Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Antônia

Utilizando-se do mesmo argumento-base da série de TV homônima, "Antônia" chega com pouca notoriedade, mas se mostra bastante bem-sucedido dentro do que se propõe a fazer.

Em meio à temporada cinematográfica atual que, em face da proximidade do Oscar e prêmios similares, vem trazendo filmes realmente bons às nossas telas, a estréia do brasileiro "Antônia" pode se perder e parecer meio apagada. Porém, quem subestimou o longa e pensou que se tratava apenas de mais uma das inúmeras produções descartáveis que nos aparecem, pode ter uma agradável surpresa ao dar uma chance à história. O filme não marca época nem traz elementos impressionantemente inovadores, mas consegue agradar dentro de sua simplicidade e acabar resultando em uma boa diversão.

A história do grupo vocal formado por quatro mulheres da periferia de São Paulo já se fez conhecida para alguma parcela do público devido à minissérie homônima exibida pela TV Globo. O roteiro do filme, no entanto, não é uma continuação nem faz referência a fatos previamente acontecidos. Trata-se de uma história independente que não exige do público um background para ser compreendida. Preta, Barbarah, Mayah e Lena são jovens mulheres que trabalham como backing vocals para um grupo de rap. O talento das quatro, no entanto, acaba lançando maiores desafios para o conjunto, que investe numa carreira solo e passa a intitular-se "Antônia". A partir daí, não demora para que alguns problemas surjam, modificando o destino das amigas.

O primeiro fato a ser ressaltado em relação ao longa em si é a originalidade e a naturalidade que o filme transmite. Talvez por não trazer em seus papéis principais nenhuma atriz experiente, mas sim cantoras que são ou já foram realmente moradoras de periferia, a produção consegue passar uma atmosfera de realidade muito coerente, inclusive no que diz respeito à "interpretação" dos personagens. Além disso, o pré-requisito principal na escolha das moças foi justamente a voz, que é o que realmente dá todo um efeito às suas interpretações. Nesse quesito, destaca-se Negra Li, no papel de Preta e Cindy, como Barbarah. A pequena Nathalye Cris, que já havia arrancado elogios na minissérie, faz bonito novamente como a filha de Preta e até a cantora Sandra de Sá dá conta do recado ao interpretar a mãe de Preta.

No mais, o desenrolar da trama traz os impasses e dificuldades enfrentados por mulheres na mesma situação das protagonistas. Os empecilhos da vida e desentendimentos internos vão tratando de separar o grupo, que acaba totalmente fragmentado. A amizade e o amor à música, dessa forma, começam a exercer um papel conciliador em torno das amigas. Um bom aspecto a ser ressaltado também é a forma como é conduzido o drama de cada uma das componentes do "Antônia". Sem sensacionalismo nem exagero, a diretora consegue dosar o drama contido no roteiro sem nenhuma apelação. Em nenhum momento as protagonistas são mostradas como desvalidas, mas sim pessoas normais que enfrentam dificuldades como todas as outras.

A fotografia do filme também constitui outro aspecto competente em termos de produção. Desde os ambientes do início em que são mostradas as típicas festas de rap da periferia paulista até os locais onde o grupo passa a se apresentar posteriormente. Tudo se mostra bem delineado e construído de forma a passar a impressão correta ao espectador. O elogio também se aplica à trilha sonora, que é basicamente constituída por músicas cantadas pelas próprias atrizes. Para quem gosta de um repertório popular completamente eclético interpretado pos vozes bem ao estilo soul, eis uma boa pedida.

Enfim, "Antônia" é um daqueles filmes que você assiste e se agrada, mas não fica muito tempo pensando depois. Porém, se a procura é por uma trama agradável na hora de ir ao cinema, a produção pode tranquilamente suprir essa necessidade.

Amanda Pontes
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