Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de abril de 2007

A Estranha Perfeita

Apesar de ter nomes conhecidos no elenco (lê-se Halle Berry e Bruce Willis), "A Estranha Perfeita" não chega com estrondo aos cinemas. A pouca divulgação parece anteceder o veredicto de que o filme não é nada bom.

Vou logo ser sincero no início da crítica para você não gastar pestanas. O filme é ruim e vários são os motivos para tal afirmação. Praticamente nada agrada durante a projeção. Nem as estrelas Halle Berry (a Tempestade de “X-Men”) e Bruce Willis (“Duro de Matar”) agradam, ou melhor, longe disso.

A estória gira em torno da investigação jornalística de um assassinato. Essa investigação é encabeçada por Rowana (Halle Barry) e Miles (Giovanni Ribisi, o irmão da Phoebe no extinto seriado “Friends”). Ambos usam de várias técnicas de investigação e até se infiltram no meio natural dos suspeitos para alcançar o objetivo – descobrir o assassino de Grace (Nicki Aycox) a fim de escrever uma bela matéria jornalística. Rowana é a encarregada de se disfarçar, e assim faz, mudando de nome e colocando-se a trabalhar na empresa de Harrison Hill (Bruce Willis). Enquanto isso, Miles, seu fidelíssimo escudeiro, trama por trás de computadores, investigando os pormenores de Hill, o suspeito em potencial.

De fato o roteiro é meio confuso. Não que seja difícil, mas ele não se apresenta muito bem e muitos elementos cruciais para um bom suspense acabam por não serem nem explicados. Sem dúvidas isso é de propósito, pois ele usa a pouca explicação para criar uma confusão maior ainda na cabeça do espectador, e coloca tal confusão em xeque no já esperado mirabolante final. As linhas do roteirista Todd Komarnicki tentam brincar com a inteligência do assistente, mas, para isso, primeiramente, tal roteiro deveria ser inteligente, adjetivo que não o pertence. Logo, o que sobra é uma série de reviravoltas desorganizadas que realmente enganam, todavia não de uma forma saborosa ou, repetindo, inteligente.

Nada ajuda para esconder a precariedade visível do roteiro. A direção do já acostumado com suspenses James Foley (“Medo”, de 1996) é falha demais. Ela não nos transmite nada de profundidade e tudo fica “aquilo por isso mesmo”. As tomadas de câmeras então só servem para rir bastante. Vê-se um claro exemplo disso quando Harrison Hill está dirigindo seu carro com a personagem de Halle Berry no banco de passageiro, a câmera está parada e quem se move é o cenário, tudo ao melhor estilo “Fucker and Sucker” (personagens do programa “Casseta e Planeta”). Ânsias de vômito vieram à tona.

A edição extrapola os limites do “deixa a desejar”. No mesmo minuto, sem um corte bem feito, Rowana está tendo flashbacks, depois se arrumando para um encontro, e mais rápido ainda nesse encontro. Você pode estar pensando: “Ahn?!” Pois é, eu também pensei isso. Para ajudar ainda mais o já prejudicado filme a ir para o fundo do poço, vemos os benditos desses flashbacks desconexos. No final até tenta-se explicar em que são baseados, mas pergunto: era preciso tantos flashbacks jogados durante o filme? Seria bem mais aceitável explicar todo o assunto que causa tais flashbacks no final, quando tudo já estava se desenrolando mesmo.

Por falar em desenrolar, essa é a parte mais engraçada do filme (é uma comédia?). Sabe quando, nos seriados antigos de Batman, o vilão na sacada de um prédio em Gotham City, revelava todo o seu plano “maquiavélico” para o Cavaleiro das Trevas? Exatamente, amigos. Um dos personagens (que eu não vou dizer quem, é lógico) fica desenrolando a estória ao narrar todos os acontecimentos do filme no melhor tom de: te peguei, bestão! Deu dó.

O golpe de misericórdia (praticamente como uma eutanásia) é dado por Halle Berry. Essa sim é a verdadeira assassina do filme, pois, permita-me o trocadilho, mata o que já estava praticamente morto. Além de cometer suicídio com uma atuação pífia, leva o coitado do Bruce Willis junto, mais os poucos minutos de Gary Dourdan (o Warrick Brown do seriado “C.S.I – Las Vegas”), e mais o até simpático Giovanni Ribisi. A perfeita demonstração disso é quando, em uma seqüência de espanto, ela usa sempre a mesma fisionomia. Ela dá um show… de horror!

O que era para ser um suspense tornou-se uma comédia. Só essa frase já diz todas as conotações devidas para “A Estranha Perfeita”. Um filme fraco que, sem sombra de dúvidas, não vale nem ser alugado quando em DVD e muito menos assistido no cinema. Seria gasto inútil de suas laboriosas cédulas de reais.

Raphael PH Santos
@phsantos

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