados totalmente diferentes de uma mesma moeda. Enquanto ela era calorosa e criativa, uma artista por excelência, seu marido, um engenheiro elétrico, era contido e racional. A relação de ambos era profundamente amorosa, e foi justamente a partir de suas diferenças que alguém como Steven Spielberg pôde aflorar:

“Eles realmente são como duas metades de Steven, a forma com que esse casal se equilibrava e dava espaço um ao outro para que realmente pudessem se expressar. E você vê isso em seu filho, no Steven, na forma com que eles se misturam. Esse é o Steven.”

Apesar de se amarem e se respeitarem profundamente, as diferenças gritantes entre Mitzi e Burt inevitavelmente tornariam-se evidentes e, possivelmente, insustentáveis. Para Williams, tudo começou a mudar quando a família trocou os desertos do Arizona pelo clima mais ameno de São Francisco, na Califórnia.

“Ela sempre se descreveu como alguém que amava o deserto. Era lá que ela se sentia em casa e onde queria estar. Há muitas imagens da família acampando no deserto. E quando eles se mudam para um clima mais frio, sua temperatura interna e a temperatura externa começam a contrastar.”

Mitzi era uma exímia pianista, que poderia até ter seguido carreira na música. Uma de suas grandes frustrações foi justamente não tê-lo feito. Ela vê em Sammy o potencial artístico que ela mesma tinha em si, e passa a estimular o garoto a trabalhar seus dons. Seria ele a redenção da própria mãe?

“Ela tem uma paixão que não pôde viver ao máximo. Ela não se tornou uma pianista de concerto, apesar de que ela realmente poderia ter se tornado uma. Acho que, em seu filho, ela vê a possibilidade de ele viver sua vida completamente como artista.”

Se interpretar um personagem totalmente fictício já não é tarefa fácil, adaptar uma pessoa real muito menos. Ainda mais a mãe do próprio diretor, no caso. Mas Williams revela que Spielberg é um cineasta que trabalha o filme junto à sua equipe em todas as etapas, incluindo os atores. Quando fala-se que “Os Fabelmans” é apenas “baseado” na vida do diretor, é porque a colaboração artística entre os envolvidos no projeto é constante. E, para Williams, isso, além de produtivo, é também extremamente divertido:

“Eu não tinha uma ideia pré-concebida dele. Eu não esperava que fosse de um jeito e aí me surpreendesse sendo de outro. Eu o estava conhecendo pela primeira vez, estava completamente aberta para como quer que essa pessoa fosse, sem ter uma ideia alguma de como ele seria ou de como deveria ser. E quem eu conheci era uma pessoa ainda profundamente conectada com sua infância, profundamente conectada a um sentimento de brincadeira e descoberta, de alegria de um momento para o outro. O que encontrei foi uma pessoa com a qual me diverti o máximo na vida. Mal podia esperar para ver o que ele iria me dizer e ver aonde isso iria me levar, e ver aonde eu teria que ir a partir dali… Então parecia que todos os dias construíamos um tipo de mundo imaginário juntos. Mas ele era meu parceiro nisso e o melhor diretor para atores. Sabe, você pensa nele, em seus enquadramentos, em sua genialidade técnica… Mas estou aqui para dizer que, enquanto atriz, ele está pensando nisso tudo junto com você, sobre uma vida emocional, e a jornada pela qual você pode passar em uma cena, tanto quanto pensa nisso com as câmeras e como elas se movem.”

Concorrendo ao Oscar em sete categorias, entre elas Melhor Filme, “Os Fabelmans” já está em cartaz nos cinemas do país.

>> Leia a nossa crítica

Saiba Mais: ,

Julio Bardini
@juliob09

Compartilhe

Saiba mais sobre


Notícias Relacionadas