Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de julho de 2008

Viagem ao Centro da Terra – O Filme (2008): rítimo rápido e um bom 3D

Uma divertida releitura do clássico literário escrito por Júlio Verne. No entanto, o filme pode ser simples e leve demais para aqueles que esperarem por uma adaptação mais séria do livro.

O cinema 3D foi algo que ganhou projeção (sem trocadilho) algumas décadas atrás. Era uma tecnologia falha, no mínimo, com efeitos ruins, afora os ridículos e desconfortáveis óculos de celofane bicolores os quais o espectador tinha de usar para acompanhar o efeito. No entanto, na última década, tal estilo de exibição fílmica fora refinado, graças a cineastas como Robert Rodriguez, que realizou dois longas nesse estilo.

Com a utilização de caros e complexos projetores digitais, a tecnologia chegou a um ponto em que James Cameron (“Titanic”) terá o seu aguardado próximo filme rodado em 3D. Uma prévia do que tais aparatos podem fazer está neste “Viagem ao Centro da Terra – O Filme”. Bom, pelo menos para alguns poucos, já que ainda são raros os projetores adaptados para 3D aqui no Brasil. No entanto, mesmo nas salas comuns, o filme tem o seu valor.

O longa conta a história do pacato cientista Trevor Anderson (Brendan Fraser), cujo irmão Max desapareceu há 10 anos tentando provar uma excêntrica teoria na qual túneis de lava dariam acesso a camadas inexploradas do subterrâneo do nosso planeta. Trevor ainda continua o trabalho do irmão tentando, quem sabe, reencontrá-lo, embora a sua Universidade venha ameaçando fechar o seu laboratório por falta de descobertas.

No entanto, certo dia, ele esquece que seu sobrinho Sean (Josh Hutcherson), filho de Max, vai passar 10 dias na sua casa, enquanto a mãe do garoto procura por uma nova casa no Canadá. Como qualquer adolescente comum, Sean nada quer saber de ciências, mas isso muda quando seu tio encontra uma série de anotações na cópia de Max do livro “Viagem ao Centro da Terra” que podem levar os dois à resposta sobre o que aconteceu realmente com o cientista desaparecido.

As pistas levam os dois à Islândia, onde juntamente com a guia de trilhas Hannah Ásgeirsson (Anita Briem) acabam descobrindo um “mundo dentro do mundo” e que as situações contadas no livro de Júlio Verne eram reais. Encantados com a beleza do “mundo dentro do mundo” por eles encontrado, não tardará para o trio de protagonistas descobrir que as mais perigosas passagens do livro também estão por lá.

O ritmo da película é bastante rápido, com os 95 minutos da projeção sendo aproveitados ao máximo para mostrar as aventuras e perigos enfrentados pelos três personagens, sempre com efeitos visuais computadorizados relativamente adequados ao contexto da produção. Apesar de estarem longe de serem verossímeis, tais seqüências empolgam o espectador, que não se importa muito em ver quebradas algumas leis da física ou formas biológicas impossíveis.

A competência do diretor Eric Brevig em tais cenas ocorre justamente por este ter atuado como supervisor de efeitos visuais em diversos longas, dentre estes “A Ilha” e “O Dia Depois de Amanhã”. Como cineasta, Brevig tem um ótimo começo, embora recicle algumas conhecidas cenas de ação para a sua fita, destacando a “homenagem” ao conhecido “Indiana Jones e o Templo da Perdição” com a passagem dos carrinhos de mineração. Ainda assim, a inovação em 3D oferecida mostra a habilidade do profissional.

Além disso, ele se sai bem no comando de seus atores. Brendan Fraser exibe seu carisma habitual, mostrando que nasceu para estrelar filmes de aventura. Seu bom humor clássico e predisposição física para cenas de ação – fora sua capacidade de fazer graça de si mesmo -, o tornaram perfeito para o papel do bom professor Trevor.

O jovem Josh Hutcherson se mostra bastante a vontade como Sean, o sobrinho do protagonista, provendo o apoio cômico e o contraponto necessário para a atuação de Fraser. Hutcherson ainda se sai bem nas suas cenas solo, mostrando que, aos poucos, ganha a experiência necessária pra projetos mais complexos.

Completando o trio está a bela Anita Briem, que vive a atlética Hannah, cuja personagem combina bem a joviedade de Sean e a experiência de Trevor, adicionando ainda o sex-appeal feminino necessário em uma produção de aventura. Ela forma um belo par romântico com o personagem de Brendan Fraser – repare nas cenas onde Hannah aparece só de camiseta e verá do que estou falando.

No restante do departamento técnico, a produção se sai bem, contando com uma fotografia bastante adequada – mesmo nas cenas em tela azul, o que é um plus, e a edição, conforme mencionado anteriormente, não deixa a adrenalina do espectador baixar. Apesar disso, é uma pena que a fita não conte com um melhor trabalho na trilha sonora, que soa absolutamente genérica.

A grande falha de “Viagem ao Centro da Terra – O Filme” jaz justamente na leveza de sua trama, que não concede maior profundidade a seus personagens ou às cenas de ação, servindo mais como um veículo para a tecnologia 3D e gerando apenas mais um longa de aventura bem-feito. É até irônico que “profundidade” seja o que falta em uma produção tridimensional.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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