Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 20 de maio de 2007

Escola de Idiotas

A película pode ter lá seus defeitos e talvez não seja uma boa pedida para os cinemas, mas no gênero paródia o filme mantém um nível interessante.

Se tem um gênero literário que vem ganhando espaço ultimamente nas prateleiras das livrarias é o de auto-ajuda. Na verdade, apesar dos preconceitos diante dos intelectuais, hoje, um livro de auto-ajuda bem estruturado, vende bem.

Roger (Jon Heder, de "E Se Fosse Verdade") é o personagem principal de "Escola de Idiotas" – uma refilmagem de "School for Scoundrels or How to Win Without Actually Cheating!" de 1960 – e seu personagem tem uma compulsão: a leitura dos livros de auto-ajuda. É fato que essa compulsão é imposta pelas várias mancadas que dá na vida e sua tentativa de ser, digamos, alguém mais autoconfiante. Tudo na vida de Roger é muito difícil. Emprego, relacionamento com outras pessoas e a base da felicidade humana, ou seja, o relacionamento amoroso que, para Roger, é estaca zero. Uma mudança drástica, porém, acontece quando o tímido rapaz descobre um curso diferenciado, que pode torná-lo uma pessoa mais disposta. Essa é a tal escola de idiotas referente ao título, que são aulas de autoconfiança do professor Dr. P (Billy Bob Thornton, de "Tudo Pela Vitória" e "Papai Noel às Avessas"). Porém, nem na maravilha, para Roger, tudo é maravilha.

O personagem principal da trama, na verdade, é um reflexo estereotipado da sociedade atual. Muitos vão se identificar com o jovem com certeza. Ainda mais hoje que tudo gira em torno de um padrão de beleza e de postura. O roteiro de Todd Phillips (que também dirige o longa, bem como "Caindo na Estrada") e Scot Armstrong (roteirista do sucesso "Borat") é uma crítica bem interessante a tais padrões. É mostrando os podres de como se conquistar alguém, ou como se portar diante da sociedade que de forma criativa e engraçada "Escola de Idiotas" critica o estilo contemporâneo de algumas pessoas se portarem.

Esse filme na verdade é uma paródia. Vejo como uma paródia tanto das comédias românticas como da sociedade em si. Ora, o fundo de tudo é o possível relacionamento romântico de Roger e Amanda ("Poseidon"), mas tendo destaque os planos machistas de se conquistar uma mulher. Para algumas mulheres, o filme pode até parecer machista ao demonstrar que para se conquistar uma mulher deve-se seguir regras que, dentre essas, as principais são baseadas na mentira. Melhor olhando, na verdade, isso se trata de uma crítica. Pois uma das regras apresentadas no curso do Dr. P é que o homem nunca deve elogiar, mas sim "mentir, mentir e mentir mais" (tal como fala no longa). Porém Roger sempre que termina seu encontro com Amanda faz elogios à garota e nem assim essa se distancia. Porque, na verdade, o ser humano gosta de ser é elogiado, sobretudo a figura maravilhosa da mulher.

Ao contrário do que o parágrafo anterior possa sugerir, o filme não é só o encantamento apaixonado de Roger. Há também uma abordagem do personagem para com atitudes do dia-a-dia. E o fato de Roger enfrentar o assaltante que roubou seu tênis, enfrentar aquele "colega" chato do trabalho e até a amiga da pretendente que mais atrapalha do que ajuda quando você quer conquistar alguém, deixa isso bem claro.

No âmbito das atuações o elenco está normal. É verdade que os personagens são bem caricaturados e os atores os encararam bem, até porque o filme não solicita grandes atuações. Ao contrário do que possa parecer, Ben Stiller (que está sendo vinculado em todos os cartazes principais) é um personagem terciário da trama.

Esse fato, entretanto, não despromove seu interessante personagem, mais caricaturado, com seu bigode torno, olhar tremido e tudo mais, impossível. No longa, também temos no elenco o glorioso Billy Bob Thornton, que sabe muito bem encarar esse estilo simples de fazer comédia. Jon Heder, apesar de não estar sendo apontado nos cartazes como protagonista, o é de fato e recebe o papel com uma atuação normal. O melhor, porém, fica por conta da divertida atuação de Michael Clarke Duncan. Conhecido por filmes como "Demolidor – O Homem Sem Medo", "Meu Vizinho Mafioso", "Sin City", "Armageddon" e etc, entrou perfeitamente bem no clima do gênero. As horas máximas das risadas são proporcionadas pelo ator.

Outro fato interessante do filme é a trilha sonora. Cheia de músicas contemporâneas, nada repetitiva e bem enquadrada, a trilha de Christophe Beck dá um charme interessante ao longa. Além das músicas, as caricatas trilhas instrumentais de suspense, ação e romance são colocadas ao melhor estilo non sense e salvam cenas que poderiam ser bestinhas, mas por conta da audição aguçada se tornam aceitáveis.

O problema principal de "Escola de Heróis" é que talvez não seja o melhor filme para ser visto no cinema. Sua história, contada de forma bem linear e simples, acaba tornando um filme um tanto quanto trivial, ou melhor, um pouco descartável. Porém, na indústria do Home Video (das locadoras) aí sim ele toma uma nova importância. Com uma boa companhia, naquele final de semana de desestresse, sem dúvidas, vale a pena conferir o título, mas nada de criar expectativas sobre ele.

Raphael PH Santos
@phsantos

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