Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Rocky II – A Revanche

Seguindo o sucesso imenso de bilheteria do primeiro filme, "Rocky II – A Revanche" perde um pouco da inovação do longa anterior da franquia, mas ainda assim não deixa cair a qualidade do roteiro, novamente escrito por Stallone, e ainda consegue se manter dentro da linha dos ideais do filme.

Stallone está de volta reprisando o personagem que marcou a sua carreira. Chegando aos cinemas em julho de 1979, "Rocky II – A Revanche" continua o primeiro filme exatamente de onde ele parou. Após a sua primeira grande luta, Rocky está muito machucado. A sua intenção de permanecer até o último round com Apollo Creed no ringue, fato nunca antes acontecido, lhe causou sérios danos. Entre eles a perda da visão periférica do lado esquerdo. Condenado a largar o boxe por correr risco de ficar cego em um próximo embate, Rocky agora segue sua vida. Ele finalmente casa com Adrian, e, com o dinheiro que ganhou da luta anterior, tenta dar o melhor que pode para sua esposa. Mas, claro, sem poder lutar, e sem outra fonte de renda, Rocky terá que arranjar um jeito de ganhar a vida, já que Adrian está esperando um filho seu. Com um grau de escolaridade baixa, a única coisa que ele pode conseguir são trabalhos braçais, já que sua tentativa de se tornar garoto propaganda (aproveitando o sucesso conquistado na luta contra Creed) foi um verdadeiro fiasco. Porém, em um Estados Unidos que se diz ser "a terra da oportunidade", a única que realmente bate à porta de Rocky é voltar ao ringue para uma revanche com Apollo Creed, que passou a ser avacalhado pelos fãs do boxe após a luta com Rocky. Enfrentando as adversidades da sociedade e correndo sérios riscos em uma segunda luta com o campeão dos pesos pesados, uma nova batalha é marcada para provar quem é o melhor no mundo dos esportes.

A motivação que poderia ser na verdade um fiasco, ou apenas mais uma desculpa esfarrapada para uma continuação de uma franquia de forma a aproveitar-se do sucesso de bilheteria do filme anterior, nesta continuação não se torna tão execrável assim. Isso, claro, devido ao forte roteiro, que mostra que na verdade a revanche entre Apollo Creed e Rocky Balboa não está apenas amarrada a simples desculpa de se ter uma segunda luta, mas sim ao fato de mostrar bem o lado psicológico das duas personagens. Rocky primeiramente tenta ganhar sua vida fora dos ringues. O lutador mesmo não quer retornar às lutas, chegando a dizer em uma entrevista de emprego: "Já levou 500 socos na cara em uma noite só? Depois de um tempo começa a doer". Isso mostra que Rocky, quando retorna ao ringue, não é só mais por um orgulho masculino ferido qualquer, mas sim porque é realmente a única coisa que ele sabe fazer na vida: lutar.

O lado psicológico "noir" das personagens está presente no roteiro, embora de forma mais leve do que no primeiro filme. Claro que muitos fatores ajudaram para essa mudança, mas, ainda assim, eles se fazem presentes e poderiam estar muito mais ainda, como no personagem de Paulie, que, de uma hora para outra, deixa de ser o canalha adorável do primeiro filme e passa a ser apenas mais um personagem secundário neste segundo.

Stallone e Burgess Meredith reprisam seus papéis de Rocky e treinador Mickey de forma majestosa, assim como Thalia Shire. Stallone consegue passar uma veracidade nos movimentos (sempre irriquieto, conhecido no teatro pelo termo de 'palco quente', e um dos maiores pecados de um ator), que ficou característico de Rocky, bem como os seus semi-socos no ar (coisa que nenhum boxeador faz normalmente) e o seu jeito lento de falar, o tornam um dos personagens mais sinceros e cativantes do meio cinematográfico. É uma pena que, a partir do terceiro filme, estes pequenos detalhes começaram a ser esquecidos, transformando a franquia em apenas mais um filme de boxe. O resto do elenco está comedido e reprisando de forma impecável seus papéis do primeiro filme.

A novidade é que Sylvester Stallone chega à direção neste projeto. Além do roteiro e da coreografia da luta, ele mostra ter sido um aluno aplicado, seguindo bem os mesmos passos e estilo de direção de John G. Avildsen, diretor do primeiro filme. Os mesmo estilos de planos, com a diferença de não trabalhar tanto mais o estilo documental na luta final entre Balboa e Creed, o que fez perder um pouco da emoção da luta. Mas ganha excelentes pontos quando, no final, resolve optar por não criar uma conclusão piegas e totalmente previsível, criando, o que afirmo ser, um dos melhores momentos de tensões da história cinematográfica, fazendo com que o espectador respire aliviado com o final da luta, e seja embalado ao som da música tema criada especialmente para o filme (os mais novos que acompanham o programa televisivo de Luciano Huck podem lembrar da música tema, que é usada em uma versão dance atual de "Can You Feel It").

Personagens cativantes, reais e a superação das dificuldades com muita força de vontade são os ingredientes básicos que fazem dos primeiros episódios da franquia "Rocky" um dos maiores filmes do século XX, que vale a pena ser visto e revisto inúmeras vezes, principalmente para os fãs do bom filme.

Leonardo Heffer
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