Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 03 de maio de 2009

X-Men Origens: Wolverine (2009): um filme comum de ação sem grandes atrativos

Depois de três filmes de relativo sucesso de crítica e público, a franquia “X-Men” ganha o seu mais fraco episódio nos cinemas. Apostando apenas em inúmeras cenas de ação e deixando de lado os questionamentos sociais, “X-Men Origens: Wolverine” é uma decepção. Salvam-se apenas alguns talentosos atores do filme.

A série de películas retratando o universo dos mutantes mais fascinantes do mundo destacava-se entre as diversas adaptações hollywoodianas de quadrinhos pelo desenvolvimento aprofundado de seus personagens e por inseri-los em uma sociedade que desrespeita as diferenças. Atingindo o seu auge em “X-Men 2”, a franquia possuía como foco principal a dificuldade que era ser “mutante”, ao retratar como eles lidavam com os seus “defeitos” (segundo os conservadores) ou “virtudes” (segundo os liberais). Como não lembrar do conflito principal de “X-Men: O Confronto Final”, em que cientistas desenvolvem uma vacina que cura a “doença” e os transforma em humanos? A universalização dos poderes dos mutantes levou a série a um patamar de referência. Porém, parece que os produtores de “X-Men Origens: Wolverine” esqueceram da premissa principal dos longas anteriores e o transformaram em uma fita de aventura comum, por mais que tenha como protagonista o mais complexo dos mutantes.

A história tem início em 1845, no Canadá, quando o pequeno Logan descobre seus poderes juntamente com a identidade de seu verdadeiro pai. Com a revelação, a ligação entre Logan e o já nervoso Victor Creed se torna inevitável. Os dois decidem, então, sair de casa, e partem em direção aos Estados Unidos. Já adultos, eles se envolvem em diversas guerras sem sofrerem ferimentos. Logan (Hugh Jackman) e Victor (Liev Schreiber) acabam sendo capturados por soldados americanos para integrarem um time de mutantes liderado por William Stryker (Danny Huston). Os soldados vão em busca de uma pedra misteriosa na Nigéria, até que Logan, cansado dos atos inconsequentes de seu irmão Victor, decide seguir um caminho mais pacífico.

Logan retorna ao Canadá e passa a viver isoladamente em companhia da belíssima Kayla (Lynn Collins). Mas a tranquilidade é interrompida ao ser alertado por Stryker de que Victor pode estar em busca de vingança. O Dente de Sabre já teria matado dois mutantes que constituíam a equipe liderada por Stryker: Bolt (Dominic Monaghan) e Wade (Ryan Reynolds), e teria o irmão como a próxima vítima. O enfrentamento com Victor revela a vulnerabilidade de Logan e, por isso, ele acaba aceitando fazer parte de uma experiência científica com admantium que o transforma em Wolverine. Uma reviravolta, no entanto, acaba mudando a face do verdadeiro vilão do filme.

O principal fato que circunda a trama jamais é o dilema de Logan acerca de sua natureza, mas sim o confronto entre ele e Dente de Sabre. No total, eles se enfrentam três vezes, ou seja, há um exagero. O roteiro de David Benioff e Skip Woods, entretanto, nunca justifica apropriadamente o nascimento dessa rivalidade. Victor, simplesmente, acaba escolhendo Logan como inimigo e pronto. A questão piora quando, “do nada”, mais uma vez, Victor entra em contradição em um determinado momento, afirmando que não deixará ninguém matá-lo, a não ser ele mesmo. Apenas esse erro do roteiro indica o quão comercial é a película, apostando em cenas de ação desmedidas, altamente dispensáveis.

Além disso, Benioff e Woods criam cenas inexplicáveis. O que dizer da inserção cômica do personagem Blob (Kevin Durand) e o seu embate ridículo com Wolverine? E da estranha hospitalidade de um casal de velhinhos a um homem nu no celeiro de sua casa? E da forma encontrada para a perda de memória de Logan? Esses são poucos dos vários questionamentos sem respostas que o filme deixa para os espectadores. O maior erro do roteiro, no entanto, é o desenvolvimento raso dos personagens coadjuvantes. Eles estão ali apenas para compor o cenário, já que o longa dedica pouquíssimos minutos para eles.

Com as imensas falhas no argumento de “X-Men Origens: Wolverine”, pode-se dizer que o diretor Gavin Hood tinha um grande problema nas mãos. Ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro com o sul-africano “Infância Roubada”, Hood consegue escapar de maiores críticas com a sua direção esforçada. Ele é capaz de criar sequências empolgantes, como a invasão a um prédio na Nigéria logo no começo do filme e a perseguição de um helicóptero a Wolverine. Porém, o diretor perde a mão ao escolher tomadas clichês, principalmente quando a câmera se afasta de Logan gritando quando ele se depara com o corpo de Kayla morto.

A principal razão para assistirmos ao filme é o carisma de seus atores principais. Hugh Jackman interpreta novamente Wolverine de forma convincente. É difícil imaginar outra pessoa no papel depois de vermos Jackman mesclar força, charme e instabilidade psíquica com sucesso. Entretanto, ele não apresenta nenhum lado diferente do personagem que não tenhamos acompanhado nos outros filmes da franquia. Por isso, quem mais nos surpreende é Liev Schreiber. O seu Victor Creed, por mais que seja tratado unilateralmente pelo roteiro, é quem mais capta a atenção do público. Schreiber encarna o personagem com tanta intensidade que consegue ser o enfrentamento adequado para Wolverine. Já Danny Huston substitui Brian Cox como Stryker com a mesma competência do ator, mesmo não possuindo nenhuma coincidência física. Entre os coadjuvantes, apenas Remy LeBeau, o Gambit, escapa. Dominic Monaghan, Ryan Reynolds e Lynn Collins estão péssimos.

Enfim, com todos os seus defeitos, “X-Men Origens: Wolverine” fica longe de igualar o feito que a série dirigida por Bryan Singer (principalmente) e Brett Ratner foi capaz de alcançar. De uma aventura reflexiva, ela transformou-se apenas em um filme comum de ação sem grandes atrativos, ou seja, os poderes dos mutantes viraram meras armas de destruição de inimigos em potencial. Espero que a franquia não tenha esse fim lamentável.

Darlano Didimo
@rapadura

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