Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de abril de 2007

Férias de Mr. Bean, As

"As Férias de Mr. Bean" traz a volta do famoso personagem aos cinemas após um década ausente. O filme é marcado por seu intenso potencial humorístico, no entanto, definitivamente, o destaque fica por conta de Rowan Atkinson, que consegue repassar sem necessariamente usar de falas todo o jeito engraçado e inusitado do protagonista.

Após dez anos sem figurar as telonas do cinema, Mr. Bean volta com as suas aventuras hilárias e desenvolvidas de uma forma única. Em 1997, "Mr. Bean – O Filme" faturou uma boa quantia em dinheiro nas bilheterias internacionais em comparação ao seu orçamento, portanto uma seqüência sempre foi esperada. Agora, aguardava-se que, depois de tamanha espera, a continuação, a qual dizem ser a última história que envolve o personagem, fizesse jus à fama da comédia. Embora eu, particularmente, acredite que não seja um maravilhoso exemplar de comédia, quem foi ao cinema assistir a "As Férias de Mr. Bean" não se decepcionou e dificilmente pôde conter as gargalhadas em algumas situações.

A trama começa de fato quando Mr. Bean (Rowan Atkinson) ganha o primeiro prêmio em uma rifa local: uma filmadora nova, 200 euros e uma semana de férias no sul da França. Coincidentemente, durante o período das suas férias, está ocorrendo o famoso Festival de Cannes. Em determinado momento da viagem, Mr. Bean, em uma estação de trem, pede para um passageiro, mais precisamente o diretor russo Emil Duchesvsky (Karel Roden), jurado do festival citado, para filmá-lo. Devido a algumas complicações, Emil perde o trem, fazendo com que seu filho Stepan (Max Baldry), que tem apenas 10 anos, viaje sozinho. Bean, sentindo-se culpado, decide cuidar do menino. No entanto, acontece um mal entendido e o diretor pensa que Bean raptou seu filho. No caminho, o atrapalhado e seu agora protegido se juntam a uma bela atriz, chamada Sabine (Emma de Caunes), que deseja ir à Cannes acompanhar a pré-estréia de seu primeiro filme.

Primeiramente, vale ressaltar que "As Férias de Mr. Bean" trata-se de uma comédia familiar. Vários pais não se incomodam em levar seus filhos para assistirem às aventuras atrapalhadas do protagonista, o que faz com que o filme não possua "clássicas" situações mais vistas em comédias atuais, e, diga-se de passagem, totalmente descartáveis. A comédia em questão remonta os tempos primordiais do gênero, tendo inclusive raros diálogos que envolvem o personagem principal. Ao escolherem a ambientar a história na França, um país onde Bean não poderia falar inglês sempre, souberam muito bem utilizar este tipo de humor, visto que é totalmente justificável o raro vocabulário do sujeito, que apenas profere poucas palavras (umas duas, para ser sincera) em francês. Com isso, há um tratamento mais aprimorado do humor advindo do corpo em si, dos trejeitos dos personagens, das situações aparentemente inusitadas (algumas são bem previsíveis). Não é preciso de falas para fazer com que o público caia no riso, e este longa-metragem vem para demonstrar muito bem isso.

Os roteiristas Robin Driscoll, Simon McBurney, Hamish McColl, dos quais apenas o primeiro já havia trabalhado com a comédia Mr. Bean anteriormente, consegue estabelecer um bom uso de situações triviais, as quais aparentemente não poderiam trazer graça alguma. Embora, algumas vezes, beire o ridículo, como é o caso de Mr. Bean tentando animar o garoto Stepan no trem, as ocasiões acabam tornando-se simpáticas perante os olhos do público, que, inusitadamente, se vê conquistado pelo humor pateta e descompromissado. Outros momentos também poderiam ser descartados facilmente do roteiro, como quando Mr. Bean fica preso dentro de uma "caixa de madeira". Em contrapartida, situações cujo teor de comédia são inegáveis figuram o longa, sendo praticamente impossível não levar risos aos espectadores. Quem, ao final da projeção, não conseguir lembrar da ocasião em que o nosso personagem principal encontra-se em um restaurante francês não estava, definitivamente, prestando atenção ao filme.

Em geral, a direção de Steve Bendelack mostra-se sucinta e segura, mesmo que o cineasta mal possua experiências cinematográficas. Steve conseguiu fazer com que o longa-metragem, em poucos 90 minutos, reuni-se bons momentos. Embora se perca um pouco durante alguns minutos, consegue retomar totalmente a mão durante as tomadas que se passam no festival de Cannes, nas quais a história ganha um ritmo diferente e mais rápido. Outro aspecto marcante da direção de Steve é que o cineasta realmente conseguiu tirar boas atuações de seu elenco, principalmente do ator Rowan Atkinson. Vale ressaltar que o decorrer do filme também foi ajudado pela trilha sonora, que consegue incorporar canções e melodias que já escutamos antes, mas não sabemos ao certo onde.

No quesito elenco, como citado anteriormente, Bendelack não poderia estar melhor servido. Rowan Atkinson novamente interpretando Mr. Bean faz do personagem um ícone a ser seguido na comédia. O ator não precisa de falas para desempenhar bem a sua função, sendo auxiliado por sua fisionomia bizarra e seu jeito inusitado. Os trejeitos do personagem são facilmente lembrados e ajudam a fazer com que o seu Mr. Bean seja marcante. Acredito que melhor ator para interpretar este papel não existiria. Emma de Caunes, ao viver Sabine, também traz a sua graça para a sua personagem, uma atriz iniciante cuja beleza estonteia o protagonista. Outro que aparece um pouco durante o projeto e consegue se sair de forma razoável é Max Baldry, que fez a sua estréia nos cinemas neste filme.

"As Férias de Mr. Bean" traz finalmente a volta deste famoso personagem às salas de projeção mundiais. Pode não ser um retorno primoroso como a maioria dos fãs desejava, mas não deixa de ser bem recebido. É um longa-metragem leve, típico exemplar de cinema voltado para a família, que consegue atingir das crianças mais novas aos adultos mais antiquados. Com algumas situações que trazem bastante risos e outras cujo potencial poderia ter sido bem melhor desenvolvido, o filme torna-se, de certa maneira, um bom exemplar para aqueles que apreciam uma comédia aparentemente descompromissada.

Andreisa Caminha
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