Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 18 de abril de 2007

Estranha Perfeita, A

"A Estranha Perfeita" não é só um filme ruim com péssimas interpretações, uma direção amadora, músicas inadequadas e uma edição pavorosa, mas também é uma obra que, em seus minutos finais, chama o espectador de idiota. Julgando-se mais inteligente do que chega aos pés de ser, esse pseudo-suspense não passa de um desperdício enorme de tempo.

A estrela absoluta desta produção, Halle Berry, é uma atriz de altos e baixos… Bom, mais baixos do que altos. Depois de estourar em 1999 com "Dorothy Dandrige", um ótimo filme para a TV da HBO, e "X-Men – O Filme", a carreira da atriz subitamente decolou. Então veio o bacana "A Senha – Swordfish", o sucesso (fraco, mas sucesso) "007 – Um Novo Dia Para Morrer" e o ótimo "A Última Ceia", acompanhado de um Oscar de melhor atriz. Depois disso, veio a famigerada "maldição do Oscar". A exceção dos dois exemplares subsequentes da franquia "X-Men", Berry não emplacou outro grande sucesso de público ou de crítica no cinema. E veio esse "A Estranha Perfeita", definitivamente o pior filme da atriz nesta década (e sim, eu vi "Mulher-Gato"). E não vou falar nada de Bruce Willis (ainda) porque pelo menos ele emplacou filmes muito bacanas ano passado.

Voltando a este "A Estranha Perfeita", Berry interpreta Rowena, uma repórter investigativa que acaba de ver sua grande reportagem ir pelo ralo graças a influência de um poderoso político. Depois de se demitir, ela acaba encontrando uma velha amiga, Grace (Nicki Aycox), a quem não via há muito. Ela veio a Rowena pedindo a ajuda desta para se vingar de Harrison Hill (Willis), um magnata da publicidade e seu ex-amante, quem ela havia conhecido via internet. Alguns dias depois, Grace aparece no necrotério, brutalmente assassinada. Convencida que Hill foi o responsável pelo crime, Rowena e seu apaixonado-parceiro-mestre-da-informática, Miles (Giovanni Ribissi) vão atrás de provas que coloquem o ricaço na cadeia, levando a repórter a se infiltrar na agência publicitária dele, disfarçada como uma funcionária temporária, enquanto assume, no mundo virtual, outra identidade, para flertar com Hill. Enquanto isso, vemos que nossa protagonista possui alguns traumas do passado, envolvendo seus pais.

Vou evitar o máximo possível entrar em detalhes sobra a trama (?) para evitar spoilers. Assistindo ao trailer do filme, você esperaria alguns cenas mais apimentadas entre Willis e Berry, que inexistem, assim como qualquer sinal de consistência e originalidade na trama. Os realizadores simplesmente arremessam um amontoado de clichês do gênero, rezando que o espectador ache que esta colagem faça sentido. Personagens entram e saem da tela com a maior facilidade e alguns deles tem seus comportamentos alterados de maneira abrupta e artificial. Da metade para o final, a pouca coesão que o filme tinha começa a desabar, e o mesmo, em seu ato final, desiste de fazer sentido, levando a uma conclusão abrupta e atropelada, com uma resolução forçada e que, em momento algum, condiz com o que fora mostrado no filme todo, soando absurda e até mesmo insultante ao espectador.

As atuações do filme realmente condizem com o tom deste. Halle Berry tem aqui seu pior desempenho nas telas, alternando entre momentos de absoluta inexpreção e histerismo, não conseguindo mostrar de maneira eficiente qualquer das emoções que sua personagem deveria estar exprimindo. Bruce Willis foi terrivelmente mal escalado para o papel de bilionário sedutor (?), atuando da mesma maneira que em um "Duro de Matar". Honestmanete, estava para ver o momento em que ele chegasse na frente da câmera e dissesse: "Yipiee-Kaa-Iee". Giovanni Ribisi foi um dos mais prejudicados pelo esquizofrênico roteiro, com seu personagem mudando indiscriminadamente de atitude de acordo com a necessidade do roteiro. Nicki Aycox, como a falecida sedutora Grace, assim como todos os atores coadjuvantes, não pode mostrar muito serviço, já que seus os personagens não passam de uma coleção de estereótipos como "a colega de trabalho fofoqueira" (Clea Lewis), "o namorado traidor" (Gary Dourdan), "a secretária leal" (Daniella Van Graas) ou "a esposa rica" (Paula Miranda).

A equipe técnica, com certeza, merece voltar a estudar os básicos de "como fazer um filme" depois desta… James Foley, que tinha comandado o bom "Confidence", aparentemente desaprendeu como ser sutil na direção. Planos exagerados, closes em Halle Berry que tentam, em vão, ser sensuais e uma cena entre Berry e Willis no carro que chega a ser constrangedora de tão mal feita, são alguns dos pecados do diretor no filme. Antônio Pinto, compositor carioca, que havia feito ótimas trilhas em "O Senhor das Armas", "Nina", "Cidade de Deus" e um trabalho fenomenal em "Abril Despedaçado", fez uma trilha genérica de suspense para "A Estranha Perfeita", que poderia ser encontrada em qualquer outro thriler lançado direto para vídeo. Mas, com certeza, o destaque negativo da parte técnica vai para a edição de Christopher Tellefsen. O editor, que trabalhou nos ótimos "Capote", "O Mundo de Andy" e "Kids", consegue a proeza de fazer os personagens, durante o mesmo diálogo, ficarem em posições, lugares e horários diferentes, duas vezes no mesmo filme, matando qualquer lógica que tais conversas poderiam ter (isso se "lógica" fosse alguma qualidade desse péssimo roteiro escrito por Todd Komarnicki).

Conseguindo reunir atores e realizadores errados num filme totalmente equivocado, este "A Estranha Perfeita", é um filme ruim. Não daqueles em que você ainda consegue se divertir com os amigos falando dos defeitos da produção, mas simplesmente "ruim", não valendo a pena o esforço de ir ao cinema e enfrentar fila para vê-lo.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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