Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de julho de 2008

Viagem ao Centro da Terra – O Filme (2008): diversão que vale o ingresso

A aventura baseada na obra de Júlio Verne aparece como uma boa opção para as férias. Talvez o mais leve dos blockbusters desta temporada, ainda assim vale a pena desfrutar do mundo criado por Eric Breving no longa, que ainda conta com o carisma de Brendan Fraser.

Na trama, o professor Trevor (Brendan Fraser) é um inteligente cientista que possui teorias incríveis e sofre desde que seu irmão Max desapareceu durante uma pesquisa. Quando recebe a visita do sobrinho Sean (Josh Hutcherson) em casa, vê que precisará de muita paciência para lidar com o jovem, já que este parece pouco acessível às brincadeiras do tio. Logo esse gelo é quebrado quando Trevor acaba encontrando algumas anotações do seu irmão no livro “Viagem ao Centro da Terra” e vê a possibilidade de novas explorações e, quem sabe, encontrar o irmão. Então Trevor e Sean partem para a Islândia, onde conhecem Hannah (Anita Briem), a filha de um famoso cientista e guia do local. À procura de sensores nas montanhas, o trio fica preso em uma caverna. O único jeito de escapar é se aventurar no interior da cratera, que acaba revelando-se o mundo escrito por Verne.

A obra do francês Júlio Verne é certamente um dos maiores clássicos da literatura mundial. Escrito por volta do ano de 1864, é incrível perceber como os grandes escritores já tentavam criar um mundo fantasioso incrivelmente atraente. Hoje, com mais uma versão inspirada nesta obra, “Viagem ao Centro da Terra – O Filme” revela o pioneirismo do livro na criação de personagens e mundos alternativos, bem como mostra que a história não envelhece. Neste longa dirigido pelo especialista em efeitos visuais Eric Breving e roteirizado por Michael Weiss, Jennifer Flackett e Mark Levin, temos a inovação do recurso tridimensional trabalhando diretamente com o live-action (feito por atores de verdade). Entretanto, ainda são poucas as salas do Brasil que possuem este recurso de projeção, então certamente boa parte da emoção pode ficar prejudicada pela falta de interação que o filme pretendia causar.

Estive em uma dessas salas sem projeção em 3D, muito menos óculos que pudessem simular o efeito. É possível observar os diversos momentos criativos da equipe de produção para proporcionar desde momentos divertidos quando de tirar o fôlego que certamente funcionam com perfeição com a técnica 3D. Infelizmente, minha análise se baseará apenas no filme comum e nos critérios audiovisuais utilizados. A primeira observação é que “Viagem ao Centro da Terra – O Filme” tem o diferencial não de recriar o que foi escrito por Verne, mas fazer com que seus personagens descubram que a história do livro é “real”. Não é um filme do livro, e sim um filme sobre o livro, com aspectos narrativos usados por Verne e aplicados de segunda mão aos protagonistas. É como se eles passassem a viver aquilo que já era conhecido por eles, já que a obra havia registrado. Talvez por isso, a fidelidade em termos de adaptação não seja tão satisfatória, já que proporciona uma liberdade criativa maior para alterar a trama, mas não atrapalha o andamento da projeção.

O diretor Eric Breving se utiliza do bom texto do filme para criar situações que não percam o ritmo, mas que não chegam a ser tão radicais quanto esperamos de um mundo dentro de um mundo. Por ter tido muitas filmagens em croma key, algumas cenas se tornam irreais, mas ainda assim se encaixam com a proposta do longa. No geral, os efeitos visuais são bem cuidados, mas não se revelam tão geniais. O problema do diretor foi justamente por se utilizar de planos mais fechados que impedisse a aparição de uma profundidade de campo que favorecesse a realidade deste novo mundo descoberto. Como se não bastasse, parece não haver o mínimo cuidado com a continuidade do longa, prejudicado pela edição mal elaborada. Em diversos momentos vemos cortes abruptos que não se encaixam com o plano anterior. Ainda assim, o longa mantém o ritmo e sempre traz novas abordagens em cena.

Brendan Fraser está muito livre para trabalhar seu personagem. Ele investe em um professor pacífico que praticamente não cresceu e tem seus momentos infantis. Trevor tem idéias mirabolantes e acredita na ciência, sendo absurdamente inteligente. Anita Briem vive Hannah, o interesse amoroso do herói. A atriz limita-se ao básico que seu personagem promove, e sobre sua capacidade de ser guia ou de conhecer a ciência pouco é explicado. O jovem Josh Hutcherson mostra um talento promissor para o cinema atual, principalmente na segunda parte do longa quando precisa segurar a história boa parte sozinho. Hutcherson também tem bons momentos de humor de drama, mostrando a versatilidade do ator.

Ainda que tenha seus problemas, “Viagem ao Centro da Terra – O Filme” é divertido o suficiente para valer o ingresso. A história consegue transmitir a realidade do muitos aspectos apontados pela obra de Júlio Verne de como seria o centro da terra. É um filme para a família, com a única pretensão de inovar ao utilizar-se da técnica 3D, que talvez uma parcela baixa de brasileiros tenham a oportunidade de assistir desta forma. Para os outros, basta se entregar ao entretenimento.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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