Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de abril de 2007

Motoqueiros Selvagens

Sucesso de bilheteria nos Estados Unidos e contando com um elenco renomado, “Motoqueiros Selvagens” consegue apenas um resultado morno e basicamente sem propósitos. Sem saber aproveitar bem os recursos criativos que encaminharam o projeto, a história ainda rende algumas risadas, mas nada de interessante que possa servir de diversão completa.

A comédia road movie aborda a vida de quatro amigos que estão beirando à meia-idade e que decidem deixar para trás os problemas familiares e amorosos que viveram até então, na tentativa de dar uma melhorada em suas vidas. É aí que eles se aventuram sem destino em suas motos, como se isso os fizessem sentir jovens outra vez e como se fugissem de casa para viver uma aventura com os amigos de colégio. Sempre atrapalhados e fora de forma, a trupe se depara com várias situações em que precisa ter jogo de cintura para resolvê-las, coisa que eles não têm. Uma delas é quando o quarteto conhece uma verdadeira gangue de motoqueiros, os Del Fuegos, que passarão a persegui-los, metendo-se em grandes confusões. Acolhidos pelo povo hospitaleiro de uma cidadezinha, os amigos terão que contar com a sorte e a inteligência para resolver a rixa, mesmo que limitados pela idade e usando sempre o bom senso de humor.

O longa não poderia começar de outra forma. Primeiro, somos apresentados aos quatro atrapalhados protagonistas que mostram pequenos eventos de suas vidas. Doug (Tim Allen) é um dentista que vive os desgostos de não se dar bem com filho; Bobby (Martin Lawrence) vive sob os gritos de uma esposa exigente e que resolve todos os problemas de casa; Woody (John Travolta) é bem sucedido, porém descobre que está falindo e foi abandonado por sua esposa; e por último, Dudley (William H. Macy) é um quarentão nerd que desenvolve programas de computador e tem medo de falar com as mulheres por quem se interessa. Cada qual vivendo sua não tão pacata vida, decidem procurar novas emoções para esquecer os problemas e fazer com que seus dias sejam melhores. Construindo estereótipos mais do que cansados, o roteiro de Brad Copeland tenta transformar o fator idade e o desejo aventureiro dos personagens em uma história cômica baseada em gafes e clichês que se perdem em um monte de baboseira e pouco consegue realmente parecer engraçado. A mais equivocada saída dos roteiristas atuais na tentativa de fazer o público rir é apelar para quedas e contusões exageradas ou situações que raramente aconteceriam. Nem por mexerem com cinquentões em situações constrangedoras consegue aumentar o teor cômico, muito menos aventureiro.

Em determinados momentos, somos obrigados a presenciar um alongamento desnecessário de vários acontecimentos com o quarteto, que acabam sendo enfadonhos e estressantes. O roteiro se perde por não conseguir trazer uma verdadeira alma significativa para o que eles estavam fazendo e ao invés de parecer uma ode à juventude eterna, acima de qualquer idade, acaba ridicularizando muitas vezes as condições dos personagens. Neste meio tempo, o ótimo elenco também não demonstra uma intimidade muito grande com a história, o que dá um descrédito ao que está sendo visto. Não que suas atuações tenham decepcionado, mas eles não conseguiram manter uma estabilidade na construção de seus personagens e isso também se deve às poucas oportunidades que o roteiro dá para isto. John Travolta adotou um estilo mais recalcado de fazer humor e acabou funcionando, pois ultrapassou alguns trabalhos anteriores que já fez. Martin Lawrence e Tim Allen são rostos conhecidos no gênero e também transitam entre bons e maus momentos, ao passo que o primeiro consegue dar um impulso maior ao seu personagem. Por último, William H. Macy dispõe de uma boa forma que ajuda ao seu personagem passar uma boa empatia ao público, mesmo com seu jeito bobão de ser. No elenco secundário, Marisa Tomei e Ray Liota não fazem mais do que qualquer ator mediano faria.

Como se não bastassem as falhas estruturais da história, a direção de Walt Becker parece até inexistente e sua inexperiência entristece a narrativa. Além disso, ainda desagrada nos momentos finais ao tentar construir, junto com o roteiro, um momento pacífico para demonstrar que o filme valeu a pena e que tinha uma lição a ensinar, porém sua tentativa é frustrada, assim como o exagero de uma trilha sonora rockeira e, em alguns momentos, desnecessária e desagradável. Tal trilha é trabalhada com muito mal gosto e não consegue sucesso nem no contraste que poderia causar com os objetivos dos personagens, ou mesmo com a base aventureira do filme. Certamente a Disney pensou que vender o rosto de quatro atores respeitados internacionalmente seria o suficiente para alavancar a qualidade do filme e talvez tenha sido por isso que o sucesso em bilheteria tenha sido enorme, o que pode render até uma continuação; porém, resta saber se o filme também tenha obtido sucesso no gosto popular, já que arrecadar dinheiro nem sempre é sinônimo de aprovação. Quantos e quantos filmes nos dão vontade de pedir o dinheiro de volta e comprar um Big Mac, não é? O pior de uma boa projeção financeira acaba dando origem à seqüências, e uma franquia de "Motoqueiros Selvagens" realmente seria uma suplício.

Servindo apenas como uma fraca diversão, “Motoqueiros Selvagens” certamente não possui os elementos necessários para dar credibilidade à história que se propõe a apresentar. Talvez se não fosse pelo elenco, o filme seria um fracasso completo, não merecendo nem as três estrelas que estão no final desta crítica. Rendendo poucos momentos de risada, a indefinição do longa chega a incomodar em certos momentos. Uma ofensa à conhecida qualidade da Disney. Porém, se mesmo assim ainda tiver com vontade de conferir, vá, Mas não espere mais do que algumas risadinhas bobas. Um desperdício de bons talentos nas mãos de profissionais irresponsáveis que pensam que fazer cinema é sinônimo de fazer qualquer coisa. Lamentável.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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