Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 20 de junho de 2007

High School Musical (2006): um filme razoável e divertido

O sucesso inesperado de “High School Musical” na Disney Channel chega com uma proposta nada inovadora, abordando problemáticas adolescentes e busca de sonhos, porém apresenta-se razoável ao cativar seu público-alvo (infanto-juvenil) com seus personagens carismáticos, canções agradáveis e bastante diversão, apesar dos eventuais erros que talvez desagradem aqueles mais crescidos e exigentes.

untitledNa trama, Troy Bolton (Zac Efron) conhece Gabriella Montez (Vanessa Hudgens) durante um karaokê em véspera de ano novo e ficam encantados um com o outro. O que eles não sabiam é que, uma semana depois, Gabriella entraria para a East High, mesma escola de Troy. Lá, ela descobre que o garoto é o capitão do time de basquete Wildcats, além de ser um dos mais conhecidos da instituição por seu talento e simpatia. Meio às aulas, os alunos têm a oportunidade de se inscrever para participar de um concurso que escolherá os melhores atores e cantores para participar do musical de inverno realizado anualmente pela escola. Os irmãos Sharpay (Ashley Tisdale) e Ryan (Lucas Gabreel) são conhecidos por sempre participarem dos eventos da escola e lutarão para conseguir os papéis do musical. Porém, Troy e Gabriella descobrem uma paixão pela música e ambos têm que seguir determinados em busca de seus objetivos, superando as dificuldades e precisando conciliar o basquete, no caso de Troy, e a competição acadêmica que Gabriella participa, com o grande sonho de viver a música.

Quem vai assistir a “High School Musical” procurando excelência em termos de roteiro certamente irá se decepcionar. O fato é que o filme televisivo criado pela Disney jamais esperava ter tanta repercussão como o teve. A surpresa foi gerada com os índices de audiência alcançados durante todas as exibições do filme e mexeu com o fanatismo de muitos pré-adolescentes que se divertem com a identificação causada entre eles e os personagens. O roteiro de Peter Barsocchini cai na previsibilidade e em clichês básicos de filmes escolares com seus vilões e mocinhos que vivem um embate até culminar em uma rendição e na aceitação um do outro. Por mais que não haja inovações, o que se percebe com o longa é que ele trouxe alguns aspectos atrativos para seu público-alvo e talvez tenha sido por isso que o sucesso de “High School Musical” veio à tona. Vale ressaltar que o filme não é um musical em excelência, mas a ingenuidade e empatia de sua trilha sonora, junto às aventuras nas quais ela se encaixa vão moldando a aceitação dos espectadores e consegue passar a sensação de ser, no mínimo, agradável. O que se vê também quando a questão são filmes feitos para juvenis é que há uma forte discriminação por parte dos adolescentes e adultos que acham “coisa de criança” e saem por aí denegrindo a imagem do filme. É como dizer que animações são feitas somente para crianças, coisa que sabemos que não tem fundamento por completo, já que existem vários exemplos por aí que conseguem abranger um público bem maior, como o excelente “A Viagem de Chihiro”.

Ainda nessa questão da conquista dos seus fãs, “High School Musical” retorna às origens daquela velha ideologia dos sistemas educacionais americanos, coisa que há algum tempo não se fazia direito. Neste quesito, o longa junta-se a “Meninas Malvadas”, porém difere-se, além da questão de público, mais pela questão comportamental dos seus personagens. Em “High School Musical”, percebemos uma linguagem bem mais acessível para crianças desde os seis anos, até os de quinze ou dezesseis. As peças pregadas pelo roteiro para fazer essas pessoas acreditarem não só nos seus sonhos, como nos do próximo, sem discriminar qual seja tal sonho, funcionam de forma eficaz e por mais que seja perceptível um forçamento de barra ao deixar bem claro tais lições ao espectador, este não sente-se ultrajado por uma possível tendência ao ridículo que o roteiro poderia ter tido. Tudo foi uma questão de conjunto. O público passa a acreditar naqueles personagens não só dentro da trama, mas também fora dela, ao aderir a uma identificação íntima, que o leva a desfrutar todos os momentos, tristes ou felizes, pelos quais eles passam; e, claro, o happy ending. Fazia algum tempo que eu não via um filme que pudesse ser educativo sem ser apelativo, e que trouxesse uma conjuntura social e psicológica que funcionasse diretamente com os espectadores. Talvez seja este o mérito do longa-metragem, razoavelmente conduzido pelo diretor Kenny Ortega que, em alguns momentos, esquece que está no comando de um filme, não de um clipe musical. Sem falar nos momentos em que sua frenética câmera assume ângulos nauseantes, como os planos abertos feitos do ginásio e refeitório da escola, durante uma ou outra coreografia, de onde não se obtém objetividade na cena, nem fica claro qual o objetivo do diretor com ela.

No que diz respeito ao elenco, os jovens protagonistas são estereótipos dentro da trama e em alguns momentos aparentam desconfortáveis com o andamento da história. Zac Efron e Vanessa Hudgens oscilam entre momentos de harmonia e estranhamento, mas acabam mostrando o talento diante das câmeras. Ashley Tisdale constrói Sharpay com vários tiques e exageros bem positivos para a comicidade de seu personagem, além de dispor de um figurino exótico e bastante maquiagem. Lucas Gabreel mantém-se inconstante na trama, apesar de aparecer pouco. Já os simpáticos Corbin Bleu, Monique Coleman e Olesya Rulin (Chad, Taylor e Kelsi, respectivamente) ajudam a dar um toque de vitalidade na história e fogem de ser amadores diante das lentes. Um último destaque fica com Alyson Reed, que faz da imperdoável professora Darbus um ótimo símbolo de dedicação ao teatro e às artes em geral, com a tentativa de conseguir lidar com a juventude cada vez mais exigente e imprevisível, além de render bons momentos de humor.

Como se não bastasse o sucesso do telefilme, a trilha sonora alcançou recordes de vendas, além de ter disparado nas paradas musicais de todo o mundo. Composto por músicas leves e descontraídas, é impossível não ficar com alguma delas martelando na cabeça durante alguns minutos. Além de atrativa e coerente com a trama, a trilha sonora ganha um reforço com algumas das coreografias montadas. Infelizmente, em outros momentos cantados ganham coreografias sem sentido. Mesmo assim, as belas vozes dos atores não desapontaram e suas performances foram competentes, por mais que tenha havido aquele fato de se assemelhar em alguns momentos com clipes musicais, com direito a olhares diretos para a câmera e tudo mais. No final, não tem como considerar “High School Musical” como um tremendo besteirol, já que cumpre todas as premissas na qual veio proporcionar aos jovens. Sem grandes pretensões, o filme é razoável no que faz e competente no que conquista. Sendo assim, nada mais justo do que reconhecer seus méritos. Uma ótima opção para uma tarde de sábado de pais e filhos com pipoca e guaraná. Nada mais.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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