Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de abril de 2007

Tartarugas Ninja – O Retorno

"Tartarugas Ninja - O Retorno" é fraco em animação, história e ação. Dificilmente as crianças acostumadas com animações exemplares irão aceitar os quatro personagens ícones dos anos 80.

Não cresci assistindo ao desenho Tartarugas Ninja, nunca simpatizei com quatro personagens estranhos que lutam contra bandidos em Nova York e são treinados por um rato. Mesmo assim fui, acompanhada do também co-redator do portal Léo Francisco, à exibição para a imprensa de "Tartarugas Ninja – O Retorno".

Em São Paulo, a publicidade em torno do longa-metragem do diretor estreante Kevin Munroe foi massiva. Uma projeção gigantesca em um prédio na avenida mais movimentada da cidade mostrava os quatro mutantes mascarados salvando pessoas de um edifício em chamas. Atores fantasiados de bandidos permaneciam amarrados em postes avisando "eles estão chegando". Muito criativo, com certeza. A curiosidade, claro, foi plantada. A primeira inovação apresentada por esse retorno das tartarugas é a técnica. Não nos deparamos com atores vestidos com máscaras robóticas, dessa vez é pura animação computadorizada, seguindo as tendências dos grandes estúdios no quesito filme infantil.

Outra tendência que deveria ser observada, entretanto, é o humor. Nenhuma criança dos dias de hoje aceitará um humor fácil. Diretores e produtores deveriam reparar nas séries animadas de maior sucesso entre os pequenos. Coincidentemente são também as que mais agradam aos adultos. "Bob Esponja", "Mansão Foster Para Amigos Imaginários", "Os Padrinhos Mágicos"… Todas apresentam um humor adulto e refinado que, acreditem ou não, as crianças entendem e gostam. Os filmes da Pixar captam muito essa essência moderna em que crianças se tornam adultos muito rápido e adultos retornam à infância com freqüência. "Shrek", uma das séries animadas de maior sucesso no mundo inteiro, provou como se faz animação para atrair platéias e conquistar fãs.

Uma pena que "Tartarugas Ninja – O Retorno" tenha perdido esse espírito. A história se passa nos dias atuais. Três das tartarugas mutantes, treinadas nas artes marciais e sob a filosofia ninja, vivem em uma recente desordem. Leonardo, o irmão mais velho, foi enviado à América do Sul para treinar e ser um líder melhor, mas ficou por lá, abandonando seus irmãos em carreiras diversas. Donatello presta assistência via telefone aos usuários de computadores com problemas. Michelangelo se fantasia de tartaruga gigante para animar festas infantis e, Raphael, mais rebelde, se torna um vigilante noturno, combatendo o crime sozinho, sem a autorização de mestre Splinter.

O vilão tem uma história à parte. Há 3.000 anos, um grande general se aproveitou do alinhamento de astros para se tornar imortal com a esperança de dominar o mundo. A imortalidade é alcançada, mas, com ela, uma maldição. Seus soldados mais próximos, o que chama de irmandade, são transformados em pedra e treze monstros são liberados da dimensão em que vivem para a que vivemos. April, a amiga humana das quatro tartarugas, viaja à América Central para recuperar uma escultura para um empreendedor milionário e descobre Leonardo, alerta-o sobre a situação de sua família e tenta convencê-lo a voltar para Nova York. Leonardo retorna. Encontra seus irmãos fora de forma e Raphael um tanto relutante quanto ao comando do irmão mais velho. A luta real será dentro da própria família, mantendo-a unida para combater os vilões: os treze monstros que retornam à Terra e os guerreiros de pedra ressuscitados e ambiciosos.

O enredo é banal, mas, para um filme de 87 minutos, não poderia se esperar grandes desenvolvimentos. Todavia, mesmo assim, a trama se resolve rápido demais para os excessos de ações e personagens desnecessários. Animação de iniciantes. Impossível acreditar que, no mercado competitivo de desenhos animados futurísticos e coloridos, algo sem cor e sem dimensão como "Tartarugas Ninja – O Retorno" faça sucesso ou agrade ao público, seja ele mais exigente, como os adultos (e, de fato, os que cresceram com o desenho animado) ou mais maleável, como as crianças, sedentas por comédia e ação. Não há nada nos diálogos que envolva, nem na construção dos personagens ou na resolução de seus conflitos. O retorno das tartarugas ninja é fraco e sem profundidade ou graça. As poucas piadas não divertem e as coreografias de ação não empolgam.

Não vivi a emoção infantil de ver os quatro mascarados comendo pizza e combatendo o crime, mas tenho plena convicção de que não era esse o espírito do desenho. A boa notícia é que o filme é curto. Em uma tarde de quarta-feira, sem nada para fazer, assistir a "Tartarugas Ninja – O Retorno" não é uma das piores opções à disposição do espectador. Os meninos de sete e oito anos vão até se interessar pela figura dos irmãos e de Splinter, mas a capacidade ou possibilidade de cativar fãs é nula.

Lais Cattassini
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